terça-feira, 4 de abril de 2023

FREI HANS: DEPENDÊNCIA NOS PADRES

 


Vídeo e texto do Frei Hans, de Guaratinguetá, das Fazendas Esperança, sobre as dependências da vida dos padres. Vale a pena conferir! 


OS DESAFIOS DAS DEPENDÊNCIAS NA VIDA SACERDOTAL E RELIGIOSA

Palestra que foi ao ar pelo YouTube no dia 17/05/2023

Palestrante: Frei Hans Stapel, das Fazendas Esperança.

APRESENTADOR PE. JOVANES

PEQUENA BIOGRAFIA DO FREI HANS

Frei Hans Stapel nasceu no dia 30/12/1945 em Geseke, Alemanha, durante o final da Segunda Guerra Mundial, filho de Franz Stapel e Else. Ainda na Alemanha conheceu os carismas da unidade, de Chiara Lubich, e da pobreza de São Francisco de Assis. É considerado o pai da Fazenda da Esperança, comunidade que evoluiu de um centro de recuperação para dependentes químicos a uma família espiritual formada no seio da Igreja Católica. Esteve sempre ligado a seu irmão gêmeo, Paulo Stapel.

Vindo ao Brasil tornou-se pároco da Igreja N. Sra. da Glória, em Guaratinguetá, em 1979. Quatro anos depois fundou a Fazenda da Esperança junto com Nelson Giovanelli, na época um jovem paroquiano.

No ano de 1997 assumiu, no Brasil, a Presidência da Fundação Pontifícia Católica (Ajuda à Igreja que sofre).


Em 1999 fundou a Família da Esperança, uma Associação Internacional de Fiéis responsável por diversos trabalhos, entre eles o da Fazenda da Esperança.


O ano de 2007 foi um dos mais importantes na história da Fazenda, quando frei Hans recebeu a visita do Papa Bento XVI. Momento que emocionou o mundo inteiro, quando o papa emérito, abandonou os protocolos e caminhou entre os jovens, outrora marginalizados pela sociedade.


Em 2010, recebeu o Reconhecimento Pontifício da Família da Esperança como Associação Internacional de Fiéis, pela Santa Sé. Quatro anos depois foi nomeado pelo Papa Francisco como consultor do Conselho Pontifício para os Leigos.


Um evento no ano de 2014 incentivou a Fazenda a continuar levando a esperança aos que mais precisam. Emmaus e Giancarlo, então presidente e copresidente do Movimento dos Focolares, se encontraram com Frei Hans e com os jovens das Fazendas da Esperança da Região Sudeste, em Guaratinguetá.


No ano de 2015, Frei Hans ganhou uma honraria da Cruz de Mérito concedida por seu país de origem e o reconhecimento definitivo da Família da Esperança. Esta premiação foi dada pelo trabalho no campo econômico, político, social e espiritual.


Em 1º de abril de 2016 participou de audiência privada no Vaticano, na companhia de Nelson Giovanelli, com o Papa Francisco, que enviou mensagem em vídeo aos jovens da Fazenda.


Em 2018 recebeu o Prêmio Internacional Pomba Dourada da Paz como sinal de reconhecimento pelo trabalho feito em favor de muitas pessoas que passam por situações de dependência química, menores em situação de risco, atendimento a portadores do vírus HIV, entre outros.


PALESTRA DE FREI HANS

(N.do digitador: Eu tive que acertar algumas palavras para se adequarem melhor às frases às quais elas pertencem. Qualquer dúvida, consulte o vídeo).

Boa noite a todos (falou sobre um incidente ocorrido na noite anterior, de hackers, quando essa palestra deveria ter sido feita pelo Meet).

Gostaria de pedir ao Espírito Santo Sua presença e convidar também a cada um de fazer a sua parte oferecendo suas dores e suas orações.

O tema é o desafio, e são muitos! Hoje à tarde estive no Parlamento, aqui em Brasília, onde estou, para defender as comunidades terapêuticas. Foi muito difícil, não é fácil. É uma ignorância em todos os sentidos e um radicalismo. Eu saí depois de quatro horas de debate, mas ainda estão falando, e muitos ainda na lista dos que querem falar.

Os desafios são muitos. Eu digo alguns, mas vocês devem conhecer muitos e muitos outros. Os que pedem nossa ajuda é, em geral, o alcoolismo, muito espalhado entre o clero, também alguns casos de drogas, muitos com abusos sexuais de todos os tipos, muitos já condenados, outros ainda em processo, muitos também com depressão, com a solidão, que é uma coisa muito forte entre os padres, e nos últimos tempos, que assustam o mundo todo, são os suicídios que acontecem.

