sábado, 30 de março de 2013

RETIRO 2013 - 6ª MEDITAÇÃO



SEXTA MEDITAÇÃO

MARIA DO MAGNIFICAT, TODA DE DEUS E TODA DOS IRMÃOS

Maria entoou o Magnificat na visita à Isabel. A ideia da “visitação evangelizadora” inquietava o Ir Carlos durante os anos de Nazaré e o acompanhou nas longas viagens e nas noites claras do Saara.

“Ó minha mãe, fazei que sejamos fiéis à nossa missão de levar fielmente o divino Jesus a estas pobres almas afogadas nas sombras da morte, instalando entre elas a Sagrada Eucaristia e o seu culto... Socorreinos constantemente, ó Mãe do Perpétuo Socorro, a fim de que façamos no meio dos pobres, o que fizestes em casa de Zacarias... Esta bendita festa da visitação é a festa de todos nós, os privilegiados que comungamos. É a festa de Maria levando Jesus em seu corpo, como também nós após a Sagrada Comunhão... Esta é também a festa dos viajantes: ensinai-nos, ó Mãe a viajar como vós viajastes, no esquecimento das coisas passageiras e os olhos fixos em Jesus que trazíeis em vosso seio”(Meditação de Festa da Visitação, 1898).


O Magnificat é o espelho da alma da Maria. Neste poema, a espiritualidade dos pobres de Javé e o profetismo da primeira aliança alcançam o ponto culminante. É também o prelúdio das Bem-aventuranças e do Sermão da Montanha, pois contemplando a ação de Deus, Maria antecipa o Evangelho.


O cântico emerge das anunciações dos dois nascimentos: de João Batista e de Jesus, quando as duas mães, a virgem e a estéril se encontram. Do encontro brota o canto. Tentemos compreender o clima psicológico desse encontro para intuir qual teria sido a experiência de Maria após a visita do Anjo.


Certamente uma grande alegria, como a que nos inunda quando sentimos a proximidade de Deus e nos abandonamos com confiança em suas mãos: “Faça-se em mim segundo a vossa palavra”.


“Meu Pai, a vós me abandono, fazei de mim o que quiserdes”. Mas, depois, Maria deve ter sentido também temores. Encontra-se sozinha, sem saber com precisão o que aconteceu, porque, como todas as mulheres, precisa de certo tempo para ter a certeza da gravidez.

E está sem poder falar com ninguém, pois, como explicar essas coisas a um estranho? Ela não contou logo a José. Ele chegou a saber mais tarde, com perturbação interior, e decidiu abandoná-la secretamente. Além de ver desmoronar seu casamento, imaginava também os sofrimentos e humilhações que cairiam sobre Maria, sem que ela pudesse explicar nada a ninguém. É difícil explicar certos acontecimentos extraordinários, pois quem os experimenta sente-se sozinho, com medo e até com tentações.

Neste contexto entendemos porque “Maria pôs-se a caminho, por uma região montanhosa, dirigindo-se apressadamente a uma cidade de Judá”.


Perguntamo-nos por que apressadamente? Deve ter passado pela mente de Maria que Isabel seria a única pessoa capaz de compreendê-la, pois estava vivendo um acontecimento divino semelhante ao seu. Tal é o estado de espírito de Maria e a razão principal da pressa do encontro.

Costumamos explicar a pressa motivada pela sua caridade e desejo de servir a prima numa gravidez de alto risco. Mas existe também o aspecto da necessidade. Maria precisa falar com alguém, desabafar, confidenciar seu segredo, sentir-se compreendida. Será que Isabel irá compreendê-la?

Após três dias de viagem, ao bater à porta de Isabel, seu coração palpita, como quando não se sabe de que jeito começar uma conversa complicada e delicada. Para sua surpresa ela ouve, em resposta a sua saudação, a prima exclamando: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre! Donde me vem que a mãe do meu Senhor me visite?” Nesse momento, todos os temores que Maria guardava dentro de si desaparecem. Sem precisar explicar nada, sentese compreendida. Confirma-se que tudo aquilo que está acontecendo nela é verdadeiro e, por isso, explode num canto de louvor.

Compreender e ser compreendido são vitais para Maria e também para nós. Sentir-se compreendido pelo bispo, pelos presbíteros, pelo povo, sobretudo nos valores mais importantes, é algo indispensável em nossa vida e missão. Poder falar, expressar-se, perceber que há alguém que, com confiança, olha para nós e nos compreende e respeita, é uma das 
graças mais lindas.

Pe Lonergan coloca no “compreender – ser compreendido – compreender-se” uma chave analógica do Mistério da Trindade. O Pai é aquele que compreende. O Filho é aquele que é compreendido. E o compreender-se mutuamente é o Espírito Santo. Esta categoria é fundamental do ser humano: impossível viver sem sermos compreendidos e nem podemos ajudar os outros sem compreendê-los.


Quando se sentiu compreendida, Maria cantou os segredos e as maravilhas que guardava no coração, mas que não ousava desvendar enquanto não encontrasse alguém que a pudesse compreender.


O Magnificat é uma expressão tão espontânea que se torna difícil dividi-lo rigorosamente em partes. No entanto, existe uma estrutura bastante evidente que nos permite seccioná-lo em duas partes.

A 1ª parte (Lc 1, 56-50) expressa o louvor pelas maravilhas que Deus realiza na vida de Maria.

A 2ª parte (1, 50b-55) amplia o louvor que se expande sobre a história da salvação. Começa com as palavras que podem referir-se tanto à história pessoal de Maria quanto à história da salvação: “Agiu com a força do seu braço”.

O sujeito da 1ª parte é Maria e os dois verbos referem-se à sua pessoa: “A minha alma engrandece o Senhor e o meu espírito exulta em Deus meu Salvador”. Maria começa falando de si e, no mesmo instante se esquece de si para falar de Deus. Como pode engrandecer o Senhor que já é grande, como enaltecê-lo ainda mais? O verbo expressa o desejo de querer Deus como “o maior possível”. É um aspecto emocional profundo, semelhante ao da mãe que ama a criança e lhe diz: “Gostaria de fazer de você a maior, a mais feliz das pessoas da terra”. Assim como o filho que diz: “Quero que meu pai seja o maior, o mais forte, o mais feliz”. Isto é engrandecer. Brota de um amor imenso e intenso.


Maria ama a Deus com todas as forças, com um amor elevado, que transborda de si mesmo: “O meu espírito exulta”. Para compreender o conteúdo desde verbo convém referi-lo a outras passagens do Evangelho de Lucas. “Naquele momento, Jesus exultou de alegria sob a ação do Espírito Santo e disse: ‘Eu te louvo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque ocultaste essas coisas aos sábios e entendidos e as revelaste aos pequeninos’” (Lc 10,21).

Este Cântico é paralelo ao Magnificat, não somente porque nasce de uma exultação semelhante, mas também porque se estrutura na oposição sábios / humildes. A oposição aparece também na 2ª parte do canto de Maria: orgulhosos/tementes a Deus, poderosos/ humildes, ricos/ pobres. Verifica-se igualmente, com facilidade, o paralelo com as Bemaventuranças. Exultar significa dançar, pular. Idêntico termo é usado em relação à criança que pula no ventre de Isabel. Trata-se de algo instintivo, próprio de alguém que está fora de si de alegria.

Como uma mãe que ao perceber que seu filho sarou, toma-o nos braços e grita de contentamento. Esta é a alegria de Maria. Para ela Deus é uma pessoa, o seu Tu com o qual se sente em íntima e cordial familiaridade. Chama-o de Senhor Deus, meu Salvador. O Senhor de quem ela é serva, é Javé Senhor da História, Salvador do povo. Maria fala também como membro do seu povo. Não é só uma relação intimista, mas um relacionamento com o Senhor que tem nas mãos a história do povo.

