03/10/2018
Do Pe. Freddy Goven, Alagoinhas BA- 3ª meditação do Retiro de jan. 2018.
A nossa vida cristã está, necessariamente, marcada pela vida de oração.
Em todos os mestres espirituais encontramos sempre, de diferentes formas, a mesma verdade:
A oração é indispensável para o cristão. O próprio Senhor nos convida a “orar sem cessar”. Definir o que é a oração, no entanto, pode ser ao mesmo tempo simples e confuso. Por um lado, podemos dizer que rezar é, simplesmente, falar com Deus. Mas, todos os que já tiveram uma pequena experiência de oração sabem que, embora essa definição seja verdadeira, ela precisa ser melhor detalhada, se queremos ter uma ideia mais exata do que se trata.
A oração é indispensável para o cristão. O próprio Senhor nos convida a “orar sem cessar”. Definir o que é a oração, no entanto, pode ser ao mesmo tempo simples e confuso. Por um lado, podemos dizer que rezar é, simplesmente, falar com Deus. Mas, todos os que já tiveram uma pequena experiência de oração sabem que, embora essa definição seja verdadeira, ela precisa ser melhor detalhada, se queremos ter uma ideia mais exata do que se trata.
Quando buscamos entrar um pouco mais nas formas e métodos para rezar, parece comum encontrar a contemplação como um ápice dessa vida. Mas, do que se trata a contemplação?
Seguindo os passos de um mestre dominicano, podemos entender a contemplação, de modo geral, como a resposta que dá o nosso espírito a um grandioso espetáculo que chama poderosamente a nossa atenção. É, de alguma maneira, olhar um objeto com admiração. Por exemplo, constatar uma realidade, como também podemos deixar que isso de alguma forma toque o nosso interior e que nos “fale” e que nos “questione”. Talvez possamos distinguir aqui a diferença entre um mero olhar e o contemplar.
Podemos contemplar não só uma flor, mas também o mar, uma cadeia de montanhas, uma bonita cachoeira ou uma bela obra de arte. No entanto, em todos esses casos estamos falando de uma espécie de contemplação que podemos chamar de natural. A contemplação cristã é sobrenatural e foi definida de muitas formas. Santo Agostinho disse que “a contemplação é uma deliciosa admiração da verdade resplandecente”. São Francisco de Sales, por sua vez, disse que ela “não é mais que uma amorosa, simples e permanente atenção do espírito às coisas divinas”. Uma característica dessa contemplação é que ela é infundida em nós, ou seja, que uma luz superior (de Deus) nos ilumina com essas verdades que contemplamos.
Podemos entrar em muitos outros detalhes referentes à contemplação e, ao final, chegar à seguinte definição: “É uma simples intuição da verdade divina procedente da fé e ilustrada pelos dons do entendimento, sabedoria e ciência, em estado perfeito”. Talvez não seja uma definição tão bonita quanto a de Santo Agostinho ou São Francisco de Sales, mas ilustra bem como contemplar é um dom de Deus ao homem que tem fé.
Na vida de Charles de Foucauld, o protagonista que deve sempre mais aparecer e agir através do discípulo, é o próprio Deus. Charles emprestou sua própria vida a Deus, uma vida não retida, mas doada. Quem guarda a própria vida para si, este a perde, mas quem a entrega, este a ganha.
A decisão que levou Charles de Foucauld a viver junto com os tuaregues, os pobres do deserto, é a condição de um caminho místico e contemplativo. O amor radical nasce dessa entrega.
Neste caminho está o processo de contemplação: antes de contemplar, é necessário amar. Antes de proclamar as palavras e anunciar a mensagem, é preciso vivê-la, sem arrogância nem orgulho, na própria vida.
De tudo isso, pode vir a sensação de que a contemplação é algo muito elevado, só para alguns escolhidos, para terem revelações místicas, e não para todas as pessoas. Entretanto, os mestres espirituais insistem que todos nós somos chamados a percorrer a senda da vida de oração até chegar a essa contemplação. Acho que para isso vale a pena entender que não existe ninguém incapaz de contemplar, porque a santidade à qual estamos chamados é sempre nova, única, reflexo da grandiosidade infinita e bela de Deus. Nós não somos chamados para a passividade. Somos chamados, sim, para sermos santos e contemplar a face de Deus cara a cara, em sua Glória (cf. Mt 5,48).
Com esta pequena meditação nem chegamos a “arranhar” a superfície da realidade da oração de contemplação. Há muito, ainda, para aprofundar e crescer! Que possamos, ao menos, fazer como Maria, quando contemplou a mensagem de Deus por meio do Anjo: deixar que Deus infunda em nossos corações sua Verdade para que, contemplando-a, nos coloquemos ao seu serviço, nas diversas realidades em que vivemos (Confira e reflita Lucas 1,26-38).