Na parte dos abusos sexuais há de todos os tipos, aqueles que assustam, o Papa também luta bastante principalmente no abuso de crianças, mas também há o homossexualismo e de tudo. Essas pessoas vêm. Primeiramente, quero dizer que eu não julgo ninguém, porque cada um é um ser humano que tem sua história. Muitos não tiveram aquele amor de que precisavam em sua infância; muitos são filhos de pais separados, outros foram abusados, e mais tarde também abusaram, repetindo o que lhes ocorrera, outros não tiveram coragem de poder falar os seus problemas... também muitas vezes a educação foi muito rígida, onde as famílias não têm o costume de esclarecer, de conversar abertamente sobre o desenvolvimento da pessoa quando jovem, quando descobre a sua sexualidade. Muitos a descobrem na rua com os colegas, às vezes nem sabem o que é, e assim ficam acostumados (com esses desvios), ou entram no vício da masturbação e continuam a não conseguirem se libertar. Entram na vida religiosa, tanto na parte masculina como feminina, e aqui no seminário — eu tenho mais experiência com os seminários, mas também com religiosas, nos diversos retiros que preguei, — e as comunidades que estou acompanhando. Hoje temos mais de 22 comunidades religiosas diferentes que trabalham conosco nas fazendas nesse trabalho de recuperação.
MEDO DE FALAR

Nos seminários os jovens têm medo de falar. A comunhão profunda, fraterna, muitas vezes não existe. Muitos me dizem que não falam porque têm medo de serem mandados embora, que querem ser padres, mas ao mesmo tempo entram em experiências homossexuais ou são também homossexuais muitas vezes. E assim, ficam quietos e conseguem ser ordenados sacerdotes e vivem, no fundo, uma vida dupla, escondida, e isso não leva ninguém a se realizar. Ficam com um vazio.

Agora: quando eles chegam conosco, e são muitos os que já passaram e estão passando, de todos os tipos, a primeira coisa que eu procuro fazer é um relacionamento fraterno. Passamos-lhes confiança, para que eles se sintam amados, não julgados, mesmo que tenham processos, alguns já estiveram presos, depois da prisão chegam até nós, nós não os julgamos, não vamos falar em culpa: vamos escutar.

E aqui eu digo que é importantíssimo que entre nós, religiosos, religiosas, deve haver a chance de poder falar. Se não tem ninguém com quem você possa falar, você fica triste. Não tem condições. Nosso Deus não é um Deus solitário: ele é um Deus trino. Nós somos feitos para a comunhão, para podermos nos abrir plenamente.

Com os jovens que vêm aqui na recuperação nós temos constantemente o costume de colocar semanalmente as experiências que fazem com a Palavra e nós chamamos, pois temos isso um pouco no movimento dos Focolares, a “comunhão de alma”. Cada um diz como está, como ele se sente, quais são os problemas mais profundos.
SOLIDÃO E BEBIDA

Eu sou franciscano, vivi muitos anos no convento, e sei que é muito difícil uma comunhão profunda entre os padres. Falam dos bispos, da política, até demais, e até se dividem na política, e começam, no fundo, a ficarem sozinhos. É nessa solidão que se lhes apresenta, aparece como uma solução, em primeiro lugar, a bebida. É impressionante quantos se tornam alcoólatras! Com a facilidade que há em se obter isso no convento, começam a ter dependência da bebida.
PORNOGRAFIA

Outra coisa muito forte é a dependência da pornografia. (...) Não sei como podem olhar essas coisas e sentirem prazer. Dá nojo. São muitas as pessoas dependentes da pornografia. Muito mais do que pensamos. As estatísticas, que eu ouvi num encontro do Vaticano, em Roma, me assustaram! Em todos os países e idades. É impressionante! E isso não nos realiza! Se em nossa vida religiosa não vivemos uma vida radical com Deus, somos como que casados com Deus, então as crises vêm, sem dúvida. Que podemos fazer?
EU ESTAVA EM CRISE

Eu me lembro quando era jovem, formado em gráfica, eu estudei depois de adulto. Precisava fazer o segundo grau. Nesse estudo entrei numa profunda crise. Parecia que nada tinha sentido. Comecei a criticar tudo e todos. Éramos mais de duzentos no seminário. O reitor certo dia me chamou e me disse que se eu abrisse mais uma vez a boca em sua aula, ele me mandaria embora. A crise, por causa disso, aumentou mais ainda.
MUDANÇA DE ATITUDE

A minha sorte foi que o nosso padre espiritual percebia que alguma coisa não estava resolvida dentro de mim. Ele me pediu para ser seu motorista quando ele precisava, nas férias, alguns dias, em Berlim. Eu fiquei contente, pois no convento eu tinha documentos, mas não tinha carro, ele tinha carro, mas não tinha os documentos (subentende-se que era para dirigir o automóvel). Ele me provocou e eu pus tudo para fora, tudo o que eu achava absurdo, que me irritava, algo que eu esperava e não encontrei, coloquei para fora toda essa confusão interna. Ele nada me falou. Lá em Berlim ele me colocou numa família e aí tive uma surpresa muito grande: à noite, o pai da família chamou todos e cada um, com muita naturalidade, contou como tinha vivido, concretamente, naquele dia, a Palavra. Eu fiquei muito impressionado, com esse clima extraordinário.

