A Visitação: uma cena emblemática para
Charles de Foucauld. Alain FOURNIER
Postado em 22/11/2018 por -https://www.iesuscaritas.org/pt/documentos/francais-la-visitation-une-scene-emblematique-pour-charles-de-foucauld-alain-fournier-bidoz/
Podemos dizer que o Irmão Charles não
parou de se referir a essa cena do Evangelho segundo São Lucas (1,39-56) desde
que
os contornos de sua vocação começaram a ser esclarecidos. Isso pode ser visto através da redação de vários estatutos para as congregações, como em sua meditação das Escrituras ou nas várias reflexões que ele faz sobre sua própria vocação. Podemos dizer que esta cena da Visitação serve-lhe para encontrar as palavras para expressar a originalidade da sua missão.
os contornos de sua vocação começaram a ser esclarecidos. Isso pode ser visto através da redação de vários estatutos para as congregações, como em sua meditação das Escrituras ou nas várias reflexões que ele faz sobre sua própria vocação. Podemos dizer que esta cena da Visitação serve-lhe para encontrar as palavras para expressar a originalidade da sua missão.
CONSTITUIÇÕES, REGULAMENTOS E
ESTATUTOS
Durante a sua estada em Nazaré, em
1899, ele começou a escrever o que se tornaria as Constituições e as Regras dos
Irmãozinhos do Sagrado Coração de Jesus e, a partir de 1902, as das Irmãzinhas
do Sagrado Coração de Jesus; finalmente, a partir de 1909, ele escreveu em
termos bastante semelhantes os Estatutos e o Diretório da Associação de Irmãos
e Irmãs do Sagrado Coração de Jesus. Nestes três documentos, no artigo
"Festas em Feriados", o Irmão Carlos fixou com veemência a festa da
Visitação como uma festa principal e, no Diretório, no artigo "Devoções e
penitências", ele procurou esclarecer o motivo desta escolha: "A
associação dos irmãos e irmãs do Sagrado Coração é dedicada ao Sagrado Coração
de Jesus e tem como padroeira a Santíssima Virgem Maria no mistério da
Visitação; nossa Mãe celeste é, neste mistério, nosso modelo; como ela
santificou a casa de João carregando Jesus consigo, assim também devemos levar
Jesus ao nosso redor, revelando Sua presença eucarística e deixando-o viver em
nossas almas. Nós devemos, sobretudo, levá-lo conosco por entre os povos infiéis;
"Quando se está pleno de Jesus, se está pleno de caridade": como
Maria, temos “pressa” de compartilhar nosso tesouro Jesus com nossos irmãos
infiéis que não o têm ".
Através destes diversos documentos
normativos sobre o modo de proceder, o irmão Carlos encontrou, às vezes
inconscientemente, o prisma da Visitação para expressar seu projeto e dois
verbos sempre aparecem sob sua pena: “levar consigo” e “santificar”. Ele
escreveu em seu regulamento para os Irmãozinhos: “Ao levar ao seio das nações
infiéis seu altar e seu tabernáculo, eles santificam silenciosamente esses
povos, como Jesus em Nazaré santificou em silêncio o mundo durante 30 anos.
Suas fraternidades, dedicadas ao Sagrado Coração de Jesus, devem, como ele,
irradiar-se sobre a terra e ‘a ela levar o fogo’”.
Mais explicitamente, a propósito da
adoração perpétua do Santíssimo Sacramento prescrito para as Fraternidades, ele
observa: “Por esta presença de Nosso Senhor sempre exposto na Sagrada Hóstia,
as pessoas ao redor são maravilhosamente santificadas: desse modo foi
santificada a casa de São João (Batista), por Nosso Senhor, ainda no seio da
Santa Virgem”.
Justificando o estabelecimento das
Fraternidades em terra de missão e sua escolha de uma presença ”silenciosa”,
ele se refere à Visitação: “Não tendo recebido de Deus a vocação da palavra,
nós santificamos e pregamos às pessoas em silêncio, como a Santíssima Virgem,
que em silêncio santificou a casa de São João e em silêncio ali pregou, levando
dentro de si Nosso Senhor e praticando Suas virtudes”.
Um sinal do lugar especial que o Irmão
Carlos faz à cena da Visitação, ele próprio a desenhou sobre um grande painel
instalado por ele mesmo na capela de Beni-Abbés, ladeando o painel central do
Sagrado Coração e com o painel de modo pendente, representando a Sagrada
Família de Nazaré.
MEDITAÇÃO DAS ESCRITURAS
Escrito em Nazaré em 1898, a sua
meditação sobre o evangelho segundo São Lucas dedica duas páginas à cena da
Visitação e detém-se primeiramente na caminhada de Jesus que, passo a passo,
santifica cada vez mais o mundo: “pela Visitação Vós ireis santificar São João
e Sua família”. É Ele, Jesus, que tem a iniciativa, que toma a dianteira, e o
irmão Carlos, de maravilhar-se por outra Maria (Maria de Bondy?). Jesus veio
até ele e o escolheu, vencendo todos os obstáculos.
O Irmão Carlos tira de sua leitura uma
exortação para imitar Jesus que “vai ao encontro das almas” e se torna um de
seus instrumentos como o foi Maria: “Jesus se faz levar por ela ao meio desses
que ele quer santificar e a faz permanecer entre eles, estando nela e levando,
nessa família, uma vida toda perfumada por todas as virtudes evangélicas...
