Nesta página temos três artigos:
Depressão e suicídio na Igreja
Carta do Padre James Teixeira da Costa
Suicídio sacerdotal de 2021. Até quando?
(Os artigos não refletem necessariamente a opinião do blog.)
DEPRESSÃO E SUICÍDIO NA IGREJA:
QUANDO OS PADRES PRECISAM DE AJUDA
(atualizado em 19/02/18 com uma carta de um padre da diocese de Brejo, logo após o texto do padre Inácio).
“A dificuldade de relacionamento entre os pares e a impossibilidade de falar de seus desafios pessoais com os leigos. Uma das razões do acometimento da depressão e síndrome de Burnout entre religiosos relacionam-se com variáveis internas, as pressões do ofício e também a imensa solidão destes sujeitos”, diz a especialista no atendimento de religiosos Dra. Luciana Campos (*).
16 de novembro de 2016: o padre Rosalino Santos, de 34 anos, pároco na cidade sul-matogrossense de Corumbá, publica no Facebook uma foto de quando era criança, legendada com frases soltas: “Dei o meu melhor“, “Me ilumine, Senhor“. Dois dias depois, o seu corpo sem vida é encontrado pendendo de uma forca.
Oito dias antes, o padre Ligivaldo dos Santos, de Salvador, se atira de um viaduto aos 37 anos de idade. Dentro do mesmo período de 15 dias, um terceiro sacerdote brasileiro dá fim à própria vida, com apenas 31 anos: o pároco Renildo Andrade Maia, em Contagem, Minas Gerais.
A sequência de suicídios de padres católicos chamou a atenção da mídia e voltou a ser abordado recentemente em uma relevante reportagem da BBC Brasil, que, a respeito desses casos, consultou o psicólogo Ênio Pinto, atuante há 17 anos no Instituto Terapêutico Acolher, em São Paulo. Desde que foi fundado, no ano 2000, o instituto voltado ao atendimento psicoterápico de padres, freiras e leigos a serviço da Igreja atendeu por volta de 3.700 pacientes.
Autor do livro “Os Padres em Psicoterapia“, Ênio observa que “a vida religiosa não dá superpoderes aos padres. Pelo contrário. Eles são tão falíveis quanto qualquer um de nós. Em muitos casos, a fé pode não ser forte o suficiente para superar momentos difíceis”.
Esta visão é compartilhada pelo psicólogo William Pereira, autor do livro “Sofrimento Psíquico dos Presbíteros“. Para William, “o grau de exigência da Igreja é muito grande. Espera-se que o padre seja, no mínimo, modelo de virtude e santidade. Qualquer deslize, por menor que seja, vira alvo de crítica e julgamento. Por medo, culpa ou vergonha, muitos preferem se matar a pedir ajuda”.
Os especialistas consultados pela reportagem da BBC indicam o excesso de trabalho, a falta de lazer e a perda de motivação entre os possíveis fatores que levam religiosos ao suicídio. De fato, uma pesquisa feita em 2008 pela organização Isma Brasil, voltada a estudar e tratar do estresse, já apontava que a vida sacerdotal era uma das ocupações mais estressantes: dos 1.600 padres e freiras entrevistados naquele ano, 448 (28%) se disseram “emocionalmente exaustos”, um percentual superior ao dos policiais (26%), dos executivos (20%) e dos motoristas de ônibus (15%).
Para Ana Maria Rossi, a psicóloga coordenadora da pesquisa, os padres diocesanos são mais propensos a sofrer de estresse do que os religiosos que vivem reclusos: “Um dos fatores mais estressantes da vida religiosa é a falta de privacidade. Não interessa se estão tristes, cansados ou doentes: os padres têm que estar à disposição dos fiéis 24 horas por dia, sete dias por semana”.
Muito distante da “vida mansa” que os desinformados imaginam, o dia-a-dia da maioria dos sacerdotes é pontuado por celebrações de batizados, casamentos, unções dos enfermos, escuta de confissões e muitas atividades pastorais que incluem a caridade e as atenções a pessoas necessitadas, além da celebração diária da Santa Missa, das orações pessoais ou comunitárias e dos tempos de estudo – sem mencionar os muitos casos em que o padre ainda dá aulas e atende os fiéis em direção espiritual.
