sexta-feira, 12 de julho de 2019

SÃO SEPÉ TIARAJU



São Sepé Tiaraju 

Pe Nelito Dornelas 

Queria escrever um artigo sobre o Brasil, mas não me vinha à mente nada de bom e relevante que merecesse tal importância. De repente um colega me disse que há uma grande diferença entre a abelha e a mosca. A abelha sobrevoa um monte de estrume e encontra ali uma florzinha com a qual se deleita, ao passo que a mosca, diante de um belo jardim, é capaz de encantar-se com um coco de gato. 

Resolvi
me revestir de abelha e me encantei diante de uma flor sem defesa no meio de tanto estrume, o anúncio pela Igreja Católica da beatificação de Sepé Tiaraju. 

Quem foi Sepé? Meu primeiro contato com ele se deu por esta música: 

Nas missões de Sete Povos nasceu um dia Sepé/ Trazendo uma cruz na testa cicatriz sinal da fé/ Quando o sol batia nele essa cruz resplandecia/ Por isso lhe deram o nome Tiaraju, a luz do dia/ Quando o exército de Espanha e Portugal, chegou aqui/ Para expulsar dos Sete Povos toda gente Guarani/ Tiaraju que era cacique reuniu os seus guerreiros/ E sem medo dos canhões atacou só com lanceiros./ Tiaraju morreu peleando no arroio Caiboaté/ Mas depois noutro combate todos viram São Sepé/ Que vinha morrer de novo junto à gente Guarani/ Pra embeber seu sangue todo neste chão onde nasci/ Mais um valente guerreiro a morrer pelo seu pago/ É por isso que seu nome pro Rio Grande é sagrado/ São Sepé subiu pro céu e sua cruz ficou no azul/ Cai a noite ela rebrilha ele é Cruzeiro do Sul. SEPÉ TIARAJU SEPÉ TIARAJU. 

Sepé Tiaraju (1733-1756), em guarani significa “facho de luz”, foi batizado como José e criado pelos padres jesuítas. Ao espírito de liberdade Guarani incorporou a cultura cristã, tornando-se um dos maiores líderes dos Guarani dos Sete Povos. 

Sepé era o corregedor, prefeito, de São Miguel, a segunda cidade mais populosa do cone sul com 10 mil habitantes. 

Suas qualidades e carisma ganharam notoriedade com a Guerra Guaranítica (1753-1756), consequência do Tratado de Madrid (1750) entre Portugal e Espanha, através do qual Portugal concederia a Colônia de Sacramento, hoje Paraguai, à Espanha em troca da região dos Sete Povos. Os indígenas teriam de deixar suas terras e viver na condição de escravos. A culminância foi a Batalha de Caiboaté com a dizimação de 1500 indígenas. 

O processo de beatificação de Sepé Tiaraju teve início em 2015 e foi batizado por “Santo ainda que tarde!” E em fevereiro de 2019 foi declarado pela Igreja como Servo de Deus, sinalizando que Sepé Tiaraju está rumo aos altares, com direito a ter seu nome inserido no martirológio, a um dia de festa por ano no calendário litúrgico, direito a culto universal, a ser invocado por todos os cristãos como modelo de santidade, a ser declarado padroeiro dos prefeitos, dos líderes populares e dos povos indígenas. 

A canonização de Sepé é uma causa da Igreja e do povo. Ele já é santo canonizado popularmente pelos índios e pelos pobres do Rio Grande do Sul. A importância da canonização cresce, quando olhamos para a situação em que se encontram os indígenas de hoje no Brasil. 

Sepé não é um mito e sim um sujeito histórico concreto e datado, um símbolo histórico do índio missioneiro do século dezoito. Sua significância histórica e lendária reside na luta e na resistência pelos direitos de seu povo: terra, cultura, língua e dignidade. Foi morto combatendo, no dia 07 de fevereiro de 1756, nas margens da sanga da Bica, em Batovi, hoje município de São Gabriel-RS. 

Sua relevância é reconhecida por lei, tendo sido declarado “Herói Guarani Missioneiro Rio-Grandense” pela Lei estadual número 12.366 (D.O.E. de 04/11/2005) e inscrito no “Livro dos Heróis da Pátria” pela Lei federal 12.032 (D.O.U. de 21/09/2009) e incluído no Panteão dos heróis da Pátria, em 2010, ao lado de Tiradentes e Zumbi dos Palmares. A experiência das Missões dos Sete Povos foi reconhecida como “Triunfo da Humanidade” pelo filósofo Voltaire e como “Experiência única na humanidade” pela UNESCO. São Sepé Tiaraju, rogai pelo Brasil nesta hora tão desafiante de nossa história.