No outro dia eu disse para mim mesmo: “eu vou sobreviver!”. Cresci numa família católica, meus pais me formaram no catolicismo, mas VIVER a Palavra era novidade absoluta para mim. No outro dia eu procurei viver. O dia inteiro eu fiquei falando comigo mesmo: “faço isso porque Jesus falou, faço aquilo porque Jesus falou”... À noite, quando nos encontramos, eu não tive paciência de esperar os outros: eu estava tão cheio de alegria, de vida, que eu comecei a falar, a falar todas as experiências do dia. Naquela noite, quando fui dormir, eu tinha a certeza de ter encontrado a pérola da qual fala o Evangelho: vale a pena vender tudo, pois tinha encontrado o tesouro. Nunca mais deixei de viver a Palavra.

Na volta eu perguntei ao padre o porquê da família ser assim. Aí eu descobri que por trás daquilo havia o movimento dos focolares, do qual muito me interessei. Chegando perto do seminário perguntei ao padre se eu poderia ir todas as noites a seu quarto para contar as minhas experiências e para ele contar as suas. Naquele tempo não era normal estudante ir comunicar-se com o padre, mas eu não queria perder esta alegria. E aqui eu entrei, gosto muito de dizer isso, na faculdade, onde Jesus é o mestre, onde ele ensina. Aqui eu entendi o que significa um Deus ter vindo a esta terra, aqui viver por 33 anos mas só falou por três anos, e falou sua Palavra.

Então comecei a viver a Palavra, mudou minha vida, resolveu meu problema interno, (...) porque a Palavra lhe dá Deus, a Palavra é Deus.

Então, para mim, este é o primeiro ponto chave, que digo a todos os padres que chegam, que em qualquer problema, vivam juntos com os jovens a Palavra. Que vivam juntos, também, no ambiente da casa. Nesse tempo em que estão conosco eles rezam vivendo a Palavra.

E, para minha surpresa, tudo começa a ser diferente, começa a haver uma abertura extraordinária entre nós, começo a me encontrar com os padres, de repente começam a falar dos problemas, das angústias, e a Palavra ilumina.

Então, para mim, o ponto fundamental é começar a viver concretamente a Palavra.
NA HISTÓRIA DA IGREJA

Na história da Igreja nós, na Alemanha, experimentamos isto bem perto, Lutero dividiu a Igreja, cinquenta por cento luteranos, cinquenta por cento católicos. Os luteranos tinham a bíblia, a Palavra; para Lutero, só a Palavra basta. E nós, católicos, tivemos sempre mais a Eucaristia, a hierarquia e também Nossa Senhora.

Entre nós houve um tipo de receio da Palavra que, atualmente, começou a ser mais aclamada, por exemplo, na Missa, ao bater palmas, usar a bíblia, levantar-se para ouvir o Evangelho, alguns fazem dança, há muita coisa bonita. Mas viver a Palavra é outra coisa. A Palavra é muito concreta, e todas as palavras do evangelho nos leva para amarmos o outro. Não há nenhuma frase em que você possa dizer: “Coitado de mim, ninguém me ama”. Não existe. Mesmo quando alguém lhe bate na face direita, dê a ele a face esquerda. Se lhe roubam a túnica, dê-lhe o manto. A palavra nos leva a sermos fiéis no amor. A única coisa que vale é amar. E se alguém começa a entrar nessa dinâmica, aos poucos também começa a se libertar de vários traumas, de várias dificuldades.

Conversando com os padres, também com as religiosas em crise, seminaristas, eu vejo que há algumas coisas típicas do nosso tempo, que são os perigos de nosso tempo. Em primeiro lugar, o ativismo. Misericórdia! Eu tenho pena de vocês, padres, e também de vocês, freiras! Quanto trabalho! Paróquias enormes! E trabalham, e fazem de tudo, tudo exato, e contabilidade, e não têm tempo! E aquilo que é próprio do padre, não conseguem fazer! E isso é algo muito interessante: esse ativismo leva aos padres a ficarem sozinhos, não têm com quem falar quanto têm algum problema, alguma surpresa, um desafio, está sempre sozinho! Ou se abrem com leigos, e é preciso saber com quem falar, pois às vezes a pessoa escolhida para o desabafo pode não ser a pessoa ideal.

Depois, com esse ativismo tremendo, com muitas missas nos finais de semana, eu também fiz isso, porque não havia outro jeito. Falta tempo para rezar. Os que estão nesse tipo de ativismo fazem as orações obrigatórias e muitos nem isso conseguem. Como é possível viver a vida sacerdotal e também a religiosa sem um profundo relacionamento com aquele que nós escolhemos como que como um esposo, deixando de casar para estar com Jesus e não ter tempo para conversar com Ele? Isso é delicado. Então, cada um deve se perguntar quanto tempo eu tenho para rezar pessoalmente, sem contar as Missas e outras obrigações, como o Ofício Divino, um tempo para rezar pessoalmente, cultivar essa paixão por Jesus!

Também há atualmente uma certa tendência para o clericalismo e fica muitas vezes um pouco longe o compromisso com os pobres. Para nós, a fonte inspiradora são os drogados, os pobres, os abandonados. Se você não tiver essa paixão pelo próximo, pelos que mais sofrem, é difícil manter a chama viva. Isso não é fácil.

