FSJC
- PAPA FRANCISCO:Por ocasião do 100º aniversário da morte do Beato Charles de
Foucauld.
AS
RELIGIÕES PELA PAZ MUNDIAL
Afirmou
o Papa Francisco: “O caminho das religiões e dos seus fiéis exige mergulhar nas
situações e dar o primeiro lugar aos que sofrem; assumir os conflitos e
saná-los a partir de dentro; percorrer com coerência caminhos de bem, recusando
os atalhos do mal; empreender pacientemente, com a ajuda de Deus e a boa
vontade, processos de paz”.
O
Papa Francisco, que apelou aos católicos para rezarem pela paz, junta-se com cerca de 500 líderes
religiosos que se reúnem em Assis, por ocasião dos 30 anos do encontro
inter-religioso promovido na cidade italiana por iniciativa do papa S. João
Paulo II.
O
encontro "Sede de paz", organizado pela Comunidade de Santo Egídio,
pela diocese de Assis e pela Família Franciscana, assinalou o 30.º aniversário
da histórica oração inter-religiosa promovida pelo papa São João Paulo II na
cidade de São Francisco.
O
renomado sociólogo polonês Zygmunt Bauman, considerado um dos mais rigorosos
estudiosos da sociedade pós-moderna, considera que o diálogo é uma “verdadeira
revolução cultural”, embora não seja como “um café instantâneo”, que dá efeitos
imediatos.
O
sociólogo Ulrich Beck diz que vivemos numa condição cosmopolita de
interdependência e intercâmbio a nível planetário, mas nem sequer começámos a
desenvolver a consciência disso. E gerimos este momento com os instrumentos dos
nossos antepassados. É uma armadilha, um desafio a enfrentar. Não podemos
voltar atrás e subtrair-nos ao viver juntos.
Em
entrevista publicada hoje no jornal italiano “Avvenire”, concedida durante o
encontro “Sede de paz”, em Assis, o sociólogo acentua que “a única
personalidade contemporânea” que pondera “com realismo” as questões da
convivência multicultural e multirreligiosa e as faz chegar a cada pessoa é o
papa.
Disse
Bauman: “O nosso mundo contemporâneo não vive uma guerra orgânica, mas
fragmentada. Guerras de interesses, por dinheiro, pelos recursos, para governar
sobre as nações. Não a chamo guerra de religião, são outros que querem que seja
uma guerra de religião. Não pertenço a quem quer fazer acreditar que haja uma
guerra entre religiões. Nem sequer a chamo assim. É preciso estarmos atentos
para não seguir a mentalidade corrente. Em particular a mentalidade introduzida
pelo politólogo de serviço, pelos meios de comunicação, por aqueles que querem
recolher o consenso, dizendo o que se quer ouvir. Como bem sabe, num mundo
permeado pelo medo, este penetra a sociedade. O medo tem as suas raízes na
ansiedade das pessoas, e mesmo se temos situações de grande bem-estar, vivemos
num grande medo. O medo de perder posições. As pessoas têm medo de ter medo,
mesmo sem darem uma explicação do motivo. E este medo tão móvel, por exprimir,
que não explica a sua fonte, é um ótimo capital para todos aqueles que o querem
utilizar por motivos políticos ou comerciais. Falar assim das guerras e das
guerras de religiões é uma das ofertas do mercado”.
Bartolomeu
I, Patriarca ecuménico de Constantinopla, discursou: “Nos últimos anos todos
temos sido testemunhas de mudanças construtivas e criativas na sociedade
contemporânea, no sentido de uma maior abertura e integração com os outros
credos e as minorias. Ao mesmo tempo, no mundo temos experimentado episódios de
exclusão e violência contra os emigrantes e os refugiados. Se realmente temos
sede de paz, temos de trabalhar sem dúvida pela paz. Por isso o Santo e Grande
Concílio da Igreja Ortodoxa, declarou, na sua mensagem final: “Um diálogo
inter-religioso sério ajuda de maneira significativa a fomentar a confiança
recíproca, a paz e a reconciliação” (Encontro "Sede de paz: religiões e
culturas em diálogo", Assis, Itália, 18/09/2016).
Na
intervenção que proferiu durante o primeiro dia do encontro "Sede de paz:
religiões e culturas em diálogo", que começou no dia 18, em Assis, e que
no último dia, 20/09/2016, conta com a presença do papa Francisco, Dr. Mohammad
Sammak, Secretário-Geral do Comité Nacional para o Diálogo entre cristãos e
muçulmanos, lamentou o desvio ao islão protagonizado pelo Daesh, e que tem
resultado na morte de cristãos e na destruição de património histórico.
Disse
Sammak: “Também por esta razão, enfrentar o tema do extremismo religioso é um
dever antes de tudo dos muçulmanos. O islão acredita no pluralismo e considera
a diversidade entre os homens uma expressão do desejo divino de que as pessoas
sejam diferentes entre elas. Este é o motivo pelo qual Deus as chamou a
conhecerem-se umas às outras. E o diálogo é meio para o fazer, mas não pode
haver diálogo na ausência de liberdade. A liberdade religiosa é a base, a coroa
de todas as liberdades, como é afirmado na exortação apostólica sobre o Médio
Oriente e no documento de Azhar Al Sharif sobre liberdades fundamentais. Por
isso o papa Francisco demonstrou ser um líder espiritual para toda a humanidade
quando declarou que não existem religiões criminosas, mas existem criminosos em
todas as religiões. Permiti-me concluir confirmando a seguinte realidade, ou o
facto de que "o outro" sou eu "o diferente"; que quanto
mais dou lugar ao "outro" em mim mesmo, melhor me compreendo a mim
mesmo e ao outro. Só através da liberdade de expressão, da liberdade de
religião e da liberdade de praticar a religião posso compreender o que
significa ser tu”.
Para
o Dr. Sammak, o diálogo é um modo de vida. É a cultura de construir pontes
entre os povos de diferentes religiões e culturas, e a arte de procurar a
verdade no ponto de vista do outro.
Inácio José do Vale
Fontes: