quinta-feira, 8 de março de 2012

ESPIRITUALIDADE DE C. F- 10ª PARTE



c- Que significa que Jesus, como diz a carta aos Hebreus, “nos dias de sua vida tenha aprendido com dor e lágrimas e gritos de sofrimento” até a cruz: “por que me abandonaste”?
Significa aprender padecendo, ou seja, obedecer é deixar-se ensinar pela paixão e pela vida, e irmo-nos assim configurando a Jesus e a Deus. 

Essa é a obediência de Jesus. O texto dos Hebreus, com um jogo de palavras muito bonito, diz: “Aprendeu padecendo, e assim fez-se causa de salvação”. O que nos salva é que ele tenha vivido por dentro nossa vida, nossa experiência, nossas limitações, nossa fragilidade. Ele nos salva por dentro. Ensina-nos que se pode viver isso de outra maneira. E essa é a grande Boa Nova de Jesus.

Assim se explica, quando aprofundamos a vida do Irmão Carlos, por que são inseparáveis nele a paixão por Deus e a paixão pelos irmãos. É impossível separá-los. É muito diferente viver uma causa, defender a justiça, lutar pelos pobres, ou estar com eles porque são o rosto de Deus. É muito diferente a maneira de estar. Isso não supõe nada contra os que lutam por todas as causas boas, mas acho que é muito importante perceber que se nós estamos aí, temos que estar de outra maneira.


Não somos “atores sociais” em primeiro lugar, somos “irmãos”, somos os que se aproximam. Pode ser que vocês não ‘resolvam’ muitos problemas, mas lhes dão sentido para que vivam as lutas.

Isso não é pouca coisa. É a esperança! Coisa que para um lutador social não é o motivo principal; o motor é mudar a situação, as estruturas. E é necessário mudá-las, mas não podemos confundir as coisas. Por exemplo, na América Latina, muitas vezes, a vida religiosa foi entendida nessa linha; a situação era tão gritante, tão injusta, que então muitos se foram, e talvez foram dizendo: é preciso lutar, isso tem que mudar... Mas, o que nos leva a estarmos aqui? Se tivermos a mesma justificação, já não somos, como dizia o Irmão Carlos, testemunhas de Jesus.

d) E muito difícil aceitar essa aparente inutilidade. Mas se lermos a vida de Jesus em termos de eficácia humana, foi um fracasso. Se nos pusermos a medir, a quantificar, os resultados da vida de Jesus são muito parcos: um grupinho, que até o final está completamente desorientado e foge. Pouca coisa. E olhem por onde. vinte séculos depois, estamos aqui. Há, então, algo mais do que os resultados. Engolir isso é muito difícil, porque o mundo moderno busca a eficácia, resultados. As empresas, o que querem é produzir, e isso nós estamos transpondo à igreja e à vida religiosa. Queremos “ver” os frutos. E nos esquecemos do que Jesus disse ao semeador: “outros colherão o que vocês semearam”.