terça-feira, 20 de outubro de 2020

RETIRO 2020- PE. CARLOS

RETIRO DA FRATERNIDADE SACERDOTAL JESUS CÁRITAS DE JANEIRO DE 2020, PREGADO PELO PE. CARLOS ROBERTO DOS SANTOS. 

Introdução ao retiro 

Às 21h14 – o orientador Padre Carlos fez uma introdução sobre o retiro: Retiro é renovar-se a si mesmo – “Se retornas, eu te faço retornar” (Jr 15,19). Nos fez pensar sobre a possibilidade de entrar num clima de silêncio, quando o mundo a nossa volta é tão barulhento? E propôs que durante o retiro, todos deveriam desacelerar, silenciar para escutar a voz de Deus e viver a experiência de encontrar-se consigo mesmo, com os irmãos e de encontrar-se ou reencontrar-se com Deus. Lembrou ainda que o retiro é retornar ao primeiro amor, que cada um de nós é agente do seu próprio retiro, e que nestes oito dias de retiro, cada um é convidado a fazer todo esforço possível para que prevaleça o silêncio absoluto em todos os momentos. 

É necessário retirar-se, fugir do barulho cotidiano que por todos os lados enchem nossos ouvidos. É no silêncio que faço a experiência do encontro: comigo mesmo e com Deus. É necessário silêncio para ouvir nosso próprio coração e o que tem Deus a nos dizer, ouvir a voz de Deus e deixar que ela ressoe em nosso coração, em nossa vida. 

Encontrar e reencontrar com Deus, nutrindo-nos de esperança e alegria e reabastecer com ânimo e coragem para a caminhada. Depois do encontro com Cristo, tudo se torna diferente, mais fácil, pois Ele está vivo em nós. Amar e servir, eis a origem da felicidade e buscar o rebaixamento a exemplo do Ir. Carlos. 

O livro Fermento na Massa, escrito por René Voillaume em 1950, serviu e ainda serve para motivar a todos que querem alimentar sua fé, seguindo os passos do Irmão Carlos de Foucauld, e viver, ao lado dos pobres, uma verdadeira pobreza e caridade. 

Padre Carlos apresentou a programação dos dias do retiro. Mantra: para gerar um clima de oração. Olhar: fatos da vida. Iluminar: experiência do Irmão Carlos e Evangelhos. Provocar: testemunho do Papa Francisco. O itinerário de todo o retiro foi inspirado no livro Fermento na Massa, escrito para os irmãozinhos de Jesus, e por outros “mestres da espiritualidade” que inspiram nossas fraternidades. Assumiu o compromisso de, após cada meditação, entregar o conteúdo digitado a cada participante, para facilitar a caminhada no silêncio: leitura, meditação, encontro com o Cristo no silêncio e oração. 

Eis a sequência das meditações: primeira meditação - Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança (Sl 32); segunda meditação - Por causa de Jesus e do Evangelho; terceira meditação - Voltar a Nazaré, raízes das fraternidades, da nossa identidade; quarta meditação - Encontrar-se dentro de si mesmo; quinta meditação - Amar e servir com um coração indiviso; sexta meditação - Irmão Carlos e a importância da oração; sétima meditação - Ascese e rebaixamento – imitação de Jesus; oitava meditação - Viver a pobreza; nona meditação - A importância de Maria para o Irmão Carlos; decima meditação - Viver os meios da Fraternidade. Além destes, Padre Carlos também disponibilizou o texto de motivação para a vigília e o dia de deserto. 

Iniciamos nosso retiro meditando sobre o prefácio à edição brasileira do livro Fermento na Massa, escrito em 1958 por Dom Helder Câmara, e no qual ele fala da importância do irmão Carlos. Em seguida todos foram tomar um chá e depois foram descansar. 

No segundo dia, quarta-feira, 8 de janeiro, as atividades começaram às 7h30 com a oração da manhã do Ofício Divino das Comunidades. Terminada a oração, foi servido o café e, de 8h30 às 9h15, cada fraternidade se dedicou aos serviços de limpeza da casa, conforme estavam escalados pela equipe responsável. Às 9h30, todos estavam no auditório para a primeira meditação.

Primeira Meditação: Feliz o povo que o Senhor escolheu por sua herança (Sl 32) 

Iniciou com o mantra: “Onde reina o amor, fraterno amor, Deus aí está”. 