Conforme os dados de 2010 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), a média nacional é de 1 padre para cada 5.600 fiéis.
Diretor da Âncora, uma casa de repouso no Paraná para padres e freiras com estresse, ansiedade ou depressão, o padre Adalto Chitolina confirma que, para eles, “sobra trabalho e falta tempo. Se não tomar cuidado, o sacerdote negligencia sua espiritualidade e trabalha no piloto automático. Ao longo de 2016, a nossa taxa de ocupação foi de 100%. Em alguns meses, tivemos lista de espera”.
Um dos sacerdotes atendidos pelo centro Âncora foi o padre Edson Barbosa, de Andradina/SP, que, dormindo pouco, comendo mal e se sentindo irritadiço, começou a beber. Ao se dar conta do rumo que estava tomando, pediu dispensa das atividades paroquiais e se internou durante três meses na casa de repouso. Após as consultas médicas, palestras de nutrição e exercícios físicos que o ajudaram a trocar o álcool pelo novo hábito de fazer caminhadas e pedalar, o padre de 36 anos está sóbrio há um ano e nove meses e testemunha: “Não sei o que teria acontecido comigo se não tivesse dado essa parada. Demorei a perceber que não era super-herói”.
O padre Douglas Fontes, reitor do seminário São José, de Niterói, RJ, costuma alertar os futuros sacerdotes sobre a importância de cuidarem mais da própria saúde: “Jamais amaremos o próximo se antes não amarmos a nós mesmos. E amar a si mesmo significa levar uma vida mais saudável. Tristes, cansados ou doentes não cumpriremos a missão que Deus nos confiou”.
O bom conselho é reforçado pelo arcebispo de Porto Alegre, RS, dom Jaime Spengler, que preside a comissão da CNBB voltada à vida pessoal dos padres. Ele afirma que os sacerdotes devem pedir ajuda ao bispo quando sentirem tensão psicológica ou esgotamento físico: “Os padres não estão sozinhos. Fazemos parte de uma família. E, nesta família, cabe ao bispo desempenhar o papel de pai e zelar pelas necessidades dos filhos”.
O Brasil não é exceção no quadro de estresse que afeta os religiosos sobrecarregados. A universidade espanhola de Salamanca ouviu 881 sacerdotes do México, da Costa Rica e de Porto Rico para identificar uma alta incidência, entre eles, de transtornos relacionados à atividade sacerdotal: “Três em cada cinco experimentavam graus médios ou avançados de burnout, a síndrome do esgotamento profissional”, informa Helena de Mézerville, autora da pesquisa. O burnout é conhecido na Itália, entre alguns sacerdotes, como a “síndrome do bom samaritano desiludido”.
Mas os padres católicos estão longe de ser os únicos atingidos. A BBC também ouviu o xeque do Centro Islâmico de Foz do Iguaçu, PR, Ahmad Mazloum, para quem “é preciso satisfazer, de maneira lícita e correta, as necessidades básicas do espírito, da mente e do corpo. Caso contrário, estaremos sempre em perigoso desequilíbrio”. O rabino Michel Schlesinger, da Congregação Israelita Paulista, concorda e observa que “a natureza do trabalho é a mesma. Logo, estamos sujeitos aos mesmos riscos”.
Fiéis devem ficar atentos, julgar menos e ajudar mais
É oportuno lembrar aos leitores católicos que é dever cristão de todos nós zelar pelo bem das almas – e isto inclui a alma dos nossos sacerdotes, religiosos, seminaristas, freiras e leigos consagrados. Eles contam com especial graça de Deus, certamente, mas Deus sempre deixou claro que confia o acolhimento da Sua graça à nossa liberdade, inteligência e caridade: precisamos fazer a nossa parte por nós próprios e pelos outros, ajudando-os especialmente quando estão sobrecarregados e necessitados da nossa fraternidade. Devemos tomar em especial o cuidado de não cometer injustos julgamentos baseados na visão imatura de que “o que falta a esses padres é vida de oração“. Isto é um reducionismo que pode chegar a ser grave pecado de calúnia ou, no mínimo, maledicência. Mesmo as pessoas que vivem intensamente a fé e uma sólida espiritualidade estão sujeitas, sim, ao esgotamento físico e, portanto, à necessidade de ajuda. Se julgarmos menos e ajudarmos mais, viveremos com mais coerência o cristianismo que dizemos professar e que tanto gostamos de cobrar dos outros.
