Conselhos do Papa Francisco sobre a santidade
Pe. Nelito Dornelas
Quando o evangelho de Mateus coloca nos lábios de Jesus esta máxima: “Sede perfeitos assim como o vosso Pai celeste é perfeito” (Mt 5,48) está atualizando o que Javé havia ordenado ao seu povo no deserto: “Sede santos, porque eu sou santo” (Lv 11,44).
Em Lucas encontramos a síntese perfeita deste ideal máximo de vida: “Sede misericordiosos como o vosso Pai celeste é misericordioso” (Lc 6, 36). É nesta perspectiva que o Papa Francisco vem pautando sua missão.A perfeição cristã e a santidade somente poderão ser alcançadas na misericórdia, que hoje deve ser traduzida na construção da fraternidade universal, superando a solidariedade. Ele dá um exemplo simples sobre a diferença entre solidariedade e fraternidade. Ser solidário é ajudar alguém a atravessar um rio e ser fraterno é construir uma ponte sobre o rio a fim de que muitos possam atravessar o rio por si mesmos. A solidariedade se pratica pelas ações solidárias, muito necessárias e a fraternidade pelas ações políticas, que são imprescindíveis.
No último parágrafo da Fratelli Tutti, Francisco menciona o exemplo de fraternidade o Bem aventurado Charles de Foucauld com estas palavras: O seu ideal duma entrega total a Deus encaminhou-o para uma identificação com os últimos, os mais abandonados no interior do deserto africano. Naquele contexto, afloravam os seus desejos de sentir todo o ser humano como um irmão, e pedia a um amigo: Peça a Deus que eu seja realmente o irmão de todos. Enfim queria ser o irmão universal. Mas somente identificando-se com os últimos é que chegou a ser irmão de todos. Que Deus inspire este ideal a cada um de nós.
Este pensamento de Francisco me reportou a uma oração de Dalai Lama que expressa bem este desejo de fraternidade. Que eu me torne em todos os momentos, agora e sempre, um protetor para os desprotegidos, um guia para os que perderam o rumo, um navio para os que têm oceanos a cruzar, uma ponte para os que têm rios a atravessar, um santuário para os que estão em perigo, uma lâmpada para os que não têm luz, um refúgio para os que não têm abrigo e um servidor para todos os necessitados.
Com este propósito de construção da fraternidade como expressão da solidariedade universal, elencamos treze pensamentos do Papa Francisco sobre a santidade expressos em seus discursos.
1. Santo e santa não é ser super-herói
Muito ao contrário do que se pensa, santos não são super-heróis, mas pecadores. Um caminho que compreende humildade e sofrimento para deixar que Cristo nos santifique. Humilhação nossa, para que o Senhor cresça, é regra da santidade. Os Santos não são super-homens, supermulheres e nem nasceram perfeitos. São pessoas que antes de chegar à glória do céu viveram uma vida normal, com alegrias e tristezas, fatigas e esperanças, mas quando conheceram o amor de Deus, o seguiram de coração, sem nenhuma condição ou hipocrisia.
2. Inimigos convertidos podem tornarem-se santos e santas
Ao citar a conversão de São Paulo, que de inimigo da Igreja tornou-se santo, o Papa Francisco garante que o coração de Saulo mudou, mas Paulo não se tornou um herói. Ele pregou o Evangelho em todo o mundo e terminou a vida com um pequeno grupo de amigos, em Roma, até ser morto, à imitação de Jesus Cristo.
3.Não existe curso de santidade
O Papa Francisco explica que as Cartas de São Paulo são endereçadas a pessoas que pecam, mas são filhos e filhas da Igreja santificados pelo Corpo e Sangue de Cristo. A santidade é um dom de Jesus à sua Igreja e para fazer ver isto Ele escolhe pessoas em que se vê claro o seu trabalho para alcançarem a santidade.
