domingo, 23 de abril de 2023

D. EDSON-O PRESBÍTERO-07


Celebração da Penitência


Os Encontros Nacionais dos Presbíteros (ENPs) são verdadeiros presentes do Espírito para a Igreja do Brasil. Estão ajudando a moldar a identidade presbiteral na perspectiva do Concílio Vaticano II e da caminhada da Igreja na América Latina. Através dos ENPs começamos a concretizar a colegialidade presbiteral, a saborear a alegria da “íntima fraternidade sacramental” e a construir a pastoral presbiteral que brotam do sacramento da Ordem. 


Particularmente o 7° ENP (1998) com o tema “Presbíteros rumo ao Novo Milênio” abordou com profundidade a necessidade da Pastoral Presbiteral.

Cresce em algumas dioceses a consciência de que é preciso dar um acompanhamento especial aos presbíteros. É louvável o esforço da Igreja em oferecer sua presença, apoio e assistência a grupos de pessoas em situações difíceis, criando pastorais específicas, tais como as várias pastorais sociais.

Por que não criar uma pastoral específica para acompanhar os presbíteros? Sendo pessoas que se doam tanto pelo povo, muitas vezes não têm tempo nem condições de cuidar de si. A comunidade eclesial deverá despertar para cuidar daqueles que entregaram todo seu coração, seu afeto e sua vida a serviço de Deus e de seu povo. Compete ao bispo diocesano e ao conselho presbiteral organizar a Pastoral Presbiteral para zelar pela vida e ministério dos presbíteros” (Texto Base do 7º ENP, p 28-29).

O principal agente da Pastoral Presbiteral deve ser o bispo, que, como o bom Pastor, se empenha em valorizar os seus irmãos presbíteros; conhecê-los com o coração, para compreender sua história de vida, seus desejos e anseios, bloqueios e limitações. Espera-se do bispo que seja amável e acolhedor, que promova a unidade do presbitério em torno de si, como sinal do próprio Cristo. Por outro lado, os presbíteros procurem ser a presença do pastor junto ao povo, na pregação e na ação pastoral. É necessário que o bispo saiba onde mora cada presbítero, como vive, quais as carências e necessidades, para que possa oferecer uma presença de consolo, uma palavra firme e aponte objetivos claros.

Um bispo, relatando as conclusões de um trabalho em grupo, dizia nesta assembléia: “Mais que pai, o bispo precisa se irmão dos presbíteros”. Um eco do evangelho que escutamos: “Não chameis a ninguém na terra de pai, pois um só é vosso Pai... e vós sois todos irmãos. Pelo contrário, o maior dentre vós deve ser aquele que vos serve” (Mt 23, 9-11)

O bispo com os presbíteros, e esses com o bispo promovam um ambiente saudável, de unidade e amizade, na própria Igreja local, na plena consciência de serem juntos sacramento do Corpo de Cristo. Com sabedoria e realismo, assim expressou-se o Pe Alberto Antoniazzi nesta assembléia:

Não devemos ter medo de fazer propostas exigentes, contra a correnteza, contra a tendência individualista e hedonista. Podemos apostar num presbitério como verdadeira comunidade fraterna. E se não o fizermos, veremos os padres da diocese procurar solidariedade, fraternidade e entusiasmo em outros ambientes”.


À luz do evangelho que escutamos, (Mt 20, 20-28) vamos refletir sobre o valor da fraternidade. Vamos contemplar nosso Mestre e Senhor Jesus como irmão de todos. Esse é um dos aspectos da sua personalidade que mais transparece nos evangelhos. “Para salvar-nos, Jesus veio a nós, misturou-se conosco, viveu entre nós no contato mais familiar e mais estreito. Para a salvação dos irmãos, nós também precisamos ir até eles, misturar-nos com eles, viver em íntimo contato familiar” (Charles de Foucauld). Através de suas ações e palavras, Jesus nos ensina que a fraternidade que nasce da paternidade divina é uma urgente necessidade, um sonho, uma humilde experiência, um precioso dom de Deus.