Diante do quadro depressivo, muita compreensão, sabedoria, respeito, amor e o apoio na busca de um profissional para tratar o depressivo.
Inácio José do Vale
CARTA DO PADRE JAMES TEIXEIRA DA COSTA
Cuidar do padre humano
Entre o ano de 2017 a 2018 tivemos morte suicida de 17 padres no Brasil. A sequência de suicídios de padres católicos chama-nos a atenção aos vários motivos que os levaram a tirar a vida (...).
A vida religiosa não dá superpoderes aos padres: pelo contrário, eles são tão falíveis quanto qualquer leigo. Em muitos casos, a fé pode não ser forte o suficiente para superar algum momento difícil da vida. O psicólogo William Castilho, que vai estar em nossa diocese em julho deste ano, autor do livro “Sofrimento Psíquico dos Presbíteros“ destaca que: “o grau de exigência da Igreja é muito grande. Espera-se que o padre seja, no mínimo, modelo de virtude e santidade. Qualquer deslize, por menor que seja, vira alvo de crítica e julgamento. Por medo, culpa ou vergonha, muitos preferem se matar a pedir ajuda”.
Além disso, eu destaco que o excesso de trabalho, a falta de lazer, a perda de motivação pastoral e a falta de fraternidade presbiteral, são possíveis fatores que podem levar os padres ao suicídio. Segundo os psicólogos, nós, padres diocesanos, somos mais propensos a sofrer de estresse do que os religiosos que vivem reclusos. Um dos fatores mais estressantes da vida religiosa é a falta de privacidade.
Não interessa se estão tristes, cansados ou doentes: os padres têm que estar à disposição dos fiéis 24 horas por dia, sete dias por semana, férias nem pensar, passeio nem se fala, descansar não faz parte da vida do padre.
Meus caríssimos irmãos no sacerdócio, cuidemos mais de nossa vida, de nosso bem estar, como também de nossos trabalhos pastorais. Aconselho- vos que devem pedir ajuda ao bispo sempre quando sentirem tensão psicológica ou esgotamento físico: “Os padres não estão sozinhos. Fazemos parte de uma família.
E, nesta família, cabe ao bispo desempenhar o papel de pai e zelar pelas necessidades dos filhos”. Não se afastem do convívio clerical (amigo de um padre é um outro padre); tire suas férias anuais; procure sempre fazer check-up médico; dar prioridades às suas horas de descanso; intensifique sua orações pessoais; peçam sempre orações aos seus fiéis, cuide de si e do outro também.
Que Deus abençoe nossa vida sacerdotal, nosso clero de Brejo, nosso bispo dom Valdeci, nós que somos esses homens comuns, no corpo e na alma, tão semelhantes a milhares de outros homens, mas que possuímos uma marca, um sinal, uma destinação honrosa e necessária para levar a salvação a todos que nos procuram! Homens acolhidos e ungidos por Deus!
Meus queridos padres, somos uma só família!
Pe. James Teixeira da Costa - Diocese de Brejo
Suicídio Sacerdotal de 2021. Até quando?"
Não sei mais o que escrever, não sei mais como exprimir a dor que eu sinto quando recebo a notícia de suicídio de mais um padre. Rezar e escrever me ajudam, mas ainda não é o suficiente...
Estamos no início de novembro, e o suicídio do Padre José Alves é o nono padre suicida este ano...