Padre Carlos sublinhou que Deus escuta o clamor de seu povo, que escolhe a cada um para dar testemunho, denunciando as injustiças e anunciando o seu amor. E afinal, quem são esses missionários enviados? Além dos santos, também somos todos nós vindo de muitos lugares e situações. O pregador elencou três pontos importantes da proposta de Jesus: 1. Jesus deve ser o centro e a opção fundamental da vida dos discípulos, como o irmão Carlos que gastou a sua vida nesta imitação; 2. Com o exemplo do Bom Pastor devemos ter um relacionamento de amor e de comunhão; 3. Nossa liderança espiritual deve ter como caminho de vida o bom pastor que oferece a sua vida por todos. 

Em cada época, Deus escolhe homens e mulheres para denunciar as injustiças, anunciar e testemunhar o amor de Deus. Hoje, Deus continua a chamar. Deus nos chama mesmo se estivermos longe dele. Irmão Carlos viveu este chamado e testemunha: “Compreendi que não poderia viver senão para Deus”. 

Não é suficiente o encontro com Deus. Precisamos e devemos desejar estar com Deus. Colocarmo-nos na presença de Deus. Minha alma tem sede de Deus. Como a terra precisa de água, precisamos de Deus. Irmão Carlos, Irmã Dulce e tantos outros. Cada qual é chamado de acordo com a necessidade de seu tempo. 

Fazer com que o Reino de Deus aconteça. Levar vida aos marginalizados, aos oprimidos, aos feridos. 

Muitos na Igreja vivem ou sonham em viver como se estivessem na Idade Média: numa igreja de reis e rainhas, mas, atualizada como uma igreja midiática. O mundo está muito mudado, são vários os rostos. E Deus continua chamando: nos chama a anunciar neste momento e lugar. Devemos buscar a fidelidade ao projeto de Deus, lutar para que o Reino aconteça. A proposta de Jesus é que “todos tenham vida e a tenham em abundância”. Estar de pé e caminhar. Abandonar tudo e seguir Jesus. Conhecer Jesus e “gastar” sua vida pela causa do Reino. 

Em quaisquer momentos de nossas vidas, bons ou ruins, Jesus é o centro. A presença de Jesus marca todas as nossas escolhas. Irmão Carlos gastou sua vida fazendo a vontade de Deus, buscando o último lugar. 

O bom Pastor está ao nosso lado. Não tenha medo porque eu te escolhi. Conhecer as ovelhas é sentir o cheiro delas. Estar conformado com o povo. O bom Pastor conduz as ovelhas para fora do aprisco e, se for preciso, entrega sua vida por elas. 

Devemos fazer retrospectiva de nossa caminhada pessoal. Muitas vezes, muito atarefados e com pouca capacidade de organizar e administrar o tempo. Às vezes, corajosos e organizados, buscando viver com dignidade a proposta do Evangelho. Sempre devemos levar a certeza de que fomos escolhidos por Deus. 

Quando e de que forma sinto o chamado de Deus? Quais as pessoas foram para nós um sinal da presença de Deus? Buscamos voltar ao poço, à fonte do nosso primeiro amor? Como foi a minha opção pelo Evangelho? Como o meu sim evoluiu? Houve dificuldades? Como alimento a amizade com Jesus e a partilha com os amigos? Em minha vida, procuro criar pontes ou muros? 

Nossa história é sempre um processo. Dificuldades e realizações caminham quase sempre juntas. Devemos aceitarmo-nos como somos, sem fantasias, sem superficialidades. Devo buscar o sim generoso para ser feliz onde estou e não onde gostaria de estar. 

Somos chamados por Cristo, escolhidos para viver os ensinamentos do Ir. Carlos. Precisamos converter-nos todos os dias. Socorrer as pessoas dos últimos lugares. Com Deus, o pouco se torna muito. Devemos viver, testemunhar com gestos e, se for preciso, falar. 

Viver e testemunhar é aproximar-se do Bem Amado. Ir. Carlos testemunhou a missionariedade, caridade e coerência. Que o Senhor nos ajude a ser fiéis ao Evangelho, pregando-o com a vida. 

Padre Carlos orientou os participantes para que fizessem uma retrospectiva de sua caminhada existencial. Meditação pessoal do evangelho de Lucas 10,1-9, com duas perguntas: 1. Como foi a sua retrospectiva de vida vocacional e existencial? 2. Qual a qualidade de sua resposta e do seu sim hoje? 

Após a meditação, houve tempo para reflexão individual até às 11h, quando todos se reuniram para adoração na grande capela do convento até o meio dia. Terminada com a bênção do Santíssimo houve o almoço ao meio dia em silêncio absoluto, seguido de tempo para descanso até às 14h30. 

Segunda Meditação: Por causa de Jesus e do Evangelho. 

