sexta-feira, 10 de novembro de 2023

CARLO CARRETTO

 


CARLO CARRETO, Irmãozinho do Evangelho

1- Breve biografia cedida pelo site CARLOS DE FOUCAULD:

Carlo nasceu em Alexandria em uma família de camponeses em 2 de abril de 1910. Na juventude foi membro da Ação Católica. Profissionalmente atuou como professor. Em 1940 foi nomeado diretor do Instituto, mas foi demitido do cargo por oposição ao regime fascista.

Em 1946 foi nomeado presidente da GIAC (Juventude Italiana da Ação Católica). Em 1953 renunciou ao cargo devido a divergências com os setores católicos que planejavam uma aliança com a direita italiana. Foi neste período de laboriosa e dolorosa reflexão que tomou a decisão de ingressar na Fraternidade dos Irmãozinhos de Jesus, da família Charles de Foucauld.

No dia 8 de dezembro de 1954 foi fazer o noviciado em El Abiodh Sidi Cheikh, na Argélia, onde permaneceu dez anos, compartilhando a vida em fraternidade no Saara, na região de Tamanrasset. Este período foi uma profunda experiência de vida interior e de oração, no silêncio e no trabalho, que marcará toda a sua vida e as suas atividades posteriores. Em 1964, juntou-se aos recém-fundados Irmãos do Evangelho, retornando à Itália. Em 1965 estabeleceu-se em Spello (Perugia), num mosteiro abandonado onde, pouco antes, uma nova fraternidade dos Irmãos do Evangelho iniciara a vida comunitária. Logo, seu prestígio começou a atrair pessoas para o local, crentes ou não, para se reencontrarem internamente. Desde então a comunidade tornou-se um lugar de acolhimento, oração e reflexão.

Depois de vários anos de doença, na noite de 4 de outubro de 1988, festa de São Francisco de Assis, de quem havia escrito uma biografia apaixonada alguns anos antes, Carlo encontrou-se no abraço de Deus Pai.


2- Resumo da introdução feita por ele em seu livro “Cartas do Deserto”, Edições Paulinas, 1976.

Começa comentando o quão misterioso é o chamado de Deus, “pois se realiza na escuridão da fé”, numa voz tênue e discreta, que exige de nós “todo o silêncio interior para ser captado”. Fala o quão importante para nós é esse chamado, pois “Deus chama sempre!”.

Diz que percebeu esse chamado de Deus em sua vida em três momentos: aos 18 anos, aos 23 anos e aos 44 anos.

Aos 18 anos aconteceu numa missão para o povo, na Quaresma, quando ele era professor numa vila do interior. A pregação em si não o influenciou em nada, mas sim a confissão que fez com o missionário. Percebeu “no silêncio da alma a passagem de Deus”. Desse dia em diante sentiu-se cristão e notou que sua vida mudara.

Aos 23 anos ouviu novamente o chamado de Deus. Estava planejando casar-se. Encontrou-se, então, com um médico, que falou-lhe da Igreja e da beleza em servi-la de todo o coração, embora permanecendo no mundo. Ele narra esse momento:

“Não sei o que aconteceu naqueles dias e como aconteceu. O fato é que, estando a orar numa igreja deserta, onde eu entrara a fim de desafogar-me do tumulto de pensamentos que me agitavam a mente, percebi a mesma voz que escutara durante a confissão com o velho missionário: ‘Tu não te casarás; oferecer-me-ás tua vida. Eu serei o teu amor para sempre’”.

Conta, a seguir, que passou por muitas lutas, trabalhos, paixões, encontro com as pessoas, grandes sonhos, muitos erros devidos “à violência daquilo que queimava dentro de mim e que ainda não fora purificado”.

Aos 44 anos houve o chamado mais sério de toda a sua vida: o chamado à vida contemplativa. “Realizou-se no mais profundo da fé, lá onde a escuridão é absoluta e as forças humanas nada podem”. Percebeu que Deus não queria sua ação, mas sua oração, seu amor. Partiu para a África, para o deserto. Foi o chamado decisivo, véspera de São Carlos, em 1954: “Vem comigo para o deserto”. “há algo maior que tua ação: a oração. Há uma força mais eficaz que tua palavra: o amor!” Diz que entrou para a congregação dos Irmãozinhos de Jesus sem conhecer as constituições da Congregação. Sem conhecer Carlos de Foucauld. Sua convicção era ter escutado e seguido a voz, dizendo ser esse o seu caminho.

Diz ele: “Foi caminhando com os Irmãozinhos, nas veredas do deserto, que descobri a excelência do caminho. Foi seguindo o Pe. de Foucauld que me convenci ser justamente aquele o meu caminho.

