Desde o dia de sua conversão, foi na Eucaristia que o Irmão Carlos concretizou seu encontro com Jesus. Nela encontrou Aquele que seu coração procurava, Aquele que tinha entregado seu corpo e dado seu sangue por ele. Toda fidelidade do amor do Irmão Carlos pelo seu Bem Amado Irmão e Senhor Jesus se expressa nas longas horas que passou aos pés de Jesus, de dia e o mais das vezes à noite, às custas de numerosas vigílias.
Essa oração noturna que nunca está em conflito com a disponibilidade, mas simplesmente com… a nossa generosidade, fazem realmente parte da herança do Irmão Carlos e pode ajudar-nos a verificar a verdade do nosso amor.
N ele, o amor à Eucaristia nunca enfraqueceu. É capital, então, que as Irmãzinhas enraízem sua vida inteira nesse amor. Acho que não é possível perseverar toda uma vida no caminho de Nazaré sem a fidelidade à Eucaristia, que deve tornar-se necessária para nós como o alimento de cada dia. É, portanto, indispensável que tornemos gosto por ela.
Mas para isso é preciso compreender bem o que a Eucaristia era para o Irmão Carlos. Não era uma devoção mais ou menos facultativa, mas o lugar onde ia realmente buscar a força de configurar sua vida à do Filho do homem, que deu a vida em resgate pela multidão – o lugar onde sua oração era uma só com a de Jesus.
Na nossa vida, adoração e celebração eucarística estão estreitamente ligadas e é importante insistir nisso e insistir também no laço muito profundo que deve existir entre esse Sacrifício e nossa vida de cada dia. Há um livrinho do Pel. Vanhoye: ”Missa, vida oferecida”, que pode ajudar-nos bastante, creio eu.
Vocês vão receber pistas para um começo de formação sólida sobre a Eucaristia, porque muitas jovens podem chegar com ideias vagas ou superficiais. É preciso cavar e partir da Escritura, a partir do Mistério de Jesus.
Para o Irmão Carlos e a Eucaristia é essencialmente Jesus que entrega a vida pela multidão. É um apelo a entrar no seu sacrifício. Ele passa, então, facilmente do “sacramento do altar” para o “sacramento do irmão”, para o “sacramento do pobre”. Pelo fim da vida, alguns meses antes de morrer, escreverá como uma espécie de testamento:
“A frase do Evangelho que mais transtornou minha vida foi: “e aquilo que vocês fizeram aos menores dos meus, é a mim que estão fazendo”. E quando se pensa que é a mesma boca que disse: “Isto é o meu Corpo, Isto é o meu Sangue”, como somos levados a procurar e a amar Jesus nesses pequenos!
O Irmão Carlos encontra, portanto, Aquele que seu coração ama sob o sinal do pobre, como sob o sinal do pão. É importante entender bem isso para que o nosso olhar seja realmente contemplativo, no caminho de Nazaré. Quando deixamos a capela para pôr-nos à disposição de quem chega, não deixamos Jesus… Ele vem a nós sob uma outra presença e é importante reconhecê-lo aí.
O Irmão Carlos resistiu muito tempo à ideia de tornar-se padre e, quando a aceitou, foi para levar o banquete aos pobres. Pensava numa presença de Jesus que se irradiaria através daqueles que rezasse a Ele, na medida em que aceitassem deixar-se “devorar”. Foi assim que viveu em Beni-Abbés, em Tamanrasset, entregue a todos, nunca fazendo esperar aquele que batesse à sua porta. E sua morte, na tarde do dia 1º de dezembro, teve uma nota eucarística: sangue derramado em união com o sacrifício de Jesus.
O Pe. Voillaume escreveu um dia: “Viver a eucaristia é ser entregue aos homens, tornando-se para eles, pela caridade e pela contemplação eucarística, algo utilmente devorável”.
Para sermos “utilmente devoráveis” é preciso que nossa oração permaneça viva, é preciso a fidelidade por amor às horas de intimidade com Jesus, presente sob o sinal do pão partilhado. Certas jovens entrarão espontaneamente nesta oração e, para outras, é preciso respeitar certas etapas, levar em consideração certos hábitos de oração. Talvez seja preciso, no começo, que cada uma se expresse da sua maneira.
No entanto, seria bom ajudá-las a compreender, aos poucos, que o encontro com Deus se situa como no termo de uma travessia no deserto. É preciso fazer silêncio, no fundo do coração, para escutar Deus. A oração do Irmão Carlos sempre teve essa marca de uma espera silenciosa, de uma escuta que dá a Deus o tempo de falar.
Ainda nisso a escritura pode ajudar-nos. Por exemplo, no primeiro livro dos Reis, cap. 19, o profeta Elias, a caminho da montanha de Deus, deve andar 40 dias no deserto e o encontro com Deus é o “ruido de uma brisa leve”, “o sussurro do silêncio”, diz uma tradução.
“Quando amamos, não fazemos passar antes de tudo a preocupação de estar o mais possível em presença do Bem-Amado, a menos que outra coisa lhe agrade mais, pois é seu consolo, seu bem, sua vontade, que devemos buscar, antes das nossas”. (Antologia, pág. 297).
“Deixemos que Ele viva em nós, que prossiga em nós sua vida de Nazaré. Deixemos que Ele continue em nós sua via de universal caridade. Que nós possamos dizer a todo momento de nossa vida”: “Eu vivo, mas já não sou eu quem vive, é Jesus que vive em mim”. (Antologia, pág. 464).