Cada sacerdote que tirou sua vida esse ano tinha um rosto, uma história, um sofrimento, uma dor, uma vocação, um sonho. O que lhes faltava? O que não foi feito por estes irmãos? Onde erramos? Até onde vai a responsabilidade pessoal? Há uma responsabilidade eclesial? Por que os padres estão se assassinando? Quantos mais precisarão morrer para a Igreja católica no Brasil acordar? Por que continuamos inertes, indiferentes e omissos? Os suicídios sacerdotais em série, no Brasil, revelam em parte, a doença, a ineficiência e a hipocrisia da estrutura clerical.
A Diocese de Bom Jesus do Gurguéia, havia recebido uma acusação contra o Padre José. O teor da denúncia era de abuso sexual com menor. Nada foi comprovado. O padre foi suspenso de ordens “Ad cautelam” no último dia 6, através de um decreto. Sim, sabemos que após centenas de casos de pedofilias no mundo, desde o Papa Bento XVI, e agora com o Papa Francisco, a cultura do silêncio está sendo quebrada, e as orientações são muito claras. O bispo da Diocese pode ter aplicado a lei pela lei, e apenas com a denúncia da acusação (ainda que não tenha sido provada), o padre tenha sido suspenso. Irmãos padres, qualquer sacerdote, pode passar por isso. Qualquer denúncia, mesmo sem prova, chegando ao bispo diocesano, pode acarretar a mesma suspensão recebida pelo Padre José.
Penso em irmãos que eu conheci, que foram suspensos sem poderem fazer absolutamente nada. Irmãos que eram e sempre foram inocentes. Temos um caso, de suicídio, aqui no Brasil, de um religioso, em 2013, que sendo acusado injustamente, não conseguiu suportar o peso de tal sofrimento, e se enforcou no quarto com o próprio cíngulo. Quantos de nós fomos acusados levianamente!?
O Padre José foi encontrado morto, em sua casa paroquial, no último Domingo. Pergunto-me: A Diocese ou Pastoral Presbiteral estava cuidando dele após a suspensão? Se ele não podia mais celebrar por que ficou sozinho na casa? Há algum acompanhamento jurídico, psicológico, espiritual, episcopal ou presbiteral para os padres que são suspensos “ad cautelam”? Antes, da sua morte, Padre José, escreveu em suas redes sociais: “Eu Amo a Igreja”. Ah, padre irmão, eu entendo sua afirmação. Escutamos isso no tempo todo do seminário, né? Amamos a Igreja, padre; mas a grande verdade é que a Igreja não nos ama. O único que nos ama é o Cristo, Cabeça e Esposo da Igreja.
Na vida de todo padre, há de chegar um momento em que ele ficará sozinho. Teremos apenas Jesus! E, mesmo, Ele nos bastando, ao sermos abandonados, esquecidos, e alguns de nós, caluniados e acusados por bispos, padres e leigos, precisaremos pensar em nós mesmos. O suicídio não vale como martírio, irmãos padres! Sei, porque escuto, que muitos padres pensam em tirar a própria vida. Em um país latino-americano aqui vizinho, padres estão tirando a vida em grupo; mas essa não é a resposta. Esse não é o caminho! Faço uma confissão pública: Quando em um momento de extremo sofrimento, há uns três ou quatro anos atrás, quando eu pedi um tempo de afastamento do exercício do ministério, e tive também o pensamento de morte na cabeça, eu cheguei a seguinte conclusão: “É melhor um sacerdote vivo do que um padre morto”. Sacerdote sempre seremos, exercendo ou não. Padre é outra história...
Por favor, irmãos padres, pensem em vocês! Parem de pensar na Igreja, em primeiro lugar. Na estrutura da Igreja romana no Brasil, não existe tempo nem prioridade para o cuidado sacerdotal. Somos empresários e empregados de batina. Não é suficiente amar a Igreja. Apenas isso não é possível para continuar vivo diante dos inúmeros desafios sacerdotais que este tempo nos impõe. O máximo que a Igreja consegue fazer é rezar por nós. Ela dificilmente acolhe, raramente escuta, não sabe cuidar, não tem tempo para amar. Não nos procura como filhos, dificilmente a Igreja vai te ajudar. Ela se comunica conosco por decretos, papéis, provisões e excomunhões. Os bispos já nos trocam de paróquia pelo WhatsApp e telefonemas. Os padres viraram funcionários das mitras diocesanas. São conhecidos pelos números dos CNPJ das paróquias que administram. Para os senhores só chegarão os boletos das mitras, os envelopes das campanhas da CNBB e o número da conta do bispo para as espórtulas das crismas...
