RETIRO DE 2008 – Quinta Meditação
“Imitar perfeitamente o nosso único modelo Jesus”
“Olhemos para os santos unicamente para ter ajuda numa ou noutra palavra, num ou noutro exemplo, para imitar perfeitamente o nosso único modelo Jesus” (Comentário a Lc 18,23-30 – M.S.E. 398).
“Os primeiros atos, os primeiros efeitos do amor, como também os últimos, que são inseparáveis do amor, são a imitação e a contemplação. Desde o primeiro instante no qual amamos, imitamos e contemplamos... Imitação e contemplação fazem parte necessariamente de qualquer amor” (Comentário a Lc 2,21 – M.S.E.264).
Contemplamos a humanidade de Jesus para podê-lo imitar. Jesus é o modelo único. Redentoris Missio 89 – “O missionário é impelido pelo “zelo das almas” que o impôs na própria caridade de Cristo, feita de atenção, ternura, compaixão, acolhimento, disponibilidade e empenho pelos problemas da gente. O amor de Jesus envolve mais íntimo da pessoa”.
Hb 4,15-16 – “Não temos nele um pontífice incapaz de compadecer-se das nossas fraquezas. Ao contrário, passou pelas mesmas provações, com exceção do pecado”.
A primeira característica de personalidade humana de Jesus, que salta aos olhos é a sua sensibilidade, humanidade, compaixão, carinho.
Redentoris Missio 14- “Dois gestos caracterizam a missão de Jesus: curar e perdoar. As múltiplas curas provam sua grande compaixão diante das misérias humanas”.
Lc 7,22 – “Ide anunciai a João o que vistes e ouvistes”. Os cegos vêem, os surdos ouvem...
Temos aqui os grandes gestos-sinais libertadores de Jesus, que deixavam as multidões admiradas: “Deus visitou o seu povo”.
Mt 9,1-8 – Cura do paralítico.
Mc 5,25-34 – A mulher com hemorragia
Mc 10,46-52 – O cego Bartimeu.
Lc 7,11-17 – A viúva de Naim
Jo 11,33-34 - Lázaro
Mc 6,30-44 e 8,1-9 – A multiplicação dos pães.
São os grandes sinais libertadores de Jesus. Mas precisamos reparar mais nos pequenos gestos que acompanham os grandes sinais, porque são reveladores e
passam desapercebidos. Gestos pequenos, mas que foram lembrados quando o Evangelho foi escrito, 40-50 anos mais tarde.
Mt 9.2 – “Meu filho, coragem; teus pecados te são perdoados”.
Mc 5,30 – “Quem tocou as minhas vestes”?
Mc 1,41 – “Estendeu a mão, tocou-o e disse-lhe: eu quero, sê curado”.
Lc 7,13 – “Vendo-a, o Senhor movido de compaixão, disse-lhe ‘Não chores’. E aproximando-se tocou no esquife”
.
Mc 8,2ss – “Tenho compaixão deste povo. Já há três dias perseveram comigo e não tem o que comer. Se os despedir em jejum para suas casas, desfalecerão no caminho; e alguns deles vieram de longe”.
Mc 8,23 – O cego – “Jesus tomou o cego pela mão, levou-o para fora da aldeia, pôs-lhe” saliva nos olhos e impondo-lhe as mãos e perguntou-lhe... Em seguida lhe impôs as mãos nos olhos”.
Mc 6,45 – “...enquanto ele mesmo despedia o povo. E depois de despedir o povo retirou-se ao monte“ (enquanto nòs, terminada a Missa dizemos: “La messa è finita: andate in pace”, viramos as costas e entramos na sacristia).
Mc 7,33 – Surdo-mudo – “Tomou-o à parte do povo, pôs-lhe os dedos nos ouvidos, tocou-lhe a língua com a saliva, levantou os olhos aos céus deu um suspiro e disse: ’Efatá’”.
Mc 9,36 – “Tomando um menino, colocou-o no meio, abraçou-o e disse-lhes...”
Mc 10,13,16 – As crianças – “abraçava e abençoava impondo-lhes as mãos”.
Mc 10,21 – O jovem rico – “Fixando nele o olhar, o amou”.
Jo 11,33 – “Jesus ficou internamente comovido em espírito, E sob o impulso de profunda emoção, perguntou-lhes: ‘Onde o pusestes?’ Responderam-lhe: ‘Senhor, vinde ver.’ Jesus pôs-se a chorar... Tomado novamente de profunda emoção Jesus foi ao sepulcro”.
Jo 21, 9-12 - “Moços, tem algo para comer?”- Parece alguém que està com fome, e no entanto ele preparou na praia o fogo, o peixe, o pão.
Nós perguntamos: qual o sentido dos gestos de Jesus? Jesus tinha superado a tentação do poder e prestigio na luta com o demônio no deserto.
Jesus não fazia milagres para demonstrar autoridade, força, poder. Não queria ser um milagreiro.(os crentes ainda não o compreenderam).
Jo 4,48 – “Jesus se queixa com os judeus (o filho do oficial do rei estava doente) “Se não vêem milagres e prodígios, vocês não crêem”.