Maria canta “meu Salvador” porque vive uma experiência pessoal de salvação, possui uma motivação precisa que a atinge profundamente: “Ele olhou para a humilhação de sua serva”. Deus tão excelso olha das alturas e percebe a minha existência, descobre que eu existo, envolve-se comigo, olha para a minha pequenez. “Humilhação” expressa também o temor e a ameaça real de ser rejeitada e marginalizada. Ela tinha colocado em perigo sua honra aceitando uma gravidez misteriosa e Deus a libertou, restituindo-lhe novamente segurança e honra. É uma dupla experiência de salvação, uma experiência plena dos dons de Deus e de ser libertada da vergonha e da humilhação, como estava prestes a acontecer na relação com José. Deus fez dela uma criatura que já não consegue mais dar-se conta dos dons recebidos porque são grandes demais: “O Todo poderosos fez em mim maravilhas ...doravante todas a gerações me proclamarão bem-aventurada”. Maria nos ensina a primazia do louvor, a personalização do louvor e a especificação do louvor.


Acima de tudo, Maria é a criatura que sabe se expandir no louvor. Sou eu uma pessoa que, ao invés de extravasar mágoas, aborrecimentos e ressentimentos pessoais, me expando no louvor? Quando encontro uma pessoa amiga, o primeiro sentimento que sai de mim, é louvor ou a queixa, a lamentação, a fofoca? Urge educar-nos para a primazia do louvor. Temos motivos de sobra para louvar-te, meu Deus, porque és grande, bondoso, misericordioso e amas loucamente a mim e a cada pessoa. Todas as cartas de Paulo começam com agradecimentos: “Bendito seja Deus, Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus de toda a consolação”. “Bendito seja Deus pela paz que reina entre vós”.


A Carta aos Filipenses inicia com uma longa oração de ação de graças. Sabemos que suas comunidades não eram diferentes das nossas.

Apesar disso, tanto Paulo como Maria, tinham dentro de si a consciência da grandeza dos dons de Deus presentes nas pessoas, nas comunidades, na história humana. Às vezes tememos que nosso louvor seja como uma venda sobre os olhos, algo alienante, pois vivemos cercados de injustiças, violências, misérias. No entanto, se começarmos a olhar o mundo com os olhos de Deus, amar as pessoas com o coração de Deus e a louvá-lo por tudo o que ele faz de bom, teremos mais clareza para discernir o bem do mal, a verdade do erro. O sentido do louvor de Deus não é contrário à verdade, mas o único verdadeiro. É a contemplação do mundo que provém da bondade, da misericórdia e do amor de Deus pelo pobre, pelo doente, pelo excluído. Da misericórdia brota a opção pelos pobres.


Maria nos ensina também a personalização do louvor. Se não for personalizado, o louvor se torna vazio, palavra repetida com os lábios, enquanto o coração está longe. É preciso descobrir em minha experiência os motivos de louvor. Existem muitos, mas tantas vezes consideramos como normais os dons de Deus e não os apreciamos como presentes preciosos. “Quando nada acontece, há um milagre que não estamos vendo” diz o poeta Carlos Drumond de Andrade. O exame de consciência ou revisão do dia deveria começar sempre com o cordial agradecimento pelos dons que o Senhor me concede, pelas maravilhas que realiza em minha vida e na vida de meus irmãos e irmãs.


Por fim, Maria entoa um louvor imenso que abarca o universo inteiro e toda a história da humanidade. O que ela viu de extraordinário?

Um Anjo por alguns segundos, Isabel e sua palavra. Entretanto, soube ler nestes fatos, passando pelo conhecimento de Deus, um desígnio universal.

Para louvar basta perceber um real acontecimento em que o Senhor se manifesta e, através dele, chegar ao Deus Salvador, cujo nome é santo e cuja misericórdia perdura de geração em geração.


A especificação exemplar do louvor manifestado por Maria ensinanos a contemplar a vida, o universo e a história com louvor e gratidão. Às vezes, por causa de nossos problemas, ansiedades e angústias, ficamos com a visão desfocada da realidade. Convém então concentrar-nos num pequeno fato e, através dele, chagar-se-á a entender os outros, envolvidos pela ação amorosa e providente de Deus.


REVIRAVOLTA HISTÓRICO-SALVÍFICA

Passemos agora para a 2ª parte do Magnificat (50b-55), na qual a humilde mulher de Israel, depois de ter expressado sua alegria e gratidão por quanto lhe acontecia, canta a ação libertadora de Deus na história.

