- Âmbito imediato: Igreja Local
É no interior da
comunidade eclesial, confiada ao seu ministério e em comunhão
profunda com o presbitério unido ao bispo que o presbítero
vive concretamente a caridade pastoral.
O Vaticano II assim explicitou: “A caridade pastoral exige que os presbíteros, para que não corram em vão, trabalhem sempre em união com os bispos e os outros irmãos no sacerdócio”(PO 14).
O Vaticano II assim explicitou: “A caridade pastoral exige que os presbíteros, para que não corram em vão, trabalhem sempre em união com os bispos e os outros irmãos no sacerdócio”(PO 14).
O Concílio
recuperou o valor da Igreja local. A Igreja universal “subsiste nas
Igrejas particulares e a partir delas existe a una e única
Igreja Católica (LG 23). A Igreja Católica universal é
todo o Povo de Deus, comungando entre si sob a guia do Papa e do
Colégio dos Bispos, e se estende por toda a terra, ao passo
que a Igreja local é uma porção do povo de Deus
confiada ao pastoreio de um Bispo, com a cooperação do
presbitério. Na Igreja local convocada
pela Palavra de Deus,
santificada pelos Sacramentos, conduzida pelo Espírito,
presidida pelo
Bispo e seu presbitério
está verdadeiramente presente e operante a una, santa,
católica e apostólica Igreja de Cristo (CD 11).
Com a Igreja local o
Concílio recuperou a colegialidade. O cargo de bispo e de
presbítero é sempre colegial: ninguém é
bispo sozinho, mas num colégio episcopal; ninguém é
presbítero sozinho, mas num presbitério. Todo
presbítero é um “com-presbítero”.
O colégio dos
presbíteros ou o presbitério é mais que um órgão
meramente instrumental. É uma realidade que pertence à
ontologia da graça sacramental, precisamente ao sacramento da
Ordem. Por isso, o presbítero, mais que “trabalhar em
equipe”, é essencialmente um “homem de equipe”. Não
está no presbitério; é ou constitui o
presbitério. A “colegialidade sacramental” ou ontológica
é a base da “colegialidade pastoral” ou operativa. Isso
significa que toda pastoral tem uma essencial forma comunitária;
é uma “obra coletiva” (PDV 17,1).A pastoral de conjunto
não se impõe apenas por injunções do
momento histórico e da busca de eficácia, mas por
exigências intrínsecas do próprio ser Igreja (que
é communio teologal) e da essência do presbiterado (que
é uma ordo sacramental).
Numa eclesiologia de
comunhão, os cristãos e seus pastores são irmãos
iguais em dignidade (cf. Mt 23,8-12; Mc 3,31-35; LG 32); diferentes
quanto aos carismas, serviços e ministérios, entre os
quais e à frente dos quais está o ministério
pastoral, responsável pela unidade, santidade, catolicidade e
apostolicidade da Igreja; solidários na responsabilidade de
evangelizar o mundo e de edificar a Igreja sobre o único
fundamento que é Jesus Cristo (cf. 1 Cor 3,11).
Cabe aqui lembrar que o
espírito colegial deverá levar o presbítero a
valorizar as Coordenações, os Conselhos, as Assembléias
e todas as outras “estruturas de comunhão e participação”,
onde a presença dos Leigos, Consagrados e de Vida Apostólica,
ao lado dos Religiosas e Religiosos, se faz sentir como parte
integrante da Ekklesia de Deus, reunida em assembléia,
inclusive deliberante.
Esta 42ª
Assembléia acolheu o testemunho da teóloga Maria Clara
L.Bingemer que nos fez vários questionamentos: “Gostaria de
fazer um destaque para a questão da relação do
presbítero com a mulher... Temos que admitir que a presença
da mulher ainda é, em certos meios clericais, um elemento
perturbador. Trata-se da tentação presente, provocadora
e ameaçadora da castidade do clero e da pureza do culto.
Trata-se de algo ou melhor de alguém cuja sintonia com o
sagrado ainda é parcial e defeituosa, não podendo
jamais ser total. Isso acarreta que o tratamento por alguns
presbíteros dispensado à mulher muitas vezes seja de
suspeita, distância que fere e magoa. Ou então de uso e
abuso – perdoem a franqueza – como mão de obra barata,
simpática e sempre disponível para todas as tarefas.
sobretudo as mais modestas, que ninguém quer assumir.
Creio que aqui está
um grave desafio à vida e ministério do presbítero.
O desafio de abrir as portas do coração a suas irmãs
e companheiras mulheres e ajudá-las a tomar consciência
da unção que também receberam no seu Batismo e
que lhes dá o direito de participar no anúncio do
Evangelho e no serviço alegre e disponível, carinhoso e
amoroso, de todo o povo de Deus.
Se Deus criou a
humanidade homem e mulher, excluir a mulher de tantos setores da vida
da Igreja é cruel com a própria humanidade, além
de profundamente desumanizador. A fraternidade eclesial, pela qual o
presbítero é grandemente responsável, não
se fará sem a presença desta que, com seu cuidado e
jeito de ser, certamente abrirá para muitos as portas do
Evangelho, e poderá chegar ali onde outros que não têm
sua intuição, seu coração, sua
experiência vital, não conseguem chegar”.
