segunda-feira, 6 de abril de 2015

O DESERTO DE HOJE

Charles de Foucauld: A Missão no Deserto de Hoje


Por Cardeal Walter Kasper

Comoveu-me a autêntica espiritualidade evangélica, espiritualidade de Nazaré, espiritualidade do silêncio, da escuta da Palavra de Deus, da adoração eucarística, da simplicidade da vida e da partilha fraternal. Mas tarde, compreendi a atualidade e a exemplaridade do testemunho de Charles de Foucauld para os cristãos e o cristianismo no mundo de hoje. Charles de Foucauld me parecia interessante como modelo para realizar a missão do cristão e da Igreja não apenas no deserto de Tamanrasset, mas também no deserto do mundo moderno: a missão por meio da simples presença cristã, na oração com Deus e na amizade com os homens.


Apesar de todos os esforços pastorais realizados, as igrejas estão cada vez mais vazias no domingo e a sociedade mais descristianizada. Muitos têm a impressão de pregar para ouvidos surdos. Nessa situação difícil, o exemplo de Charles de Foucauld pode ser de grandíssima ajuda para muitos sacerdotes. Nós, cristãos, também somos filhos de nosso tempo; queremos planejar, fazer, organizar, controlar os resultados... Charles de Foucauld nos sugere uma abordagem diferente: imitar e viver a vida de Jesus em Nazaré.


Não apenas as palavras é a vida que convence. Escrevia a De Foucauld o seu mestre espiritual, padre Henri Huvelin, numa carta de 18 de julho de 1899: “Faz-se o bem com aquilo que se é, bem mais do que com o que se diz... Faz-se o bem quando se é de Deus, quando se pertence a Ele!”.


Muitas vezes vagamos sem uma meta precisa e uma sólida esperança. Somos, portanto, um povo junto ao qual a pregação do Evangelho e a conversão são difícil. Nessa situação, Charles de Foucauld nos dá uma res­posta profética, mas também exigente, no fundo a única resposta possível: uma vida evangélica que manifesta a alternativa profética do Evangelho, tornando-o novamente interessante e atraente. Assim, Charles de Foucauld é uma figura luminosa, e pode ser também um válido contrapeso diante do perigo de um aburguesamento e de uma tediosa banalização da Igreja. 


Charles de Foucauld me parecia interessante como modelo para realizar a missão do cristão e da Igreja não apenas no deserto de Tamanrasset, mas também no deserto do mundo moderno: a missão por meio da simples presença cristã, na oração com Deus e na amizade com os homens (1).


Imitar Jesus Cristo

Sua motivação era simplesmente imitar o amor generoso de Jesus. Charles de Foucauld escreveu: “Toda a nossa existência deve gritar o Evangelho de cima dos telhados. Toda a nossa pessoa deve respirar Jesus. Todas as nossas ações e toda a nossa vida deve proclamar que pertencemos a Jesus. Nós fazemos o bem, não pelo que dizemos e fazemos, mas pelo que somos, pela graça que acompanha as nossas ações, pela maneira que Jesus vive dentro de nós, pela maneira que nossas ações são ações de Jesus que trabalha através de nós” (2).

São João Paulo II situou Charles de Foucauld entre “aqueles que exerceram grande influência em toda a vida da Igreja, por meio da luz e do poder do Espírito” (3).

No mundo em que estamos vivendo cheio de conflitos, perturbado, desencontrado, fundamentalista e libertino, temos a graça da espiritualidade foucauldiana como uma proposta impactante de eficaz mudança nos corações. Nada evangeliza tão bem e profundamente do que o testemunho dos verdadeiros seguidores de Jesus Cristo.

Pe. Inácio José do Vale
Fraternidade Sacerdotal Jesus Cáritas-Charles de Foucauld

Notas:
(1) Fonte: http://www.30giorni.it/articoli_id_7974_l6.htm. Parte da entrevista selecionada. 01/02/ 2005.


(3) Annie de Jésus, Irmãzinha. Charles de Foucauld: nos passos de Jesus de Nazaré. Vargem Grande Paulista, SP. Ed. Cidade Nova, 2004, p.8.