A segunda meditação começou às 14h30. Pe. Carlos enfatizou a existência de dois lados em nosso mundo, o primeiro que o mundo está virado do avesso, com os seus contra valores virando moda na vida das pessoas e por outro lado que com a tecnologia e a vida efêmera das coisas contribuiu para a perda do sentido do ser humano. Com o exemplo do irmão Carlos não importa como está o mundo a nossa volta, o mais importante é que neste mundo deveremos testemunhar a luz e a força de Deus. 

Não é fácil o testemunho de vida, quando há tantos contra valores ocupando lugar dos valores. Quantas pessoas estão preferindo viver no passado, buscando simbologias que já não fazem sentido hoje. 

Quanta mentira, enganação, corrupção para manter um poder nem sempre legítimo. A verdade, a justiça e a paz não são sempre respeitadas. São tantos os problemas que não temos tempo de enfrentá-los. As novas tecnologias oferecem uma melhor qualidade de vida, mas a qualidade de vida interior se esvaziou. Quanta gente buscando resposta no mundo, enquanto o que realmente preenche nosso vazio corre o risco de ficar distante. 

A “vida” e a esperança parecem adormecidas. O Papa Francisco dá-nos um grande e forte testemunho. Viver na simplicidade, sem se utilizar do poder pelo poder, fazendo-se pobre com os pobres. 

Quando tudo parece perdido, devemos conhecer o dom de Deus, pedir-lhe de beber, buscar a água viva. 

Jesus conhecia o Ir. Carlos e Ir. Carlos, conhecendo Jesus, procurou segui-Lo radicalmente. O nome de Jesus acompanhou o Ir. Carlos quase como se fosse um mantra. Ele deixou que Jesus o possuísse. Seu silêncio era sonoro. Se existe uma palavra que pode sintetizar a vida do Irmão Carlos, é Jesus. 

Quem ama a Jesus de Nazaré não pode viver de outra forma que não seja imitando seus gestos e doando a vida no dia a dia. Amar o tempo todo, estar inserido no mundo, deixando de lado o que não é o essencial, buscando o que é verdadeiro. Buscar os mais pobres por amor, não por dinheiro. Se conseguirmos minimizar os sofrimentos destes últimos da sociedade, os marginalizados é porque Jesus está neles. É o amor privilegiando a vida.
 
O ativismo pode nos fazer desviar o caminho, prendendo-nos demais ao agir e esvaziando-nos em nosso interior, tornando-nos “sal sem sabor”. Se, verdadeiramente encontramos Jesus, temos que viver na simplicidade, sem buscar atalho. Jesus é o caminho. Entregar-se sem medida com infinita confiança deve ser um exercício cotidiano. Impossível fazê-lo de uma única vez. Recomeçar a cada manhã. Amar com verdadeira ternura, entregar-se humildemente. 

Pe Carlos propôs como exercício para meditação pessoal, o trecho do evangelho de João 4,10-42 do encontro de Jesus com a samaritana, com duas perguntas: 1. Nas correrias da minha vida, estou perdendo tempo para ir, sempre, ao essencial: Jesus? 2. Quais tentações estão gerando inquietação em mim, e me afastando deste encontro? 

Houve um breve tempo para meditação pessoal após a segunda meditação. Às 16h foi servido café e, em seguida, as Fraternidades se reuniram para a partilha da vida até às 17h30. Deste modo, a missa começou as 18h, na grande capela do convento presidida pelo Pe. Zacarias da diocese de Cratéus-CE. Ao término da missa todos se dirigiram ao refeitório para o jantar. 

Para a última atividade do dia foi proposta a exibição de um longa metragem: “Documentário Padres de Ataúro” que relata que os padres Fidei Donum Luís e Chico, italianos com alma brasileira (residiram no Brasil durante 40 anos), que desenvolvem um trabalho exemplar na pequena ilha de Ataúro. Entusiasmado com as atividades/projetos dos padres, que se tornaram referência na ilha tanto na questão da educação popular quanto na questão da sustentabilidade e respeito ao meio ambiente, o diretor produziu um excelente documentário. 

Terceira Meditação: Voltar a Nazaré, raízes das fraternidades, da nossa identidade 

Padre Carlos Roberto sublinhou que a nossa vida, onde quer que estejamos, seja um “voltar” e um “imitar” a vida escondida de Nazaré. Que o irmão Carlos mergulhou profundamente na terra da existência humana e deixou a seiva que deverá desenvolver na vida e no coração das futuras fraternidades. Uma tensão acompanhou a vida do irmão Carlos que foi o anseio de viver no silêncio da vida monástica e o desejo de se entregar nas mãos de Deus e especialmente servindo aos irmãos. 

