sábado, 30 de março de 2013

RETIRO 2013 - 1ª MEDITAÇÃO



PRIMEIRA MEDITAÇÃO

50 ANOS DA ABERTURA DO CONCÍLIO:

A VIABILIZAÇÃO DO CONCÍLIO E CONTINUIDADE DO ESPÍRITO CONCILIAR

De 06 a 21 de novembro de 2012 realizou-se em Paris a Assembleia Internacional da Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas. A carta da Assembleia conclui assim: “Nestes anos em que comemoramos o Concílio Vaticano II, lembremo-nos que há aspectos da espiritualidade do Bem-aventurado Carlos de Foucauld nos textos conciliares e que a família foucualdiana contribuiu para o nascimento da Igreja de nosso tempo presente em todas as nações, para torná-la acessível a todos os homens. Testemunhas e portadores do Evangelho da bondade, em fraternidades em gestação, com o lugar original de nosso carisma e de nossa vocação, tornamos presente aos homens o Deus de Amor que se fez nosso irmão em Jesus de Nazaré”.

Nosso interesse pelo Concílio vai além da curiosidade histórica. Ele nos envolveu, e estamos interessados em conhecer melhor sua dinâmica, para nos apropriar dela, de tal modo que continue nos impulsionando, fortalecendo nossa identidade eclesial.

O Concílio, de fato, já ao ser anunciado, desencadeou um intenso processo participativo, que entusiasmou toda a Igreja. Muitas pessoas sentiam que tinha chegado o tempo propício para empreender uma profunda renovação eclesial.

A memória do Concílio, passados já 50 anos, precisa incentivar de novo este sadio protagonismo. É bom advertir que esta memória não pode levar a uma espécie de paralisia, fruto de um saudosismo inibidor, como se o dinamismo eclesial tivesse se esgotado com o término do Concílio. “Do Vaticano II herdamos 16 documentos e um espírito novo”, disse o Cardeal Suenans.

O jubileu de 50 anos nos anima a retomar a dinâmica conciliar. Vamos, portanto, recordar fatos, com a intenção de descobrir o que os tornou possíveis, para habilitar-nos a produzir outros, em continuidade daqueles!


1. Como surgiu o Concílio

À primeira vista, o relato dos acontecimentos que descrevem o surgimento do Concílio, pareceriam indicar que ele foi totalmente inesperado, sem vínculo histórico com as circunstâncias que o precederam.


Na verdade, houve uma dose muito grande de surpresas. Mas analisadas com mais atenção, se descobre que o surgimento do Concílio se deu, sim, por uma inspiração divina, como não cansava de afirmar João23. Mas uma inspiração prontamente acatada e assumida, com os riscos históricos que ela supunha, e sabiamente valorizada e colocada em sintonia com o dinamismo eclesial já existente na época.

O surgimento do Concílio foi fruto da simbiose entre inspiração de Deus e iniciativa humana. João 23 não foi só um dócil acolhedor da ideia do Concílio. Ele foi também um exímio estrategista. Ele soube revestir de motivação espiritual os seus generosos planos de iniciativas pessoais.

Os passos que conduziram João 23 a anunciar o Concílio, no dia 25 de janeiro de 1959, se constituíram numa série de surpresas, onde se podia facilmente reconhecer a mão da Providência. E onde ao mesmo tempo apareciam as marcas da ação humana. Entre Deus e nós existe sempre a mediação humana.

A primeira surpresa foi a própria eleição papal do Cardeal Ângelo Roncali, com 77 anos, desconhecido de quase todo o mundo, com aparência de simples vigário de campanha, surpresa reforçada até pelo nome por ele assumido, de João 23!

Logo foi entendido como “papa de transição”. A surpresa maior foi descobrir que, na verdade, ele seria o papa da grande transição por que passaria a Igreja!


Mas à surpresa de sua eleição, o novo (velho) papa foi acrescentando outras surpresas, fruto de sua vivência pessoal e profundo conhecimento da história, e que muito contribuíram para preparar o clima favorável para o lançamento do concílio Ele se mostrou logo como o “papa da bondade”. Uma bondade revestida de mística cristã, mas feita também de gestos muito humanos, que foram logo cativando a simpatia de todos.