O que vale a vida e a história de um padre? O que está escrito no Código de Direito Canônico! Ele vale mais que o Evangelho. Ele é punitivo. O último cânone nunca é aplicado na vida do padre! Padre irmão que ainda não se suicidou, continue amando a Igreja; mas por favor, se ame, primeiro. Se alguma coisa acontecer contigo, justa ou injustamente, você tem grande chance de ser descartado através de um decreto frio e impessoal. Ame a Jesus! Converse com Ele! Não espere o bispo te perguntar como está. Não crie expectativa sobre a fraternidade sacerdotal. Ela existe, na maioria do clero, só no papel. Ame-se! Se ame primeiro. Ame-se antes de amar os superiores e os irmãos padres. Lembre-se, que haverá um momento que será só você e Ele. Todos te deixarão. As acusações e o que podem colocar de ti nas redes, possivelmente, valerão mais do que tudo que Deus lhe deu a graça de realizar fielmente em todos os teus anos de ministério. Os conselhos presbiterais não te conhecem. Para a grande parte deles, você já está até morto...
Ah, irmão padre, não se mate. Não seja o décimo da lista de 2021! Você sabe que nenhum dos ordinários locais dos outros nove falaram nada? Se você se matar, no outro dia, alguém vai ser mandado para o teu lugar. Você será lembrado apenas nas missas em que alguém colocar teu nome nas intenções. Com alguns dias, o Instagram e o Facebook não mais falarão de ti. Foi assim com o Padre Ruben, Adriano Henrique, Milton, Marco Antônio, Mauro Jorge...e todos esse ano, e todos celebraram, usaram casulas, absolveram pecados, batizaram, assistiram casamentos.
Padre, não seja o décimo...peça férias, pede um ano sabático. Vai para a casa dos teus pais. Deixe a paróquia. Você não vai morrer de fome. Eu sou testemunha disso. Pede transferência de paróquia ou diocese. Busque a vida religiosa ou se incardine em uma diocese. Mude de rito, de tradição. Mude de país. Vai fazer missão, mas não se mate. Nada vai adiantar com a tua morte. Para alguns bispos, vai ser apenas menos um ‘problema’. A maior parte dos padres nem vão se lembrar de ti quando teu nome for retirado do anuário ou do site da diocese. Padre, por favor, não se mate por amor à Igreja. Essa Igreja não merece nossa morte. Ela precisa de nossa vida, ainda que escondida e insignificante para o alto clero. Não diga sim aos homens, diga sim à Deus! Mude de Estado ou até de estado de vida; mas por favor, não se mate. O Papa Francisco nunca saberá a verdade. A Nunciatura não vai te ajudar. Se um dia a CNBB fizer algo pensando nos potenciais padres suicidas, o senhor vai ser somente um número do passado. Se ame, padre!
Padre, procure ajuda. Se teu bispo não te ajudar, ligue para um padre. Vai até um confessor, procure um diretor. Vai até o médico, padre. Começa, por favor, uma terapia. Temos muitos padres e consagrados psicólogos. Reze, padre; mas se ame. Se alimente, se divirta, durma, diminua a marcha. Não espere ajuda fora. Primeiro, comece em ti. Mude por dentro. Ame sua humanidade e o ministério sacerdotal. Grite, irmão. Pare. Deixe o celular e vá rezar. Leia, padre. Confesse, padre. Vai ao hospital e brinca com as crianças, visita os casais, escute os idosos, fica diante do sacrário. Não se mate. Não compre remédios nem cordas. Não coloque fim na sua vida antes do tempo. O Bom Pastor te quer vivo. E, lembra da oração: “Na hora da morte, chamai-me, e mandai-me ir à Vossa Presença”. Não vá antes da hora, não antecipe nem um só dia. Precisamos de Ti. Ele te ama! Ele te amou e sempre te amará.