Jesus escolheu Nazaré. Voltar para a vida escondida de Nazaré quando perceber que está se distanciando da vontade de Deus. Irmão Carlos viveu de maneira mais simples como Jesus. Nada de ostentação. Não a grandes casas, grandes despesas, grandes coisas, nem grandes esmolas. Viver como Jesus é viver com o necessário, nada a mais. Não levar duas túnicas, nem duas sandálias. 
Ir. Carlos guardou em seu coração a semente da fecundidade, da fraternidade como um tesouro e seus futuros discípulos viram germinar esta semente. 

Aparentemente Ir. Carlos fracassou. Morre sem ver sua congregação nascer. Após sua morte, tudo parecia esfacelar-se, mas os desígnios de Deus são diferentes. Sua vida tornou-se conhecida no serviço aos irmãos, vivendo criteriosamente o Evangelho, indo aos últimos dos últimos. Busca o absoluto de Deus. O amor permanece. Entrega-se apaixonadamente ao Bem Amado. 

A semente caiu na terra e muitos frutos começam a surgir. Sementes que, mesmo no deserto, brotaram muitas fraternidades. Partilhar e compartilhar a vida. Necessidade de imitar a Jesus. 

A incessante busca de Deus tornou-se itinerário para muitos e deve ser também para nós. Sair em missão para amar o irmão e não para ver a igreja cheia. Com os olhos fixos em Jesus, no irmão, na vida para ser engajado de maneira real. 

O missionário deve estar no meio do povo, com o povo, sendo os olhos, os ouvidos, as mãos de Deus. Todos devem ser acolhidos e amados, pois cada um é importante e dor de um deve ser a dor de todos. 
A convivência em comunidade ensina-nos a viver o amor de Deus. Compartilhar, organizar, não centralizar, delegar responsabilidades, comunicar vida, dinamismo, é dever do cristão. 

Papa Francisco chama nossa atenção sobre a necessidade de ouvir as pessoas, conhecer as realidades. Ele valoriza as mulheres e jovens. 

Há muitas pessoas que se preocupam com penduricalhos, falsos brilhantes, com a aparência, com a mídia e se esquecem das raízes, do essencial. A preocupação exagerada com o supérfluo, não alimenta a espiritualidade, gerando o declínio do fervor. 

Muitos de nós tememos falar de nossas convicções diante de quem é arrogante e fala com voz mais forte. Falta coragem evangélica, profética. Em vez de dar a vida pela missão, buscam segurança na fama. É necessário sair dos lugares importantes e voltar ao lugar comum onde o pobre está. A vida do Ir. Carlos é um convite a vivermos seguindo os passos de Jesus. Para ele, seu alimento é fazer a vontade do Pai. 

Quarta Meditação: Encontrar-se dentro de si mesmo.

Com esta meditação, o pregador Pe. Carlos destacou que o irmão Carlos buscou incansavelmente a “verdade”. Neste percurso encontrou verdadeiramente com Deus, ainda que a sua vida fosse uma longa noite escura. Em contato com a cultura e a fé islâmica sentiu a necessidade de repensar as suas próprias convicções. 

Retomando a antropologia teológica, Pe. Carlos, assinalou que a grande aspiração do ser humano é de ser “feliz e realizado” e que só a encontraremos quando o nosso coração estiver habitado pelo verdadeiro amor e conseguirmos encontrá-lo.
 
Irmão Carlos, aos 12 anos, perdeu sua fé. Vivia sem acreditar em nada. A última centelha de fé se extinguira. Um grande percentual de pessoas deixa o catolicismo porque o padre e as lideranças na Igreja tratam mal. Os pastores são mais capazes de conquistar. Irmão Carlos busca a verdade. Estudou e aprendeu sobre a língua e cultura dos Marrocos. Ele sente necessidade de estar perto das pessoas. 

Aos 12 anos, viveu uma longa noite escura para depois se tornar um buscador de Deus. Queria conhecer a cultura dos Marroquinos, para isto, hospedou-se por um ano em casa de uma família. Isto mudou sua vida, principalmente pelo testemunho dos muçulmanos. Chegou a rezar com eles, repetindo seus gestos. Diante disto, ele se questionou, buscando resposta para sua fé. Deus vivo, presente na vida das pessoas. 

O coração é o lugar dos sentimentos e fonte da personalidade. É o lugar mais íntimo do ser humano. O coração é o lugar da lei não escrita. No coração, está o Bem Amado e, neste lugar, adoramos o nosso Deus. O coração é o lugar do dinamismo e crescimento. Os mistérios crescem no mais profundo do seu coração, chegando aos pés do autor da vida – Deus. 