No Natal ele saiu do Vaticano para visitar crianças doentes no hospital No dia seguinte foi visitar os presos na cadeia de Roma.

Com estes gestos que recuperavam a autenticidade evangélica, João 23 pavimentou o caminho para o anúncio do Concílio, que foi prontamente aceito com entusiasmo, sobretudo pelo povo romano, que tinha logo aprendido a amar o seu papa simples, cordial e bondoso.


No anúncio do Concílio houve um evidente fenômeno de transferência afetiva. A grande simpatia pela pessoa do papa foi transferida para a ideia do concílio ecumênico. O concílio foi aceito com o mesmo entusiasmo que o povo começava a ter com o papa. 

O concílio passou a ser olhado com esperança, porque era proposto pelo Papa João 23. Aí e deu de novo o acoplamento entre graça de Deus e ação humana. Pois a pronta acolhida da ideia do concílio por parte do povo, e do mundo inteiro, serviu para o papa de confirmação do caráter divino da inspiração que ele tinha tido. Como nos inícios da Igreja, o povo animado do Espírito Santo servia de critério para guiar os passos da missão.

A generosa adesão do povo foi muito bem capitalizada por João 23. Assim o processo conciliar teve desde o início um grande respaldo popular, que servia de aval para as providências a serem tomadas.

O Concílio nasceu sob a inspiração de Deus, prontamente acatada pela adesão do povo, dando segurança para desencadear o processo conciliar.


Este fato nos dá um precioso ensinamento, e um bom desafio. Como fazer para também nós, nos tempos que vivemos, perceber o rumo a seguir, sinalizado pelos “sinais dos tempos”, que nos revelam o “sensus fidelium”, como soube fazer João 23?

As mudanças na Igreja não acontecem só por iniciativas que vem de cima. Elas acontecem quando se capta a percepção do povo, a ser integrada nas decisões a tomar.

2. Os momentos decisivos do Concílio

A memória do Concílio, a ser recuperada, não é retilínea. Houve momentos que direcionaram o processo conciliar. Eles nos ajudam a perceber como é importante discernir o momento certo, a opção conveniente, a hora da graça.


Podemos identificar diversos desses momentos, que acabaram definindo o rumo do Concílio, com clareza e segurança.

2.1. O anúncio do Concílio.

O anúncio do Concílio, no dia 25 de janeiro de 1959, se constituiu no fato primordial de todo o Vaticano II. As circunstâncias em que se deu este anúncio, desencadearam todo o processo conciliar.

O anúncio do Vaticano II, na festa da conversão do apóstolo Paulo, dia 25 de janeiro de 1959, na Basílica de São Paulo Fora dos Muros, tem um profundo significado simbólico. Data, lugar e pessoa escolhidos pelo papa João XXIII apontam para o propósito de reconstruir uma Igreja com atitude de conversão fora dos muros do legalismo; apontam para uma Igreja apostólica, cuja atividade missionária se torna responsabilidade libertadora para com toda a humanidade. A missão da Igreja começa “fora dos muros”, entre aqueles que vivem nas margens da sociedade e da Igreja.

Como colocar a Igreja em dia com o mundo e com uma nova consciência histórica, e inseri-la na realidade de hoje? Inserção na realidade, consciência histórica, contemporaneidade, diálogo e visão utópica estão contidas na palavra aggiornamento criada por João XXIII.

Ainda antes de iniciar o Concílio, o papa João XXIII mostrou, simbolicamente, que a Igreja Católica precisava abrir-se ao mundo, o que ele chamou de um aggiornamento. Para um interlocutor, que lhe perguntou sobre o significado desse aggiornamento, ele abriu as janelas de uma sala e deu para entender: a Igreja precisa deixar sol e vento entrar para ver longe e respirar fundo.

O sucessor de João XXIII, Paulo VI, em sua Carta Encíclica Ecclesiam suam (1964), menciona o “aggiornamento” como “orientação programática” do Concílio (ES 27).

A “orientação programática” do Vaticano II, portanto, era abertura, deixar a realidade do mundo entrar na Igreja e fazer essa Igreja entrar no mundo. E essa realidade tem várias dimensões: a dimensão macrocultural do mundo moderno, da modernidade secularizada, e a dimensão da vida cotidiana, a microestrutura das culturas, da convivência concreta no mundo pluricultural. Aggiornamento expressa a vontade de construir pontes de mão dupla: uma entre Igreja e a dimensão universal das conquistas da modernidade e do mundo secular, e outra, entre Igreja e o mundo local e cultural, a vida cotidiana onde o povo vive, se encontra e comunica.

Tinha se criado uma grande expectativa em torno do novo papa. Era a conclusão da semana de orações pela unidade dos cristãos. A estratégia de João 23, de mandar convocar os jornalistas para difundir a notícia, repercutiu muito positivamente entre os meios de comunicação e no ambiente externo à Igreja, superando de imediato antigas resistências e preconceitos mútuos.

Desta maneira ficaram também contornadas as resistências internas, sobretudo dos cardeais e da Cúria Romana. O anúncio do concílio encontrou logo uma recepção entusiasta.


Olhada esta estratégia agora, depois de 50 anos, e constatando resistências que perduram ainda hoje, fica a pergunta a respeito dos limites de nossas estratégias humanas para conseguir melhor os fins desejados.

Ao longo de todo o Concílio, será que não faltou um diálogo maduro e franco, para superar as resistências, mesmo sabendo que pudessem ser fruto de preconceitos ultrapassados?


2.2. Ampla consulta às bases

Criada a “comissão ante preparatória”, incumbida de elencar os assuntos a serem abordados pelo Concílio, foi muito feliz a ideia dar palavra às bases, através de ampla consulta, endereçada aos bispos do mundo inteiro, às congregações religiosas, aos reitores de universidades católicas, e aos membros da Cúria Romana.

Com a resposta de 77% dos entrevistados, foi possível não só recolher preciosas sugestões para a temática do Concílio, mas perceber também como é válido dar atenção às bases, e valorizar o que o povo tem a dizer.

2.3. Expectativa mundial em torno de um evento eclesial

Desde o início, já no dia do seu anúncio, o Concílio entrou na pauta das agências de notícias. Foi muito significativo o interesse do mundo em acompanhar um evento da Igreja. É sintoma positivo quando a Igreja se torna sinal de esperança para o mundo.

2.4. O discurso de abertura do Concílio

Repercutiu muito o discurso de João 23 no dia da abertura do Concílio não deixou dúvidas que o Concílio era mesmo para valer. A Igreja precisava atualizar a maneira de apresentar ao mundo as verdades perenes, que precisam ser bem captadas em cada época.

Repercutiu sobretudo a disposição da Igreja diante dos erros, preferindo “usar mais o remédio da misericórdia do que o da severidade. E a recomendação da Igreja de se mostrar “mãe amorosa de todos, benigna, paciente, cheia de misericórdia e bondade também com os filhos dela separados”.


Este devia ser um concílio sem nenhum anátema!

Diante desta generosa proposta de João 23, vale perguntar se é ainda esta a postura da Igreja, ou, parafraseando o salmo, “a mão da Igreja mudou, não é mais a mesma”!

2.5. A eleição dos membros das comissões conciliares 

Uma providência muito importante foi tomada pelos bispos na sua primeira sessão de trabalho. Precisavam escolher 15 nomes para cada uma das dez comissões conciliares Como podiam tirar da cabeça tantos nomes, assim de improviso? Graças à intervenção do Cardeal Liénard, secundado por outros, a escolha foi adiada, com três dias para os episcopados se consultarem entre si, em vista de identificar os nomes mais convenientes a serem indicados. Assim ficou garantida a representatividade do episcopado mundial.

Com isto, os bispos se apropriaram do espaço conciliar, que lhes pertencia de fato. Assim também puderam levar como peritos bons teólogos que haviam sido punidos e até exilados.

Como ocupar os espaços que são nossos? Como colocá-los a serviço da Igreja e da sociedade? Esta é outra questão muito pertinente, que o concílio nos aponta.

2.6. Prioridade dada à liturgia


O primeiro assunto debatido no Concílio, no começo da primeira sessão anual, foi a liturgia. Foi uma feliz escolha. Pois o assunto era o mais próximo a todo bispo, e despertava um interesse imediato.