Era a compaixão, ternura, afeto que arrancava de Jesus o milagre, o SINAL. Jesus é o Filho do Pai que se revelou a Moisés como “Javé, Javé, Deus compassivo, misericordioso, lento na cólera, rico em bondade e fidelidade, que conserva a sua graça até mil gerações, que perdoa”, Ex 34,6.
Jo 5,19 – Jesus age como o PAI – “Em verdade vos digo, o Filho de si mesmo não pode fazer alguma coisa: ele só faz o que vê fazer o Pai; e tudo o que o Pai fê-lo também semelhantemente o Filho. Pai ama o Filho e mostra-lhe tudo o que faz”.
Perguntei para um meninote: “O que você vai fazer quando for grande?” – “O motorista de caminhao” – Mas por que? – “Porque meu pai é motorista de caminhão”.
Jesus age pela compaixão, amor, ternura, porque viu o Pai agir assim.
Mc 1,41 – “Jesus compadeceu-se dele”. Por este amor, compaixão, misericórdia Jesus é o sacramento do Pai. Revela o Pai e sua bondade. Jesus é realmente o Bom Samaritano (Lc 10,25-37) que movido de compaixão se debruça sobre a humanidade caída e decaída.
Jesus não é somente o líder revolucionário dos grandes fatos, dos grandes gestos libertadores das grandes manifestações. Jesus não só fazia o bem, ele queria o
bem.
Quando as crianças vinham no meu barraco, a primeira coisa que reparavam era o saquinho do pão, para certificar-se que estivesse cheio. Enquanto nao abria o saquinho, as crianças nao iam embora: entao quando tinha algo para fazer, logo abria o saquinho. Um dia Vilma, uma menina de 11 anos, me diz: voce nos dá pão para mandar-nos embora. Mas eu não quero ir embora agora, eu gosto de estar aqui”.
Certa vez, preguei o retiro para os seminaristas num certo seminario; falei da humanidade e sensibilidade de Jesus, no fim da meditaçao achei um papelzinho amarrotado no qual estava escrito mais ou menos assim: “Para mim este Jesus tem uma personalidade melosa, edulcorada, adocicada... cadê o Jesus revolucionário, libertador?” Sem dizer nada escrevi no quadro: “Hay que endurecer-se, pero sin perder la ternura jamás” (Ché Guevara).
Característica desta compaixão deste amor humano de Jesus é a simplicidade.
Nós gostamos de contar, fazer relatórios que os outros vejam e aplaudam. Se ninguém nota, ficamos mal humorados, magoados.
Mt 6,3 – “Não saiba a mão esquerda o que deu a direita”.
A simplicidade de Jesus.
Mc 1,43-44 – Ao leproso – “Não digas isto pra ninguém”.
Mc 5,43 – Filha de Jairo – “Ordenou-lhes severamente que ninguém o soubesse”.
Mt 9,30 – 2 cegos – “Vede que ninguém o saiba”.
Mc 7,36 – surdo mudo – “Proibiu-lhe que o dissesse a alguém”.
Mc 8,26 - cego – “Vai para casa e não entre nem na aldeia”.
Jo 5,12-23 – paralítico – “Quem é o homem que te disse: Toma o teu leito e anda? O que havia sido curado porem não sabia quem era”.
Jo 9,35-37 – O cego – “Crês no filho do homem?” Quem é ele senhor, para que eu creia nele?
Ligada à simplicidade está a gratuidade. O amor verdadeiro é gratuito, não faz chantagem, não cobra nada do outro. O amor gratuito é divino, é sacramento do amor
do Pai.
Mt 5,45 – “O Pai faz nascer o sol tanto sobre os maus como sobre os bons e faz chover sobre os justos e sobre os injustos”. Jesus, como o Pai, ama gratuitamente com um amor infinito, mas que deixa o outro perfeitamente livre.
Mc 10, 21-22 – O jovem rico – “Fixou nele o olhar e o amou...” o outro foi-se embora. O amor liberta, o egoísmo escraviza. (CF) O amor é gratuito ou não é amor.
1Cor 13,5 - “O amor não busca seus próprios interesses, não quer nada em troca”.
“Sejamos infinitamente delicados na nossa caridade; nao limitemo-nos aos grandes serviços, mas tenhamos a ternura que desce nos detalhes e sabe, com coisas muito sìmples, por muito balsamo nos coraçoes. “Dai-lhes voces mesmos de comer”, disse Jesus. Desçamos também nòs, com os que estao perto de nòs, nos pequenos detalhes da saùde, da consolaçao, das preces, das necessidades. Consolemos, confortemos com as mais pequenas atençoes. Tenhamos para com aqueles que Deus coloca ao nosso lado aquelas pequenas, delicadas atenções que irmãos carinhosos teriam entre si, que maes carinhosas teriam para os filhos, para assim consolar, na medida do possìvel, todos que nos cercam, e ser para eles motivo de consolaçao e bàlsamo, assim como sempre foi Nosso Senhor para todos que dele se aproximavam” (Coment. A Mc 5,35-43- A ressurreiçao da filha de Jairo).