O coração habitado pelo amor torna-se canal de amor e verdade. No coração humano, está a sede de ser feliz, sede de Deus. É no coração que se encontra a fonte do desejo. Gozo e prazer fazem parte de nossa vida. Perdoar, de coração, gera prazer. A felicidade é alcançada pelo amor. A busca do amor e da justiça traz felicidade, apesar das circunstâncias. Isto tem a ver com a consciência das pessoas, pois, muitas pessoas que, apesar das turbulências da vida, mantêm a alegria e a paz. 

Muitas vezes, estamos presos entre a bondade e o egoísmo, coração endurecido, fechado, se afastando das pessoas e perdendo a luz que vem de Deus. Depois de sua confissão na igreja de Santo Agostinho, Irmão Carlos mudou sua vida radicalmente. Sentiu necessidade de voltar a Jesus – ao Evangelho. 

Partilha em Fraternidades: 
A lei e os mandamentos. Como estou buscando o amor e a justiça? 

Quinta Meditação: Amar e servir a Deus com um coração indiviso.

Já no início desta meditação, com algumas perguntas, Pe. Carlos, convidou os participantes a fazerem uma profunda reflexão sobre si mesmos. Dizendo que Deus nos criou com qualidades e que nos ama do jeito que nós somos. E que precisamos trabalhar todos os dias os nossos defeitos. Aprendemos a primeira lição que somos um ser de “auto superação”. Outra característica que nos ajuda a lidar com maturidade e responsabilidade em nossas escolhas é a dimensão da alteridade. Estamos inseridos no mundo, e se quisermos fugir ao pecado é importante usar alguns métodos como: a “ascese” que será um trabalho para a vida toda; “conhecendo a si mesmo” maiores serão as chances de agirmos com liberdade e nos realizarmos existencialmente. 

Além disso, o retiro anual da fraternidade ajudará os irmãos (as) da Fraternidade a encontrar a “busca do equilíbrio” como foi a vida do irmão Carlos que foi um homem bem resolvido consigo mesmo. 
Outro método importante para o itinerário da Fraternidade é a oração e a revisão de vida. Quais são as minhas qualidades e meus defeitos? O que gosto e que não gosto em mim? Como está a minha secularidade? 

Quantas pessoas, em função de seus desequilíbrios serviram ou servem de escândalo na Igreja, provocando desânimo e descrédito na Instituição. Somos sujeitos a mudanças. Vivo neste tempo, nesta sociedade. Somos ávidos em nossos desejos. Quando realizamos um, desperta-se outro. 

Quero viver e quero que o outro também viva. Eu preciso do outro, do meu próximo, do que está ao meu lado. Não posso viver sozinho. Em nossa sociedade, (mudança de época) os valores fundamentais estão sendo descartados. Há uma busca da superficialidade, artificialidade: plásticas, cosméticos como se isto nos fizesse viver eternamente. Perdem-se os valores que dão sentido à vida. Há uma dissociação das coisas religiosas e a vida. 

As pessoas querem viver isoladamente e, assim, se tornam vazias. Aparência de felicidade. Só aparência. Como nós, que vivemos a espiritualidade do Ir. Carlos, podemos viver os valores, testemunhando esta verdade em um mundo que apresenta o contrário? 

Buscar o crescimento espiritual, estar mais perto de Deus, mas somos fracos por termos um corpo que sente as dores e o cansaço. Exercitar o infinito desejo de buscar a Deus com infinita confiança. Somos humanos, cheios de energia, impulsos e imperfeições. 

Para vivermos a santidade, devemos canalizar nossas energias buscando seguir os ensinamentos de Jesus. 

Cada boa ação, cada atitude do bem pode nos fazer sóbrios na busca da paz interior, busca que deve durar toda uma vida. Aceitar-se, amar-se como se é, Deus nos ama como somos. 

Ele nos deu tudo para sabermos escolher entre o bem e o mal, escolher a liberdade e ser responsável por nossas escolhas. Obedecer e culpar os outros é fácil, difícil é agir com reponsabilidade. Durante a caminhada, não se iludir, mas colocar-se nas mãos de Deus, na simplicidade e humildade, fazendo a vontade do Pai. O maligno é real. Basta abrandarmos nossa vigilância para ele nos destruir. Situações que parecem normais, vamos aceitando. Falar mal, grosserias, julgamentos. Não é bom estar trancados dentro de nós mesmos. Precisamos estar com o outro e manter o equilíbrio. Dependendo do que escolhemos como alimento, assim será a nossa vida. A cada ano, devemos tomar mais distância da correria do dia a dia para viver mais a profunda espiritualidade. 

