Celebração
da Penitência
Os Encontros Nacionais dos Presbíteros (ENPs) são verdadeiros presentes do Espírito para a Igreja do Brasil. Estão ajudando a moldar a identidade presbiteral na perspectiva do Concílio Vaticano II e da caminhada da Igreja na América Latina. Através dos ENPs começamos a concretizar a colegialidade presbiteral, a saborear a alegria da “íntima fraternidade sacramental” e a construir a pastoral presbiteral que brotam do sacramento da Ordem.
Particularmente o 7°
ENP (1998) com o tema “Presbíteros rumo ao Novo Milênio”
abordou com profundidade a necessidade da Pastoral Presbiteral.
“Cresce em algumas
dioceses a consciência de que é preciso dar um
acompanhamento especial aos presbíteros. É louvável
o esforço da Igreja em oferecer sua presença, apoio e
assistência a grupos de pessoas em situações
difíceis, criando pastorais específicas, tais como as
várias pastorais sociais.
Por que não
criar uma pastoral específica para acompanhar os presbíteros?
Sendo pessoas que se doam tanto pelo povo, muitas vezes não
têm tempo nem condições de cuidar de si. A
comunidade eclesial deverá despertar para cuidar daqueles que
entregaram todo seu coração, seu afeto e sua vida a
serviço de Deus e de seu povo. Compete ao bispo diocesano e ao
conselho presbiteral organizar a Pastoral Presbiteral para zelar pela
vida e ministério dos presbíteros” (Texto Base do 7º
ENP, p 28-29).
O principal agente da
Pastoral Presbiteral deve ser o bispo, que, como o bom Pastor, se
empenha em valorizar os seus irmãos presbíteros;
conhecê-los com o coração, para compreender sua
história de vida, seus desejos e anseios, bloqueios e
limitações. Espera-se do bispo que seja amável e
acolhedor, que promova a unidade do presbitério em torno de
si, como sinal do próprio Cristo. Por outro lado, os
presbíteros procurem ser a presença do pastor junto ao
povo, na pregação e na ação pastoral. É
necessário que o bispo saiba onde mora cada presbítero,
como vive, quais as carências e necessidades, para que possa
oferecer uma presença de consolo, uma palavra firme e aponte
objetivos claros.
Um bispo, relatando as
conclusões de um trabalho em grupo, dizia nesta assembléia:
“Mais que pai, o bispo precisa se irmão dos presbíteros”.
Um eco do evangelho que escutamos: “Não chameis a ninguém
na terra de pai, pois um só é vosso Pai... e vós
sois todos irmãos. Pelo contrário, o maior dentre vós
deve ser aquele que vos serve” (Mt 23, 9-11)
O bispo com os
presbíteros, e esses com o bispo promovam um ambiente
saudável, de unidade e amizade, na própria Igreja
local, na plena consciência de serem juntos sacramento do Corpo
de Cristo. Com sabedoria e realismo, assim expressou-se o Pe Alberto
Antoniazzi nesta assembléia:
“Não devemos
ter medo de fazer propostas exigentes, contra a correnteza, contra a
tendência individualista e hedonista. Podemos apostar num
presbitério como verdadeira comunidade fraterna. E se não
o fizermos, veremos os padres da diocese procurar solidariedade,
fraternidade e entusiasmo em outros ambientes”.
À luz do
evangelho que escutamos, (Mt 20, 20-28) vamos refletir sobre o valor
da fraternidade. Vamos contemplar nosso Mestre e Senhor Jesus como
irmão de todos. Esse é um dos aspectos da sua
personalidade que mais transparece nos evangelhos. “Para
salvar-nos, Jesus veio a nós, misturou-se conosco, viveu entre
nós no contato mais familiar e mais estreito. Para a salvação
dos irmãos, nós também precisamos ir até
eles, misturar-nos com eles, viver em íntimo contato familiar”
(Charles de Foucauld). Através de suas ações e
palavras, Jesus nos ensina que a fraternidade que nasce da
paternidade divina é uma urgente necessidade, um sonho, uma
humilde experiência, um precioso dom de Deus.
