segunda-feira, 10 de julho de 2023

MARTÍRIO DOS COPTAS

Coptas foram martirizados na Líbia por serem cristãos, diz Pe. Luisier

O martírio dos 21 homens assassinados pelo autodenominado Estado Islâmico em 2015 foi uma fonte de nova vida para a comunidade cristã da Igreja Copta Ortodoxa no Egito. O jesuíta nascido na Suíça explica a centralidade do martírio naquela Igreja e destaca a importância da criação da "Comissão dos Novos Mártires" desejada pelo Papa para recordar todas as testemunhas da fé, não apenas católicos



"Talvez a maior glória da Igreja Copta seja sua cruz." É o que está escrito no site da diocese da Igreja Copta Ortodoxa de Milão, onde lê-se ainda que "os coptas se orgulham das perseguições que tiveram de suportar a partir do martírio de seu padroeiro São Marcos, especialmente durante o período romano", quando até mesmo o imperador Diocleciano havia viajado para Alexandria, no Egito, para praticar pessoalmente a perseguição.


Pelo grande número de mártires entre seus fiéis e sua coragem de ir até a morte para testemunhar sua fé, a Copta Ortodoxa é de fato chamada de "Igreja dos mártires". Hoje constitui a maior comunidade cristã do Oriente Médio, e no Egito, onde se originou, constitui a maior minoria religiosa do país, representando cerca de 15% da população.


Mártires, sinal de comunhão espiritual


Os 20 egípcios coptas e um ganense, degolados em 15 de fevereiro de 2015 na praia de Izmir, na Líbia, deram um testemunho de coragem perante o mundo. Seus algozes eram homens do autodenominado Estado Islâmico, e a crueldade foi cometida em um dos períodos mais sombrios da região devido ao fundamentalismo religioso.


“Esses mártires foram batizados não apenas na água e no Espírito, mas também no sangue, com um sangue que é a semente da unidade para todos os seguidores de Cristo”, disse o Papa Francisco em uma mensagem em vídeo em 15 de fevereiro de 2021 por ocasião da uma comemoração dos coptas canonizados por sua Igreja.


Já em 11 de maio deste ano no Vaticano, o anúncio durante o encontro com Tawadros II, Papa de Alexandria e chefe da Igreja Copta Ortodoxa do Egito de que, "com o consentimento de Vossa Santidade, esses 21 mártires serão incluídos no Martirológio Romano como sinal da comunhão espiritual que une as nossas duas Igrejas".


Um pensamento reafirmado pelo Papa na recente Carta que institui a "Comissão dos Novos Mártires" com o objetivo de recolher os testemunhos de vida, até o derramamento de sangue por Cristo, nos últimos 25 anos, pesquisa que se estende a todas as confissões cristãs e não somente aos católicos.
Padre Luisier: martirizados simplesmente porque eram cristãos

Os corpos dos 21 coptas foram encontrados enterrados em uma vala comum, vestidos com as mesmas roupas laranja que usavam no momento da execução. Em sua homenagem foi construída uma igreja em Al-Aour, dedicada aos Mártires da Fé e da Pátria, visitada por fiéis de todo o Egito.


O padre jesuíta Philippe Luisier, professor de língua copta no Pontifício Instituto Oriental de Roma, fala ao Vatican News sobre o valor do martírio na Igreja copta:

Padre Luisier, qual é a importância dos mártires no mundo copta de hoje e, sobretudo, que peso tem a história dos 21 cristãos membros da Igreja Copta Ortodoxa mortos em 2015?


Se conhecermos a fundo a realidade da Igreja Copta, veremos que nela o martírio é algo fundamental. Deve-se dizer que para os coptas tem uma grande importância o monaquismo - que influenciou muito aquele ocidental que tudo deve ao monaquismo de São Pacômio - e que existe uma realidade muito forte de martírio, de mártires na Igreja Copta. Não só dos mártires - que são muito numerosos - do tempo de Diocleciano, especialmente no Alto Egito, quase todos da região de Samàlut, cerca de 200 quilômetros ao sul do Cairo, no vale do Nilo. Lá, a cada 10 quilômetros, há um santo mártir ou um monge que é a base da Igreja local. Além dos mártires da época de Diocleciano, há também os neomártires, ou seja, aqueles que foram martirizados após a chegada dos muçulmanos ao país. Os mártires de hoje, aqueles de 2015, continuam uma riquíssima tradição e estão também ligados à liturgia da Igreja. Eram diáconos, portanto as figuras desses mártires estão fortemente radicadas na Igreja Copta do Alto Egito. E se trata de testemunhas muito válidas para o Egito de hoje.


A Carta do Papa Francisco com a qual institui a "Comissão dos Novos Mártires" confirma o valor daquele ecumenismo de sangue do qual ele falou muitas vezes no passado...


Sim, absolutamente. Não esqueçamos que estamos nos preparando para o Ano Santo de 2025 e já no Grande Jubileu de 2000 havia sido aberta uma visão muito mais ecumênica do martírio para dar a conhecer todos os mártires cristãos declarados como tais por seu testemunho do nome de Jesus Cristo. Os mártires coptas foram martirizados simplesmente porque eram cristãos, não testemunharam nada além disso, não tinham mais nada a testemunhar, exceto que eram cristãos. Isto, em vista do Jubileu de 2025, pode ser um belo testemunho de ecumenismo de sangue, mas também de unidade na própria fé em Jesus Cristo.