Jesus amava as pessoas, por isso as cativava. Ele participava da vida das crianças, das mulheres e de todos os seus. Estava sempre próximo das pessoas e, à noite, rezava. Encontrava-se na rua com a multidão e a sós na oração. Fazer o bem, independente das circunstâncias. Ninguém nasce pronto. Dificuldades existem, mas através delas podemos encontrar o caminho. 

Devemos buscar o mínimo de estrutura e o máximo de vida. O Papa Francisco diz não a qualquer tipo de clericalismo. A Igreja precisa de união e não de solista longe do povo. Ser como o Bom Pastor, pobre de bens e rico de relações. Buscar a humildade. Reconhecer-se pecador. Colocar o coração inteiro, indiviso, só para Deus. 

Sexta Meditação: Irmão Carlos e a importância da oração 

O pregador Padre Carlos sublinhou os verdadeiros impulsos para uma vida de oração, dizendo que nunca haverá uma pessoa santa, sem uma vida de oração. É preciso diferenciar o que é oração daquilo que parece ser oração. Ao longo do dia é necessário estar na presença de Deus, pois não haverá nenhum valor se não for para nos conduzir a um encontro pessoal com Ele. Não podemos nos dispersar na oração, por meio dela entendemos que a iniciativa é sempre de Deus, mas a resposta cabe a cada um de nós. 

Temos o exemplo do irmão Carlos que viveu “o silêncio e a oração” procurando o mistério de Deus. Existem três maneiras de contemplar a Deus segundo as obras espirituais do irmão Carlos: 1. Contemplar Deus em si mesmo; 2. Contemplar Nosso Senhor na Santa Eucaristia; 3. Contemplá-lo nos mistérios da vida. Ainda o padre Foucauld apresenta a importância da oração porque: 1. Nosso Senhor pediu para rezar. 2. Ele nos deu exemplo da necessidade do amor. 3. É importante amar e receber do amado. 

Tenham confiança: Eu venci o mundo. Oração, exercício espiritual contemplando o nosso Deus. Os exercícios espirituais orientam nossa vida no meio do mundo, reforçando as exigências da caridade. Adequar o tempo de oração, orientando a vida contemplativa. Rezar sempre. As fórmulas decoradas, conhecidas não são propriamente oração, mas meios que nos despertam para a oração. Muitas vezes, esquece-se o essencial e se pratica todo tipo de devoção. 

Pode até existir pessoa santa em suas devoções, se fizer a vontade de Deus. Buscar descobrir a distinção entre o que parece oração e o que realmente é oração. Vejamos a oração Sacerdotal, a oração de Isabel. A oração deve ser feita ao longo do dia, levando-nos à presença de Deus. Os exercícios espirituais fazem-nos crescer na caminhada para Deus. 

Há orientações que se transformam em regras pesadas que não nos conduzem ao encontro pessoal com Deus. Muitas vezes, a agenda cheia impede-nos de viver a oração, ser solidário. É importante atender o irmão que precisa, mesmo que seja na hora da nossa oração. 

Ninguém é dono de Deus. Todos estamos a caminho da santidade. Erramos e precisamos ser humildes. 

Cumprir formalismos apenas para dizer que se cumpriu não leva a nada. O encontro com Deus vai muito além de formalidades é ser verdadeiro consigo mesmo e não querer ser mais do que realmente se é. 

Viver a simplicidade e ser verdadeiro ao ler o Evangelho, buscando nele os seus frutos. Não pensar que tudo está muito bem ou mal, pois cada dia possui suas tristezas e alegrias. Nunca julgue a si e aos outros pelos exercícios espirituais que praticam, confie em Deus e coloque-se em suas mãos. Quanto mais você progredir espiritualmente, na presença de Deus, sentindo-se inundado por Deus já não precisará tanto dos exercícios espirituais. 

Missa e oração devem fazer parte de nossa vida. Oração que sai do coração e chega ao coração. Silêncio e oração. A oração exige silêncio e o silêncio só tem sentido quando gera oração. Contemplar a Deus em si mesmo, na Eucaristia e nos mistérios de sua vida. Ele se encarnou na vida humana para ser o nosso caminho e a nossa força. Pai, coloco minha vida em suas mãos. 

Quando nossa oração não for atendida, pode ser porque não soubemos pedir ou porque aquilo que pedimos não nos fará bem e, pode ser ainda, que receberemos coisa melhor do que pedimos. Não ter medo de pedir. Pedir sempre. O coração de quem ama sente alegria de atender o pedido. O silêncio é nossa oração. Deus nos fala no silêncio. Deus amoroso que desceu do céu até nós para trazer-nos vida. Rezar é estar com Deus. Jesus salvou e salva a todos que querem estar com Ele. 