Levar o Santíssimo Sacramento no meio dos povos infiéis e aí viver à sombra do
Tabernáculo, dando a esses povos, além do infinito benefício da presença de
Jesus, o benefício da prática das virtudes evangélicas, que é o bem que pode
ser feito às almas do próximo... esses que se consagram à vida
escondida”.
Em suas Considerações sobre as festas
do ano, um de seus primeiros escritos espirituais, o Irmão Carlos aborda com
outras palavras o conteúdo desta cena evangélica no centro da festa da Visitação
celebrada naquele tempo em 2 de julho. Ele reitera, primeiramente, que, através
da visita de Maria, é Jesus e sua caridade que estão na iniciativa: “É Jesus
que, assim que entra em você, tem sede de fazer outros santos e outros
bem-aventurados”, depois ele retorna – de modo que o julgarão deliberadamente
parcial – sobre o propósito da visita de Maria: ela não é nem uma visita para
sua prima “para se consolarem e se edificarem mutuamente” e “menos ainda uma
visita de caridade material”; Maria parte para “evangelizar e santificar São
João, não por meio de palavras, mas em silêncio levando Jesus para ele, no meio
de sua morada”. Para o Irmão Carlos, a Visitação é verdadeiramente sua festa,
como às dos religiosos e religiosas contemplativos nos países de missão, que
vão para “evangelizar e santificar os povos infiéis, sem palavras, levando
Jesus ao meio deles em silêncio; levando a eles a santa Eucaristia... numa vida
evangélica, por meio da qual eles dão o exemplo e por meio da qual eles são
imagens vivas”.
A Visitação é festa de todos os que
comungam e, desse modo, levam, como Maria, Jesus neles. Ela é, enfim, a festa
dos viajantes chamados, a exemplo de Maria, “para caminhar, nas viagens que nós
faremos sobre a terra e na viagem da vida, os olhos fixados sem cessar em
Jesus, que ilumina nossa alma como uma tocha (um feixe de fogo)”.
RETIROS
Levando consigo esta página do
evangelho, Carlos de Foucauld nela descobre que sua vocação à vida escondida de
Nazaré não exclui o apostolado. Em seu retiro de oito dias durante sua estadia
em Nazaré (chamado “retiro em Efrém”), em1898, enquanto se traça uma virada que
o orienta ao sacerdócio, ele observa em sua meditação de Lucas 1,39, pondo
estas palavras na boca de Cristo: “Eu falo para as pessoas sobre o silêncio,
sobre a vida escondida: todos vós, trabalhai para a santificação do mundo,
trabalhai nisso como a minha mãe... ide fazer vosso piedosos retiros entre
esses que me ignoram... levai para eles o Evangelho... pregando a eles com o
exemplo; levai-me ao mundo como Maria me levou a João”.
No retiro que ele fez para preparar-se
para a ordenação sacerdotal, em 1901, entre as 18 citações do evangelho de
Lucas que ele copiou, o irmão Carlos não deixa de sublinhar uma frase do relato
da Visitação: “Maria, levantando-se, saiu às pressas”; frase que ele retoma
como escolha conclusiva deste retiro, com este comentário: “Quando se está
pleno de Jesus, se está pleno de caridade”. E é “cum festinatione”, quer dizer,
“às pressas”, como Maria, que o Irmão Carlos planeja partir para onde o
Espírito Santo o impelir.
CONCLUSÃO
Nós vemos, pois, que Carlos de Foucauld
tem um ponto de vista particular sobre esta cena da Visitação; ele não se atém
na alegria de Maria em seu Magníficat, nem prioriza sua explosão de caridade
com relação à sua prima idosa, nem mesmo na simplicidade e na espontaneidade
plenamente humana de sua atitude: ele se detém na dimensão missionária, na
atitude profunda que inspira essa que leva dentro de si o Salvador, essa que
permite a este de permanecer diante dos homens . Podemos pensar que a meditação
desta narrativa, nos seus anos em Nazaré, ajudou terminantemente Carlos de
Foucauld a determinar sua vocação. Como sublinha Andrea Mandonico, no capítulo
de seu livro “Testimoni dell”Emmanuele”(Testemunhas de Emanuel) intitulado
“Nazaré: Visitação. A intuição nazarena da missão: “O mistério da Visitação lhe
permitiu de unificar a vida escondida com o apostolado: ele entendeu que foi
chamado a colaborar na obra da redenção à maneira da Virgem no mistério da
Visitação” (pág. 85).
Pode-se concluir, com Michel Lafon:
“Plenamente convencidos que Jesus, vivendo em nós, age por nós através de todos
os nossos relacionamentos humanos, vamos ao encontro de nossos irmãos” (Orar 15
dias com Carlos de Foucauld, pág 57).
Alain FOURNIER-BIDOZ
Obras de Charles de Foucauld citadas
neste artigo (publicado pela Nouvelle Cité)
Considerações sobre as festas do
ano
A bondade de Deus. Meditações sobre os
Santos Evangelhos (1)
Gritar o Evangelho. Retiro de oito dias
de retiro em Ephrem (1898). Decisão feita em Nazaré (1900)
Sozinho com Deus. Retiros em Nossa
Senhora das Neves e no Saara
Regulamento e Diretório
Traduzido do francês pelo administrador do blog.