4.Santidade é vocação para todas as pessoas
Os Santos e santas, amigos e amigas de Deus, nos asseguram que esta promessa não decepciona. Em sua existência terrena, eles viveram em profunda comunhão com Deus, tornando-se semelhantes a Ele. No rosto dos irmãos humildes e desprezados eles viram o rosto de Deus, e agora o contemplam face a face em sua beleza gloriosa.
5.Servir com alegria
Os santos e santas dedicaram suas vidas a serviço dos outros, suportaram sofrimentos e adversidades sem odiar e respondendo ao mal com o bem, difundindo alegria e paz. Os santos nunca odiaram. O amor é de Deus, mas o ódio vem de quem? Vem do diabo. Os santos são homens e mulheres que têm alegria no coração e a transmitem aos outros. Não devemos odiar os outros, mas servir aos outros, os necessitados, rezar e se alegrar: este é o caminho da santidade.
6.Não é privilégio de poucos
Ser santos e santas não é um privilégio de poucos, como se alguém recebesse uma grande herança. Todos nós recebemos a herança de nos tornarmos Santos no Batismo. Ser santo é uma vocação para todos. Todos nós somos chamados a percorrer o caminho da santidade e o caminho que leva à santidade tem um nome e um rosto: Jesus Cristo. No Evangelho, Ele nos mostra a estrada das Bem-Aventuranças.
7.Santidade em comunidade
Francisco nos convida a aceitar o chamado à santidade com alegria e a sustentar o próximo porque não se percorre sozinho o caminho da santidade, mas juntos, no único corpo que é a Igreja, amada e santificada pelo Senhor Jesus Cristo. Vamos em frente com ânimo, neste caminho da santidade.
8. Não precisa ser religioso para ser santo, santa
Para ser santo, santa não é preciso ser bispo, padre ou religioso: não, todos somos chamados a ser santos! Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade só está reservada àqueles que têm a possibilidade de se desapegar dos afazeres normais, para se dedicar exclusivamente à oração.
9. Santos e santas no dia a dia
A santidade se faz no testemunho cristão nas ocupações de cada dia e no estado de vida em que se encontra. O que se espera que se cumpra com honestidade e competência o trabalho, oferecendo tempo ao serviço dos irmãos. Ali onde você trabalha você pode se tornar santo, santa.
10. Cara de santinho e santinha
A santidade é consistente, não é oca. Alguns pensam que a santidade é fechar os olhos e fazer cara de santinho! Não, a santidade não é isto! A santidade é algo maior, mais profundo, que Deus nos dá. O Senhor não nos chama para algo pesado, triste. Ele nos convida a compartilhar a alegria.
11. Pais/mães e avós santos, santas
Ao ensinar com paixão aos filhos ou netos a conhecerem e a seguirem Jesus se alcança a santidade. Ser bons pais e avós exige muita paciência. É, justamente, exercitando esta paciência que acontece a santidade.
12. Sem fofoca
Um passo importante é não falar mal de ninguém. O papa dá como exemplo uma mulher que está no mercado fazendo compras e encontra uma vizinha. Começam a falar e depois vêm os mexericos. Mas, quando a mulher decide romper com esta atitude e diz: Não, não, não, não posso dizer mal de ninguém, torna-se um passo para a santidade.
13. Orar para ser santo e santa
A oração é um outro passo para a santidade. Ir à missa ao domingo, comungar, confessar-se. A recitação do Rosário contribui para nossa santidade. Ao rezar na rua, ver um pobre, devemos parar e dar atenção a esse necessitado: é um passo rumo à santidade! São pequenas coisas. Cada passo rumo à santidade fará de nós pessoas melhores, livres do egoísmo e do fechamento em nós mesmos, abertos aos irmãos e às suas necessidades.
Depois de ler estas treze orientações, faça um exame de consciência. A proposta é do próprio Papa Francisco: como respondemos até agora ao chamamento do Senhor à santidade? Tenho a vontade de me tornar um pouco melhor, de ser mais cristão, mais cristã? Esta é a estrada da santidade.