A liturgia é o coração da Fraternidade e deve ser cuidadosamente preparada pois é na simplicidade que o Cristo aparece. O cristão deve estar alegre, pois, o noivo vai chegar e rezar o Ofício que é composto por textos inspirados adquire um caráter temporal, trabalhar e rezar durante o dia. 

Orar só para cumprir preceito não tem sentido. Não julguemos para não sermos julgados. Minha oração tem me transformado? 

Sétima Meditação: Ascese e rebaixamento- imitação de Jesus. 

Quem quiser viver o caminho do Irmão Carlos deve ter um coração parecido com o de Jesus e não esperar vida cômoda e confortável. Isto é um exercício que fará a pessoa mais forte e purificada até restar somente o essencial, numa vida simples, às vezes, dura, trabalhando com suas próprias mãos em diferentes tipos de atividades, de acordo com suas aptidões. 

São muitos os trabalhos manuais, mesmo as pessoas debilitadas conseguem descobrir o que lhe é possível executar. 

Muitas vezes cansados, inseguros, desanimados, contra isto devemos buscar energia para sofrer por amor de Cristo. Manter o coração silencioso e no desejo de paz, com Maria, agir sempre em favor da paz. Não gastar o coração com coisas que não levam a nada, que nos fazem perder o equilíbrio. Devemos voltar ao fundamental, ao Bem Amado, desapegar, virar a página, buscar os últimos lugares onde as pessoas estão marginalizadas. Deixar de fazer o bem por preguiça, buscar o caminho da porta larga não devem ser práticas de um cristão. 

Quando nos vem a noite escura, guardemos em nosso coração o sofrimento de Jesus. Ajoelhemo-nos, prostrando diante de Deus, vivendo o amor. Há momentos que somos chamados a buscar mais intensamente a misericórdia. 

Enquanto buscamos satisfazer nossos próprios desejos, não deixamos lugar para o verdadeiro bem que é Deus, pois endurecendo o coração, perde-se o sentido da vida. 

Ir. Carlos procurou viver intensamente o rebaixamento de Jesus, amando sem máscara, rebaixando-se, esvaziando-se e dispondo se a abrir a porta para Deus.

Irmão Carlos, cada vez que percebia que não estava vivendo em conformidade com o Cristo, parava e voltava para refazer o caminho, vivendo o despojamento em Nazaré e a Intimidade com a Eucaristia. 

O mundo de hoje deixa-nos inquietos, pois ele está doente. Para socorrê-lo precisamos aprender a misericórdia, aliviar o sofrimento das pessoas, Deixar-nos conduzir pelo Espírito e encontrar o campo de trabalho, escutando a voz de Deus e dialogando com Ele e com o mundo. 

Somente poderemos revelar as vísceras de Deus se nos deixarmos abraçar pelo Pai e estabelecermos relações solidarias aqueles que acolhemos, pois toda ação solidária e até mesmo um aperto de mão promovem o início de uma nova vida para quem é acolhido. 

Para o Irmão Carlos, o grande exemplo a ser seguido é Jesus. Com Ele nos tornamos homens e mulheres de misericórdia, sentindo as alegrias, sofrimentos e esperança que move as pessoas. Confiar nas pessoas e promovê-las motivados pelo amor é a medida para imitar Jesus e trazer-lhes a salvação. Quem quiser ser meu discípulo renuncie a si mesmo, tome sua cruz e siga-me. Na minha caminhada, esforço me para descer aos porões da humanidade? 

Oitava Meditação: Viver a pobreza
 
A pobreza material e espiritual, o despojamento e a vida bem aventurada são fontes de luz, de inspiração e libertação para muitos santos, pois quem em Deus confia não precisa de mais nada. Pobreza. 

Santo Oscar Romero viveu uma vida bem aventurada assumindo as causas e a sina dos pobres. Devemos abraçar a humildade e a pobreza, sempre procurando o último dos últimos lugares, como fez Jesus cuja pobreza se deu plenamente em sua entrega na cruz. 

Há que se distinguir ser pobre e miserável. Miseráveis são os pobres que trabalham e não ganham o suficiente para sobreviverem, enquanto que pobres são os que trabalham com carteira assinada, mas não têm nenhuma possibilidade de progredir na vida. Pobres assalariados possuem casa própria, mas, ainda assim, vivem na pobreza que é suportável, mas não desejável. Os pobres da classe média têm bom trabalho, casa e bens de consumo, mas se lhe faltar trabalho, perdem tudo. Existe a pobreza miserável de quem possui muito dinheiro e bens, mas lhes falta tudo, são egoístas, mas o apego de alguns aos seus milhões não é pior que o apego ao pouco que se tem. 

