CONGREGATIO PRO CLERICIS
SYNODUS EPISCOPORUM
Carta aos Sacerdotes sobre o processo sinodal
Carta aos Sacerdotes sobre o processo sinodal
Vaticano, 19 de março de 2022
Prot. n. 220083
Do site CLERUS, VATICANO
Caros Sacerdotes,
Eis-nos aqui, dois irmãos vossos, também sacerdotes! Podemos pedir-vos um momento? Gostaríamos de falar-vos sobre um tema que interessa a todos nós.
"A Igreja de Deus é convocada em Sínodo". Começa com estas palavras o documento preparatório para o Sínodo 2021-2023. Durante dois anos todo o Povo de Deus é convidado a refletir sobre o tema Por uma Igreja sinodal: comunhão, participação e missão. Trata-se de uma novidade que pode suscitar entusiasmo e também perplexidade.
No entanto, "no primeiro milênio, 'caminhar juntos', isto é, praticar a sinodalidade, era o modo usual de proceder da Igreja". O Concílio Vaticano II trouxe à luz esta dimensão da vida eclesial, tão importante que São João Crisóstomo pôde afirmar: "Igreja e Sínodo são sinônimos" (Explicatio in Psalmum 149).
Sabe-se que o mundo de hoje precisa urgentemente de fraternidade. Sem perceber, anseia por encontrar Jesus, mas como fazer esse encontro acontecer? Precisamos escutar o Espírito junto com todo o povo de Deus, para renovar nossa fé e encontrar caminhos e linguagens novos para compartilhar o Evangelho com nossos irmãos e irmãs. O processo sinodal que o Papa Francisco nos propõe tem precisamente este objetivo: nos colocar em caminho, juntos, na escuta recíproca, na partilha de ideias e projetos, para mostrar o verdadeiro rosto da Igreja: uma "casa" hospitaleira, de portas abertas, habitada pelo Senhor e animada por relações fraternas.
Para não cairmos nos riscos apontados pelo Papa Francisco - ou seja, o formalismo que reduz o Sínodo a um slogan vazio, o intelectualismo, que faz do Sínodo uma reflexão teórica sobre problemas e a inação, que nos prende à segurança de nossos hábitos para que nada mude - é importante abrir o coração e escutar o que o Espírito sugere às Igrejas (cf. Ap 2,7).
Evidentemente, diante desse caminho, os medos podem nos assaltar.
Em primeiro lugar, sabemos que os sacerdotes em muitas partes do mundo já carregam uma grande carga pastoral. E agora - pode parecer - se adiciona uma outra coisa "para fazer". Mais do que convidar-vos a multiplicar suas atividades, queremos encorajar-vos a olhar para vossas comunidades com aquele olhar contemplativo de que nos fala o Papa Francisco na Evangelii Gaudium (n. 71) para descobrir os muitos exemplos de participação e partilha que já estão germinando em vossas comunidades. A atual fase diocesana do processo sinodal visa, de fato, "recolher a riqueza das experiências da sinodalidade vivida" (Doc. Prep., 31). Temos a certeza de que são muito mais do que parece à primeira vista, talvez até informais e espontâneas. Em todos os lugares em que se ouve profundamente, se aprende uns com os outros, se valorizam os dons dos outros, se ajuda uns aos outros e se tomam decisões juntos, já existe a sinodalidade em ato. Tudo isso deve ser levado em consideração e valorizado, para desenvolver cada vez mais aquele estilo sinodal que é "o específico modus vivendi et operandi da Igreja, Povo de Deus" (Doc. Prep., 10).
Mas também pode haver outro temor: se o sacerdócio comum dos batizados e o sensus fidei do Povo de Deus forem tão enfatizados, o que será do nosso papel de liderança e nossa identidade específica como ministros ordenados? Trata-se, sem dúvida, de descobrir cada vez mais a igualdade fundamental de todos os batizados e de encorajar todos os fiéis a participar ativamente do caminho e da missão da Igreja. Assim teremos a alegria de estar ao lado de irmãos e irmãs que compartilham conosco a responsabilidade da evangelização. Mas nesta experiência de Povo de Deus poderá e deverá vir à tona, em modo novo, também o peculiar carisma dos ministros ordenados de servir, santificar e animar o Povo de Deus.
Neste sentido, gostaríamos de vos pedir uma tripla contribuição para o atual processo sinodal:
- Fazer todo o possível para que o caminho se baseie na escuta e na vivência da Palavra de Deus. O Papa Francisco assim nos exortou recentemente: "apaixonemo-nos pela Sagrada Escritura, deixemo-nos escavar dentro pela Palavra, que desvela a novidade de Deus e porta a amar os outros sem se cansar" (Francisco, Homilia para o Domingo da Palavra de Deus, 23 de janeiro de 2022).