E, se um dia, eu tiver um lugar aqui para te acolher, vem ficar comigo. Prometo cuidar de ti, com irmãos que te acolherão e te amarão.
Não se mate, padre, não seja o décimo, por favor!
Nossa Senhora, coloca a mão nesta lista e cancela ela, por favor. Maria, Mãe dos Sacerdotes, rasgue essa lista dos padres suicidas no Brasil. Agora, e até a hora da nossa morte. Amém!
Padre Simeão do Espírito Santo
Novembro de 2021
O clero do pre - Trento e o clero do século XXI.
Ernest Rennan um dos maiores historiadores franceses tinha muita razão quando afirmava: “ O homem encontra santidade naquilo que crê e beleza naquilo que ama.”
Muito tem se refletido ultimamente sobre o suicídio no clero do Brasil. Vale a pena afirmar que não só no clero Brasileiro ha suicidas. O suicídio é uma das realidades mas atenuantes da sociedade contemporânea. Seja como for quero me limitar única e exclusivamente ao meio ao qual pertenço. Sou e faço parte do clero. Uma das situações que me levam a pensar na triste realidade que vivemos é que muitos de nós perdemos o encanto, e alegria e ofuscamos a beleza do nosso ministério. Aqui já há um problema de base. Como recuperar aquele primeiro amor do qual o apóstolo Paulo já nos convidava constantemente a resgatar e manter. Presbíteros, diáconos e bispos desencantados. Homens que já não se sentem mais atraídos por nada é muito menos por Ninguém. Neste caso por Cristo. Para muitos fazer parte do clero é muito mais do que um problema um dilema. Homens capazes de pensar e refletir mas incapazes de decidir! Quem não sabe decidir perde o horizonte do fundamental e chega a um ponto no qual situações inesperadas o absorvem se tornando simplesmente alguém que vive segundo as decisões dos outros. Muitos presbíteros, diáconos e bispos carecem do senso moral da objeção de consciência. Fazem opções contra a sua própria dignidade e capacidade. Para muitos ficar “bem na foto” significa só se adaptarem as ideologias do momento. Há quem use batina porque um padre ou bispo “pop” numa frase do seu Instagram afirme que a batina não é fantasia. Há quem use calça jeans e camiseta justa porque é chamado de padre moderno e bonito, há quem faça regímen porque precisa reafirmar sua figura e há quem tem pânico de envelhecer e inventa todos os tratamentos possíveis para fazer parte do mundo dos cosméticos e das propagandas de beleza. Isso sem contar quando como eu; deixamos-nos levar pela moda litúrgica.
Exageradamente o Brasil se transformou numa plataforma comercial das empresas litúrgicas e do comércio de belos paramentos e objetos.
Um clero insatisfeito quase que desde o dia da ordenação. “A minha ordenação deve ser diferente a todas aquelas que já assisti”; e então aquele homem prostrado no chão vira motivo de curtidas e aplausos. Meses depois o neo presbítero deve fazer vestibular e ingresar na faculdade mais próxima porque os dez anos de estudo no processo formativo não foram suficientes para que a sua inteligência se desenvolvesse o suficiente.
Um Clero que muitas vezes não quer aceitar a necessidade de se aproximar das realidades do mundo para influenciar e questionar mas um clero que se torna escravo e dependente do mundo para viajar e gastar.
Muitos criticam a nossa sexualidade. Há quem afirme que somos uma imensa maioria de homens anormais. Já o disseram para mim inúmeras vezes. Penso que a maior doença sexual e afetiva que temos no clero é que nós membros do mesmo clero não acreditamos no dom sobrenatural da amizade. A castidade cristã nos ajudaria a sermos amigos entre nós! “Sacerdos lupi sacerdotum”. Somos lobos nos devorando uns aos outros. Ter amigos sacerdotes é a maior dádiva para os nossos leigos; mas entre nós não é assim. Vivemos sobre a suspeita, não podemos viajar juntos, sair juntos, caminhar juntos e pedimos para rezar juntos! Que anacronismo. Precisamos romper as barreiras dos medos e dos preconceitos e acreditar na castidade. Sem ela não superaremos nosso egoísmo e carreirismo desenfreado.
