terça-feira, 25 de junho de 2019

EREMITAS PELA GRAÇA DE DEUS




Eremitas Pela Graça de Deus
(junho 2019)
A palavra vem do Grego eremités, que significa “gente do deserto”, de erêmia, que significa “deserto, solidão”, que por sua vez vem de eremos, que significa “desabitado”.

A palavra eremita
vem também do Latim eremus (= deserto) e designa, originalmente, aquele que se retirava para o deserto a fim de lá viver entregue a Deus na oração, no silêncio e na solidão. É considerado o primeiro tipo de vida consagrada masculina na Igreja.

O eremitismo apresenta dois momentos fortes de expansão: o primeiro na Antiguidade, nos séculos III e IV e o segundo na Idade Média, nos séculos XII e XIII. O primeiro período, entre os séculos III e IV, assiste o surgimento da espiritualidade dos Padres do Deserto, que buscavam através de um estilo de vida austero e contemplativo a união com Deus no deserto do Egito. Eles atraíam muitos seguidores para seus retiros, direção espiritual e conselhos. Estão na raiz do monaquismo oriental, Santo Antão do Deserto tornou-se um modelo destes Padres junto com Paulo de Tebas. Nos fins do século XX e início do XXI voltou a ressurgir com vitalidade em várias modalidades: como autônomo, diocesano e urbano.

Paulo de Tebas, o primeiro eremita. Nasceu no ano 228, em Tebaia, uma região próxima do rio Nilo, no Egito, cuja capital era Tebas. Morreu com 113 anos. São Jerônimo escreveu em 400, um livro rico em detalhes sobre a vida de Paulo, a quem chamou de "príncipe da vida eremita". Disse são Jerônimo que quando a palmeira não tinha frutos, vinha um corvo trazendo meio pão no bico e com isso vivia o santo eremita. Quando contava com 113 anos, recebeu a visita de Santo Antão. Este santo varão igualmente eremita, tinha noventa anos. Antão rezou sobre o seu corpo e sepultou-o.

Eremita ou ermitão é um cristão com vocação especial que vive radicalmente para Deus, em lugar deserto, isolado, sua morada é chamado de eremitério. Sua felicidade é o silêncio, oração, jejum, intercessão, meditação, leitura da Sagrada Escritura (Lectio Divina), dos Padres do Deserto, Teologia Ascética e Mística e a Vida dos Santos. A principal característica pode ser a vida de solidão e "separação estrita do mundo"; qualidade que não só expressa e afirma sua missão apostólica oculta, mas acima de tudo, sua total consagração a Deus. O eremita é dotado de dons e frutos do Espírito Santo, cuja vida é um testemunho abissal dessa graça vocacional.

Os eremitas buscavam refúgio em locais remotos e desabitados, como cavernas, grutas, montanhas e florestas, sua aparência era horrível, vestiam-se muito pobres, as pernas apareciam semi-descobertas, usavam barba comprida e andavam de pés descalços. O padroeiro dos eremitas pela tradição do Evangelho é São João Batista e no monaquismo eremítico Santo Antão Abade, no Oriente e Ocidente como Patriarca do monaquismo, que deixou mais clara a espiritualidade dos monges, eremitas e cenobitas.

Eremitismo na História do Brasil colônia

Em 1558, o irmão leigo franciscano Frei Pedro Palácios desembarcou no Espírito Santo com um painel de Nossa Senhora. Lá fundou o Santuário de Nossa Senhora da Penha, em Vila Velha.

O período áureo do eremitismo no Brasil foi durante o ciclo do ouro, ao final do século XVII. Eram leigos que buscavam uma vida ascética, vivendo em geral ao lado de uma ermida construída por eles. As autoridades eclesiais mantinham uma atitude de respeito em relação a este estilo de vida religioso durante o período colonial. Após a romanização do catolicismo brasileiro, o eremitismo leigo caiu no esquecimento.

Há documentação histórica sobre os seguintes eremitas no Brasil colonial:

· Antônio Caminha, construtor da ermida de Nossa Senhora da Glória do Outeiro.

· Francisco da Soledade, introdutor da devoção a Bom Jesus da Lapa, às margens do Rio São Francisco.

· Félix da Costa, construtor da ermida de Nossa Senhora da Conceição em Macaúbas, às margens do Rio das Velhas, Minas Gerais.


· Antônio Bracarena, construtor da ermida de Nossa Senhora da Piedade, em Caeté, Minas Gerais.


· Joaquim do Livramento, que se distingue por diversas obras sociais, como orfanatos, hospitais e seminários. De Santa Catarina.

· João Maria é o nome pelo qual ficaram conhecidos dois monges-eremitas que passaram pela região sul do Brasil no final do século XIX e primeira metade do século XX. O primeiro deles, o monge Giovanni "João" Maria D'Agostini, era imigrante italiano e residiu em Sorocaba (São Paulo), mudando-se em seguida para o Rio Grande do Sul, onde viveu entre os anos de 1844 e 1848 nas cidades de Candelária, no morro do Botucaraí, e Santa Maria, no Campestre. Introduziu nessa região o culto a Santo Antão, que é considerado o “pai de todos os monges”, cuja festa continua até os dias atuais, comemorada em 17 de janeiro. A região do Campestre passou a ser chamada, desde então, de Campestre de Santo Antão. O segundo monge, João Maria de Jesus, surgiu também misteriosamente, no Paraná e Santa Catarina, tendo vivido entre os anos de 1886 e 1908, havendo, na ocasião, uma identificação com o primeiro, de quem utilizava os mesmos métodos, com curas por ervas, conselhos e água de fontes.

Conclusão

Escreve Dom Armand Veilleux, OCSO: “Na origem da fé cristã há um grupo de homens e de mulheres que, encontrando-se com Jesus de Nazaré, fizeram a experiência de Deus. Viram Jesus, ouviram-no, tocaram-no, admiraram-no e o amaram, e pouco compreenderam, e alguns dentre eles, o seguiram. Como encontraram Deus nele? Santo Agostinho tem a respeito uma bela resposta? "Viram o homem e creram em Deus". Sua experiência de Deus foi uma síntese -ativamente estabelecida e mantida- entre uma percepção humana de um lado, e de outro, uma fé que avançava bem para além desta percepção. Sua experiência de Deus não era o sentimento ou o conjunto de sentimentos que poderiam ter na presença de Jesus, mas a síntese destes sentimentos com sua fé. E esta síntese tinha efeitos profundos e permanentes em suas vidas”.

São Basílio Magno disse: "Não nos podemos aproximar do conhecimento da verdade, com o coração inquieto". Por isso nós devemos esforçar para evitar tudo o que agita o nosso coração, tudo que é causa de falta de atenção, de excitação, tudo o que desperta as paixões ou nos torna ansiosos. A espetacularização é algo abominável para vida eremítica. O falatório, aglomeração e o desequilíbrio não fazem parte do eremitismo. A meta radical é nos libertar do barulho, da agitação e da inquietação que se produzem por objetos sem importância. Pois, quando servimos a Santíssima Trindade devemos viver a calma na alma que tudo se acalma. A serenidade, a paciência o silêncio, a oração, a meditação e a vida amorosa são os nossos atributos.

Inácio José do Vale, CFC

Fontes:




http://www.padresdodeserto.net/exper.htm

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