quarta-feira, 23 de dezembro de 2015

C. FOUC. E A EUCARISTIA



JESUS NA SANTA EUCARISTIA

Por Charles de Foucauld 

Meu Senhor Jesus, vós estais na Santa Eucaristia. Aqui mesmo, a um metro de mim, neste tabernáculo!
Vosso corpo, vossa alma, vossa humanidade, vossa divindade vosso ser encontram-se inteiramente aqui, em sua dupla natureza. 

Como estais próximo, meu Deus, meu Salvador, meu Jesus, meu irmão, meu esposo, meu bem-amado!... Não estáveis mais perto de Nossa Senhora durante os nove meses que ela vos trouxe no seio do que estais de mim quando vindes a minha boca na comunhão! Não estáveis mais perto de Nossa Senhora e de São José na gruta de Belém, na casa de Nazaré, durante a fuga para o Egito e todos os instantes desta divina vida de família, do que estais de mim neste momento. E tão, tão freqüentemente neste tabernáculo! Santa Madalena não estava mais próxima de vós, sentada a vossos pés em Betânia do que eu, junto deste altar! Não estáveis mais perto de vossos apóstolos quando sentado no meio deles, do que de mim agora, meu Deus!... 

Como sou feliz!... Estar só, em minha cela conversando convosco no silêncio da noite, é doce, meu Senhor. Estais presente como Deus e por vossa graça... Porém ficar em minha cela quando poderia encontrar-me diante do Santíssimo, é o mesmo que fazer como Santa Madalena se ela vos tivesse deixado só, quando estáveis em Betânia, para ir pensar em vós sozinha em seu quarto... 


Beijar os lugares santificados por vós em vossa vida mortal, as pedras de Getsêmani e do Calvário, o solo da via dolorosa, as ondas do mar da Galileia, é confortador e piedoso, meu Deus! Mas preferir isso ao vosso tabernáculo é deixar Jesus vivo a meu lado, deixá-lo só e ir sozinho venerar pedras mortas onde ele não está. É deixar o quarto onde ele se encontra e sua divina companhia para ir beijar a terra de um quarto onde esteve, mas não esta mais... Deixar o tabernáculo a fim de ir venerar estátuas, é abandonar Jesus vivo junto de mim e ir a um outro aposento para saudar seu retrato... 

Quando amamos, não achamos bem empregado, perfeitamente, todo o tempo passado na companhia de quem amamos? Não é tempo mais bem empregado, excetuando-se aquele em que a vontade ou o bem do ser amado nos chama a outra parte?... 


“Onde quer que se encontre a hóstia santa, aí está o Deus vivo, seu Salvador, tão realmente quanto no tempo em que vivia e falava na Galileia e na Judeia e quanto está agora no céu... Não perca uma comunhão por sua culpa. Uma comunhão é mais do que a vida, mais do que todos os bens do mundo, mais do que o universo inteiro... É Deus mesmo, sou eu, Jesus. Como pode preferir alguma coisa a mim? Se e ama, por pouco que seja como pode perder voluntariamente a graça que lhe concede de entrar assim em você?... Ame-me com toda a capacidade e em toda a simplicidade de seu coração...”. 


Estais conosco, meu Senhor Jesus, “até a consumação dos séculos”. Não apenas na santa Eucaristia, mas também por vossa graça... Vossa graça encontra-se na Igreja, está e vive em toda alma fiel... (1). 


A EUCARISTIA, DOM POR EXCELÊNCIA 

“A Igreja recebeu a Eucaristia de Cristo seu Senhor não como um dom, por precioso que ele seja, entre muito outros, mas como o dom por excelência, porque ele é o dom de si mesmo, da sua pessoa na sua santa humanidade, e da sua obra de salvação” (2). 


Este dom por excelência foi longamente preparado por Deus na história da salvação. A sagrada eucaristia recapitula e coroa, com efeito, uma multidão de dons de Deus feitos à humanidade depois da criação do mundo. 


“O nosso Salvado institui na última Ceia, na noite em que foi entregue, o sacrifício eucarístico do seu Corpo e do seu Sangue para perpetuar pelo decorrer dos séculos, até Ele voltar, o Sacrifício da cruz, confiando à Igreja, sua esposa amada, o memorial da sua morte e ressurreição: sacramento de piedade, sinal de unidade, vínculo de caridade, banquete pascal em que se recebe Cristo, a alma se enche de graça e nos é concedido o penhor da glória futura” (Conc. Vat. II - Const. Sacrosanctum Concilium, n.47). 


O que o Salvador instituiu na noite em que foi entregue, é o dom de si mesmo, levado pelo seu amor extremo na cruz. 


“Na sua morte de cruz, escreve o ínclito teólogo papa Bento XVI, cumpre-se aquele virar-se de Deus contra si próprio, com o qual Ele se entrega para levantar o ser humano e salvá-lo – o amor na sua forma mais radical” (3). Contemplando este amor sofredor e agonizante na cruz, aprendemos a medir o amor sem medida do seu coração e adivinhamos a imensidade do dom do santíssimo sacramento da eucaristia. 