Então, precisamos criar um novo relacionamento com Jesus. Ele, por sua vez, prometeu que “se dois ou três estiverem reunidos em meu nome, eu estarei no meio deles”. E eu digo que o que me salvou e está salvando a minha vocação, estou feliz, realizado, é Jesus entre nós. Nós sempre, sempre, desde o início, quando comecei com isso, nós prometemos esse amor recíproco, esse respeito um pelo outro, essa delicadeza de aceitar o outro como ele é. Não mudar, mas amar o outro. Cada um tem os seus defeitos. Quem vive em comunidade sabe muito bem que nós nos machucamos mutuamente! Não tem outro jeito! Mas o amor vale mais. Esse amor recíproco é fundamental, porque o fruto disso é a presença de Jesus entre nós.

Desde o início, quando comecei com o Nelson, nós fizemos esse pacto e quando chegaram e chegam os outros renovamos este pacto. O primeiro, eu me lembro, fizemos lá em Assis, no túmulo de São Francisco. Pedimos a ele que nos ajudasse a sermos fiéis nesse amor recíproco e não reparar nos defeitos dos outros, não julgar. Nós éramos muito diferentes: eu era jovem, ele já tinha idade. Ele era brasileiro, eu alemão. Ideias diferentes: eu era padre, ele era leigo. Mas o amor recíproco provoca a presença de Jesus entre nós.

E o que Jesus faz quando está? Ele cura as feridas, quem não tem feridas? Ele expulsa os demônios, como sempre fez, ele, entre nós, nos faz isso. Ele também multiplica os pães e até ressuscita os mortos. Quantos chegam mortos espiritualmente a nossa comunidade! Mas Jesus, entre nós, ressuscita! Em poucos dias eu vejo, já, nos olhos um brilhar, uma coisa nova. Depois também, quando Jesus está, chama vocações. E as vocações que ele chama são profundas, verdadeiras! As pessoas não entram porque gostou da superiora, ou do superior. Não! Têm que entrar porque Deus chama! E é preciso amar esse Deus.

Então, para mim isso é fundamental. Nós agora somos uma família reconhecida em Roma, somos mais de 2000 membros entre padres, religiosas, consagrados, tanto do sexo masculino como do feminino, e também casados, que fazem promessa.

Primeiro ato quando alguém quer entrar é fazer conosco um pacto do amor recíproco, prometendo estarmos prontos a dar a vida um pelo outro. Ser concreto na vivência da Palavra, viver o amor. Isso ajuda tanto! Vocês não têm ideia!

Às vezes eu me pergunto: “Esses jovens que chegam da rua, das Cracolândias da vida, da prisão, já fizeram tantas coisas erradas, não sei como (não sei por que), mas mudam, conseguem vencer a si mesmos, embora nem todos, mas muitos conseguem. Por que? Porque vivem a Palavra e isso provoca a presença de Jesus entre nós. Ser irmão, ser fraterno.
A RIQUEZA

Um outro perigo, outro grande desafio, é a bendita riqueza.

Eu nasci na Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial. Pobre. Pobre de verdade. Meus pais não tinham nada! Perderam tudo debaixo das bombas. Nós nascemos gêmeos. Não tinha roupa, não tinha nada. Crescemos numa pobreza extrema. Mas éramos felizes. Eu aprendi que a felicidade não depende dos bens. A felicidade depende apenas do amor.

Depois da Guerra a Alemanha cresceu, as igrejas estavam cheias, nos seminários não havia vagas. O bispo ia de igreja em igreja pedindo aos párocos se podiam aceitar um padre novo, ou dois, e desse modo ele poderia aceitar seminaristas. Cada ano 30 ou 40 padres eram ordenados.

Depois disso chegaram as riquezas, sempre mais. As famílias se separaram, para minha surpresa acabaram os seminaristas, hoje a minha diocese de origem, se consegue 3 ou 4 já está feliz. As igrejas estão sempre e sempre mais vazias. Por que? Porque o dinheiro entrou na alma do povo. Diz o Evangelho que ninguém consegue seguir dois senhores.

No Brasil é a mesma coisa. Quando cheguei e fiz o noviciado havia 38. Eram de Sta. Catarina, do Paraná, mas agora não há quase ninguém de lá. As famílias eram numerosas! Meus confrades tinham 5, 6 irmãos. Hoje 1, 2, sempre menos. Então, a riqueza é uma grande tentação. Aqui no seminário sempre vejo: às vezes chegam pobres e depois querem sempre mais: querem a internet, querem isto, aquilo, carro novo, férias, sempre roupas novas etc. Esquecem o pobre e se preocupam com os bens materiais. Os bens não realizam a vocação de um religioso, uma religiosa. A pobreza é um aspecto muito, muito importante.