Além do mais, era o esquema mais maduro, que recolhia os esforços do Movimento Litúrgico, um dos principais movimentos que precederam o Vaticano II. João XXIII, para sair da uniformidade latina, solicitou que as Eucaristias das primeiros dias fossem celebradas em muitos ritos que a maioria dos bispos nem sequer conhecia.

Os debates em torno da liturgia serviram também para os bispos afinarem um pouco melhor o seu latim, seja para as intervenções na aula conciliar, como sobretudo para entenderem o que se falava. A liturgia aplainou o caminho dos debates conciliares. Serviu para amaciar o motor para a longa viagem que estava à frente.

2.7. A primeira rejeição de um esquema

Terminado o debate preliminar sobre a liturgia, e aprovado o seu esquema como “base para o documento conciliar”, foi introduzido outro tema, cujo desfecho seria surpreendente, e iria provocar um alinhamento do plenário, que atravessou depois todo o Concílio.


Acontece que o esquema sobre a Revelação, “De fontibus revelationis”, era vazado em temos fortemente polêmicos, próprios ainda da “contra reforma”. Em contraste, portanto, com a proposta de João XXIII, de buscar a aproximação com os “irmãos separados”, que estavam presentes como observadores atentos.


Levado à votação, expressiva maioria se mostrou contrária ao documento, pedindo sua substituição. Mas faltaram alguns votos para atingir os dois terços necessários para rejeitar o esquema, de acordo com o regulamento. Parecia criado um impasse difícil de contornar.


Foi então que João XXIII interveio pela primeira vez nos trabalhos conciliares, mandando substituir o esquema por outro mais de acordo com as expectativas ecumênicas.

O fato teve grande repercussão, e consequências práticas muito determinantes, pois de certa maneira conformou uma expressiva maioria conciliar, feita dos que tinham votado contra o documento, e acrescida de muitos outros bispos que no gesto do Papa perceberam que ele não se prendia aos esquemas preparatórios, expressos em linguagem da contrarreforma. A partir daí, as votações encontraram um claro critério de posicionamento, que atravessou todo o concílio.


Alguns historiadores chegam a identificar naquele gesto do Papa o fim da “contrarreforma”. Ela teria se encerrado no dia 20 de novembro de 1962, data da decisão de João XXIII de mandar retirar o polêmico esquema sobre “as fontes da revelação”.

Aqui se introduz outra ponderação, que não é fora de propósito. Trata-se da oportunidade que um evento extraordinário oferece, para superar preconceitos cristalizados há séculos, romper resistências, e abrir espaços para um clima de diálogo.

Foi o que proporcionou este Concílio, possibilitando uma nova relação, de diálogo e de respeito, entre católicos e “irmãos separados”.


E em boa parte, somente à luz do forte impacto do concílio se compreende a aceitação das grandes mudanças efetivadas na liturgia. E se compreende como alguns ainda não as tenham aceitado. A superação de posicionamentos radicais é mais difícil quando envolve convicções religiosas. Dado o grande leque de relacionamentos históricos entre a Igreja Católica e outras instâncias da sociedade, o impacto do concílio poderia levar a mudanças de atitudes, criadas em outros contextos históricos e culturais, e que hoje são francamente anacrônicas, mas ainda permanecem. À luz do Concílio, não seria o caso de tentar a superação de preconceitos que ainda marcam o relacionamento da Igreja com algumas instituições da sociedade? Não seria o caso de decretar o fim de outras “contrarreformas” que existem por aí?

Em todo o caso, fica o desafio: como canalizar as energias positivas dos acontecimentos que causam impactos, e podem provocar mudanças de diversas ordens. E no que se refere ao ecumenismo, será que não desperdiçamos uma preciosa oportunidade de maior aproximação e de compromissos progressivos em direção à reconciliação final?


2.8. A redução dos esquemas preparatórios

No intervalo entre a primeira e a segunda sessão, foi tomada uma importante decisão. Foi reduzido drasticamente o número dos esquemas preparatórios. Eram mais de setenta. Foram reduzidos a pouco mais de dez.


