segunda-feira, 11 de dezembro de 2017

TONY PHILPOT- 5- O DESERTO

Jesus tinha o costume de se afastar da multidão e de achar um lugar isolado onde podia encontrar-se a sós com seu Pai. Assim, antes de iniciar a vida pública, Ele passou quarenta dias no deserto. Essa atitude foi imitada pelos Padres do Deserto, no Egito. Há algo forte, ligado ao deserto, que produz apóstolos vigorosos, perseverantes e corajosos. A vida no deserto é muito simples.
A diversão é mínima. O sol, alto no céu, derramando seu calor para todos sem distinção, é o símbolo de Deus, de quem ninguém pode escapar, e que é muito poderoso. Não tem como se esconder: nós somos expostos a Deus, à misericórdia e ao poder d’Ele.
Carlos de Foucauld, após sua conversão, procurou um ambiente onde pudesse ficar totalmente unido a Cristo. Fez uma primeira tentativa numa abadia cisterciense, nas montanhas ao sul da França; em seguida, em outra, num lugar muito pobre da Síria; tentou também fixar-se em Nazaré, vivendo num pequeno barraco, no jardim de um convento. Pensou ainda em comprar o Monte das Bem-aventuranças e morar no cume dele. Finalmente, fixou-se no Saara e foi no deserto que ele se encontrou consigo mesmo, com seus desejos mais profundos, e tomou os compromissos mais profundos de sua vida.
Os irmãozinhos de Jesus guardaram essa dimensão de espiritualidade do deserto na formação deles. Um noviço, por exemplo, ficará um mês numa gruta acima de um vale, na Espanha. A Fraternidade Sacerdotal pede a cada membro de ter, todo mês, um dia de deserto. Isso quer dizer encontrar um lugar tranquilo: um bosque, uma praia afastada, um eremitério na montanha. A intenção é deixar, de propósito, o lado ativo e planejado do ministério presbiteral, e de acolher Deus em nossa vida com generosidade, sem querer controlar o tempo. Esse dia mensal calmo permite também rever o desenrolar de nossa vida, olhando com compaixão e com espírito crítico os sucessos e fracassos, agradecendo a Deus pela sua presença contínua ao nosso lado. Ajuda também a preparar o que partilharemos no momento de revisão de vida que ocorrerá no próximo encontro da fraternidade.
O Mês de Nazaré é mais um exercício de vida fraterna do que um retiro. Um grupo de padres escolhe um lugar simples, por exemplo, uma casa religiosa abandonada ou o internato de uma escola livre durante as férias de verão. Vão convivendo durante um mês, cozinhando uns para os outros , rezando juntos, estudando a vida e os escritos de Carlos de Foucauld. Tendo também tempos de solidão, de deserto para meditar e refletir, para colocar-se nas mãos de Deus. Um retiro de uma semana pode ser incluído neste mês. Pode ter também trabalhos manuais, como levantamento de muros que desmoronaram, manutenção de pomares, plantações de árvores... Assim acompanhamos nosso Senhor em sua vida escondida de Nazaré (uma devoção bem própria a Carlos de Foucauld), na sua vida de união ao Pai, na sua vida também de artesão na carpintaria de Nazaré.
Esse conceito de “deserto” merece toda nossa atenção. Uma parte tão importante de nossa vida é gasta em múltiplas atividades, incluindo um número infinito de diversões. É bom ter cuidado com nosso tempo para não ficar preso a este mundo de “folia doida”. Isto é sabedoria! A questão do deserto não é uma questão geográfica. O autor famoso Carlo Carreto, Irmãozinho de Jesus, escreveu um livro como título “O Deserto na Cidade”. Você pode estar no deserto em qualquer lugar. O mais importante é não deixar o mundo técnico-mecânico, o mundo da comunicação instantânea tomar posse de você. Você é maior do que isso.

TONY PHILPOT- INTRODUÇÃO AO DIRETÓRIO DE 2012