sábado, 1 de setembro de 2012

SODALÍCIO Pe. Carlos de Foucauld

(Veja após o estatuto uma homenagem à Irma Margareth)

ESTATUTO

Preâmbulo

O Sodalício (Sodalité) tem por origem Carlos de Foucauld que, apesar do seu desejo de fundar fraternidades, viveu só até a sua morte no deserto, levando no coração de uma população estrangeira a fé cristã, uma existência evangélica “humilde, discreta e velada“ (L. Massignon), “praticando a doce e humilde caridade e fraternidade de Jesus de Nazaré” (Carlos de Foucauld).

O Sodalício (Sodalité) se refere a uma coleção inacabada de “Conselhos evangélicos” escritos por Carlos de Foucauld na intenção daqueles que gostariam de viver esta graça modesta ao alcance de todos” (C. De Foucauld- Coleção publicada sob o título Conseils, Paris, Seuil, 1926).

Assim o Sodalício “oferece a toda pessoa de boa vontade um simples conselho discreto: é apenas um conselho, mas é aquele das Bem-Aventuranças”; ela “é um lugar de vida contemplativa livre” (L. Massignon). O Sodalício quer manifestar uma real participação nos mistérios de Jesus, seja em Nazaré ou no Sábado Santo, quando ele se insere na vida escondida ou nas trevas da morte, a fim de criar a passagem, a “páscoa” para a luz de Deus.

O Sodalício se coloca na linhagem dos Santos que, como Maria na Visitação, Francisco de Assis, Antônio Chevrier (fundador do “Prado”) ou Teresa de Lisieux, viveram em formas diferentes a solidão e a simplicidade, a pobreza e a noite espiritual.

ARTIGO 1 – NATUREZA DA ASSOCIAÇÃO

O Sodalício é uma “associação privada de fiéis”. Ela faz parte da Associação Geral que compreende o conjunto de grupos nascidos do Padre de Foucauld, associação estabelecida em Beni-Abbés em 1955. Ela é, entre esses grupos nascidos do Padre de Foucauld, a única a não ser uma “fraternidade”, mas uma rede de isolados. Ela é “a mais humilde das afiliações foucaulianas” (L. Massignon)

ARTIGO 2 – FINALIDADE

O Sodalício tem por finalidade ajudar aqueles e aquelas que querem se esforçar em marchar neste caminho traçado por Carlos de Foucauld, membros dispersos que são todos igualmente reunidos (quer sejam bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos) numa mesma vocação, através da qual eles manifestam especialmente sua adesão viva à comunhão dos santos.

ARTIGO 3 – VIDA DOS MEMBROS

O Sodalício (latim: sodalitas, cenáculo, pequena associação; no francês sodalité; no inglês sodality) é uma “diáspora”, uma “comunhão” invisível de cristãos dispersos através do mundo e vivendo seu engajamento em pleno mundo, sem distinção exterior, um entre os outros.

Estes cristãos se engajam livremente e têm como ponto de honra levar o melhor possível seu engajamento de maneira livre e inventiva, diante deles mesmos e diante de Deus. Cabe a cada membro, ajudado pela oração dos outros membros, discernir, com a ajuda do Espírito Santo, os melhores meios a escolher para viver o melhor possível este engajamento de Sodalício.

Agindo assim de maneira pessoal e responsável, todo membro do Sodalício acompanha invisivelmente, mas realmente, o itinerário espiritual de cada um dos seus irmãos e irmãs do Sodalício: solitários, os membros do Sodalício são ao mesmo tempo profundamente solidários uns com os outros.

ARTIGO 4 – ESTRUTURA


O Sodalício é coordenado, sob a autoridade do bispo responsável, por um dos seus membros, que tem o cargo de discernir as vocações que se apresentam, de as admitir no Sodalício e de estabelecer a ligação (por meios diversos: cartas circulares, encontros informais, cartas pessoais...) entre todos os membros que estão engajados no Sodalício. Desde L. Massignon, o costume é que o coordenador do Sodalício designe ele mesmo o seu sucessor em comum acordo com o bispo responsável. Este coordenador pode ser escolhido entre todos os batizados membros do Sodalício, quer eles sejam padres, leigos homens, mulheres.

