terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

IRMÃZINHA MADALENA DE JESUS



BREVE ITINERÁRIO ESPIRITUAL DA IRMÃZINHA MADALENA DE JESUS FUNDADORA DAS IRMÃZINHAS DE JESUS, QUE SEGUEM O CARISMA DO BEATO CARLOS DE FOUCAULD.



1898 -1989

Madalena Hutin nasceu a 26 de Abril de 1908 em Paris, mas é originária do leste da França e a sua juventude foi marcada dolorosamente pela primeira guerra mundial: a sua família foi dizimada e a sua pequena cidade destruída. Apesar de todo este sofrimento, conserva um grande amor pela vida e mantém um olhar positivo sobre cada pessoa.

Desde criança deseja dar sua vida à Deus. O seu pai comunicou –lhe o amor pelas populações árabes. Quando em 1921 descobriu a figura de Charles de Foucauld através da biografia escrita por René Bazin, foi como que uma iluminação para ela. Sente-se chamada a esta vida toda centrada em Jesus, amado com toda a paixão e vivida em pleno mundo muçulmano para testemunhar silenciosamente, como Jesus em Nazaré, o amor do Senhor por cada ser humano.


Mas a espera será longa porque ela é doente e não pode abandonar a sua mãe viúva e só. 


Quando em 1936 a sua saúde piora e ela corre o risco de ficar paralisada, o médico prescreve-lhe como único remédio ir viver num país onde não caia uma só gota de água… como o Sahara!


Para o padre que a aconselhava, é o sinal esperado e encoraja-a a partir sem tardar, apoiando-se unicamente na força do Senhor.


Parte para a Argélia com a sua mãe e uma companheira, que também tinha uma saúde muito frágil. Vão morar por alguns anos num bairro árabe, numa cidadezinha do planalto Sahariano, onde se esforça por responder às necessidades de uma população pobre e abandonada.


A LUZ DE BELÉM


A sua vocação é centrada na luz de Belém. Numa profunda experiência espiritual, ela recebe o Menino Jesus das mãos da Virgem Maria. Perante este recém nascido sem defesa, a Irmãzinha Madalena fica cativada por mistério da doçura e da humildade de Deus, este Deus que quis ser um de nós e se fez uma criança. Dai em diante a Infância Espiritual segundo o Evangelho será o seu caminho, um caminho de confiança e de abandono nas mãos do Pai por tudo o que Ele quiser: “Deus tomou-me pela mão e cegamente eu segui-o.”

Deus a conduz aos mais pobres e aos que mais sofrem, para com eles compartilhar a sua vida, ser para eles um pequeno sinal da ternura de Deus.

A 8 de Setembro de 1939, Madalena Hutin, agora Irmãzinha Madalena de Jesus funda neste espírito, a Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus, consagrada nos primeiros tempos exclusivamente aos povos muçulmanos.

É em Touggourt, um oásis do Sahara Argeliano, que nasce a primeira Fraternidade. Na fronteira deste oásis vivem algumas centenas de nômades cuja pobreza os obriga a agrupar-se. Instala-se no meio deles, numa velha casa em ruínas, que com a ajuda de alguns deles consegue reconstruir.

Com pe. Renè Voillaume, na África, 1947

A Irmãzinha Madalena trabalha com eles de manhã a noite. Interessa-se por eles e por tudo o que diz respeito às suas vidas, conhece cada um pelo seu nome, nascendo entre eles uma profunda e recíproca amizade. Pouco tempo depois, porque a sua companheira parte, fica sozinha, completamente imersa neste mundo muçulmano. Evocando esta experiência, escreve:


“Vivi com eles um período extraordinário da minha vida , constatando que um amor de amizade pode coexistir apesar das diferenças de raças, de cultura, de condição social. Eles estavam entre os mais pobres dos nómadas, aqueles que não têm nada e que se instalam junto dos oásis para serem socorridos. E Comigo foram de uma bondade , de uma delicadeza impressionantes.”