Maria, toda de Deus e toda dos irmãos, relê profeticamente a história da salvação como reviravolta histórico-salvífica: Deus põe em baixo quem está em cima e em cima quem está em baixo. Maria proclama que Deus realiza uma tríplice inversão das falsas seguranças humanas para restaurar seu plano. Ela dá nomes aos que são abaixados e aos que são elevados. E atribui tudo à ação de Deus através da libertação de Cristo.


ABAIXADOS ELEVADOS AÇÃO DE DEUS

Aspecto Orgulhosos Aqueles que Dispersou – Misericórdia Ético-religioso o temem se estende Aspecto Poderosos Humildes Depôs – Exaltou Sócio-político Aspecto Ricos Famintos Despediu – Cumulou Sócio-econômico Na dimensão ético-religiosa, Deus derruba as auto-suficiências humanas, confunde os planos dos soberbos e orgulhosos que se erguem contra Deus ou pretendem se colocar no lugar dele e oprimem as pessoas.


Na dimensão sócio-política, Deus destrói os injustificáveis desníveis humanos, abate os poderosos de seus tronos construídos com o suor e a exploração dos pobres, repele os dominadores e exalta os humildes, acompanha os que promovem o bem comum da sociedade, encoraja os que defendem os direitos dos injustiçados e excluídos.


Na dimensão sócio-econômica, Deus confunde e arrasa os planos das aristocracias elitistas e avarentas estabelecidos sobre o acúmulo dos bens de produção e do capital, despede os ricos de mãos vazias e cumula de bens os famintos para instaurar a justiça a verdadeira fraternidade entre os povos e nações.

Por que estas palavras proféticas, que ficariam bem na boca de Isaias, de Ezequiel, de Amós, brotam dos lábios de Maria? Porque ela é a primeira em que acontece a reviravolta, a passagem, a elevação. A que se considerava a humilde serva, indigna de qualquer favor, de repente é proclamada “cheia de graça” e “bendita entre as mulheres”! A reviravolta começa a dar-se nela através da presença do Espírito Santo que a torna grávida de Jesus. O coração do mistério da elevação e do abaixamento encontra-se, por tanto, na Encarnação, na kénose do Filho de Deus.


No mistério da Encarnação realiza-se a reviravolta, que começa em Maria e alcança a plenitude na vida, na prática e na Páscoa de Jesus.


Para entender como este mistério se revela é preciso examinar os acontecimentos históricos do Verbo encarnado. Ocorre-nos logo o seu nascimento: vem a nós como pobre e sem teto, expulso de Belém, mas é celebrado pelos anjos como Deus: “Glória a Deus nas alturas”. Ao ser batizado, entra nas águas como um pecador e é exaltado como “Filho Amado do Pai” pela ação do Espírito Santo.

Na parábola do bom samaritano, Jesus rebaixa o sacerdote e o levita e exalta o pagão samaritano. Poderíamos lembrar também as bemaventuranças, a parábola de Lázaro, o fazendeiro rico, os convidados do banquete. Se procurarmos com o microscópio (porque são pequenos episódios!) descobriremos que o Evangelho chama a atenção sobre este princípio: os pequenos, os famintos, os doentes, os pecadores, os pobres, os marginalizados são acolhidos e elevados, ao passo que os autossuficientes, os ricos, os poderosos, Jesus os deixa de lado. Ou através da parábola de Lázaro, indica o futuro que os espera se não se converterem como Zaqueu.


Tais atitudes de Jesus são apresentadas com tal delicadeza e a ação acontece com tal discrição que, aqueles que não tem presente a chave do Magnificat quase nada percebem. Só quem entende o jeito de ser e de agir de Jesus, entende também o Magnificat.

Na vida de Jesus, a reviravolta vai acontecendo de um modo sutil e gradativo. Não se trata de um princípio psicológico, nem de uma regra maniqueia que divida e oponha o bem e o mal. Expressa-se de infinitas maneiras, até resplandecer no mistério da Páscoa: “Aquele que vós matastes, Deus o exaltou” (Lc 24; Fl 2). Os que acreditavam prevalecer, foram derrubados.


A morte e a ressurreição de Jesus constituem o momento culminante do jeito de agir de Deus cantado por Maria no Magnificat.

Jesus realiza a reviravolta ao preço de seu próprio sangue, vivendo em sua carne o abaixamento pelas mãos dos poderosos e a elevaçãoglorificação pela mão do Pai sob a ação do Espírito.