APROFUNDANDO UM POUCO MAIS
Existe uma ferramenta poderosa que pode incrementar a sua vida de oração e vida espiritual. Muitos de nós, em nossa busca incessante pelo Senhor, temos o hábito de orar bastante. São orações de intercessão, agradecimento, petições, entrega etc. Mas, infelizmente, assim que oramos por todas as nossas necessidades e pelas necessidades dos outros ao nosso redor, e mesmo pelas necessidades do mundo inteiro, simplesmente dizemos “amém” e seguimos a nossa jornada diária. Não desmereço aqui o valor dessa oração, pelo contrário. Contudo, existe um passo adiante...
Existe um lugar que poucos se atrevem a alcançar. Lá, precisamente quando seu coração está “queimando” na presença de Deus, quando você termina a sua oração “formal”, é exatamente nesse instante que devemos nos calar e simplesmente contemplar a sua beleza. Muitos falam de níveis de oração. Alguns dizem que num primeiro momento, quando começamos a orar, a nossa carne luta para permanecer em oração, mas, quando atingimos a dimensão do Espírito, torna-se difícil sair dela. Este é o início da oração contemplativa. (Nota nossa: a carne luta contra o fato de permanecermos em oração).
A oração contemplativa não substitui a formal. Ela a complementa e nos leva a lugares mais altos, à intimidade com Deus. A oração contemplativa consiste em simplesmente “estar ali”. Não é o caso de pedir algo. É o caso de apenas estar com o coração no Senhor, simplesmente porque você o ama por aquilo que Ele é. Palavras, algumas vezes, tornam-se desnecessárias ali, no santo lugar onde ele se revelará intimamente a você. Algumas pessoas tentam ficar em silêncio nesse momento e, após poucos minutos, se não ouvem nada, simplesmente dizem “amém”, levantam-se e partem para o seu dia. Mas o Senhor procura aqueles que ficarão naquele lugar secreto por amor a Ele. Não pelo que Ele pode te dar, não pelo que ele pode te falar, mas por quem Ele é!
De uma maneira prática funciona assim: chegue à presença do Senhor com toda a verdade de sua vida, o coração cansado e abatido (Ele não o desprezará). Peça perdão, misericórdia. Peça a Ele que cuide de suas necessidades e das dos outros. Entregue-se, adore-o... e assim que o seu “repertório” terminar, caso seu coração estiver “queimando”, caso sua mente esteja concentrada na beleza e grandeza do Senhor, cale-se e simplesmente desfrute, em espírito, a presença desse Deus maravilhoso. Passe cada vez mais tempo. Talvez seja bom colocar um fundo musical suave, de louvor, enquanto você ora. Alegre-se no Espírito. Você vai descobrir as delícias daqueles que gozam da intimidade Dele. Você terá, com o tempo, seus ouvidos espirituais abertos e ouvirá Sua voz doce e gentil. Dons começarão a se manifestar, ainda que você não peça.
A oração contemplativa é descrita na Palavra de Deus e, mesmo por vários de seus servos, ao longo dos séculos. Martinho Lutero, por exemplo, passou vários anos de sua vida clamando a Deus que o visitasse, abrisse os céus e se revelasse a ele, e nada acontecia... até que, um dia, ele descobriu que tudo o que ele precisava já estava dentro dele. Assim também foi com nossa querida Madre Teresa de Calcutá... 40 anos de ausência de qualquer manifestação de Deus (a noite escura!).
Lembre-se: “Deus é Espírito”. A oração contemplativa, durante abençoados minutos de silêncio, fará você voar nas asas do Espírito e você chegará ao alto monte onde conhecerá Deus face a face, na intimidade com Ele.
Charles de Foucauld escreveu: “Logo que descobri que existe Deus, entendi que não podia mais fazer outra coisa a não ser viver por ele. Minha vocação religiosa começa no exato momento em que despertou a minha fé”. Desde aquele momento, Charles se esvaziava de tudo o que não era o Evangelho, “porque há uma grande diferença entre Deus e tudo aquilo que não é Ele”.
No silêncio, no abandono e na contemplação, mergulhe no essencial. “O nosso aniquilamento é o meio mais poderoso que temos para nos unir a Jesus e fazer o bem”. Quando ainda estava no mosteiro trapista e decidiu a deixá-lo, Carlos escreveu: “No mosteiro passei seis anos e meio; depois, desejando querer me assemelhar a Jesus, fui autorizado a viver como alguém desconhecido, vivendo do meu trabalho cotidiano”. O coração de Charles se alargava numa dimensão universal, exatamente porque se tornou pequeno, escondido, participante da humildade do Senhor.