A Fraternidade é construída sobre esta pedra de amizade e de confiança recíproca com os pobres, vivida em cada dia numa partilha de vida e num profundo respeito.


Trata-se na verdade de uma nova forma de vida religiosa, e para estar segura de agir segunda a vontade de Deus, a Irmãzinha Madalena quer submeter à mediação da Igreja esta sua intuição


Quando em 1944, a congregação conta apenas com uma dezenas de membros e não tem ainda nenhuma existência oficial, ela consegue, em plena guerra, ir à Roma encontrar-se com o Santo Padre para lhe confiar tudo o que tem na alma referente a esta fundação. Pio XII recebe-a e ouve-a com grande bondade. Encontra-se também com Monsenhor Montini, futuro Papa Paulo VI, que lhe manifesta imediatamente uma calorosa simpatia. Ao longo da sua vida, a Irmãzinha Madalena guardará um grande amor pela Igreja, sabendo defender com vigor e perseverança os pontos essenciais desta nova vocação.


ATÉ O FIM DO MUNDO


A Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus cresceu. A força evangélica das palavras da Irmãzinha Madalena fala ao coração de muitas jovens. Dirigindo-se à cada uma num tom pessoal, ela escreve:


“Como Jesus durante a sua vida humana, faz-te toda para todas-/os: árabe entre os árabes, nômade entre os nômades, operária no meio dos operárias… mas acima de tudo humana entre os humanos.


Como Jesus, penetra profundamente e santifica o teu meio pela identificação da tua vida, pela amizade, pelo amor, por uma vida totalmente entregue, como Jesus entregou a sua ao serviço de todos, por uma vida totalmente misturada com todos para que possas ser um com todos querendo estar no meio deles como o fermento que se perde na massa para fazê-la levedar


Mas para que as Fraternidade possam estar sem perigo, e sobretudo dar frutos, serem abertas e acolhedoras, é necessário que sejam ao mesmo tempo comunidades que irradiem a oração, o amor, a simplicidade e a paz, a doçura e a alegria. É necessário que vivas aí na presença de Jesus, como na santa casa de Nazaré, em recolhimento de amor, com o coração e o espírito tão cheios de Jesus que através de ti Ele irradie e se espalhe à tua volta».

Com as irmãzinhas que vivem com os ciganos

É uma nova forma de vida contemplativa vivida em pleno mundo, em pequenas comunidades, como uma família. No coração de cada Fraternidade uma pequena capela abriga o Santíssimo Sacramento porque a oração das Irmãzinhas é centrada, como a oração do Irmão Carlos, na adoração silenciosa de Jesus presente na Eucaristia e a partir do Evangelho que deve penetrar e transformar a vida de cada Irmãzinha.

Com Madre Teresa de Calcutá

Em 1946 a Fraternidade abre-se ao mundo inteiro. A Irmãzinha Magdeleine acaba de reviver com profunda intensidade a Paixão de Jesus e arrasta esta experiência espiritual “como uma ferida no coração”, uma compaixão imensa por todo sofrimento, um amor abrasador que vai arrastá-la até o fim do mundo. As fundações multiplicam – se nos cincos continentes, num ritmo que desafia a prudência humana, mas persuadida que a força de Deus age na fraqueza, a Irmãzinha Madalena escreve:


Quando olho as Irmãzinhas, e as vejo, ainda tão jovens e inexperientes, tenho medo… Mas quando olho para o presépio e vejo o Menino Jesus sobre a palha, os pastores, os apóstolos e todos aqueles que começaram alguma coisa de grande, digo a mim mesma que é esta pobreza e esta fraqueza que o Senhor quer, para que seja Ele e só Ele a agir, e que nós sejamos apenas os seus instrumentos que ele modela sem opormos resistência.”


Em situações de conflitos e de opressão, a Irmãzinha Madalena encoraja as Irmãzinhas a serem solidárias com os mais pobres e a lutar com eles contra a injustiça, mas sem violência e com o olhar fixo no presépio de Belém.