A fraternidade é uma urgente necessidade Ninguém vive sem amor. Amar e ser amado constitui a dupla via do amor. Nossa formação, de um modo geral, acentuou a dimensão oblativa do amor: sair de si mesmo, servir os outros. Por isso, temos certa dificuldade para nos deixar amar, para acolher o amor dos outros. Damos a impressão de que gastamos tanto tempo para nos tornar cultos, superiores, juízes dos outros. E que temos a tendência de controlar nosso tempo, os agentes de
pastoral, as finanças.

Quando alguém aceita ser amado, perde um pouco o poder que possui, pois se deixa influenciar e, de certa forma, conduzir pelo outro. O medo de perder o controle explica as resistências de muitos para partilhar os sentimentos, as crises, os fracassos. Por causa disso e em função da organização hierárquica da Igreja, nossas relações vão se tornando demasiado verticais e funcionais. Estamos prensados entre o bispo e o povo, que nos cobram de diferentes maneiras.

Deste modo, é difícil estabelecer relações horizontais. E acabamos sendo privados das relações
de igualdade e reciprocidade, essenciais para a amizade, e que realmente nos humanizam e personalizam.

A identidade pessoal não pode ser descoberta apenas com a pergunta: “Quem sou eu?” Correríamos o risco de encontrar uma identidade individualista, fechada em si mesma. Urge também perguntar: “Com quem ando? Com quem sou? De quem sou? Para quem sou?” As respostas a estas perguntas configuram relação, totalidade, busca de plenitude.

O coração fraterno possui muitas manifestações: dar, receber, pedir, agradecer... Aprender a dar, receber, pedir idéias, tempo, coisas, atenção, consolo... Quando meditamos a parábola do bom samaritano, geralmente nos identificamos com aquele que socorre, nunca com o caído, o necessitado. É preciso sentir-se livre para conseguir pedir, receber gratuitamente e saber dizer: “gracias”! Saber receber sem se intrometer na vida dos outros. Receber uma criança, um mendigo, um aidético, um casal divorciado, uma prostituta... Amar com transparência, sem controlar, sem possuir. Na homilia de ação de graças pela recuperação de Dom Luciano Mendes de Almeida, após aquele grave acidente, em 1990, Dom Serafim
Fernandes pronunciou estas tocantes palavras: “Dom Luciano ama a cada pessoa com a mesma naturalidade com que toma um copo d’água”.

Em nosso coração existe mais amor do que somos capazes de expressar”, afirmou Segundo Galilea durante um retiro. Há em nós bloqueios afetivos, desconfianças, preconceitos, medo de sermos incompreendidos ou mal interpretados. No entanto, as pessoas que nos cercam, principalmente aquelas que trabalham e convivem conosco precisam saber e sentir que nós as amamos. Relacionando-nos assim, daremos sentido também para a opção do celibato.

Esta deve possibilitar maior liberdade e abertura para amar a todos, vencendo a tentação de controlar, possuir, dominar. Na opção celibatária, a relação homem/mulher exerce um papel importante, pois a castidade por causa do Reino imprime no presbítero a capacidade de estabelecer relações maduras com outras pessoas, tanto homens como mulheres. Este relacionamento em nível de igualdade e reciprocidade da amizade é indispensável para o nosso crescimento e amadurecimento humano, afetivo e espiritual.

A fraternidade é um sonho

A fraternidade universal é o maior sonho de Deus. Coincide também com o sonho do coração de cada pessoa humana: ser e viver como irmãos, superando toda espécie de preconceitos e divisões!

Um dos pecados dos cristãos de hoje é a incapacidade de sonhar. Nossos sonhos vão se tornando pequenos, mesquinhos, rasteiros, insignificantes. Com a desculpa de sermos realistas, concretos, práticos, eficientes, acabamos presos ao convencional, ao jurídico, ao institucional, às rubricas, ao imposto. Não será por este motivo que tantos jovens abandonam a Igreja? No entanto, foi Jesus quem nos revelou o sonho que nenhuma religião descobriu: Deus é Pai que nos ama com coração de mãe! O Deus que estava longe como Senhor Altíssimo, chegou perto de nós como Abba, Papai!