A fraternidade é
uma urgente necessidade Ninguém vive sem amor. Amar e ser
amado constitui a dupla via do amor. Nossa formação, de
um modo geral, acentuou a dimensão oblativa do amor: sair de
si mesmo, servir os outros. Por isso, temos certa dificuldade para
nos deixar amar, para acolher o amor dos outros. Damos a impressão
de que gastamos tanto tempo para nos tornar cultos, superiores,
juízes dos outros. E que temos a tendência de controlar
nosso tempo, os agentes de
pastoral, as finanças.
Quando alguém
aceita ser amado, perde um pouco o poder que possui, pois se deixa
influenciar e, de certa forma, conduzir pelo outro. O medo de perder
o controle explica as resistências de muitos para partilhar os
sentimentos, as crises, os fracassos. Por causa disso e em função
da organização hierárquica da Igreja, nossas
relações vão se tornando demasiado verticais e
funcionais. Estamos prensados entre o bispo e o povo, que nos cobram
de diferentes maneiras.
Deste modo, é
difícil estabelecer relações horizontais. E
acabamos sendo privados das relações
de igualdade e
reciprocidade, essenciais para a amizade, e que realmente nos
humanizam e personalizam.
A identidade pessoal
não pode ser descoberta apenas com a pergunta: “Quem sou
eu?” Correríamos o risco de encontrar uma identidade
individualista, fechada em si mesma. Urge também perguntar:
“Com quem ando? Com quem sou? De quem sou? Para quem sou?” As
respostas a estas perguntas configuram relação,
totalidade, busca de plenitude.
O coração
fraterno possui muitas manifestações: dar, receber,
pedir, agradecer... Aprender a dar, receber, pedir idéias,
tempo, coisas, atenção, consolo... Quando meditamos a
parábola do bom samaritano, geralmente nos identificamos com
aquele que socorre, nunca com o caído, o necessitado. É
preciso sentir-se livre para conseguir pedir, receber gratuitamente e
saber dizer: “gracias”! Saber receber sem se intrometer na vida
dos outros. Receber uma criança, um mendigo, um aidético,
um casal divorciado, uma prostituta... Amar com transparência,
sem controlar, sem possuir. Na homilia de ação de
graças pela recuperação de Dom Luciano Mendes de
Almeida, após aquele grave acidente, em 1990, Dom Serafim
Fernandes pronunciou
estas tocantes palavras: “Dom Luciano ama a cada pessoa com a mesma
naturalidade com que toma um copo d’água”.
“Em nosso coração
existe mais amor do que somos capazes de expressar”, afirmou
Segundo Galilea durante um retiro. Há em nós bloqueios
afetivos, desconfianças, preconceitos, medo de sermos
incompreendidos ou mal interpretados. No entanto, as pessoas que nos
cercam, principalmente aquelas que trabalham e convivem conosco
precisam saber e sentir que nós as amamos. Relacionando-nos
assim, daremos sentido também para a opção do
celibato.
Esta deve possibilitar
maior liberdade e abertura para amar a todos, vencendo a tentação
de controlar, possuir, dominar. Na opção celibatária,
a relação homem/mulher exerce um papel importante, pois
a castidade por causa do Reino imprime no presbítero a
capacidade de estabelecer relações maduras com outras
pessoas, tanto homens como mulheres. Este relacionamento em nível
de igualdade e reciprocidade da amizade é indispensável
para o nosso crescimento e amadurecimento humano, afetivo e
espiritual.
A fraternidade é
um sonho
A fraternidade
universal é o maior sonho de Deus. Coincide também com
o sonho do coração de cada pessoa humana: ser e viver
como irmãos, superando toda espécie de preconceitos e
divisões!
Um dos pecados dos
cristãos de hoje é a incapacidade de sonhar. Nossos
sonhos vão se tornando pequenos, mesquinhos, rasteiros,
insignificantes. Com a desculpa de sermos realistas, concretos,
práticos, eficientes, acabamos presos ao convencional, ao
jurídico, ao institucional, às rubricas, ao imposto.
Não será por este motivo que tantos jovens abandonam a
Igreja? No entanto, foi Jesus quem nos revelou o sonho que nenhuma
religião descobriu: Deus é Pai que nos ama com coração
de mãe! O Deus que estava longe como Senhor Altíssimo,
chegou perto de nós como Abba, Papai!