À luz desta doutrina, vê-se ainda melhor a razão pela qual a vida sacramental da Igreja e de cada cristão atinge o seu cume a plenitude na eucaristia. Neste sacramento, com efeito, o mistério de Cristo oferecendo-se a si mesmo em sacrifício ao Pai no altar da cruz, renova-se continuamente pela sua vontade. E o Pai responde a esta sua oferenda pela vida nova do Ressuscitado. Esta vida nova, manifestada na glorificação corporal de Cristo crucificado, tonou-se sinal eficaz do dom novo feito à humanidade. “A ressurreição de Cristo é muito mais; trata-se duma realidade diferente. Ela é – se podemos por uma vez utilizar a linguagem da teoria da evolução – a maior mutação, o salto absolutamente mais decisivo numa dimensão totalmente nova que jamais tinha acontecido ao longo da história da vida e os seus progressos: um salto duma ordem completamente nova, que nos diz respeito a nós e a toda a história” (4). 


EUCARISTIA: MISSÃO E SALVAÇÃO 


Quando se fez uma verdadeira experiência do Ressuscitado, não se pode guardar para si a Boa Nova e a alegria experimentada. O encontro com Cristo aprofunda em permanência a intimidade eucarística, e suscita na Igreja e em todo o cristão a urgência do testemunho e da evangelização (5). Quando a Igreja celebra o memorial da morte e da ressurreição de Cristo, não cessa de pedir a Deus: “Lembra-te, Senhor”, de todos aqueles para quem Cristo veio trazer a Vida. Esta oração constante exprime a identidade da Igreja e sua missão, porque ela reconhece-se solidária e responsável pela salvação de toda a humanidade. 


“Ao ajudar o mundo e recebendo dele ao mesmo tempo muitas coisas, o único fim da Igreja é o advento do reino de Deus e o estabelecimento da salvação de todo o gênero humano. E todo o bem que o Povo de Deus pode prestar à família dos homens durante o tempo da sua peregrinação deriva do fato que a Igreja é o sacramento universal da salvação’, manifestando e atuando simultaneamente o mistério do amor de Deus pelos homens” (6). 


“Na santíssima eucaristia está contido todo o tesouro espiritual da Igreja, isto é, próprio Cristo, a nossa Páscoa e o pão vivo que dá aos homens a vida mediante a sua carne vivificada e vivificadora pelo Espírito Santo; assim são eles convidados e levados a oferecer, juntamente com Ele a si mesmos, os seus trabalhos e todas as coisas criadas” (7). 


Escreve Charles de Foucauld: “Tenho no Santo Sacramento, o melhor amigo com quem posso falar, dia e noite. Contemplar Nosso Senhor na Santa Eucaristia é também um dever, porque Ele se oferece a nós por isto, com a vontade que nós nele O contemplemos... Ele que passou precisamente, graças ‘a ela, ser a nossa vida e a nossa luz’, assim como, Graças a Santa Eucaristia é a nossa vida” (8). 


CONCLUSÃO 

Toda vida religiosa de do bem-aventurado Charles de Foucauld estava centrada em duas mesas: a da Palavra e da Santa Eucaristia. Para ele o mais importante era viver o testemunho evangélico. Não basta só escrever, pregar e propagar a Boa Nova, o exemplo, silencioso conectado a prática de vida amorosa e caridosa era tudo para sua caminhada de fé e de esperança. Seu lema era: “Gritar com a vida do Evangelho de Cristo”. O bom testemunho anuncia Cristo de forma verdadeira, muito mais do que grandiosos sermões. 

Na mesa eucarística, ele era centrado por longo tempo em adoração. Nas quintas-feiras ele passava a vigília de adoração. Legado que deixou para seus discípulos. Tudo estava interligado: missa e adoração. Daí, sua mística: missão e força para ir até o fim do mundo para com a vida anunciar a salvação em Jesus Cáritas. 

O fundamento da sua comunhão com Cristo era o Evangelho, a Eucaristia e adoração. O resultado de tudo isso era o amor radical a missão no deserto do Saara e a caridade para com todos. Sua vida e sua obra são abissais em prol do bem ao próximo e de novas modalidades renovadas para vida da Igreja, da sociedade e da paz universal. 


Inácio José do Vale

NOTAS: 

(1) Foucauld, Charles de. Cartas e anotações. São Paulo: Edições Paulinas, 1970, pp.98-100. 

(2) João Paulo II – Carta encíclica Ecclesia de Eucharistia, nº 11. 

(3) Bento XVI – Carta Encíclica – Deis é amor – nº 12. 

(4) Bento XVI – Homilia da Vigília Pascal – 15 de abril de 2006. 

(5) Concílio Vaticano II – Constituição Presbiterorum Ordinis nº16. 

(6) Concílio Vaticano II – Constituição Pastoral Gaudium et Spes, nº45,1. 

(7) Concílio Vaticano II – Cosntituição Presbirerorum Ordinis, nº5. 


(8) Sciadini, Frei Patrício, o.c.d. (org). Viajante noturno. Charles de Foucauld. São Paulo: Editora Cidade Nova, 1987, pp.68 e 122. 

Fontes: 
Catecismo da Igreja Católica, 1993. 

A Eucaristia, Dom de Deus para a vida do mundo. Documento Teológico de Base para o Congresso Eucarístico Internacional de Quebec - Canadá 2008. São Paulo: Paulus, 2007.