e) Outro aspecto importante seria o seguinte: pouco a pouco o Irmão Carlos foi descobrindo este absoluto de Deus na carne humana, em Jesus de Nazaré.
Toda a descoberta que foi fazendo pouco a pouco da centralidade que tinha para ele a figura de Jesus de Nazaré.
Toda a descoberta que foi fazendo pouco a pouco da centralidade que tinha para ele a figura de Jesus de Nazaré.
Eis aí também um itinerário. Não sei se me engano, mas às vezes tenho a impressão de que no princípio, sua cabeça está povoada por um Jesus imaginário, tal como ele o projeta, tal como o imagina, tal como o representa, idealizado muitas vezes. Daí, querer começar por uma imitação literal: É preciso ir a Nazaré, é preciso ir a Belém...
Santo Inácio, quando fez a peregrinação à Terra santa, foi visitar o monte da Ascensão, depois voltou e já tinha que ir embora, mas disse: “Ah não, eu me esqueci onde estava o pé direito e o pé esquerdo...” Uma imitação que começa por aí é natural, é uma descoberta tão esmagadora que Deus se faça carne, e que deixe marcas na vida, que a gente se apaixona por isso, como se apaixonam os namorados quando começam a conhecer-se e começam a ver detalhes e coisas que não são a pessoa, mas expressão da pessoa.
Deste primeiro passo á descoberta de Jesus, o Irmão Carlos vai sendo conduzido pouco a pouco ao que há de essencial nesta descoberta: deixar-se configurar em toda sua vida por Jesus e como Jesus. Isso é um absoluto. Isso já não tem nada de imitação, porque é impossível imitar, isso é renunciar a ser ele e a viver a partir dele mesmo.
No fundo, é aceitar ser vivido por Jesus. É algo muito forte. Não se assustem, é o que disse Paulo: “Já não sou eu quem vive, é Jesus que vive em mim”. O que acontece é que nós o lemos com simplicidade: Que bonito! Já não vivo eu, é o Cristo que vive em mim! Claro, mas que significa que Cristo viva em você. E que o configure totalmente com Ele. E que isso o torne alegre, e feliz, e realizado. E que, ao perder-se, você se encontre. Isso é muito forte, é uma coisa espantosa...
Assim podemos entender o que significa para ele “gritar o Evangelho com a vida”: não há outra maneira de dizê-lo.
Não bastam as palavras. Gritar o Evangelho com a vida é isso, isto é, se eu deixar-me configurar em todos os meus aspectos, em todas as dimensões de minha vida, por Jesus e como Jesus, serei testemunha sem querê-lo.
Ele não se propõe ser testemunha de ninguém, ele o é por graça, porque lhe foi dado como dom. Não se preocupa tampouco com outras coisas, que tenho que fazer? Afinal, isso. simplesmente, apenas. Será que isso lhes parece pouco como missão? Querem buscar ainda mais trabalho?
Creio que, nessa descoberta progressiva, se enraíza o que ele formulará depois como “Jesus, Modelo Único”, não entendido, porém, no sentido de modelo plastificado, aqui e agora vou imitar seus traços, mas na única maneira de viver e de ser vivido, é o que alimentou constantemente seu sonho de fundar algo que não existia, dizia ele. Criar algo novo. Por isso não lhe satisfez a Trapa, nem buscou outras congregações, não por desprezo, mas porque não era aquilo que ele buscava.
E tinha essa necessidade: como ele diz, “seguir o exemplo e os conselhos de Jesus Nosso Senhor, só pode ser algo excelente”. Mas não se trata apenas de seguir os conselhos, seguir o exemplo, mas de deixar-se triturar. E pode dizê-lo com essa alegria: “é o que há de mais excelente...”