A Fraternidade Sacerdotal Iesus Caritas, no âmbito das Famílias de Carlos de FOUCAULD tem uma dinâmica própria, de sacerdotes diocesanos, que cada fraternidade estabelece e que todas as fraternidades adotam desde o Diretório.
Para pertencer a uma fraternidade, os elos de amizade, conhecimento mútuo, as motivações para a confiança e a sinceridade, as atitudes de fé e de escuta, têm que se ir consolidando, pelo contrário não seria mais que uma pertença a um grupo de bons amigos, ou a um grupo de socorros mútuos, quando não algo de caráter sectário, elitista ou espiritualista.
Isto se vê em atitudes fundamentais próprias de qualquer grupo humano sério.
Estas atitudes poderiam ser as seguintes:
1. EMPATIA. Pôr-me na pele do outro, pôr-me no seu lugar. Isto me permitirá compreender e aceitar os outros. Esta atitude descentra-nos dos nós pessoais que nos encerram em nossas opiniões, ideias fixas, etc.
2. ESCUTA. Abrir os ouvidos do coração para escutar a voz do Senhor nos irmãos, para que se sintam por sua vez escutados e cada um seja atendido.
3. TRANSPARÊNCIA. Se não me deixo ver por dentro, também não saberei ver os outros. A sinceridade, a honradez na comunicação, não julgar nunca, são sinais de transparência nas pessoas.
4. RESPEITO. Sinônimo de amor e de amizade, de preocupação pelo outro, de aceitação como ele é. Quando existe o respeito, não se trata só de boa educação, mas de flexibilidade nas relações e bom entendimento. Quando se perde o respeito, perde-se a verdadeira amizade, o amor, o espírito de trabalho em equipe e as relações deterioram-se mortalmente.
5. ENTREGA. Dar-mo-nos gratuitamente aos outros, oferecer o melhor de nós mesmos, sem esperar prêmios, sem passar fatura depois por tudo o que fizemos. Amor gratuito e desinteressado.
Até aqui poderíamos falar de um grupo humano compacto e ao mesmo tempo aberto. Compacto em suas convicções e aberto a melhorar, a admitir as críticas e inovações, aberto a novos membros e a novas ideias.
A Fraternidade Iesus Caritas tem características e atitudes que todos conhecemos bem, encaixadas no carisma do irmão Carlos e na espiritualidade do evangelho: a vida fraternal, o deserto, a revisão de vida, a adoração, o Mês de Nazaré, a opção pelos últimos, a contemplação na vida, a vida de Nazaré como forma de vida e convívio e, por sua vez, como estilo pastoral.
Sabemo-lo todos muito bem. Mas seria necessário fazer uma boa reflexão sobre o empenhamento pessoal, que está vinculado á vocação recebida, e o comunitário – no âmbito local ou nacional – do que é específico de nossa Fraternidade e que passa por um compromisso desde o coração com os irmãos, seres humanos, não só com o Senhor enquanto sacerdotes ou homens consagrados.
Perante isto, sugiro as seguintes considerações:
1. FRATERNIDADE E COMPROMISSO EVANGÉLICO.
A Fraternidade aproxima-me do Evangelho? Ajuda-me a estender o Reino? Partimos de nossa vocação cristã de seguir Jesus desde o nosso batismo, que se renova com a confirmação e se torna sólida na ordenação, não como uma profissionalização, mas como serviço ao Povo de Deus e á sociedade. É a minha fraternidade um sinal do evangelho na minha diocese, na minha igreja local? Não nos situamos á margem como uma elite.
2. FRATERNIDADE COMO MEIO DE EVANGELIZAÇÃO.
Sinto-me evangelizado desde a Fraternidade, desde cada irmão? Sinto-me chamado não só a viver o Evangelho, mas também a anunciá-lo com a vida – ponto chave no carisma do irmão Carlos? Como sacerdotes estamos chamados a anunciar Jesus, a dar a conhecer a Boa Nova aos pobres, a liberdade aos cativos… Não somos profissionais da sacramentalização nem da pregação, no estilo de animadores mediáticos, somos enviados no nome de Jesus. Creio e espero no estilo de Nazaré para evangelizar? Nazaré não é utopia, é o dia a dia no pequeno.
3. FRATERNIDADE E ESPIRITUALIDADE.
É a nossa pertença à Fraternidade um dos meios de cultivo do espírito? A Fraternidade, o carisma do irmão Carlos, é para nós escola de oração, recurso para a vida interior? Temos como Fraternidade uma riqueza de meios invejável no caminho espiritual para outros sacerdotes. Os nossos retiros, encontros, gostam aos que se abeiram de nós por primeira vez. Somos valorados nas nossas dioceses como homens de oração, mas será que isto corresponde á realidade? Não se trata de dar lições, mas de partilhar uma maneira de amar Deus e deixar-se amar por ele.
4. FRATERNIDADE E AMOR FRATERNO.
Sou amigo dos irmãos de fraternidade? Preocupo-me por eles? Sofro com seus sofrimentos e alegro-me com suas alegrias? A Fraternidade não é nenhuma etiqueta eclesial. Não escolhemos o lugar onde estar, põem-nos. Não escolhemos os irmãos, são-nos dados. Ver em tudo isto a voz de Deus, ás vezes custa. Idealizar a minha fraternidade como estado perfeito de compreensão mútua, amizade, é um erro. As pessoas, todas diferentes, tem seus valores e contra valores. Amar os irmãos como eles são é respeitá-los. Isto facilita deixar-se ajudar, escutar, contemplar suas vidas com os olhos do coração, sem julgar atitudes nem acontecimentos, mas interpelando quando for necessário e deixando que nos interpelem. Temos medo que os outros entrem em nossas vidas? A nossa psicologia de homens muitas vezes mascara-nos e geramos defesas.
5. FRATERNIDADE E LUGAR TEOLÓGICO.
É a fraternidade para nós o último lugar? Pode ser tudo isso sinônimo de falsa humildade? Deus é Amor também no seio de minha fraternidade? Os encontros com o Senhor acontecem em muito diversos meios, momentos, acontecimentos. Ás vezes tentamos orar e não podemos; outras vezes é o Senhor quem sai ao encontro e fala ao teu coração. Como é que a minha fraternidade me ajuda e como ajudo eu a encontrar Deus nas pessoas e na vida? É claro para mim que seguir o carisma do irmão Carlos é procura de Deus e aceitação do último lugar? A Fraternidade, os irmãos, muito mais que as estruturas, ou é uma prioridade em nosso tempo e dedicação ou não deixa de ser uma bonita forma de complemento espiritual o de autoajuda.
Pertencer à Fraternidade não é um êxito, é um dom. Comprometermo-nos com ela é continuar comprometendo-nos no trabalho da extensão do Reino.
Todos nós fugimos das etiquetas, tanto as sociais, como as pastorais; não gostamos de ser assinalados no âmbito do clero diocesano como personagens curiosas.
A convicção de sermos chamados por Jesus a servi-lo nos outros, a fazer de nossa vida um anúncio e uma denúncia, compromete-nos a sermos coerentes, a não jogar com dois baralhos.
Consideramos a Fraternidade uma ajuda mais dentro do amplo leque de possibilidades ou ofertas para viver uma espiritualidade séria?
Como me preocupa o andamento de minha fraternidade e das outras fraternidades?
Valorizo e leio as diversas comunicações? Se tiver a possibilidade, acedo desde Internet aos sites das fraternidades? (www.iesuscaritas.org ou outras) (como este blog e nosso site)
Quanto tempo dedico semanal ou mensalmente à minha fraternidade? Utilizo frequentemente o telefone para saber como estão os outros? Visito-os? Deixo-me amar quando se preocupam também por mim?
Considero minha fraternidade local um pequeno território feudal á margem dos outros grupos ou do resto das fraternidades? Talvez um reino “taifa” (que ninguém se meta)? Estamos abertos às críticas, às inovações no espírito do carisma?
Estou em minha fraternidade como poderia estar em qualquer outro grupo de sacerdotes ou de leigos? Por quê? Que espaços posso compartilhar?
Tenho constrangimento em falar de fraternidade no âmbito do clero diocesano, em reuniões ou encontros ou celebrações por medo de ser considerado diferente, etiquetado? Por que “aqui sim e lá não”?
Caso vos sirva, eis uma reflexão destes dias sobre a pertença à Fraternidade.
Questiono-me eu em primeiro lugar e ofereço esta questão a quem, desta ou de outra forma, quiser refletir.
Para sermos felizes devemos amar o que somos e o que temos, como dom e amor de Deus, como parte de sua herança.
Obrigado.
Pe. Aurelio SANZ BAEZA, irmão responsável internacional