Quando chegou a El Abiod Sidi Seik para o noviciado, seu mestre o aconselhou a cortar ainda algumas coisas que o ligavam ao passado. Ele decidiu, então, queimar, nas areias do deserto, o caderno espesso no qual estavam anotados os endereços de todos os seus velhos amigos. Diz que havia milhares. Fez isso com toda a confiança em Deus. Mas adverte: “Queimar um endereço, contudo, não quer dizer destruir a amizade, nem se exigia isso de mim. Pelo contrário...Jamais amei e orei tanto pelos meus velhos amigos quanto na solidão do deserto”.

Comenta também que não se perde tempo na oração (e ele a fazia por todas as pessoas) e que não há outra maneira mais apropriada para ajudar os que amamos que por meio da oração.

Termina a introdução dizendo que o livro “Cartas do deserto” é como uma conversa num encontro marcado com todos os amigos, “num dos diversos recantos maravilhosos do Saara, aí pela tardinha, ao pôr do sol”.

Termina dizendo: “Seu irmãozinho, Carlo Carretto.

 

3 - SONHO DA SANTIDADE -  Carlo Carretto 

Vim até Nazaré para passar alguns meses de solidão. Mais uma vez me deixei tentar pelo deserto, que sempre representou para mim a alcova de meu amor pelo Absoluto de Deus e o lugar onde aflora a verdade. 

 

Esta solidão é como a solidão das dunas de Beni Abbès ou do árido deserto de Assekrem. No fundo tudo nasce da mesma raiz, pois, quando o padre de Foucauld procurava o deserto africano, estava fazendo o mesmo que nós ao procurar o silêncio.

 

O que conta é Deus. E o silêncio é um ambiente próximo de Deus. Procurar Nazaré, onde tudo se funde em uma perfeita unidade. Arbustos, pedra nua, arquitetura, pobreza, humildade, simplicidade e beleza formam aqui uma das obras primas com que se expressa a espiritualidade foucauldiana, dando aos homens e mulheres um exemplo de paz, oração, silêncio, respeito ecológico e beleza, vitória dos homens e mulheres sobre as contradições da época.

 

Olhando para estes caminhos, morada de pessoas pacificadas pela oração e pela alegre aceitação da pobreza, temos a resposta para os angustiantes desafios que afligem a nossa civilização.

 

Vejam, nos dizem estes tijolos, que a paz é possível! Construindo suas casas, não procurem o luxo, mas sim o que é essencial. Então, a pobreza se tornará beleza e harmonia libertadora, como podem ver nestes caminhos silenciosos. 

 

Não destruam as matas para construir empresas que aumentarão o desemprego e as dificuldades, mas ajudem os homens e as mulheres a se reinserirem no campo, usufruindo do trabalho artesanal e bem-feito e sentindo novamente a alegria do silêncio e do contato com a terra e com o céu. 

 

Não amontoem dinheiro, pois serão acossados pela desvalorização e pelos ladrões, mas abram as portas do coração para o diálogo com o irmão e a irmã e para o serviço pelos mais pobres.

 

Não prostituam o seu trabalho construindo objetos de breve duração, que consomem a pouca matéria prima que ainda existe, mas façam baldes como este, que está sobre este poço, um balde que há séculos vem tirando água e ainda presta um serviço.

 

Sacudam de vocês o medo ao irmão, andem ao seu encontro desarmados e mansos. Ele é uma pessoa como você e que como você precisa de amor e de confiança.

 

Não se preocupem “com o que haveis de comer” e “com o que haveis de vestir”. Fiquem calmos, nada lhes faltará. “Buscai, em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça”, e tudo lhe será dado em acréscimo. “A cada dia bastam as suas preocupações”. 

 

Em suma: esta casa fala. Fala para dizer que é possível a Fraternidade. Fala para dizer que Deus é nosso Pai, que as criaturas são irmãs e que a paz é alegria. Basta querê-lo. Experimentem, irmãos. Experimentem e verão que isso é possível. O Evangelho é verdadeiro. Jesus é o Filho de Deus e liberta a humanidade. A não violência é mais construtiva do que a violência.

 

Experimentem pensar nisso, irmãos e irmãs. Vejam que coisa extraordinária temos diante de nós. É sempre assim: Deus propõe a paz. Por que não tentar?

 

Extraído do livro Eu, Francisco (Paulus, 2003).

 

4-LIVROS DE CARLO CARRETO

 

Seus livros, publicados na Itália, tiveram grande repercussão, sendo traduzidos para vários idiomas. Entre outros, temos os seguintes títulos lançados no Brasil:

Cartas do Deserto (Paulinas, 1973. Há nas livrarias sebo a ed. 1976)

O que vale é o amor (Paulinas,  1974)

Deserto na cidade (Paulinas,  1979)

El-Abiodh.  Diário espiritual, 1954-1955  (Paulinas, 1993)

Eu, Francisco (Paulus, 2003)