Jesus deixou-nos o sacramento permanente desta reviravolta na Eucaristia. Este dom é sinal inequívoco do aniquilamento, da kénose de Jesus que se entrega até à exaustão para ser devorável. Elevado e glorificado pela Igreja, também sacia e eleva toda a humanidade. O pão consagrado é o último modo com o qual Jesus se entrega no dom de si mesmo.

O cântico de Maria torna-se assim uma interpretação de toda a vida de Jesus, da Eucaristia, da Igreja. Eleita entre os pobres de Javé, a humilde serva do Senhor, Maria pode ser incluída entre as três pequenezas escolhidas por Jesus para revelar o rosto e o coração de Deus: o presépio, a cruz e a Eucaristia.

Com as últimas palavras do Magnificat, Maria situa-se dentro da história do seu povo: “Socorreu Israel seu povo, conforme prometera a Abraão e sua descendência para sempre”. Maria se insere na descendência de Abraão e assume a história de Israel com seus patriarcas e matriarcas, com seus profetas e profetizas, com a escravidão e o êxodo, com o exílio e o retorno à terra prometida. 

Assim também nos recorda que a Igreja hoje deve manter sua relação com Israel, com os pobres e tementes de Javé, com os obedientes e fiéis à sua Aliança renovada pelo sangue do Cordeiro, Filho de Deus e Filho de Maria. Em Cristo e em Maria, o Magnificat também se torna nosso canto. E da mesma forma que Maria se refere a Abraão, ao povo de Israel, às promessas da antiga aliança, assim também nós fazemos memória constante de Cristo, do Evangelho, da Páscoa, da Eucaristia onde Cristo se faz Palavra, Pão, Aliança com o novo povo de Deus.


Antes de concluir, convém mencionar uma pergunta que certamente se encontra entalada em nossa garganta. Quando se concretizarão no Brasil, na América Latina, na África, na Ásia, as profecias contadas por Maria? “Os poderosos são derrubados de seus tronos e o humildes elevados?”. Olhando ao nosso redor, sejamos sinceros, é difícil ler a história com esta chave de leitura, pois vemos “os ricos se tornarem mais ricos às custas dos pobres que ficam cada dia mais pobres”. De vez em quando se invertem os papéis, mas em pouco tempo, quem assume o poder, esquece suas origens e acaba também se tornando dominador.

Novamente Maria ajuda a manter viva a esperança e a coragem na luta. Nossa crença nas transformações sócio-históricas e nosso compromisso na ação libertadora com oprimidos e excluídos devem ser assumidos também no horizonte utópico de que “outro mundo é possível”.

No olhar profético de Maria que canta, refulge a ação salvífica e escatológica de Deus. Só assim podemos entender as profecias do Magnificat. Elas começam a se concretizar no ventre de Maria, na vida e na prática de Jesus, tem sua culminância histórica na cruz e na ressurreição de Cristo; latejam na Igreja e na Eucaristia, no coração e nas lutas dos pobres que prosseguem “esperando contra toda esperança” a chegada do “novo céu e da nova terra” (Ap 21).


Oração à Nossa Senhora da Libertação

Maria, mãe de Cristo e mãe da Igreja, Em nossa missão evangelizadora que nos cabe continuar, alargar e aprimorar, dirigimo-nos a ti. Mas de modo especial, pensamos em ti pelo modo perfeito de ação de graças que é o hino que cantaste quando tua prima Isabel, mãe de João Batista te proclamou a mais feliz dentre as mulheres!

Não paraste em tua felicidade: pensaste na humanidade inteira. Pensaste em todos, mas assumiste uma clara opção pelos pobres, como teu divino Filho faria depois.

Que há em ti, em tuas palavras, em tua voz, que anuncias no Magnificat, a deposição dos poderosos e a elevação dos humildes, o saciamento dos que têm fome e o esvaziamento dos ricos e ninguém ousa julgar-te subversiva ou olhar-te com suspeição?


Empresta-nos tua voz, canta conosco! Pede ao teu Filho que em todos nós e em nossa Igreja se realizem, plenamente, os Planos do Pai.