Não estou me referindo à pobreza como miséria. Nós podemos ter nossa casa etc., mas devemos ser livres! Não se apegar, e não querer sempre mais. Não ter medo do futuro, ficar preocupado com isto e aquilo e mil outras coisas. Precisa ter Deus, senão o resto passa muito, muito rápido.
CHIARA LUBICH E OS FOCOLARES NA VIDA DO FREI HANS

Depois, um outro problema muito sério são as dificuldades que aparecem todos os dias: as dores, as limitações, os problemas na paróquia, os problemas do povo, tantas coisas, tantas coisas, e não sabemos, muitas vezes, administrar a dor. Até quanto aos nossos limites, muitos não sabem como fazer. Como eu já disse, eu tive sorte, na minha juventude, de ter encontrado alguém que vivia a Palavra e que me apresentou ao movimento dos focolares. Como sou curioso, tudo o que era novo na Igreja, lá na França, Tesé, monges luteranos, atraíam muitos jovens, eu sempre ia para lá, assim também fui para Roma, a fim de conhecer Chiara Lubich, pois ela era a fundadora do movimento, tinha me tocado demais esse estilo! Tinha encontrado de novo uma alegria imensa! Então, eu queria conhecê-la.

Eu me lembro muito bem: naquele dia ela ia falar sobre uma palestra com o tema: “Jesus Abandonado, Crucificado”. Para mim foi uma novidade. Eu sei que fiquei tocadíssimo, mas não entendera com profundidade o que ela havia falado. Mas eu guardei tudo no meu coração, e ao longo dos anos, até hoje, eu vejo sempre mais quanto me ajuda.

Ela falou duas coisas:

1- Ela citou todas as dores que se pode imaginar. Todas as dores: a morte, a limitação pessoal, a dor física, a dor moral, a dor espiritual, todas as dores, as notícias que você recebe, por exemplo, de que alguém que você ama morreu, qualquer dor. Ela disse que o nome é Jesus. (NOTA DO COPIADOR: trecho de uma das falas de Chiara sobre esse assunto: “Sim, ele está presente em tudo aquilo que tem sabor de dor. Cada dor nossa é um nome dele. Procuremos, então, reconhecer Jesus em todas as angústias, as aflições da vida, na escuridão e nas tragédias pessoais e dos outros, nos sofrimentos da humanidade que nos rodeia. Tudo é expressão dele, porque ele os assumiu” https://www.focolare.org/pt/2022/06/13/chiara-lubich-o-meu-unico-bem/ ) Qualquer dor é Jesus. Isso me impressionou. Eu pensei: “Mas... como? Meu pecado?” Sim, ela disse: TODAS as dores, porque Jesus Cristo, em seu grito: “Meu Deus, meu Deus, por que me abandonastes?” abraçou toda a nossa dor, a dor da humanidade. E ela fez uma meditação, que eu já li muitas vezes, dizendo que tem apenas um esposo sobre a Terra: Jesus abandonado. Nele tenho tudo: nele está minha riqueza, o sentido de minha vida, eu quero andar pelo mundo, e só amar a ele. Isso me tocou profundamente.

2- (34:17) Essa dor é Jesus, é ele em pessoa. Você pode viver um casamento espiritual com Jesus, com Jesus crucificado. Eu pensei: “mas...como? “ Então devagarzinho, ao longo dos anos, eu aprendi a dizer: “É você, eu te quero”, é como se fosse um casamento espiritual. E aqui nasceu tudo o que você pode dizer que é a obra da Fazenda da Esperança. Éramos pobres, mas agora são 164 ou 165 Fazendas funcionando, mais 50 em preparação em 26 países, afora muitos outros países que estão esperando. Só neste ano vamos abrir em mais 4 países. Tantos jovens se recuperando, tantos bens, e eu sempre me pergunto: “como é possível?”. É Ele! Mas posso dizer: todas as fazendas; todas! Nasceram na plena dor. É o que eu entendi. Na natureza é assim. Nenhum de nós nasceu sem uma mãe que “pagou o pato” (:sofreu para nos dar à luz). Todos! Isso faz parte da natureza! Isso não é possível sem a dor. Também espiritualmente, não nascem as coisas sem que abracemos a cruz. Eu encontrei muitas pessoas que fazem de tudo para fugirem da dor, mas não conseguem! Porque está dentro! Outros abraçam a dor, mas fazem aquela cara de sexta-feira Santa, reclamando e chorando as mágoas. Não compreendem que “é Ele”. Precisam abraçar, fazerem festas, se alegrar, ir pra frente, amar, não parar na dor. A dor não é para parar, mas sim, para ir para a frente.

Aqui eu poderia falar pra vocês milhares de experiências. Todas as Fazendas nasceram na dor. Mas o importante é reconhecer logo que é Ele. Ele diz pra você: “Eu te quero!”

Vou contar uma experiência para tornar mais claro o que estou dizendo: Eu me lembro quando um confrade, meu provincial, lá na Custódia de Mato Grosso me chamou e me disse: “Nós temos um seminário em Rio Brilhante, nós não vamos mais utilizá-lo. Você não o quer para esse trabalho com os drogados?” Eu disse: vamos lá, vamos ver. Visitei, gostei demais. Tudo perfeito: igreja moderna, bonita, piscina grande com trampolim de 10 m de altura para pular, uma fazenda com animais, local perfeito. Eu disse: OK, podemos. Dentro de mim, pensei: “Desta vez temos uma fazenda que não tem dor, nem sofrimentos, nem dívidas, tudo tranquilo, não precisa construir, que beleza!”.



