2ª MEDITAÇÃO DE ARTURO PAOLI- A MISSÃO DA IGREJA
Jesus nos ensina que Deus é ABBA: Pai amável. Os profetas descrevem o idílio permanente de Deus com a humanidade, que é a sua esposa.
A humanidade é a família de Deus que ainda vive dispersa, competitiva. Deve tornar-se família unida e amorosa.
Entre Deus e a humanidade existe uma mediação. Não é iniciativa do homem entrar em comunhão com Deus. O homem, a partir de si mesmo, sente-se indigno, incapaz. Freud explica o relacionamento neurótico com Deus que se funda no complexo de culpa. Em todas as religiões anteriores ao cristianismo, prevalece a visão sacrificial. Os astecas, por exemplo, sacrificavam à divindade os heróis da guerra, os jovens mais preparados e capazes.
Em Jesus, é Deus que vem gratuitamente ao encontro da humanidade. Assim, ele destrói a concepção sacrificial gerada pela culpabilidade. Deus é livre, mas também é amor. E o amor não tem outra alternativa a não ser comunicar o amor. A mediação para comunicar amor é o oposto da mediação do advogado que vai interceder pelo endividado (dívida-reparação).
Jesus está presente na Igreja em função da humanidade. O papa atual (João Paulo II) vive a contradição da Igreja. Apesar do triunfalismo, resquício da Igreja como sociedade perfeita, João Paulo II percebe que a missão da Igreja é servir a humanidade inteira. Daí suas viagens contínuas e também o gesto profético de reunir em Assis os representantes maiores de todas as religiões. Não se reuniram para discutir as divisões, mas para rezar pela paz.
O projeto de Deus em relação à humanidade está simbolizado numa palavra: a paz. Após dar todas as instruções a seus discípulos, Jesus lhes diz qual é o conteúdo central da evangelização: “Em todas as casas em que entrarem, digam: a paz esteja nesta casa”. Deus quer salvar toda a humanidade para que viva na paz.
A TRÍPLICE MISSÃO DA IGREJA
1- Manter presente o sentido e a finalidade da história.
Hoje, mais do que nunca, os homens perdem o sentido do movimento da história, principalmente por causa dos conflitos, das guerras, da exploração de algumas nações sobre outras.
O centro da pregação der Jesus é o Reino, A Igreja não é o fim em si mesma. Ela é mediação para realizar o Reino, para que o reino se estabeleça em toda a humanidade. Sempre que a Igreja esquece esta missão história, ela se torna apologética, sacramentalista, centralizada em si mesma. A partir de Trento, a Igreja virou as costas para a história.
Somente no Vaticano II retornou à ideia da aliança. A Igreja deve concretizar a aliança de Deus com a humanidade. Cristo é a força de Deus, a energia da história que conduz a humanidade rumo à pacificação, à reconciliação. A missão da Igreja é realizar a aliança através da convivialidade, da justiça e da paz. A Terra Prometida é a reconciliação, reunificação da humanidade e do universo inteiro com Cristo.
2- Meios para realizar a reconciliação
A Palavra e os sacramentos são os meios principais. Toda a criação deve caminhar para a adoção, para a aliança. Seremos filhos de Deus quando realizarmos a fraternidade perfeita, quando formos realmente irmãos que amamos e somos amados. Quem realiza esta plenitude é Cristo, através da ação do Espírito, da Palavra, dos Sacramentos. Assim, caminhamos para alcançar a estatura de Cristo.
3- A Igreja antecipa a plenitude da família de Deus.
Através da vida comunitária e amorosa, a Igreja contribui para tornar transparente a vida e o amor da trindade.
A vida religiosa desviou-se de sua vocação fundamental quando a cúpula da Igreja exigiu que ela assumisse a vida ministerial. De Trento para cá, a Igreja sobrestimou o aspecto missionário, conquistador, doutrinário, organizativo do poder. Até as congregações contemplativas fundaram paróquias e colégios.
Ficou relegada e até esquecida a missão primeira da Igreja: ser reflexo luminoso, transparência contagiante do amor de Deus, da luz de Cristo. Construir um templo, um colégio, um centro comunitário, é muito fácil, principalmente com as verbas estrangeiras. Difícil é formar comunidades onde a fraternidade seja realmente vivida. Uma paróquia super-dinâmica e organizada, mas que não cria convivialidade, amor fraterno, é uma paróquia fracassada.
Tornar visível o amor escondido de Deus, é a tarefa primeira e a única que dá credibilidade à Igreja. Se não cumpre esta missão, a Igreja fracassa: é sal que perdeu o sabor, é luz colocada debaixo da mesa.
A Fraternidade exerce uma função profética quando colabora para que a Igreja exerça com coragem e lucidez esta tríplice missão.
Não há possibilidade de preservar e crescer no ministério presbiteral se este não for exercido e alimentado na missão universal da Igreja. Precisamos acreditar que somos personificação do amor de Deus e nossa missão abraça a humanidade inteira. Não existe função mais política que esta. É esta função profética e política que dá dignidade e sentido radical ao ministério presbiteral.