segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

TONY PHILPOT-4- A PALAVRA DE DEUS

Os filósofos do Iluminismo, no século XVIII, falavam do “relojoeiro celeste”, que teria ajeitado o Universo e, em seguida, teria ficado sentado, de braços cruzados, simplesmente olhando como ele funcionava, sem querer mais se envolver no movimento dele.
Ao contrário deles, nós acreditamos num Deus que se engaja, que se preocupa conosco, que tem um projeto para nós e nos ama. A prova mais forte é a Encarnação. O Filho de Deus, o Verbo de Deus, tomou uma forma humana e desceu até nós. “No início era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus... e o Verbo se fez carne...”. Assim São João inicia o seu Evangelho e São Mateus descreve as mulheres deixando o túmulo, correndo, após a Ressurreição: “Eis que Jesus veio ao encontro delas...”. É a característica mais importante do nosso Deus: Ele vem ao nosso encontro.
Uma das maneiras mais fortes pelas quais Deus vem ao nosso encontro é a Bíblia. Ela é a Palavra de Deus, em plena expansão, exposta em todas as matizes de cores e de sons, compreensível a todos os seres humanos. Inspirando os autores bíblicos, Deus achou assim outra maneira de estar presente, de tornar-se acessível. Os livros da Bíblia são vistos de um jeito tal que nenhum outro livro pode ser igual.  Posso ler um versículo do Evangelho hoje e voltar a ele amanhã: encontrarei novas profundezas de sentido. O Espírito Santo não é só ativo através dos escritos dos profetas, salmistas ou evangelistas; está também presente em nós, leitores, à escuta, quando nos confrontamos com a Palavra de Deus.
Carlos de Foucauld era um leitor assíduo das Escrituras. Mergulhava nelas todo dia. Os Evangelhos o animavam e o inspiravam muito. Sua devoção a Jesus na vida escondida de Nazaré é totalmente alicerçada em São Lucas. Seu desejo de martírio surgiu da leitura da Paixão de nosso Senhor.
Os padres da Fraternidade tentam fazer das Escrituras o seu pão de cada dia. Há momentos que seremos tão distraídos que a nossa meditação não poderá “decolar”. Mas, em outros dias, a Palavra de Deus nos conduzirá direto ao coração de Deus e uma única frase pode sustentar uma oração profunda e prolongada. Se nós nos impregnamos da Bíblia, nos tornaremos disponíveis ao Deus vivo.
Quando as fraternidades Jesus Cáritas se reúnem, elas dedicam bastante tempo à leitura das Escrituras e à reflexão em conjunto a partir delas, Podem meditar os textos do domingo seguinte ou caminhar de maneira sistemática, lendo um evangelho só. O importante é não fazer dessa leitura um exercício de exegese, mas buscar o verdadeiro sentido dela: um encontro com Deus que vem a nós. “Fala, Senhor, teu servo escuta”!... dizia Samuel criança.

TONY PHILPOT- INTRODUÇÃO AO DIRETÓRIO DE 2012