ACIDENTE PERTURBADOR, MAS DEUS NÃO NOS DESAMPAROU.




Eu fui para a Alemanha. Um grupo de 12 missionários se colocaram à disposição, se prepararam e ficaram animadíssimos. Percorriam a paróquia numa kombi velha, e anunciavam essa chegada da nova fazenda. Eu estava na Alemanha, toca o telefone e me disseram que os missionários sofreram um acidente, todos estão no hospital. Só um deles, o Pe. César, não tinha nada, estava numa cadeira de rodas. O que me telefonara disse-me se podia ser operado com médico particular, porque se fosse esperar pelo SUS iria morrer. Eu disse que sim. Ele me perguntou se podia ficar num quarto particular, porque havia muito risco de pegar infecções hospitalares. Eu disse que sim. E assim foi. Voltei rápido para lá. A inauguração foi extraordinária, muita gente, um clima divino. Se sentia que os missionários tinham dado a vida: um com a cabeça enfaixada, outro com o braço enfaixado, outro com a perna, enfim, eram como soldados que haviam voltado da guerra. Um ainda estava no hospital, entre a vida e a morte. Mas era um clima extraordinário.

Mas tudo passa, e passa rápido! A festa terminou, noutro dia chegaram as notas de despesa. Eu não sabia como tantas pessoas têm direito de receber pagamento do hospital: sala cirúrgica, o médico, o assistente, o anestesista, enfermeiras. No quarto, nem se fala. Misericórdia! Cada hora chegavam mais notas. Eu disse: sim, a gente arruma. Eu vou voltar e falar com o Nelson, deixe a conta. Mas não tinha nenhum centavo. Veio também a nota do caminhão (presume-se que o em que a kombi bateu). Nosso carro, nem se fala: jogamos no lixo. Eu digo: uma cruz. A dívida vai na substância. E ver milhões de dívidas e nenhuma luz, isso era muito difícil. Mas eu dizia para Nelson: é Ele! Vamos nos apressar! É Ele! Também essa dívida tem um nome: Jesus. Abraçamos. Depois fomos, um dia cedo, de Campo Grande para São Paulo, tinha reunião na Rede Vida, eu faço parte do SUPS, foi muito difícil para mim, pois o pensamento estava longe: que fazer com toda essa dívida? Foi muito difícil participar. Terminou, eu logo me levantei, despedi-me de um de outro, o último foi de Dom Antônio Múciolo, que era o presidente da Rede Vida.

Ele segurou a minha mão. Eu lhe disse que precisava ir, mas ele retrucou: Não! Eu quero fazer contigo uma entrevista, no programa “Frente a frente”. Eu me desculpei, dizendo que estava suado, cansado, vim de Rio Brilhante. Ele disse que cheiro não passava na televisão. Eu pensei: Ó meu Deus, mas me lembrei de que “quem vos ouve a mim ouve”, e perguntei se poderia ser junto com o Nelson. Ele disse que sim e fomos. Nessa entrevista ele falou mais do que nós. Nós não falamos sobre o acidente. A dor é um encontro pessoal da minha alma com Deus. É pessoal. Minha mãe nunca me falou sobre as dores que tivera. Só os frutos a gente mostra para os outros. E na entrevista nós não falamos da dor. Dom Antônio falou mais do que nós.

Terminando, fomos rapidamente para casa e aconteceu algo interessante: não demorou muito e o programa foi lançado no ar, e ele me telefonou dizendo: “Frei, um senhor me deu 8 mil dólares para dar a vocês. É uma boa soma, mas diante das dívidas, tão grandes, era pouco. Mas estava bom, já era alguma coisa.

Depois tocou novamente o telefone, de um senhor do Rio de Janeiro, que me disse ter gostado da entrevista e que ele e a esposa e queremos convidar você e o Nelson para um cafezinho. Eu imaginei o quão sacrificado seria viajar 240 km para tomar um cafezinho..., mas eu não tinha nem terminado de pensar isso, ele disse que tinha 5 mil dólares para me dar. Eu disse que ia imediatamente. E fomos, no dia seguinte, tomar esse famoso cafezinho. Foi uma tarde extraordinária. Um casal do qual nunca vou me esquecer. Um amor, uma coisa muito linda. No final me deu um envelope, saímos, o Nelson estava dirigindo, eu olhei e vi que não eram 5 mil, mas sim 10 mil dólares. Eu não sabia que tanta gente tem. Fiquei contente, mas diante das nossas dívidas ainda era pouco. Mas depois chegou mais. Nunca recebemos tanto dinheiro numa entrevista como dessa vez. Ficou faltando apenas uma nota para pagar. Eu disse ao Nelson que se houvesse mais uma doação conseguiríamos pagar tudo, e o resto que viesse depois seria lucro. Mas esse resto não veio. Apenas veio mais uma doação, com que pagamos tudo e acabaram as doações.

