domingo, 5 de abril de 2015

ARTURO PAOLI- MEDITAÇÕES 03

3ª MEDITAÇÃO: A ORAÇÃO

Estamos na Igreja e somos seus ministros na perspectiva do Reino: para servir a humanidade inteira.
Optamos pelos pobres e somos amigos deles na perspectiva da promessa que Deus fe4z a Abraão e à sua descendência.
Mas o centro de nossa vida é nossa relação de amizade com Jesus. Charles de Foucauld não ensina um método de oração, mas testemunha uma vida de oração. “Rezar é pensar em Deus, amando-o”. Na mentalidade formalista e legalista que caracterizava sua época, ele é renovador. Rompe os esquema estereotipados e rotineiros. “Rezar é frequentar Jesus.” Quem está interessado na relação com Jesus deve procurar todos os caminhos que levam à amizade profunda com Ele.
A amizade com Jesus é pessoal, personalizante, libertadora. “Não temais od que matam o corpo. Temei antes os que podem jogar o corpo e a alma na geena”. Não se trata apenas de pecado mortal, mas da renúncia da personalidade, da liberdade. Certos modelos de vida religiosa esmeram-se em oferecer comodidades física: casa, comida, estudo, conforto, lazer. Porém, com uma condição: que a pessoa renuncie à sua liberdade para ser subserviente aos interesses da congregação. Sem a possibilidade de crescer livremente, muitos se tornam frustrados, infelizes, infantis a vida inteira. A Igreja precisa de pessoas adultas, criativas, inovadoras.
Cristo pede nossa vida. Quem sabe, até o martírio. Porém, sem jamais bloquear a liberdade, sem destruir o centro da personalidade.
Paulo, que foi escrevo da lei, compreendeu como ninguém a liberdade que advém do seguimento de Jesus. “É para que sejamos livres que Cristo nos libertou. Na medida em que o homem exterior decai, vai perdendo os pedaços, o homem interior rejuvenesce, até atingir a maturidade de Cristo”.
Cristo pode nos pedir muita luta, vida dura, sacrifícios, mas se meu seguimento for autêntico, jamais desembocará na frustração; pelo contrário, no final do caminho, cada um poderá dizer agradecido: “Confesso que vivi”.
A oração é caminho de realização personalizante. oração que exige tempo, continuidade, fidelidade, Nada mais escandaloso e equivocado que dizer: “tudo é oração”. As atividades, por mais importantes e inadiáveis que pareçam, jamais justificam o afastamento da oração. Diante do amigo, a gente não temais programa. A amizade com Jesus se torna fraca e frágil quando qualquer atividade me faz passar um dia sem um tempo prolongado de oração.
Quem frequenta Jesus na oração manifesta em sua vida os frutos do Espírito: liberdade, amor, “laetitia”: alegria de viver.
Na Igreja há pessoas cronologicamente adultas, mas espiritualmente infantis. Liberdade não se compra na farmácia, nem se conquista intelectualmente.
Liberdade ou medo: não há outra alternativa: ou crescemos na liberdade, ou definhamos no medo.
Hoje, a Igreja hierárquica impõe a volta à disciplina por causa da insegurança, da incerteza, do medo. João XXIII abriu as portas da Igreja porque era livre, espiritualmente maduro. Em pouco tempo provocou uma  verdadeira primavera na Igreja.
“Onde está o Espírito do Senhor, aí está a liberdade. Esta liberdade só se conquista frequentando Jesus na oração. A oração desemboca no dom da liberdade que se reveste de amor, alegria, contemporaneidade (aggiornamento!). Uma relação pessoal de amizade não morre nunca, enquanto que a lei enrijece e qualquer teologia envelhece. A teologia de Ratzinger passou e ficou apegado a ela. Por isso, onde passa ele espalha a tristeza. É o inverno que se abateu sobre a Igreja.

Mais do que nunca precisamos recuperar profeticamente, através da oração, os frutos do Espírito indispensáveis para a vida e a missão da Igreja de todos os tempos: a liberdade, o amor e a alegria! (Arturo Paoli, boletim nº 80 da Fraternidade Sacerdotal, publicado em março de 1990).