Sem esse enraizamento na vivência da Palavra, correríamos o risco de andar no escuro e nossas reflexões poderiam se transformar em ideologia. Em vez disso, baseando-nos na prática da Palavra, construiremos a casa sobre a rocha (cf. Mt 7, 24-27) e poderemos experimentar, como os discípulos de Emaús, a luz e a orientação surpreendente do Ressuscitado.
Trabalhar para que o caminho seja caracterizado pela mútua escuta e recíproca aceitação. Antes mesmo dos resultados concretos, o diálogo profundo e o verdadeiro encontro, já são um valor. De fato, são muitas as iniciativas e potencialidades em nossas comunidades, mas muitas vezes indivíduos e grupos correm o risco do individualismo e da autorreferencialidade. Com o seu mandamento novo, Jesus recorda-nos que "nisto conhecerão todos que sois meus discípulos: se vos amardes uns aos outros" (Jo 13,35). Como pastores podemos fazer muito para que o amor recupere as relações e cure as lacerações que muitas vezes atingem também o tecido eclesial, para que retorne a alegria de nos sentirmos como uma família, um só povo em caminho, filhos do mesmo Pai e, portanto, irmãos entre nós, começando pela fraternidade entre nós sacerdotes.
- Cuidar para que o caminho não nos leve à introspecção, mas nos estimule a sair ao encontro de todos. O Papa Francisco, na Evangelii Gaudium, nos deu o sonho de uma Igreja que não tem medo de sujar as mãos envolvendo-se nas feridas da humanidade, uma Igreja que caminha na escuta e a serviço dos pobres e das periferias. Este dinamismo "em saída" para o encontro aos irmãos, com a bússola da Palavra e o fogo da caridade, realiza o grande desígnio original do Pai: "que todos sejam um" (Jo 17,21). Em sua última Encíclica Fratelli Tutti, o Papa Francisco pede que nos comprometamos com nossos irmãos e irmãs de outras Igrejas, os fiéis de outras religiões e todas as pessoas de boa vontade: fraternidade universal e amor sem exclusões, que tudo e todos devem abraçar. Como servos do Povo de Deus, estamos numa posição privilegiada para garantir que esta não permaneça uma orientação vaga e genérica, mas se concretize lá onde vivemos.
Caríssimos irmãos sacerdotes, temos a certeza de que a partir destas prioridades encontrareis um modo de dar vida a iniciativas concretas, segundo as necessidades e as possibilidades, porque a sinodalidade é verdadeiramente o chamado de Deus para a Igreja do terceiro milênio. Encaminharmos nesta direção não será isento de questionamentos, fatigas e suspeições, mas podemos confiar que nos retornará o cêntuplo em fraternidade e nos frutos da vida evangélica. Basta pensar no primeiro Sínodo de Jerusalém (Atos 15). Quem sabe quanta fatiga havia nos bastidores! Mas sabemos o quão decisivo foi aquele momento para a Igreja nascente.
Concluímos esta nossa carta com duas passagens do documento preparatório que nos poderão inspirar e acompanhar quase como um Vademecum.
"A capacidade de imaginar um futuro diferente para a Igreja e para as suas instituições, à altura da missão recebida, depende em grande parte da escolha de encetar processos de escuta, diálogo e discernimento comunitário, em que todos e cada um possam participar e contribuir" (n. 9).
"Recordamos que o objetivo do Sínodo, e por conseguinte desta consulta, não consiste em produzir documentos, mas em fazer germinar sonhos, suscitar profecias e visões, fazer florescer a esperança, estimular confiança, faixar feridas, entrançar relações, ressuscitar uma aurora de esperança, aprender uns dos outros e criar um imaginário positivo que ilumine as mentes, aqueça os corações, restitua força às mãos" (n. 32).
Agradecendo pela vossa atenção, vos garantimos nossas orações e desejamos a vós e às vossas comunidades um alegre e frutífero caminho sinodal. Saibais que estamos próximos e em caminho convosco! E, através de nós, acolheis a gratidão do Papa Francisco que também vos sente muito próximos.
Confiando cada um de vós à Bem-Aventurada Virgem Maria do Bom Caminho, saudamos-vos cordialmente no Senhor Jesus.
Mario Card. GRECH
Secretário Geral
do Sínodos dos Bispos
Lazzaro YOU HEUNG SIK
Arcebispo-Bispo em. di Daejeon
Prefeito da Congregação para o Clero