O Vaticano II,
privilegiando a imagem de Igreja–Povo de Deus, não coloca o
presbítero acima ao além do povo cristão. Embora
revestido de uma missão específica, ele está
dentro, faz parte do povo e com ele caminha na história. Antes
de ser presbítero, ele é cristão, conforme nos
ensina Santo Agostinho: “Atemoriza-me o que sou para vós;
consola-me o que sou conosco. Pois para vós sou bispo
(presbítero), convosco sou cristão. Aquilo é um
dever, isto uma graça. O primeiro é um perigo, o
segundo salvação” (Sermo 340, 1:Pl 38,1483; LG 32).
Destinação:
doação de si à Igreja e à Humanidade A
caridade pastoral é a virtude pela qual imitamos Cristo na
entrega de si mesmo e no serviço do Reino. Não é
apenas aquilo que fazemos, mas o dom de nós mesmos que
manifesta o amor de Cristo pela humanidade. O ministério
presbiteral é “amoris officium”, doação de
si mesmo à Igreja como Cristo que “amou a sua Igreja e se
entregou por ela” (Ef 5,25). A caridade pastoral determina nosso
modo de pensar e de agir, o modo de nos relacionar com as pessoas. O
dom de si mesmo não tem fronteira, porque é marcado
pelo mesmo dinamismo apostólico e missionário do Bom
Pastor que disse: “Tenho ainda outras ovelhas que não são
deste redil: devo conduzi-las também; elas ouvirão a
minha voz; então haverá um só rebanho e um só
Pastor” (Jo 10, 16).
O presbítero,
como Cristo, não pode reduzir seu raio de ação à
Igreja apenas. Tem um olhar para fora, para o mundo. A esse o envia o
Espírito, para levar-lhe a Palavra do evangelho da graça
e da salvação. O presbítero, portanto, não
é somente “homem de Deus” e “homem da Igreja”, mas é
também “homem do mundo”, no sentido de que está a
serviço de todos os homens e mulheres de hoje. Ora, para o
presbítero, o mundo de hoje se apresenta como imenso campo de
trabalho, trabalho de evangelização.
O Vaticano II, na
constituição “Gaudium et Spes”, o primeiro
documento conciliar a fazer uma ampla reflexão sobre a
presença da Igreja no mundo, levou a sério a
advertência de Jesus:
“Quando vedes uma
nuvem vinda do ocidente, logo dizeis que vem chuva. E assim acontece.
Quando sentis soprar o vento sul, logo dizeis que vai fazer calor. E
assim acontece. Hipócritas! Sabeis avaliar o aspecto da terra
e do céu. Como é que não sabeis avaliar o tempo
presente?Por que não julgais por vós mesmos o que é
justo?” (Lc 12, 54-57).
“Para desempenhar sua
missão, a Igreja, a todo momento, tem o dever de perscrutar os
sinais dos tempos e interpretá-los à luz do Evangelho;
para que assim possa responder, de modo adaptado a cada geração,
às eternas perguntas dos homens a cerca do sentido da vida
presente e futura, e da relação entre ambas. É,
por isso, necessário conhecer e compreender o mundo em que
vivemos, as suas esperanças e aspirações, e o
seu caráter tantas vezes dramático” (GS 4 a)
Para por fim a todas as
espécies de dualismos reducionistas, segue um dos textos mais
lúcidos da GS: “Afastam-se da verdade os que , sabendo que
não temos aqui na terra uma cidade permanente, mas que vamos
em demanda da futura, pensam que podem por isso descuidar de seus
deveres terrenos, sem atentarem a que a própria fé os
obriga ainda mais a cumpri-los, segundo a vocação
própria de cada um.(...) Não se oponham, pois,
infundadamente, as atividades profissionais e sociais, por um lado, e
a vida religiosa, por outro. O cristão que descuida os seus
deveres temporais, falta aos seus deveres para com o próximo e
até para com o próprio Deus, e põe em risco a
sua salvação eterna”(GS 43) Vale a pena lembrar o que
nos disse o Pe Alberto Antoniazzi nesta assembléia:
“As pesquisas
recentes sobre os presbíteros e a observação ao
redor de nós nos mostram que um grande número de padres
presta pouca ou nenhuma atenção aos “sinais dos
tempos”, ou seja, aos acontecimentos históricos e à
realidade da vida cotidiana, que são - para os cristãos
– sinais da presença atuante de Deus na história.
Entre as causas deste descuido, está a sobrecarga de trabalho
pastoral, mas muitas vezes está também uma visão
essencialista, quase atemporal, da realidade (o presbítero
“fora do tempo”). É paradoxal que isto aconteça
hoje, na sociedade atual, marcada pela “reflexividade”, ou seja,
pela produção de sempre novos eventos, conhecimentos e
informações, que induzem as pessoas e instituições
a repensar continuamente suas decisões e seus rumos, para
levar em consideração o dinamismo da sociedade ou...
ficar atrasadas e desaparecer.
Traduzido em termos
positivos, isto significa a necessidade de envolver efetivamente os
presbíteros num processo de “formação
permanente”, que o mantenha sintonizado com sua época,
torne-o mais atento e capaz de ouvir e compreender os anseios do povo
e de sua comunidade, torne mais agudo seu espírito crítico
e mais pertinente a formulação de sua pregação
da palavra evangélica”.