ARTIGO 5 – ADMISSÃO

A adesão ao Sodalício se faz pelo acordo com o coordenador. Este deve examinar se o (a) candidato (a) apresenta bem os sinais desta vocação: a fé na comunhão dos santos, uma certa acepção de uma solidão de vida ativa e criativa, a vontade de viver o Evangelho e de querer particularmente conhecer a Jesus “pela amizade e bondade” (C. De Foucauld) para com os outros; a proximidade, por um lado, com aqueles que não partilham a fé cristã e, por outro lado, com os que, no nosso mundo, são particularmente desamparados, esmagados por uma solidão negativa, abandonados, rejeitados.

ARTIGO 6 – ENGAJAMENTO

O engajamento no Sodalício se faz numa data de festa escolhida de comum acordo entre o coordenador e o candidato. Há festas mais particulares do Sodalício: a Visitação, o Natal, a Epifania, a Transfiguração, festas onde Jesus transparece no transcorrer de uma vida escondida. O engajamento se exprime na Eucaristia do dia da festa escolhida: o bispo ou o coordenador apresenta neste dia ao Senhor o novo membro, enquanto ele, por sua vez, promete viver o melhor possível no espírito de Sodalício segundo o carisma do Padre de Foucauld. O engajemento se faz por um ano, renovável tacitamente cada ano à mesma data.

ARTIGO 7 – CARÁTER DO ENGAJAMENTO

O engajamento no Sodalício é um engajamento pessoal e discreto. O bispo ou o coordenador não podem revelar, sem seu consentimento, os nome destes e destas que fazem parte do Sodalício: só os membros podem, por eles mesmos, manifestar a outros esta pertença. Não há, portanto, listas de aderentes. Também não há propaganda para o Sodalício.

ARTIGO 8 – LIGAÇÃO ENTRE OS MEMBROS


Um membro do Sodalício pode pedir ao coordenador poder entrar em relação direta ou por carta com um outro membro do Sodalício (de sua região) ou de uma busca espiritual semelhante etc. O (a) coordenador (a) pode estabelecer esta ligação de acordo com a outra parte, se ele (ela) discernir que não se trata de um desejo que irá contra à vocação própria do Sodalício. O (a) coordenador (a) deve velar para que o Sodalício não se constitua “fraternidades” enquanto tais, mas permaneça fiel à sua vocação de “comunhão” entre membros dispersos. 



ARTIGO 9 – SAÍDA

Um membro pode a qualquer momento, se desejar, deixar livremente o Sodalício. Um membro pode ser pedido pelo(a) coordenador (a), de acordo com o bispo, a deixar o Sodalício, se ele manifestar publicamente um comportamento por demais contrário ao seu engajamento. Antes de efetivar essa demissão, o bispo deverá ouvir esse membro.

ARTIGO 10 – COTIZAÇÃO

Nenhuma cotização, nenhuma contribuição é pedida aos membros do Sodalício: eles enviam o que queiram, se eles quiserem, para as despesas das cartas circulares. E se eles fizerem chegar doações ao (à) coordenador (a) para ajudar a outros membros que passam por necessidade, os que receberem ignorarão os nomes dos que dão e, reciprocamente, a oferenda e cada um ficará em segredo (Carlos de Foucauld). Em caso de dissolução do Sodalício, o montante dos recursos que existirem será destinado pelo bispo à Associação Carlos de Foucauld. (Natal de 1996). gretaporanga@yahoo.com.br


As opções de vida de uma grande Mulher

 -- Walter Medeiros*


(Nota do site: Recebi pelo e-mail um texto sobre a Irmã Margareth, que tomei a liberdade de postar aqui. Qualquer problema que haja no que se refere a direitos autorais, me avisem, por favor).