Eu lhes digo: a alegria que experimentei foi muito grande, não só por causa das dívidas que havia pagado, mas também porque eu vi que Deus existe, Deus me ama, ele me conhece, ele sabe das minhas dores, sabe das minhas dívidas, e também sabe quem tem dinheiro e pode dar. Ele sabe também quem é generoso para dar.

Para mim isso foi tão forte! Não é o estudo que segura e anima a minha vida. Não! É a vivência concreta de abraçar as dores. E não foram poucas. Eu sei que também na vida de vocês não são poucas dores! Vocês devem ter muitas dores. E as dores das quais você não pode falar para ninguém, abrace-as! É Jesus! E aqui nasce a vida!

Quando estávamos na África, em Cabo Verde, meia hora antes do encontro com o Cardeal tocou o telefone e eu recebi um telefonema dizendo que na Fazenda havia acontecido uma tragédia: veio um ladrão e assassinou a religiosa. Misericórdia! Que dor! É Ele! E nós abraçamos a dor, fomos ao Cardeal e não falamos dela pra ele. Guardamos, tudo se resolveu. Também dessa dor nasceram muitas vocações.
O CONDOMÍNIO ESPIRITUAL

E assim por diante. A dor nos acompanha sempre. Mas depois de alguns dias de ter pago tudo daquele acidente com os missionários chegou um senhor e disse que a mãe dele havia visto a entrevista e queria que a visitassem. Já havia comprado duas passagens, só faltando marcar a data. Era para Fortaleza. Nós fomos. Ela nos estava esperando no aeroporto. Cinco minutos depois chegamos a uma fazenda enorme, 120 hectares, tudo bonito, moderno. Ela disse que estava nos passando a posse da fazenda e que havia sentido, na entrevista, que devia dar a fazenda a eles. Eu olhei ao lado havia o ginásio de esportes, aeroporto, casas por todo o canto. Eu disse a ela que ali, no meio da cidade, eu não poderia fazer uma fazenda, criar vacas, é muito complicado. Entretanto, ela insistia. Enquanto ainda estávamos lá para decidir, o governador veio à nossa presença, nos convidou e nos ofereceu uma fazenda agrícola de 200 hectares, muito bonita. Aceitamos, começamos, mas ela não ficara contente em não termos aceito sua fazenda. Chamamos, então, o bispo, Moisés, Pe. Jonas, que ainda estava vivo, Renato, vários líderes de comunidades e disse que tínhamos uma oferta e não sabia o que fazer, mas que Deus devia ter algum plano. Convidei-os a vermos juntos uma solução. E assim, devagarzinho, vimos a oportunidade de construirmos um condomínio espiritual. Hoje, nesse lugar, vivem 22 comunidades. Realmente muito bonito.

Pouco tempo atrás o Cardeal que orienta os leigos esteve lá e ficou muito encantado! Não para de falar disso. É uma Igreja viva! Os agostinianos cuidam das meninas que se prostituem na praia, as tiram dessa vida e oferecem um lugar para recomeçarem suas vidas, há também os que cuidam de encaminhar os que saíram das prisões, os que vivem na rua, os aidéticos, as meninas dos drogados da fazenda, há o convento das contemplativas, carmelitas, beneditinas, as Dorotéias, é um paraíso.

Tudo isso tem custos, isso sempre tem, mas é bonito ver. Tanta vida nasceu de um bendito acidente em que, simplesmente, reconhecemos Jesus nele. E “casamos” com ele nesta dor. E nasce a vida, nascem os frutos, e assim são as fazendas no mundo inteiro, qualquer delas. Pode perguntar que eu te digo as dores, mas os frutos são muito, muito maiores.

Eu convido todos os padres que aqui vêm que experimentem! Abracem a cruz e encontrem mais tempo para conversarem com Jesus. Mesmo assim há pessoas que têm problemas muito profundos e não sabem por quê.


DRA. RENATE JHOST MORAIS, A.D.I. – UMA SOLUÇÃO.

Eu tive a graça de conhecer a doutora Renate Jhost Morais. Era padre novo, bem cedo na minha vida. Ela fundou a ADI: Abordagem Direta do Inconsciente. Aconteceu que eu estava na Alemanha pregando um retiro, um pouco cansado. Depois do retiro a madre geral me disse: “Frei, eu tenho uma irmã da congregação que todas as noites se machuca, o corpo todo. Há dois anos estamos tentando um tratamento com psicólogo, com psiquiatra, com nutricionistas, com médicos, com alimentação, com tudo e não adianta. Ela precisa fazer o voto perpétuo, mas eu não posso aceitá-la na comunidade desse jeito. Eu, na minha ingenuidade disse que a mandasse pra mim. Eu cuidarei dela por um ano no Brasil. Ela veio. Era uma irmã muito boa. Ela se integrou logo, vivia a Palavra, feliz, mas toda noite se machucava. E aqui piorava. Eu fiquei no desespero. E aí eu descobri que havia uma pessoa que cuidava de problemas no inconsciente. Eu fui atrás. Disse à doutora Renate sobre a irmã, que o ano estava terminando e ela não melhorava, o que eu poderia fazer? Ele me respondeu que era muito simples. Precisava descobrir por que ela faz isso! Eu respondi que isso todos queriam saber. Os médicos estão tratando dela há dois anos e ninguém conseguiu descobrir.