Os sacerdotes do século XXI temos muitos mais problemas dos que já tinham os sacerdotes antes do concílio de Trento. Antes de Trento faltava formação acadêmica, algo de disciplina e maior entrosamento com o mundo. Mas antes de Trento os membros do clero eram homens unidos ao seu bispo e aos seus irmãos. Pode ser questionado a situação do alto e do baixo clero vivido antes de Trento; mas o mesmo Carlos Borromeu e posteriormente Jean J. Olier, Jean Eudes, Vincet de Paul nos séculos sucessivos fortaleceram a formação e deram grandes luzes para à internet ajuda do clero. Não serão as confraternizações de natal e de aniversário aquelas que nos tornarão mais irmãos; não serão os retiros anuais ou as reuniões mensais aquelas que nos ajudarão a sermos e permanecermos mais unidos a igreja particular ou ao carisma dos fundadores. Só um encontro constante com Aquele que nos chamou e nos fez membros do seu corpo nos tornará verdadeiros irmãos. Aproximemo-nos uns dos outros em Cristo; só assim não teremos mais suicidios quer em vida ou em fato… nove foram os suicídios do clero no nosso Brasil, mas penso que há mais de nove vivos que já se suicidaram.
Padre José Rafael Solano Durán
PhD Teologia Moral.
Clero da Arquidiocese de Londrina - PR
COMENTÁRIOS
1- Jesus mandou que amássemos o outro da mesma forma (não mais nem menos) que amamos a nós mesmos. O mesmo se refere ao amor à Igreja. Devemos amá-la com a mesma intensidade com que amamos a nós mesmos, e não menos ou mais.
2- Quanto à falta ou não de oração, é o próprio Jesus quem diz que há certos tipos de demônios que só vencemos com jejum e oração. Se o padre tiver uma vida de oração e for muito humilde no reconhecimento de seus limites e necessidades, decerto não cometerá suicídio. A oração e o trabalho pastoral devem estar sempre unidos à humildade de se saber necessitado da ajuda de Deus e dos demais. É claro que se estiver em depressão profunda, a conversa é outra.
3- Muitas vezes não são os outros que nos abandonam, mas nós que nos isolamos, talvez por causa das nossas próprias limitações. Mais uma vez entra aqui a humildade. Se nos conhecermos, sabemos o alcance dessas limitações e não vamos nos preocupar o que os demais pensam ou falam de nós. Ser sempre o que somos diante de Deus. Nada mais do que isso. E nunca desanimarmos em nossa luta contra o pecado.
4- Um padre nos escreveu dizendo que superou todas as dificuldades com o que dissemos acima nesses comentários. Sobretudo, quando estava no "fundo do poço", imprensa querendo seu sangue, abandonado por todos, colocou-se diante de Jesus e disse com toda simplicidade e confiança: "Senhor, estou em vossas mãos. Aconteça o que acontecer comigo sei que nunca me desamparareis. Vós prometestes muita misericórdia e perdão, porque nos amais. Eu não posso mudar o passado, mas posso reconstruir o meu futuro. Fazei de mim o que quiserdes. Eu confio em vós, sei que sairei desta confusão toda e recomeçarei uma vida nova. Tudo passa, Senhor! Só o vosso amor é eterno e nunca passará!" a intensidade com que amamos a nós mesmos, e não menos ou mais.
5- E sobretudo não ter medo de se confessar com um diretor espiritual e ser plenamente sincero em tudo, nada lhe escondendo. Só esse ato em si já alivia metade do problema. Somos o que somos diante de Deus. O arrependimento e o desejo de uma vida nova deve ser algo constante não só nos que estão pensando em suicídio, mas em todos nós. Todos somos fracos. Os que rezam mais e são mais humildes, vencem. Os que rezam menos e não conseguem assumir suas fraquezas, demoram mais para vencer ou ficam "patinando" sem sair do lugar. Pelo menos, essa é a minha opinião.