Eu gostaria que as Irmãzinhas de todos os continentes irradiassem à sua volta, até a extremidade da terra, a luz desse pequenino que é doçura, que é ternura, que é esperança. O mundo atual tem tanta necessidade dessa doçura, dessa ternura, dessa luz e dessa esperança.

A PAIXÃO PELA UNIDADE

Desde criança a Irmãzinha Madalena sabia por experiência até onde pode ir o ódio entre as nações e esse sofrimento provocou nela um imenso desejo de unidade.


Durante a sua primeira viagem à África Central, descobrindo as feridas do racismo, escreveu:


Será preciso que até ao fim dos séculos haja grupos humanos que desprezem os outros?! O desprezo, acredito que é pior ainda que o ódio, ou pelo menos conduz ao ódio. E isto quebra a unidade do amor.


Cada vez me apercebo mais que a unidade é o puro espírito do Evangelho, o desejo de Cristo, a sua última mensagem antes de morrer, esta mensagem recolhida de sua boca: “Que eles sejam um como nós somos um, eu neles e tu em mim, para que eles sejam consumados na unidade.”


Ela dizia também:


“ Se alguém me pede para definir numa só palavra a missão da Fraternidade, eu não hesitaria um minuto em gritar: UNIDADE – porque, tudo pode ser resumido na unidade.

Assim que ouvia falar de um país fechado a irmãzinha Madalena sentia-se irresistivelmente atraída e é assim que rapidamente, em pleno período estalinista, sonha partir para a Rússia.


A partir de 1956 organiza todos os anos estadias discretas na maioria dos países da Europa que estão sob o regime marxista. Acompanhada de algumas Irmãzinhas percorre centenas de quilómetros, numa rolote, para levar conforto aos cristãos perseguidos e também para tecer laços de amizade com todos/as aqueles/as que encontra, crentes ou não. Durante as suas estadias na Rússia une-se à oração dos cristãos ortodoxos e vários membros desta Igreja tornam-se grandes amigos. O Ecumenismo é, desde o inicio da Fraternidade, uma de suas prioridades


A 8 de Setembro de 1989, a Fraternidade festejou o seu jubileu (cinquenta anos de fundação). Pouco antes, a Irmãzinha Madalena deu uma queda da qual não se recompõe mais. Vai enfraquecendo progressivamente. Alguns anos antes tinha escrito às Irmãzinhas:


“Pode ser que haja entre nós uma ou outra que se encontre perto do grande encontro com o Senhor. Só Ele sabe. Esperemo-lo com amor “mais que o vigia espera pela aurora (Sl.130)… “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo, quando verei a sua face? Sl.42). Não tenhais medo! Ele é doçura e misericórdia. Ele é amor.


É nesta fé e nesta sede de encontro, que no dia 6 de Novembro de 1989, ela parte ao encontro do seu Senhor.


O que sobressai de uma tal vida? Talvez o que ela mesma disse de si mesma um pouco antes de sua morte:


“Eu só quis fazer uma obra de amor.


E agora cabe a cada uma de vocês que se comprometeu como eu a fazer este mesmo caminho e continuar também a mesma obra de amor, guardando sempre a consciência de que ela não nos pertence, mas que é uma obra da Igreja.”



Com Carlo Carreto e Pe. René Voillaume

Bibliografia

Do Sahara au monde entier – Pte. Sr. Magdeleine de Jésus Nouvelle Cité,1986

D ?un bout du monde à l ?autre – Pte. Sr. Magdeleine de Jésus Nouvelle Cité, 1983

Jésus est le maitre d’impossible – Pte. Sr. Magdeleine de Jésus – Le livre Ouvert.

Petite Sœur Magdeleine de Jésus, l’expérience de Bethléem jusqu’aux confins du monde – Pte. Sr. Annie de Jésus

Au-delà des frontières, vie et spiritualité de Pte. Sr. Magdeleine – Angélica Daiker, Cerf, 2005

Prier 15 jours avec petite sœur Magdeleine de Jésus – Michel Lafon et des Petites Sœurs de Jésus. Nouvelle Cité 1998. 


FOTOS TIRADAS DE: