terça-feira, 14 de março de 2017

PEDAGOGIA DA ORAÇÃO



Orai sem cessar (1Ts  5,17). Atitude piedosa na prática do amor para com Deus e para o bem da humanidade.

Lugar, tempo, literaturas (principalmente a Bíblia), silêncio, deserto, meditação, símbolos, música e a direção espiritual.
A pedagogia da oração é progressiva e abissal. Jamais se deve aprisionar por disciplinas rígidas, frias, letras mortas, ritos e liturgias espetaculares, no entanto, sem a luz e o fogo do Espírito Santo, tudo se torna teatro. Se educar na pedagogia da oração é viver a mais alta ciência da alma na felicidade imanente e transcendente. “A oração é algo que requer aprendizado e disciplina”, escreveu o renomado mestre da espiritualidade cristã Henri Nouwen (*).

Oração, adoração, coração e razão são conexões que fundamentam a qualidade de vida: psíquica, física e espiritual. Antes de qualquer ensino ou prática sobre a oração, sabemos radicalmente que o Emanuel está sempre conosco. Em tudo prevalece  a sua onipotência diante da nossa impotência. Do Senhor Deus recebemos o dom graça e a fé para o diálogo de amor, fortaleza e numa amizade sem fim.

“Peço-vos, por favor, que façais esta experiência: todos os dias uma oração”.  “Assim se vence, deste modo iremos por este caminho da santidade e da perfeição”, disse o Papa Francisco na visita à paróquia romana de Santa Maria Josefa no bairro de Castelverde, domingo, 19 de fevereiro de 2017.

Orar sempre e nunca desanimar

A oração é uma das principais formas de desenvolver intimidade com Deus. A oração de um justo é poderosa e eficaz, e ela é uma das principais armas de todo aquele que crê. Nosso Pai celestial deseja derramar sobre nós a plenitude de Suas bênçãos. É nosso privilégio beber em grande medida da fonte de amor ilimitado. Está escrito em Hebreus 4,16: “Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos socorridos no momento oportuno”. O bom Deus está atento à oração dos seus filhos. Somos abençoados e felizes porque Deus sempre ouve a oração daqueles que se aproximam com humildade e todo seu ser entregue a Ele.

Medite nesses versículos:

“Ó tu que ouves a oração, a ti virão todos os homens” (Sl 64,1-3).

“Peçam, e será dado; busquem, e encontrarão; batam, e a porta será aberta. Pois todo o que pede recebe; o que busca encontra; e àquele que bate, a porta será aberta” (Mt 7,7-8).
“E tudo o que pedirem em oração, se crerem, vocês receberão” (Mt 21,22).

“Portanto, confessem os seus pecados uns aos outros e orem uns pelos outros para serem curados. A oração de um justo é poderosa e eficaz” (Tg 5,16).

Então Jesus contou aos seus discípulos uma parábola, para mostrar-lhes que eles deviam orar sempre e nunca desanimar. Ele disse: “Em certa cidade havia um juiz que não temia a Deus nem se importava com os homens. E havia naquela cidade uma viúva que se dirigia continuamente a ele, suplicando-lhe: 'Faze-me justiça contra o meu adversário'. "Por algum tempo ele se recusou. Mas finalmente disse a si mesmo: 'Embora eu não tema a Deus e nem me importe com os homens, esta viúva está me aborrecendo; vou fazer-lhe justiça para que ela não venha mais me importunar' ". E o Senhor continuou: "Ouçam o que diz o juiz injusto. Acaso Deus não fará justiça aos seus escolhidos, que clamam a ele dia e noite? Continuará fazendo-os esperar? Eu digo a vocês: Ele lhes fará justiça e depressa. Contudo, quando o Filho do homem vier, encontrará fé na terra?” (Lc 18,1-8).

Conclusão

Santo Agostinho pode nos ajudar: “Na verdade, louvamos a Deus agora que nos encontramos reunidos na igreja. Mas logo, ao voltarmos para casa, parece que deixamos de louvar a Deus. Não deixes de viver santamente e louvarás sempre a Deus. Deixas de louvá-lo, quando te afastas da justiça e do que lhe agrada. Mas se nunca te desviares do bom caminho, ainda que a tua língua se cale, tua vida proclamará; e o ouvido de Deus estará perto de teu coração. Porque assim como nossos ouvidos escutam nossas palavras, assim os ouvidos de Deus  escutam nossos pensamentos”.  (Liturgia das Horas  II, p. 779-780).

Há várias modalidades da pedagogia da oração.  A oração monástica é, sem dúvida, em nossa Igreja, a mais viva e a mais abissal. Muitos mestres de oração foram surgindo na História da Igreja como: Santo Antão, São Bento, São Basílio Magno, São João Crisóstomo, Santo Agostinho, Santa Mônica, São Bruno, São Francisco de Assis, Santa Clara, Santa Catarina de Sena,  Santa Teresa d’Àvila, São João da Cruz, Santa Margarida de Alacoque, Santa Teresinha do Menino Jesus, Beata Elena Guerra, Bem-aventurado Charles de Foucauld e São Pio de Pietrelcina. Não poucos de nossos contemporâneos redescobriram a oração através do Movimento da Renovação Carismática, Oficina de Oração, Centro de Meditação Cristã e Casas de Retiros Espirituais.

A Palavra de Deus é cheia de narrativas que descrevem o poder da oração em várias situações. O poder da oração vence os inimigos (Sl 5,9-12), venceu a morte (2 Reis 4,3-36), trouxe a cura (Tg 5,14-15) e derrotou demônios (Mc 9,29). Deus, através da oração, abre os olhos, transformam corações, cura as feridas e dá sabedoria (Tg 1,5). O poder da oração nunca deve ser subestimado porque ela se sustenta da glória e do poder do Deus  infinitamente onipotente! Daniel 4,35 declara: “Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?”.

A pedagogia da oração dá sentido à vida e a  plenitude na caminhada para eternidade.

Inácio José do Vale
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(*) Nouwen, Henri. J.M. Direção espiritual: sabedoria para o caminho da fé. 2ª. Ed. Petrópolis, RJ. Voves, 2008, p. 93.