quarta-feira, 11 de março de 2020

4- JESUS ENSINA A REZAR

QUARTA ETAPA: A ORAÇÃO DE JESUS – COMO JESUS NOS ENSINA A REZAR. 


Quando lemos os escritos do Irmão Carlos, percebemos que ele procurou apaixonadamente saber como Jesus rezava. Eu acho que poderíamos encontrar em seus escritos um comentário de cada versículo do Evangelho que se refere à oração. No “Modelo Único” fez uma lista cuidadosa deles. 

Uma boa sugestão é procurar nos Evangelhos, principalmente no Evangelho de Lucas, os textos que nos falam da oração de Jesus. Podemos também procurar aquilo que Jesus diz sobre a oração. 

No desejo de apender a rezar com Jesus, o Irmão Carlos meditou longamente o Pai-nosso. Há principalmente uma oração redigida em data importante para ele: 23 de janeiro de 1897 (Anthologie, pg. 585). 

Foi nesse dia que, tendo obtido a permissão para deixar a Trapa, partiu para Nazaré. Meditou o Pai-nosso de uma tirada só. Acho que podemos encontrar neste comentário – e de uma maneira muito simples – o que era a oração de Jesus para o Irmão Carlos e com ele entrou nessa oração. 

Ele se detém primeiro na palavra “Pai”, que lhe revela a bondade de Deus e o amor com que se sente amado e tira imediatamente as consequências práticas para seu comportamento. Para ele, uma descoberta sempre deve expressar-se na vida. 

“Já que sois tão bom para mim, como devo ser bom para os outros!” 

“Já que quereis ser meu Pai e o Pai de todos os homens, como devo ter os sentimentos de um terno irmão para com todos os homens, para que os que forem bons e mesmo para os que forem maus”. 

Para ele, a palavra “Pai” evoca imediatamente a relação fraterna com todos os homens. Podemos tantas vezes desfigurar o Rosto de Deus se o chamamos de Pai sem nos comportarmos como irmãos…. 

Ele se detém em que cada um dos três primeiros pedidos de Pai-nosso e faz notar que, afinal, expressam a mesma coisa: “Que a glória de Deus seja manifestada e que todos os homens sejam salvos”. 

Descobre, assim, que a oração que brota das profundezas do Coração de Cristo é esse desejo de que se realize nele o plano de amor de Deus. 

“O ministério de sua vontade, aquilo que previra realizar em Cristo na plenitude dos tempos. Em sua misericórdia queria unificar todo o universo, tudo o que está no céu e na terra, reunindo tudo sob um único Chefe, Cristo”. (Ef 1,9). 

Ele acrescenta: “ Essa deveria ser a finalidade de todas as nossas orações, de todas as nossas ações”. 

Nessas poucas palavras, o Irmão Carlos expressa toda a dimensão cristológica de sua oração: acolher no fundo do coração o grande projeto de amor do Pai e entrar na resposta do Filho pela oração e por toda a sua vida. “Que tua vontade se faça em mim”… é o âmago da oração do abandono: entrar no trabalho de Jesus Salvador. 

Ele nota ainda que em todos os pedidos do Pai-nosso emprega-se o plural: “Não peço nada somente para mim, não digo “meu Pai”, mas “nosso Pai”. Não digo “Meu pão”, mas “nosso pão. Não peço nada para mim, tudo o que peço no Pai-nosso, eu o peço em vista de Deus ou para todos os homens”. Ele reafirma: “Não rezar somente para si, mas ter muito cuidado em pedir sempre por todos os homens, por todos nós, filhos de nosso Senhor, amados por Ele: por todos nós, resgatados com Seu sangue”. 

A cada pedido, sempre fiel à sua preocupação de coerência, o Irmão Carlos tira as consequências para sua vida cotidiana. 

“Perdoai-nos as nossas ofensas… não podemos pedir perdão se não perdoamos também. O perdão, como a graça, não se pede somente para si, mas para todos os homens. 

O Irmão Carlos entra, portanto, na grande intercessão de Jesus pela salvação da multidão. Nenhum traço de individualismo na sua oração. Sente-se solidário a todos os homens, e é a própria lógica de sua intercessão que o leva a uma partilha cada vez mais concreta da condição dos pobres. Irá, então, cada vez mais longe, até o Hoggar, onde vai morrer por ter querido permanecer solidário, até o fim, ao destino desse punhado de homens perdidos no fundo do deserto. 

Foi a oração que o levou a enraizar-se e a ser solidário, Muitos homens foram ao deserto para se tornarem eremitas, mas o Irmão Carlos não foi lá para ser eremita, mas par tornar-se cada vez mais o irmão de todos. Não foi ao deserto para fugir do mundo, mas para gritar melhor, com a vida, o amor com o qual se sentia amado, o amor com o qual Deus ama todos os homens. 

Para aprofundarmos nosso conhecimento de Deus e da Palavra, precisamos ter tempo, mas nunca insistiremos bastante sobre o fato de que, na vida de Nazaré, a oração brota e se alimenta da solidariedade vivida e que a intercessão supõe, exige uma partilha de vida, uma pertença, um “sofrer com”. Nossa oração deve tornar-se, de certa maneira, o apelo de todos aqueles cuja condição partilhamos. 

A intercessão mergulha suas raízes na partilha da vida, no “sofrer com”: compaixão. A oração é a fonte e o dinamismo de nossas solidariedades. 

Podemos nos referir à oração de intercessão de Moisés, que também foi totalmente solidário ao povo pelo qual intercedia diante de Deus. (Ex. 32,7-14; 33,1.12-17). Também os textos de Ezequiel, quando Deus busca um vigia que permanecerá diante d’Ele na brecha do muro que cerca a cidade sitiada, para impedi-lo que a destrua (Ez. 13,5 e 22, 30)