O Dia Internacional da Mulher neste ano de 2022 eu registro com uma homenagem a uma pessoa que tem uma história gigantesca, mesmo sendo alguém bem simples, mas que a humanidade precisa tomar conhecimento da sua obra. Uma mulher que nasceu na Bélgica, aldeia Zogge, município de Hamme, em 18 de fevereiro de 1940, sendo a quinta filha de Herman e Helena. Viveu a infância e boa parte da juventude em sua terra, e acompanhava o pai, nos trabalhos de plantação de flores e outras plantas, e a mãe, na criação de pequenos animais.

A nossa homenageada estudou e formou-se professora, lecionando por dois anos no seu país. Resolveu tornar-se freira, seguindo uma vocação de muito amor. Em 1963, partiu para uma missão que mudaria completamente a sua vida, olhando a paisagem deslumbrantemente colorida da sua cidade. Carregava uma mala, diante da qual se despediu dos familiares. Ela não tinha a menor ideia de como era o Brasil. Mas veio realizar um trabalho missionário na cidade potiguar de Macau.

A viagem da Irmã se deu a bordo do navio francês Louis Lumière, da Compagnie Maritime des "Chargeurs Reunis", que realizava a sua última viagem. Desembarcou no Rio de Janeiro, de onde seguiu para o Rio Grande do Norte. Naquela cidade potiguar, juntamente com outras religiosas vindas da Bélgica e de outros países, lecionou no colégio dirigido pelo Padre João Penha Filho. O seu trabalho naquela terra durou cerca de sete anos. Em seguida, atuou no município potiguar de Santa Cruz. Depois, ainda passou um tempo em Recife, trabalhando em ambientes da sua congregação, em obras dirigidas pelo Arcebispo dom Helder Câmara, até que partiu para outras experiências.

A irmã foi designada mais adiante para trabalhar no Ceará, em Crateús, com o Bispo Dom Antônio Fragoso, auxiliando nas suas atividades sociais durante cinco anos. Dalí, ela passou a trabalhar no município de Poranga, onde se dedica ao trabalho na comunidade indígena do sudeste do Ceará.

A atuação da Irmã no Ceará constou, também, de importante participação na construção da Igreja da Mãe de Deus, uma obra arquitetônica de destaque, feita de barro e pedra. Na época (1978 e anos seguintes), o município de Poranga ainda não tinha nem energia elétrica. Outro trabalho destacado foi a participação no planejamento e identificação dos indígenas de Poranga, Crateús e outras localidades, proporcionando a organização para resgate da cultura e dos direitos assegurados na legislação brasileira.


Em 2013, quando completou 50 anos de atividades no Brasil, ela veio a Natal, convidar amigos para a festa, e visitou amigos da juventude, entre eles Maria das Graça Sousa Beserra de Medeiros e este cronista; a então empresária do turismo Vera Chico, em Baía Formosa; os arcebispos aposentados de Natal, Dom Heitor de Araújo Sales e Dom Matias; e o Padre Tiago Teisen, que discorreu muito sobre suas obras, na casa do Bom Pastor. Foi, ainda, a Macau, onde visitou o túmulo da Irmã Dominique, freira inglesa que trabalhou no seu tempo naquela cidade, e faleceu em 23.06.1965.


A obra da nossa homenageada é imensa, que o digam as pessoas com as quais conviveu no nosso estado, em Pernambuco, e, agora, os moradores da cidade cearense onde se estabeleceu, numa pequena casa de retiro que recebe amigos peregrinos. Margareth Malfliet é o nome da amiga, irmã, religiosa, missionária, educadora e ativista social, que tem um lugar de destaque na história de lutas das mulheres e da humanidade. É considerada um ícone da Igrejinha Mãe de Deus, na Diocese de Crateús.

Parabéns, Irmã Margareth, pelos seus imensos feitos.
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*Walter Medeiros – Jornalista, 68 anos. DRT/RN 468.