domingo, 11 de outubro de 2015

EXPERIÊNCIA DE DEUS EM CH.DE FOUCAULD



“Esvaziemos o nosso coração de tudo o que não for o objetivo único... Que nada além de Deus seja o nosso tesouro. Que o nosso único tesouro seja Deus, o que o nosso coração seja todo de Deus em Deus, todo para Deus... Só para ele. Fiquemos vazios de tudo... Para nos podermos encher completamente de Deus...”.


   Bem-aventurado Charles de Foucauld (1858-1916)
    Padre francês e eremita no deserto do Saara

A experiência de Deus na vida de Charles de Foucauld fez nele uma santa inquietação na busca profunda de ser todo de Cristo e de testemunhar até o fim do mundo o Evangelho do Reino de Deus. Todo o seu ser é ir, sempre ir ao encontro do Absoluto e do outro. O deserto ficou curto na busca do último lugar e sua obra o tornara maior do que seu escondimento. Em Charles de Foucauld há começo e não fim. Há espaço para conteúdos maravilhosos. Há lugar infinito para busca do Absoluto. Há campo para trabalhar a missão e a evangelização de amor universal. Há muita coisa para ser feita em sua espiritualidade para o bem das almas. Garimpar é preciso na sua mina mística, em seus escritos e na sua vida impactante! Sua fé, o fervor do Espírito Santo em sua jornada, sua atitude louca e apaixonada por Jesus desperta e provoca em espírito morno, em pessoas indecisas e sem rumo tomar uma posição radical. Tal decisão é ser todo de Deus por amor e pelo próximo para fazer um mundo de paz, de justiça, de vida plena e de caridade universal!
DESCRENÇA E INFELICIDADE

Charles de Foucauld de Eugene Pontbriand, de rica família aristocrática francesa, tinha um caráter duro,  era inquieto, fervilhava de emoções e de fortes aventuras. Ele mesmo escreveu: "Passei doze anos inteiros sem fé alguma. Não acreditava mais em Deus, visto que não havia prova científica da existência de Deus". No ano de 1876 ele entrou para a escola militar, de onde foi expulso, Com 19 anos de idade apresentou-se como voluntário ao exército e, enviado para o Saara, passou a viver de modo agitado e desregrado. Foi expulso do exército por "falta de disciplina e má conduta". Isso no ano de 1881. Sua descrença, sua intransigência conectada a sua exacerbação causaram muitos transtornos e infelicidades.

Assim decidiu ir como explorador para o Marrocos. Ele labutou e arriscou a sua vida. Escreveu um livro científico sobre suas explorações, o que lhe conferiu uma medalha de ouro pela Sociedade Geográfica de Paris.

A CAMINHO DA CONVERSÃO

Lá longe, ele tinha uma prima, Madame de Bondy, que rezava por ele, para que começasse a pensar em sua alma e a mudar de vida. Ele ficou encantado, não somente com a beleza do deserto, mas também sacudido com a religiosidade do povo muçulmano, o qual demonstrava grande veneração por Deus, vendo o povo orando cinco vezes por dia. E certa vez confessou: “Esses oram cinco vezes por dia e eu, nem religião tenho.” Por isso partiu do fundo do coração a primeira lástima e a primeira oração: “Ó Deus meu, se existes, faze que eu chegue até conhecer”.

Charles, porque se dedicava às ciências, pensava que a fé se descobria por meio de provas científicas, ou mediante argumentos racionais ou perscrutando livros. Ele mesmo admitiu: “Eu devassei os livros da filosofia pagã e nada encontrei, senão o vazio e o tédio”. Depois, por acaso, veio às minhas mãos um livro cristão (Études sur les mysteres, do famoso pregador francês Jacques Bossuet) que me fora entregue por minha prima Maria Bondy, e nele encontrei a doçura e beleza que jamais descobrira antes. Esse era o primeiro livro que consegui ler antes da minha conversão, o que me mostrou que a religião cristã era a verdadeira!

ATRAÍDO PELA VIDA VIRTUOSA

Ele retornou para a França, e começou a ficar atraído pela vida da virtude. Ele presenciava os exemplos de extraordinária santidade de sua prima Madame de Bondy; porém ainda não tinha começado a crer em Deus, mas procurava frequentar a Igreja. Ele mesmo confessa: “Em princípios de outubro de 1886, senti a necessidade de solidão, de recolhimento, de leitura devocional a reflexão”. Começava a sentir necessidade de frequentar a Igreja, apesar de ainda sem muita fé. “Minha mente estava confusa, e vivia em estado de uma grande ansiedade: sempre buscando e buscando a verdade.” Entretanto, ele achava que a fé se descobria com o estudo ou pesquisando. Mas a fé é a submissão da própria vontade de Deus. E isso era uma verdade ainda por ele desconhecida.

A REVIRAVOLTA DE SUA VIDA

Sua vida conheceu uma virada para melhor, quando de seu encontro com o Padre Henri Huvelin, um sacerdote santo e sábio diretor de almas. Quando o viu, Charles sentiu em si algo que lhe dizia: “É necessário abaixar a cabeça e crer. É necessário crer.” Começou a sentir-se mais atraído pela Igreja. Certa vez a sua prima informou que o Padre Huvelin, por motivos de saúde, não ia continuar dando suas palestras costumeiras. Charles respondeu: “Mas que pena! Estava decidido a ir parar sua conferência. Tu, prima, gozas do grande privilégio de gozar da luz; enquanto eu estou em busca dessa luz e não encontro”.