Irmão Carlos escolheu viver a pobreza material esvaziando-se constantemente para encher-se do Cristo, ensinando-nos que o serviço aos pobres é essencial, mas não o suficiente, pois mesmo que todos tenham sua cota de pão, ainda falta algo que é o voltar a Nazaré. Qual o meu discurso sobre os pobres? O que tenho feito por eles? 

Nona Meditação: A importância de Maria para o Irmão Carlos

Mulher, eis aí o teu filho, filho, eis tua mãe. Neste instante, todos nós, seus filhos, como crianças, para sermos cuidados pela mãe que ama infinitamente, carinhosa que não deixa de atender seus filhos. Tenhamos confiança em Maria e não tenhamos medo de seguir seus exemplos. 

Há muitas devoções que são criadas para conquistar um certo grupo de pessoas, muitas vezes, para estar na moda, sem um real sentido, deixando de lado um relacionamento de confiança filial, mesmo tendo Maria como padroeira. 

No silêncio da visitação Maria é nosso modelo, com Maria temos pressa de levar Jesus aos irmãos. A fé de Maria leva Jesus em seu corpo assim também nós, se tivermos fé podemos portar Jesus conosco, pois somos sacrários vivos de Jesus. Ele está conosco, alimenta toda a nossa alma e o nosso ser e na visitação revela-se o amor de Cristo que vive em nós. 

Maria com o Filho no ventre foi à casa da prima santificar João Batista e as duas crianças se comunicaram, ensinando-nos que levar Jesus consigo é uma forma de santificar. Santificar silenciosamente os povos assim como Jesus fez nos 30 anos de vida “oculta”, irradiando luz e força. Ensina-nos, ó Maria a viajar vivendo só para Jesus como a senhora o fez, sem se distrair, sem “gastar” tempo com o que não é essencial. As pessoas estão cada vez mais particularizadas, mas não nascemos para ser nó, mas para sermos nós. 

Jesus e Maria oferecem-nos o aconchego, apontando-nos o caminho, como nos pede o Papa Francisco que acolhamos o mistério de Maria com os olhos cheios de graça refletindo Jesus. Olhar materno que ajuda a crescer na fé, vendo nos outros que pensam diferentes de nós não um inimigo, mas um irmão o qual podemos abraçar. 

O Senhor não nos reconhece pelos nossos títulos e não se importa se merecemos ou não seu amor. Simplesmente nos ama. Maria atravessou a porta estreita que é Jesus participando do seu sofrimento e também do nosso, reunindo no seu Filho os filhos. Um cristão sem Maria é órfão, o também é órfão aquele que não vive a Igreja. 

Maria, ensina-nos a viver o teu sim.


Decima Meditação: Meios da fraternidade 

Na celebração do encerramento do retiro, presidida pelo pregador Padre Carlos, após a homilia, foi realizada a renovação da consagração da Fátima, no Instituto Secular Jesus Caritas. Foi um momento de grande alegria e emoção tanto para a Fátima, que renovou seus votos de castidade, pobreza e obediência e principalmente reafirmando seu compromisso de seguir os passos de humildade e despojamento do irmão Carlos em sua vida, como para todos nós que pudemos celebrar com ela este momento tão importante. (em anexo, nas páginas 48 e 49 está o texto que ela professou e a orientação que a Maria Concilda (responsável fez). 

O término da celebração eucarística, também foi marcado com muita emoção e gratidão pela despedida do Padre Jaime Jongmans, que ao longo de tantos anos, dedicou-se intensamente aos trabalhos pastorais, sociais e espirituais, tanto na vida da Igreja no Brasil como na Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas. Os membros da Fraternidade fizeram uma linda homenagem e se comprometeram a estarem unidos em oração e na amizade. Padre Jaime é padre fidei donum e estará retornando, neste ano, para seu país de origem: a Bélgica, para servir aquele povo com grande expectativa e alegria. 

O importante deve ser a alegria do encontro, parar uma vez por mês, fazer uma revisão de vida, dia de meditação profunda, viver a fraternidade, estar disponível, ser presença, gerando confiança e fazer acontecer a fraternidade. Cada um deve assumir o compromisso de rezar, a seu modo, direto com Deus, mas seguir também os meios da Fraternidade de Charles de Foucauld. 

Colaboração: Pe Renan Takizawa, Conceição Calderano, Pe Edivaldo Santos (Didi), Pe Nelito Dornelas e Magda Melo.