ESTATUTO
Preâmbulo
O Sodalício
(Sodalité) tem por origem Carlos de Foucauld que, apesar do
seu desejo de fundar fraternidades, viveu só até a sua
morte no deserto, levando no coração de uma população
estrangeira a fé cristã, uma existência
evangélica “humilde, discreta e velada“ (L.
Massignon), “praticando a doce e humilde caridade e fraternidade de
Jesus de Nazaré” (Carlos de Foucauld).
O Sodalício
(Sodalité) se refere a uma coleção inacabada de
“Conselhos evangélicos” escritos por Carlos
de Foucauld na intenção daqueles que gostariam de viver
esta graça modesta ao alcance de todos” (C. De
Foucauld- Coleção publicada sob o título
Conseils, Paris, Seuil, 1926).
Assim o Sodalício
“oferece a toda pessoa de boa vontade um simples conselho
discreto: é apenas um conselho, mas é aquele das
Bem-Aventuranças”; ela “é um lugar de
vida contemplativa livre” (L. Massignon). O Sodalício
quer manifestar uma real participação nos mistérios
de Jesus, seja em Nazaré ou no Sábado Santo, quando ele
se insere na vida escondida ou nas trevas da morte, a fim de criar a
passagem, a “páscoa” para a luz de Deus.
O Sodalício se coloca na linhagem dos Santos que, como Maria na Visitação, Francisco de Assis, Antônio Chevrier (fundador do “Prado”) ou Teresa de Lisieux, viveram em formas diferentes a solidão e a simplicidade, a pobreza e a noite espiritual.
ARTIGO 1 –
NATUREZA DA ASSOCIAÇÃO
O Sodalício é
uma “associação privada de fiéis”. Ela
faz parte da Associação Geral que compreende o conjunto
de grupos nascidos do Padre de Foucauld, associação
estabelecida em Beni-Abbés em 1955. Ela é, entre esses
grupos nascidos do Padre de Foucauld, a única a não ser
uma “fraternidade”, mas uma rede de isolados. Ela é
“a mais humilde das afiliações foucaulianas”
(L. Massignon)
ARTIGO 2 –
FINALIDADE
O Sodalício tem
por finalidade ajudar aqueles e aquelas que querem se esforçar
em marchar neste caminho traçado por Carlos de Foucauld,
membros dispersos que são todos igualmente reunidos (quer
sejam bispos, padres, religiosos, religiosas, leigos) numa mesma
vocação, através da qual eles manifestam
especialmente sua adesão viva à comunhão dos
santos.
ARTIGO 3 – VIDA
DOS MEMBROS
O Sodalício
(latim: sodalitas, cenáculo, pequena associação;
no francês sodalité; no inglês sodality) é
uma “diáspora”, uma “comunhão” invisível
de cristãos dispersos através do mundo e vivendo seu
engajamento em pleno mundo, sem distinção exterior, um
entre os outros.
Estes cristãos
se engajam livremente e têm como ponto de honra levar o melhor
possível seu engajamento de maneira livre e inventiva, diante
deles mesmos e diante de Deus. Cabe a cada membro, ajudado pela
oração dos outros membros, discernir, com a ajuda do
Espírito Santo, os melhores meios a escolher para viver o
melhor possível este engajamento de Sodalício.
Agindo assim de maneira
pessoal e responsável, todo membro do Sodalício
acompanha invisivelmente, mas realmente, o itinerário
espiritual de cada um dos seus irmãos e irmãs do
Sodalício: solitários, os membros do Sodalício
são ao mesmo tempo profundamente solidários uns com os
outros.
ARTIGO 4 –
ESTRUTURA
O Sodalício é coordenado, sob a autoridade do bispo responsável, por um dos seus membros, que tem o cargo de discernir as vocações que se apresentam, de as admitir no Sodalício e de estabelecer a ligação (por meios diversos: cartas circulares, encontros informais, cartas pessoais...) entre todos os membros que estão engajados no Sodalício. Desde L. Massignon, o costume é que o coordenador do Sodalício designe ele mesmo o seu sucessor em comum acordo com o bispo responsável. Este coordenador pode ser escolhido entre todos os batizados membros do Sodalício, quer eles sejam padres, leigos homens, mulheres.