SUA CONVERSÃO

O escritor francês René Bazin, em sua biografia: Charles de Foucauld – eremita e explorador, narra o encontro de Charles de Foucauld com o ínclito Padre Huvelin. Entre os dias 27 e 30 de outubro, o Padre Huvelin viu aproximar-se dele um jovem, o qual não se ajoelhou, mas esse jovem, um tanto cabisbaixo, disse ao sacerdote: “Senhor Padre, eu não tenho fé; vim para pedir que me desse algumas aulas.” O Padre Huvelin, que era especialista na direção espiritual, percebeu que aquele jovem tinha necessidade, primeiramente, de mudança de comportamento, e lhe disse: “Fica de joelhos, meu filho; agora confessa teus pecados a Deus, e terás fé.” Charles respondeu: “Mas não vim para isto.” O Padre Huvelin: “Meu filho, confessa teus pecados.” Charles, que queria crer, sem confessar, percebeu que a condição para poder crer era exatamente isso: submeter-se e abaixar a cabeça perante Deus. Charles se ajoelhou e fez uma confissão geral de toda sua vida.

Em seguida, o Padre perguntou ao penitente se estava em jejum (para a Eucaristia), e à resposta afirmativa de Charles, o sacerdote disse: “Então vai receber a comunhão”. Charles de Foucauld foi direto ao altar, e, pela segunda vez na vida, fez “sua primeira comunhão”, porque fazia anos que não a recebia. Cada vez que lembrava daquele dia, Charles agradecia a Deus e lhe dizia: “Foi bem naquele dia, ó meu Deus, que lançaste sobre mim teu olhar e me inundaste com tuas graças”.

MUDANÇA RADICAL E MORTE

Dali em diante, a vida de Charles mudou completamente. A graça de Deus fez nele milagres espantosos. Ele tomou a decisão: “do momento em que comecei a crer na existência de Deus, eu percebi que o único caminho que me restou era dedicar minha vida inteira a Ele”.

Desde então, optou por uma vida muito simples, dormindo no chão e orando diariamente durante muitas horas. Ele foi à peregrinação à Terra Santa, de novembro de 1888 até fevereiro de 1889. Em janeiro de 1890 entrou para vida monástica no mosteiro trapista de Norte Dame-des-Neiges. Em junho se transferiu para o mosteiro de Akbes, Síria. De lá o enviaram a estudar em Roma, em outubro de 1896. Porém três meses mais tarde saiu dos trapistas; seus pensamentos estavam voltados para os povos da África, que não conheciam Cristo. Foi a pé, como peregrino à Terra Santa, e depois voltou para a França, para estudar o sacerdócio. Foi ordenado sacerdote Viviers, em 9 de junho de 1901.

Regressou à Argélia e levou uma vida isolada do mundo, numa zona dos Tuaregues, mais próximos da população. Aprendeu a língua tuaregue e estudou o léxico e a gramática, os cantos e tradições dos povos do Deserto do Saara. Tinha a intenção de criar uma nova ordem religiosa, o que sucedeu apenas depois da sua morte: os Irmãozinhos de Jesus, fundado em 1933, pelo Padre René Voillaume. O “Irmão Universal”, como Charles ficou conhecido, foi assassinado no dia 1 de dezembro de 1916, em meio a uma revolta anti-francesa dos bérberes de Hogar na Argélia, em plena Primeira Guerra Mundial.

O renomado estudioso da vida de Charles de Foucauld, o irmãozinho Antoine Chatelard escreveu: “Sua conversão foi na verdade um encontro com Deus vivo, com um Deus próximo e amoroso. Esse Deus a quem ele suplicava que se manifestasse, revelou-se a ele em uma comunhão de amor. É um Deus que ama e a quem se deve amar. Esse Deus próximo fez-se carne e tem nome: Jesus. Toda espiritualidade de Charles de Foucauld centrar-se-ia na pessoa de Jesus, seu Deus, seu Senhor, seu Irmão, e depois, na linguagem dos místicos, seu Esposo bem-amado”.

                      CONCLUSÃO                     
Toda a vida de Charles de Foucauld pode ser resumida em duas palavras: “Jesus caridade” e “Jesus amor”. No confronto das incompatibilidades em sua jornada, o amor é a construção segura e unificada de sua alma caridosa e faminta de Deus. O caminho espiritual que ele delineou foi muito simples: “viver o amor de Jesus na imitação e na adoração”. Estas características transformaram o seu pensamento, suas decisões e suas ações.
“Não existe, creio eu, palavras do evangelho que tenha mais profunda impressão e transformado mais minha vida que aquela: tudo o que vocês façam a um destes pequeninos é a mim que vocês fazem”, escreveu quatro meses antes da sua morte a seu amigo Louis Massignon. No amor de Jesus, ele tornou-se uma testemunha forte e resoluta no anúncio do evangelho do Mestre de Nazaré.
De forma abissal Charles de Foucauld é uma inspiração para amar Jesus apaixonadamente! Sua espiritualidade é profundamente impactante que atua de forma renovada e reavivada nos corações tomados pelo amor de Deus, do amor ao próximo, pela Igreja, pela vida ativa e contemplativa e pela proclamação do Evangelho num testemunho vivo e eficaz!

Inácio José do Vale