segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

11- O LUGAR DO IRMÃO CARLOS

11- O LUGAR DO IRMÃO CARLOS NA FRATERNIDADE


Muitos padres procuram uma fraternidade pela convivência presbiteral, pelo apoio mútuo, pela espiritualidade.
O Irmão Carlos só é descoberto depois. Os padres seculares caracterizam sua espiritualidade como não pertencente a nenhuma “escola”. Se houver uma escola será a do discipulado, descoberto na Palavra e no Sacramento e vivido no meio do povo.

Por isso é compreensível que um padre seja cauteloso quando apresentado a uma figura recente como Carlos de Foucauld e o movimento surgido de seu carisma.

No entanto, os que estão em fraternidade sabem o quanto o Irmão Carlos os ajudou a aprofundar a espiritualidade diocesana. De fato, a vida ministerial do padre secular tem uma profunda dimensão contemplativa, é marcada pela simplicidade do evangelho, é livre como o beduíno no deserto, ocupa o último lugar que é o lugar dos últimos, não se fecha em dimensões territoriais por ser universal, está inserida no mistério pascal sempre atualizado na eucaristia.

Irmão Carlos começou como monge, mas ordenou-se padre secular. Sonhou com uma comunidade de irmãos e viveu sempre sozinho. Seu convento foi o mundo, sua comunidade,tuaregues muçulmanos. Os padres seculares têm um pouco de monges. Em geral vivem sozinhos, sem ser solitários. Sua comunidade é o povo. Às vezes pouca gente em proporção ao número de habitantes do lugar, e nem sempre os mais expressivos. Os demais permanecem à distância. Em alguns lugares nos defrontamos com fortes opositores. 

Há algo de deserto e de silêncio em nossa vida. Somos ministros do querigma. Anunciamos oportuna e inoportunamente a Palavra de Deus com os meios atuais de comunicação, e, no horizonte, o Irmão Carlos grita o Evangelho com sua própria vida. Sua presença silenciosa e significativa é um constante desafio ao nosso ministério “ordenado”. Com bispos e diáconos fazemos parte do “clero”.

Somos homens públicos e exercemos liderança. Somos respeitados e às vezes até nos beijam as mãos. No horizonte, o Irmão Carlos descobre o alcance da vida oculta de Nazaré. Ele se identifica com Cristo no fracasso de todos os seus projetos e cai por terra como a semente. E então dá muito fruto! Os construtores da “koinonia” se encontram com o irmão universal que vive oculto na solidão do último lugar.

Presidimos a oração do povo de Deus ocupando um lugar de destaque junto à mesa do Senhor. Conosco está o Irmão Carlos que nos mostra o valor do “estar”. Estamos juntos, mas estamos sobretudo na presença do Bem-Amado e Senhor Jesus. Mesmo presidindo, nossa presença é fraterna e gratuita.

O irmão Carlos permanece um profeta para as fraternidades. Ele nos inspira com seu carisma e nos provoca em seu total abandono à vontade de Deus. Suas intuições, refletidas em fraternidade, mostram-nos a vivência concreta do Evangelho e libertam-nos de desejos que obscurecem e entristecem a vida de um padre.

O Padre de Foucauld foi um homem do seu tempo. Atraente e enigmático, com estilo próprio, resultante de profundas convicções de fé.

Na fraternidade o Padre de Foucauld ocupa o lugar de um irmão mais velho, mas irmão de virtudes heroicas. Sua vida é entusiasmante e seu modo de ser presença de Igreja num mundo adverso é estimulante para a nossa ação pastoral. Na medida em que descobrimos sua figura, cresce o amor por essa pessoa tão simples, tão comum e tão singular. 
Ele não nos convida a olharmos para ele ou a imitá-lo. Ele nos convida a olhar para onde ela olha. Seu olhar está fixo em seu Bem-Amado Senhor Jesus. Neste Jesus ele vê todas as pessoas e todas as realidades da vida. Por isso é um irmão universal.