Ela me respondeu: “Sim, pois eles não conhecem o meu método, de entrar no inconsciente. Mande-a para mim por uns vinte dias e ela volta curada (nota minha: esse tratamento dura um mês). Ela foi, fez uma preparação necessária (nota minha: neurotron e visiotron). Não vou entrar em detalhes. Na primeira semana do tratamento efetivo, ela se viu na barriga da mãe e tomou a decisão de ser freira, feliz da vida. No segundo dia se viu como bebê de 6 meses e o tio abusou dela sexualmente. Ela registrou e resolveu ser freira para que ninguém mais mexesse com ela. Eu entendi por que aqui piorou: o costume que os brasileiros têm de abraçar a fizeram sentir-se ameaçada, e piorou de uma vez. A partir daquele dia nunca mais ela se machucou. No outro dia viu que o tio também tinha sido abusado etc. Naturalmente, quando souberam que ela tinha se curado, todos ficaram maravilhados. A madre geral também veio fazer o tratamento e assim se espalhou esse método também na Europa. Hoje nós temos aqui uma clínica, um senhor em BH que tem muitas posses pegou isso como uma missão, para ajudar a Igreja a renovar-se por dentro. Então, todos os padres, todos os que entram em nossa vida religiosa fazem esse ADI (Abordagem Direta do Inconsciente), para resumir muitos problemas que eles têm na vida, coisas pessoais, pode ser tantas coisas. Pode ser, por exemplo, as palavras de um pai dizendo que a mulher está grávida de novo, que ele não aguenta mais isso etc. Isso pode influenciar muito na vida do filho. Esse tratamento é uma maravilha, ajuda muita gente.

Se algum de vocês têm dificuldades e não sabe por que, às vezes medo, às vezes falta de confiança, qualquer coisa, pode nos comunicar, pode fazer o tratamento gratuito que esse senhor paga tudo. Pode ser em Belo Horizonte ou também em Guaratinguetá em nossa Fazenda. Ele investe em cada mês 1 milhão e 500 mil só para pagar os tratamentos dos seminaristas, padres e bispos. É uma maravilha. Quantos e quantos descobriram coisas que atrapalhavam a vida. Deixavam uma tristeza.

De repente um me disse estes dias que viu que sua mãe tentou fazer um aborto no desespero. Isso o deixou triste, mas ele não sabia o porquê. Agora entendeu, falou com a mãe, está livre, está diferente.
CONCLUSÃO

Para terminar, eu, também agora, há alguns anos, tive um câncer no pulmão, muito difícil. Parecia que eu não tinha jeito, estava muito mal. Perdera a esperança. Eu tenho um irmão gêmeo, que veio me ver. Eu logo pensei que se ele estava me visitando, é porque alguma coisa está feia. Eu fiquei numa imunidade muito fraca, precisei ir na UTI, internamente eu via que tinha terminado minha caminhada, que Deus podia me chamar, não tinha sentido viver daquele jeito. Veio, então, uma médica, psicóloga, que começara com a doutora Renate. Eu a conhecia muito bem, porque pregara retiros várias vezes para todas as psicólogas e psicólogos. Ela veio e me disse que queria fazer mais uma vez um tratamento comigo. Eu lhe respondi que já estava no fim, já havia feito, que não sabia se tinha sentido fazer novamente.

Ela disse que concordava, mas que queria saber por que eu tinha câncer. No hospital mesmo ela fez dez sessões. Eu entendi. Depois, perguntou: “Vamos ver o que Deus quer de você, para que você ainda existe, ainda está vivo”. Eu vi. Eu lhes digo que todos os dias eu melhorei tão rápido que até hoje não entendo. Uma força nova, uma alegria, um dinamismo de fazer as coisas. Meu irmão disse às freiras que dia a dia eu melhorava. Agora já são cinco anos que isso ocorreu, e eu espero não ver mais nada (nota minha: aqui entendo que ele quer dizer que espera que a doença não volte). Mas a alegria por ter visto o que Deus quer, ainda continua.

Então eu gostaria, antes de terminar, de dizer para vocês: “Não tenham medo de serem verdadeiros, de serem transparentes, abertos. Se tiverem dificuldades, procurem um padre com quem podem falar, ou mesmo com uma religiosa. Procurem um irmão, e assim vocês vão ver como isso pode lhes ajudar.

Termino agradecendo a todos. Os desafios existem, mas também existem os caminhos. Viver o evangelho, ter tempo de rezar, não ser tão ativista, abraçar as coisas, a Eucaristia, também, sem dúvida, e amar o irmão concretamente, e você vai ser muito feliz. Obrigado pela paciência. Já falei mais do que queria.