sexta-feira, 25 de outubro de 2019

O PAPA E SUAS LEITURAS




Papa Francisco e suas leituras prediletas 

Pe. Nelito Dornelas 

Os livros de cabeceira do Papa Francisco, quando arcebispo de Buenos Aires, revelam muito do seu pensamento e da prática de seu ministério episcopal e petrino. São os textos que ele costumava recomendar às pessoas que o procuravam. Na lista encontram-se os seguintes livros:

“O Senhor”, de Romano Guardini; “Batizados com o fogo” e “Contar a Jesus”, de Dolores Aleixandre; “Testemunhos de Esperança”, do cardeal François-Xavier Nguyen van Thuan; a obra de Santa Terezinha de Lisieux; as obras do Cardeal Carlo Maria Martini, como os comentários bíblicos de “Palavras para viver” e “Effatá”, dedicado à comunicação social. “A volta do filho pródigo” e “Caminhos de liberdade” de Henri Nouwen. As obras de Anselm Grün, um monge especialista em finanças e administração de empresas. “Testamento do pássaro solitário” de José Luis Martín Descalzo; “Tarde eu comecei a te amar”, de Ethel Mannin e as obras de John Henry Newman

Quero me deter sobre John Henry Newman, que foi canonizado no dia 6 de outubro de 2019, juntamente com Giuseppina Vannini, Mariam Thresia Chiramel Mankidiyan, Irmã Dulce dos Pobres e Marguerite Bays. 

John Henry Newman passou grande parte de sua vida contribuindo de modo significativo à vida intelectual da Igreja, seja anglicana ou católica. Newman foi um dos teólogos cristãos mais importantes do século 19. Começou sua vida na Igreja Anglicana e migrou ao catolicismo. 

Ele nasceu em 1801, em uma família anglicana. Aos 16 anos entrou na universidade de Oxford e foi ordenado padre anglicano em 1845. Em 1847 tornou-se padre católico. Levou a congregação religiosa do Oratório de São Filipe Neri à Inglaterra. 

A partir dali se consolidou como escritor cristão e seus textos espirituais são admirados tanto pelos católicos quanto pelos anglicanos. Em 1879, o Papa Leão XIII o nomeou cardeal, mas ele não quis ser ordenado bispo e continuou sendo padre e morando na Inglaterra, em Birmingham. Morreu em 1890. 

Newman continua sendo ainda hoje um dos personagens mais influentes do desenvolvimento do pensamento teológico católico e é considerado profético, especialmente no tema da justa formação das consciências. O Papa Bento XVI o beatificou em Birmingham, em 2010. 

Newman advertia sobre a ‘religião do mundo’, que adapta o Evangelho ao espírito do tempo e se expressa em um cristianismo morno, superficial e puramente horizontal. Embora os cristãos sejam chamados a viver a sua missão no mundo, eles não são do mundo. Em muitos sermões, John Henry Newman fala da tentação de um cristianismo mundano, um perigo frequentemente tematizado também pelo Papa Francisco. 

"A mundanidade espiritual, que se esconder por trás de aparências de religiosidade e até mesmo de amor à Igreja", escreve o pontífice na exortação apostólica Evangelii gaudium, "é buscar, em vez da glória do Senhor, a glória humana e o bem-estar pessoal" (93). 

No dia 26 de agosto de 1832 Newman proferiu um sermão sobre "A religião do dia". Com esse termo, ele entendia uma religião feita pelos homens, assumindo elementos cristãos que são agradáveis no momento e ignorando outros que parecem ser pouco úteis ou em contraste com o pensamento cristão. 

Tal cristianismo à la carte, que Newman chama de "religião do mundo", contém muitos aspectos verdadeiros, mas não toda a verdade. "Sabemos muito bem, a partir das experiências de vida mais comuns, que uma meia-verdade, muitas vezes, é a mais grosseira e nociva das mentiras". Na "religião do mundo", na mundanidade espiritual, podem-se ver, em última análise, os traços do Maligno que é o "pai da mentira" (Jo 8, 44). 

De acordo com Newman, tal "religião do mundo" existiu em todas as épocas da Igreja, embora tenha assumido formas diferentes ao longo da história. Nos primeiros séculos cristãos, "o mundo construiu, com a ajuda dos filósofos do dia, uma contrarreligião, em parte semelhante ao cristianismo, mas, na realidade, sua acérrima inimiga". Newman se refere à gnose, que foi uma terrível ameaça para o cristianismo e que renasce nos nossos dias. 

O Papa Francisco, em sua homilia durante a sua primeira missa com os cardeais depois da eleição à cátedra de Pedro assume o pensamento de Newman, ao afirmar que: "Quando caminhamos sem a Cruz, quando edificamos sem a Cruz e quando confessamos um Cristo sem Cruz, não somos discípulos do Senhor: somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor". 

Newman é o 'santo padroeiro da relevância' para o catolicismo como guardião do depositum fidei, o deposito da fé do conjunto dos fiéis e do cristianismo. Todo aquele que lê Newman hoje reconhece nele um representante moderno. Não é sem razão que uma de suas mais conhecidas obras se chama 'Tratado para os tempos'. 

Newman chega a glória dos altares intercedendo pela cura de dois de seus fieis devotos, residentes na arquidiocese de Washington, cujos milagres foram comprovados pela medicina. homem de comprovada virtude que encontrou a santidade na busca constante e na fidelidade à verdade.