ARTIGO 5 –
ADMISSÃO
A adesão ao Sodalício se faz pelo acordo com o coordenador. Este deve examinar se o (a) candidato (a) apresenta bem os sinais desta vocação: a fé na comunhão dos santos, uma certa acepção de uma solidão de vida ativa e criativa, a vontade de viver o Evangelho e de querer particularmente conhecer a Jesus “pela amizade e bondade” (C. De Foucauld) para com os outros; a proximidade, por um lado, com aqueles que não partilham a fé cristã e, por outro lado, com os que, no nosso mundo, são particularmente desamparados, esmagados por uma solidão negativa, abandonados, rejeitados.
ARTIGO 6 –
ENGAJAMENTO
O engajamento no
Sodalício se faz numa data de festa escolhida de comum acordo
entre o coordenador e o candidato. Há festas mais particulares
do Sodalício: a Visitação, o Natal, a Epifania,
a Transfiguração, festas onde Jesus transparece no
transcorrer de uma vida escondida. O engajamento se exprime na
Eucaristia do dia da festa escolhida: o bispo ou o coordenador
apresenta neste dia ao Senhor o novo membro, enquanto ele, por sua
vez, promete viver o melhor possível no espírito de
Sodalício segundo o carisma do Padre de Foucauld. O
engajemento se faz por um ano, renovável tacitamente cada ano
à mesma data.
ARTIGO 7 – CARÁTER
DO ENGAJAMENTO
O engajamento no
Sodalício é um engajamento pessoal e discreto. O bispo
ou o coordenador não podem revelar, sem seu consentimento, os
nome destes e destas que fazem parte do Sodalício: só
os membros podem, por eles mesmos, manifestar a outros esta pertença.
Não há, portanto, listas de aderentes. Também
não há propaganda para o Sodalício.
ARTIGO 8 – LIGAÇÃO
ENTRE OS MEMBROS
Um membro do Sodalício pode pedir ao coordenador poder entrar em relação direta ou por carta com um outro membro do Sodalício (de sua região) ou de uma busca espiritual semelhante etc. O (a) coordenador (a) pode estabelecer esta ligação de acordo com a outra parte, se ele (ela) discernir que não se trata de um desejo que irá contra à vocação própria do Sodalício. O (a) coordenador (a) deve velar para que o Sodalício não se constitua “fraternidades” enquanto tais, mas permaneça fiel à sua vocação de “comunhão” entre membros dispersos.
ARTIGO 9 – SAÍDA
Um membro pode a
qualquer momento, se desejar, deixar livremente o Sodalício.
Um membro pode ser pedido pelo(a) coordenador (a), de acordo com o
bispo, a deixar o Sodalício, se ele manifestar publicamente um
comportamento por demais contrário ao seu engajamento. Antes
de efetivar essa demissão, o bispo deverá ouvir esse
membro.
ARTIGO 10 –
COTIZAÇÃO
Nenhuma cotização,
nenhuma contribuição é pedida aos membros do
Sodalício: eles enviam o que queiram, se eles quiserem, para
as despesas das cartas circulares. E se eles fizerem chegar doações
ao (à) coordenador (a) para ajudar a outros membros que passam
por necessidade, os que receberem ignorarão os nomes dos que
dão e, reciprocamente, a oferenda e cada um ficará em
segredo (Carlos de Foucauld). Em caso de dissolução do
Sodalício, o montante dos recursos que existirem será
destinado pelo bispo à Associação Carlos de
Foucauld. (Natal de 1996). gretaporanga@yahoo.com.br
As opções de vida de uma grande Mulher
-- Walter Medeiros*
(Nota do site: Recebi pelo e-mail um texto sobre a Irmã Margareth, que tomei a liberdade de postar aqui. Qualquer problema que haja no que se refere a direitos autorais, me avisem, por favor).