Isto foi possível porque no final da primeira sessão, ao iniciar a análise do esquema sobre a Igreja, os bispos se deram conta, muito claramente, que tinham chegado ao tema central, que poderia aglutinar todos os outros. Tinha emergido o núcleo central do Concílio. Este seria um concílio claramente “eclesiológico”, enquanto os primeiros concílios da Igreja tenham sido claramente “cristológicos”.

Estava definida a tarefa do Concílio: apresentar a verdadeira identidade da Igreja, na sua natureza e na sua missão, no contexto do mundo de hoje. Uma Igreja comprometida com a renovação, inspirada no Evangelho de Cristo e no exemplo da Igreja Primitiva, comprometida com a causa da unidade dos cristãos, e inserida na sociedade, com quem se mostra solidária na busca da justiça, da fraternidade e da paz.


A partir daí, o Concílio estava bem centrado, tinha um tema que nucleava todos os outros assuntos.

Em nossa pastoral também é importante encontrar um núcleo central, que possa dar organicidade à diversidade de aspectos e de atividades.


3. Contexto histórico do Vaticano II

Não se entende o Concílio Vaticano II sem ter presente o ambiente histórico em que ele se realizou.

As décadas de 50 e de 60, foram as mais otimistas dos últimos séculos. A Europa estava em pela reconstrução no pós guerra. A humanidade iniciava sua carreira espacial, com a meta de chegar na lua antes do final da década de sessenta.

Na política estava acontecendo a distensão entre leste e oeste, com Kennedy nos Estados Unidos, Kruchev na União Soviética, e João XXIII no Vaticano.

As nações da África iam proclamando sua independência e, o mito do desenvolvimento sem limites contagiava a todos.

No Brasil se construía a nova capital, com a promessa de cinco anos valerem por 50. Em termos eclesiais, era tempo da rápida implantação de estruturas da Igreja, com a criação de 70 novas dioceses durante o período do Núncio Dom Armando Lombardi. Foi neste clima de otimismo e de esperança que se realizou o Vaticano II.

Pode-se fazer a importante constatação: A Igreja percebeu a hora da graça, soube aproveitar as condições favoráveis que a história lhe proporcionava. A vivência diplomática, que João XXII tinha tido, culminando sua carreira como Núncio na França, ajudou o Papa a perceber que era viável mobilizar a Igreja com um evento de tamanha envergadura, como seria o Concílio Vaticano II.

Esses tempos de otimismo duraram pouco. Já no final da década de sessenta, eclodiu em 1968 a revolta dos estudantes na França, sintoma da grande transformação cultural que a secularização iria espalhar rapidamente pela Europa e pelos países do primeiro mundo.

A propósito da secularização, com os profundos impactos que ela trouxe, alguns fazem uma leitura equivocada da história. Porque a secularização ocorreu depois do Concílio, se conclui, erroneamente, que ela foi causada pelo Concílio.


Não deixa de ser verdade que a recepção do Concílio coincidiu em muitos lugares com a chegada da secularização, confundindo as cabeças de muitas pessoas.


Não deixa de ser válido colocar-se a hipótese de como teria sido diferente o Concílio, se fosse realizado depois da crise dos anos setenta.


Com certeza alguns documentos seriam diferentes, como certamente a Gaudium et Spes, por exemplo.

João XXIII convocou o Concílio em tempos favoráveis para a sua realização. E nós, sabermos aproveitar os ventos favoráveis da história, para conduzir melhor a barca da Igreja?


Fica outro bom desafio: como sincronizar os passos da história, para neles inserir nossa presença, e contribuir com a luz do Evangelho, como fez o Concílio.


Conclusão

O Concílio foi escola de vivência eclesial. Ao longo da descrição do processo conciliar, percebemos como os diversos momentos decisivos do Concílio, se constituem em exemplos de atuação eclesial Independente de quando vamos ter um outro concílio, o que importa é resgatar o processo conciliar, vivendo a conciliariedade da Igreja, com sua prática de estar atenta aos sinais dos tempos, com a certeza de contar com a atuação do Espírito quando ela se reúne para discernir os passos que precisa dar.

Assim o Concílio fica integrado na vida da Igreja e nós podemos continuar o seu espírito e o seu dinamismo.