quinta-feira, 8 de março de 2012

ESPIRITUALIDADE DE C. F- 11ª PARTE

e) Por aí creio que tocamos os eixos de uma teologia profundíssima, muito séria, muito sólida, que dá base à experiência espiritual do Irmão Carlos.
E dela é inseparável toda essa dimensão contemplativa: algo que tem que impregnar toda a maneira de ser e de viver, porque é alimentando essa contemplação no sentido profundo, que poderemos ir atravessando e desvelando as aparências da realidade até tocar no fundo verdadeiro da realidade. Mas é algo que se deve exercitar, que é preciso alimentar, não se trata de algo espontâneo.


Será então uma contemplação na vida e da vida, mas vista com os olhos de Jesus. Cada vez se torna mais difícil, no mundo tal como se apresenta, como cristãos, ver positivamente essa realidade, porque o que predomina é a crueldade, o negativo, a injustiça, a destruição, etc. O que leva naturalmente, quase espontaneamente, ao desalento: “Isso não tem jeito”. E nós nos esquecemos que, mutatis mutandis, o mundo, quando Jesus se encarnou, não era tão diferente; claro, num outro contexto, evidentemente. No entanto, o olhar que Jesus tinha sobre essa realidade era o olhar terno e amoroso da Trindade, que se encarna nessa realidade e aceita que o filho chegue e nela penetre para fazer-se um de nós.

E esse olhar de Deus continua sobre este mundo; este é o mundo amado por Deus, não existe outro. Deus há de ver algo nisso, além do que vemos nós. Essa presença de Deus, esse olhar de Deus, é tão real como o mal, a injustiça, a destruição, etc. Tão real como isso, mas o que acontece é que nós não o alcançamos, mas faz parte da verdade da realidade, faz parte integrante, porque Deus não volta atrás.

A contemplação é precisamente ter olhos para isso, para ir até o fundo desta verdade. Então se entende por que, nessa imersão em nossa vida, na realidade cotidiana e banal e sofrendo e submetendo-se às mesmas contradições, o Irmão Carlos dizia gritar o Evangelho com a vida. De outra maneira. Não lhe faziam falta as palavras, os discursos, nem sermões. Foi exatamente isso que Jesus fez.