O Dia Internacional da Mulher neste ano de 2022 eu registro com uma homenagem a uma pessoa que tem uma história gigantesca, mesmo sendo alguém bem simples, mas que a humanidade precisa tomar conhecimento da sua obra. Uma mulher que nasceu na Bélgica, aldeia Zogge, município de Hamme, em 18 de fevereiro de 1940, sendo a quinta filha de Herman e Helena. Viveu a infância e boa parte da juventude em sua terra, e acompanhava o pai, nos trabalhos de plantação de flores e outras plantas, e a mãe, na criação de pequenos animais.
A nossa homenageada estudou e formou-se professora, lecionando por dois anos no seu país. Resolveu tornar-se freira, seguindo uma vocação de muito amor. Em 1963, partiu para uma missão que mudaria completamente a sua vida, olhando a paisagem deslumbrantemente colorida da sua cidade. Carregava uma mala, diante da qual se despediu dos familiares. Ela não tinha a menor ideia de como era o Brasil. Mas veio realizar um trabalho missionário na cidade potiguar de Macau.
A viagem da Irmã se deu a bordo do navio francês Louis Lumière, da Compagnie Maritime des "Chargeurs Reunis", que realizava a sua última viagem. Desembarcou no Rio de Janeiro, de onde seguiu para o Rio Grande do Norte. Naquela cidade potiguar, juntamente com outras religiosas vindas da Bélgica e de outros países, lecionou no colégio dirigido pelo Padre João Penha Filho. O seu trabalho naquela terra durou cerca de sete anos. Em seguida, atuou no município potiguar de Santa Cruz. Depois, ainda passou um tempo em Recife, trabalhando em ambientes da sua congregação, em obras dirigidas pelo Arcebispo dom Helder Câmara, até que partiu para outras experiências.
A irmã foi designada mais adiante para trabalhar no Ceará, em Crateús, com o Bispo Dom Antônio Fragoso, auxiliando nas suas atividades sociais durante cinco anos. Dalí, ela passou a trabalhar no município de Poranga, onde se dedica ao trabalho na comunidade indígena do sudeste do Ceará.
A atuação da Irmã no Ceará constou, também, de importante participação na construção da Igreja da Mãe de Deus, uma obra arquitetônica de destaque, feita de barro e pedra. Na época (1978 e anos seguintes), o município de Poranga ainda não tinha nem energia elétrica. Outro trabalho destacado foi a participação no planejamento e identificação dos indígenas de Poranga, Crateús e outras localidades, proporcionando a organização para resgate da cultura e dos direitos assegurados na legislação brasileira.
Em 2013, quando completou 50 anos de atividades no Brasil, ela veio a Natal, convidar amigos para a festa, e visitou amigos da juventude, entre eles Maria das Graça Sousa Beserra de Medeiros e este cronista; a então empresária do turismo Vera Chico, em Baía Formosa; os arcebispos aposentados de Natal, Dom Heitor de Araújo Sales e Dom Matias; e o Padre Tiago Teisen, que discorreu muito sobre suas obras, na casa do Bom Pastor. Foi, ainda, a Macau, onde visitou o túmulo da Irmã Dominique, freira inglesa que trabalhou no seu tempo naquela cidade, e faleceu em 23.06.1965.
A obra da nossa homenageada é imensa, que o digam as pessoas com as quais conviveu no nosso estado, em Pernambuco, e, agora, os moradores da cidade cearense onde se estabeleceu, numa pequena casa de retiro que recebe amigos peregrinos. Margareth Malfliet é o nome da amiga, irmã, religiosa, missionária, educadora e ativista social, que tem um lugar de destaque na história de lutas das mulheres e da humanidade. É considerada um ícone da Igrejinha Mãe de Deus, na Diocese de Crateús.
Parabéns, Irmã Margareth, pelos seus imensos feitos.
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*Walter Medeiros – Jornalista, 68 anos. DRT/RN 468.