RETIRO DE DOM EDSON DAMIAN
29/01/2017
Querido irmão, Querida irmã
Crescer e envelhecer à sombra do testemunho de fé, de amor e fidelidade do pai e da mãe que completam setenta anos de vida matrimonial é um presente de Deus que não preço. Por isso convido você para se unir ao canto de alegria e gratidão da minha família.
Na Exortação Apostólica Amoris Laetitia sobre o amor na família, com palavras iluminadoras, o querido Papa Francisco descreve a transformação do amor que vai acontecendo na caminhada de uma prolongada vivência matrimonial.
“O alongamento da vida provocou algo que não era comum em outros tempos: a relação íntima e a mútua pertença devem ser mantidas durante quatro, cinco ou seis décadas, e isto gera a necessidade de renovar repetidas vezes a recíproca escolha. Talvez o cônjuge já não esteja apaixonado com um desejo sexual intenso que o atraia para outra pessoa, mas sente o prazer de lhe pertencer e que esta pessoa lhe pertença, de saber que não está só, de ter um «cúmplice» que conhece tudo da sua vida e da sua história e tudo partilha.
É o companheiro no caminho da vida, com quem se pode enfrentar as dificuldades e gozar das coisas lindas. Também isto gera uma satisfação, que acompanha a decisão própria do amor conjugal. Não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável, comprometer-nos a amar-nos e a viver unidos até que a morte nos separe, e viver sempre uma rica intimidade.
O amor, que nos prometemos, supera toda a emoção, sentimento ou estado de ânimo, embora possa incluí-los. É um querer-se bem mais profundo, com uma decisão do coração que envolve toda a existência. Assim, no meio dum conflito não resolvido e ainda que muitos sentimentos confusos girem pelo coração, mantém-se viva dia-a-dia a decisão de amar, de se pertencer, de partilhar a vida inteira e continuar a amar-se e perdoar-se.
Cada um dos dois realiza um caminho de crescimento e mudança pessoal. No curso de tal caminho, o amor celebra cada passo, cada etapa nova"
(A L nº 163).
Em comunhão de orações, grande abraço fraterno
Aqui você pode ler a poesia que ele sempre recitava em todos os encontros, antes de ser ordenado bispo:
POESIA DE JORGE DE LIMA
Eu tive a felicidade de herdar, do nosso amigo D. Edson Damian, o original do poema que ele sempre declamava nos retiros e encontros da Fraternidade Jesus-Cáritas. Quando ele foi ordenado bispo, percebeu que essas declamações seriam improváveis e me enviou o original do qual ele decorou a poesia, ainda escrito à máquina de escrever. Partilho com vocês a lembrança daqueles inesquecíveis encontros...
Fim de tarde, boquinha da noite,
com as primeiras estrelas e os derradeiros sinos.
Entre as estrelas, e lá, detrás da igreja,
surge a lua cheia para chorar com os poetas.
E vão dormir as duas coisas novas deste mundo: o sol e os meninos.
Mas ainda vela o menino impossível, aí ao lado,
enquanto todas as crianças mansas dormem,
acalentadas por mão-negra da noite.
O menino impossível que destruiu os brinquedos perfeitos que os vovós lhe deram:
o urso de Nuremberg,
o velho barbado iugoslavo,
as poupées de Paris aux cheveux crêpes (as bonecas de Paris de cabelos crespos),
o carrinho português feito de folha-de-flandres,
a caixa de música tcheco-eslovaca,
o polichinelo italiano made in England,
o trem de ferro de USA,
e o macaco brasileiro de Buenos Aires, movendo la cola y la cabeza...
O menino impossível, que destruiu até os soldados de chumbo de Moscou,
e furou os olhos de um Papai-Noel,
brinca com sabugos de milho,
caixas vazias,
tacos de pau,
pedrinhas brancas do rio.
"Faz de conta que os sabugos são bois...
faz de conta...
faz de conta..."
E os sabugos de milho mugem como bois de verdade!
E os tacos que deveriam ser soldadinhos de chumbo
são cangaceiros de chapéu-de-couro.
E as pedrinhas balem...
coitadinhas das ovelhas mansas,
longe das mães,
presas nos currais de papelão
É boquinha da noite,
no mundo que o menino impossível povoou sozinho.
A mamãe cochila,
o papai cabeceia,
o relógio badala,
e vem descendo uma noite encantada,
da lâmpada que expira lentamente na parede da sala.
E o menino pousa a testa
e sonha
dentro da noite quieta
da lâmpada apagada,
COM O MUNDO MARAVILHOSO QUE ELE TIROU DO NADA!
HOMENAGEIO AQUI SANTA TERESINHA, QUE SOUBE TÃO BEM TIRAR DO NADA QUE POSSUÍA UMA VIDA MISSIONÁRIA, SEM SAIR DO CONVENTO. DISSE UM DIA:
"A alegria não está nos objetos, mas no fundo do coração. Podemos senti-la tanto no mais rico palácio, como na mais pobre prisão".