sábado, 24 de março de 2012

ATUALIDADE...2ª PARTE



Hoje predomina o doutrinai sobre o experiencial na maneira de propor a fé cristã.
Ou então se insiste nos ritos, nos ritualismos que muitas vezes não chegam até a vida, não tocam a vida. É preciso ir à Missa porque é preciso ir à Missa e, assim, as pessoas deixam de ir à Missa... Ou é preciso batizar porque é preciso batizar e a maioria das famílias jovens não batizam mais. 

Mas isso não se resolve afirmando intransigentemente a lei, é preciso, ao contrário, ver como ajudar essas pessoas a descobrirem e a fazerem uma experiência que, depois, poderá formular-se em doutrina. Ou então, refugiar-se nas práticas espirituais tradicionais, que se repetem mecanicamente, mas que pouco ajudam.

Nesse sentido, creio eu, sem querer fazer julgamentos contundentes, os chamados “movimentos eclesiais” (não sei aqui como funcionam, se são muitos ou não, mas na América Latina e no Brasil concretamente, proliferam de tal maneira que a gente fica pasmado) são movimentos de massa, atraem muita gente, mas pessoas já tocadas pela fé.

A grande maioria das pessoas que não creem, não vai atrás desses movimentos que buscam o sensacional, o espetáculo, o puramente emotivo. Tocam a emoção das pessoas. Mas, claro, quando acaba a emoção, a pessoa fica sem nada. Não se dá substância, consistência às coisas.

Esse tipo de abordagem não chega aos que não creem. No fundo, é uma resposta tradicional, incapaz de distanciar -se de um passado conhecido e de responder com criatividade ao desafio que nos coloca essa realidade presente. No fundo, há como um medo de confrontar-se com essa vida e, por isso, muitas vezes essas ‘espiritualidades’, diria eu, são espiritualidades de fuga. Fogem da realidade, se escondem. 

É o que eu dizia: a um ‘mundo sem Deus’ se oferece ‘um Deus sem mundo’. Como se dissessem: eu tenho um Deus, mas não tem nada a ver com o que está passando, com o que se vive, com os problemas reais das pessoas, etc.

2. A proposta oposta espiritual do Ir Irmão Carlos. Frente a isso, como eu qualificaria a espiritualidade do Irmão Carlos? Com essa simples frase: “ Deus no coração do mundo”. A experiência de Deus, nós a fazemos em plena realidade da vida com todos os seus problemas. É aí que temos que encontrar Deus, é aí onde Deus tem que iluminar a nossa existência. Creio que isso é uma das características da vida, do modo de ser do Irmão Carlos e do que é o espírito dessa experiência, de onde viria essa espiritualidade. 

É uma espiritualidade da Encarnação. Por isso é tão central nessa experiência descobrir Deus como o Deus de Jesus. Não se trata de qualquer experiência espiritual ou de qualquer transcendência: trata-se de um Deus que se revela no coração da realidade humana de Jesus. Jesus não é simplesmente a roupagem humana de Deus, mas é Deus por dentro de nossa existência humana, sentindo, experimentando, vivendo.

E ao descobrir esse Deus de Jesus, a vida vai se iluminando de outra maneira, os problemas recebem outro sentido. No fundo, creio que essa maneira de ser recolhe plenamente o que Jesus, no evangelho de São João diz tão insistentemente a seus discípulos: “Vocês não são do mundo, mas têm que estar no mundo”. Uma coisa é estar metidos no mundo, outra coisa é ser como os outros, no sentido de viver da mesma maneira. 

É preciso estar neste mundo, porque é o mundo pelo qual Deus dá a vida e não se arrepende, não volta atrás; mas é preciso estar como ele, de outra maneira. Claro que Jesus está neste mundo, sofrendo o que faz sofrer todo ser humano. Não porque lhe agrade, mas por opção, por amor, porque quer abrir esta realidade à experiência do amor próximo (que está perto) de Jesus. 

É isso que pode abrir-nos à experiência de que a simples ‘presença’, esse ‘estar’, aparentemente inútil, não é tão inútil, porque vai nos dando o sentido de que outro mundo é possível. E não como pura utopia, como sonho, mas como realidade, porque esta realidade tão cruel já foi tocada por essa presença do Senhor. E isso é irreversível, ou seja, o futuro deste mundo não está ainda por decidir; esta ambiguidade foi dirimida com a ressurreição de Jesus, depois de ter atravessado toda essa realidade, sofrido essa realidade e tê-la aberto à novidade de Deus.

Esperar de maneira cristã não é esperar cegamente, é esperar com sentido, com um sentido que está aí. Essa experiência está no coração da espiritualidade do Irmão Carlos e é isso que o leva a ser solidário com todos os homens e mulheres, com o mundo, com a realidade mais dura; mas solidário com a mesma solidariedade de Jesus, com a solidariedade de Deus.