sábado, 23 de setembro de 2017

C. DE FOUCAULD-BIOGRAFIA RESUMIDA



“Gritar o Evangelho com a própria vida. Todos os nossos atos devem gritar o que somos de Jesus”, disse Charles de Foucauld.


Charles de Foucauld nasceu no dia 15 de Setembro de 1858 em Estrasburgo, França, e morreu no dia 1 de Dezembro de 1916 no Saara da Argélia, em Tamanrasset. Ele foi beatificado em 13 de Novembro de 2005 pelo Papa Bento XVI. É comemorado em 1 dezembro.

Charles de Foucauld é conhecido como: "Irmão Carlos de Jesus”, “Irmão Universal”, “Apóstolo do Saara” e “Eremita macro-ecumênico”. Sua vida e sua obra é fonte inspiradora de uma grande família espiritual espalhada no mundo inteiro. Aproximadamente: 20 Congregações e dezenas de Fraternidades Sacerdotais e Leigas. Sua espiritualidade é em “Jesus de Nazaré”. A sua busca radical pelo Absoluto, a sua vida está fundamentada no Evangelho de Cristo, na Eucaristia e na adoração e a sua missão é testemunhar o amor de Deus com a vida e pelas obras de caridades para com todos. 

O Irmão Carlos de Jesus foi monge trapista, era geógrafo, linguista, antropólogo, teólogo, oficial militar, padre, missionário, eremita no deserto do Saara da Argélia e de rica família aristocrática, tinha como título: visconde de Foucauld.

“Vivam familiarmente com um grande santo e um grande espírito; seu coração se tornará cálido como o dele, sua fé como a dele, seu espírito se elevará no seguimento do dele”, escreveu Charles de Foucauld.

Vida e Obras

Charles de Foucauld ficou órfão de pai e mãe em 1864, aos seis anos de idade, sua irmã Marie, com três anos, tendo sidos educados por seu avô materno, o coronel Beaudet de Morlet. Frequentou a Escola Militar Especial de Saint-Cyr e iniciou sua carreira no exército, levando uma vida dissoluta, graças à herança recebida após a morte do avô. Já oficial do exército francês, foi transferido para a Argélia. Aos 23 anos, decide deixar a vida militar a fim de explorar o Marrocos, fazendo-se passar por judeu. A qualidade de seus trabalhos lhe valeu grande notoriedade, após a publicação de seu livro, Reconnaissance au Maroc (1888), tendo recebido uma medalha de ouro da Sociedade Francesa de Geografia, em reconhecimento pelo seu trabalho de exploração em Marrocos.

Fim do mês de outubro de 1886, Charles tinha 28 anos, na igreja de Santo Agostinho em Paris, faz sua confissão e recebe a comunhão das mãos do Padre Henri Huvelin, a quem fora enviado por sua prima Madame de Bondy. Deixando para trás o vazio e a vida mundana, devido o seu agnosticismo, ele descreve a sua conversão:

“Assim que acreditei que havia um Deus, compreendi que não podia fazer outra coisa a não ser viver só para ele. Minha vocação religiosa data do mesmo momento que minha fé: Deus é tão grande. Há tanta diferença entre Deus e tudo o que não O é”.

Mais tarde, uma prolongada reflexão sobre a vida espiritual conduziu-o a ingressar na Ordem dos Monges Trapistas. Nesta Ordem estabeleceu-se na França, e depois na Síria. Deixou os trapistas em 1897, em busca de uma vocação religiosa autónoma e ainda não definida. Viveu em Nazaré como servente no Convento das Clarissas. Foi ordenado sacerdote em 9 de junho de 1903, aos 43 anos de idade. Regressou à Argélia, instalando-se em Béni Abbès, numa zona de tuaregues, para levar uma vida mais próxima da população.

Vivia com os Berberes, adotando uma nova abordagem apostólica, pregando não através de sermões, mas por seu exemplo. Para conhecer melhor os tuaregues, ele estuda sua cultura por mais de 12 anos, publicando o primeiro dicionário tuaregue-francês. Além de estudar o léxico e a gramática da língua tuaregue, também estudou os cantos e as tradições dos povos do Deserto da Argélia, e seus trabalhos tornaram-se referência para o estudo da cultura tuaregue.

Charles de Foucauld era bastante crítico com referência à colonização francesa: denunciava a exploração dos colonizados, bem como a falta de investimentos e de apoio ao desenvolvimento da Argélia. Também criticava as ações dos militares no Saara e a omissão das autoridades coloniais no combate à escravidão.

Tinha a intenção de criar uma nova congregação religiosa, o que sucedeu apenas depois da sua morte, quando surgiram os Irmãozinhos de Jesus fundado pelo Padre René Voillaume em 1933, na Argélia. Em junho de 1898, Charles de Foucauld começa a elaborar uma nova e longa regra para congregação que espera fundar e que chama agora de “Eremitas do Sagrado Coração de Jesus”. A 8 de Setembro de 1939, na Argélia, Madalena Hutin, agora Irmãzinha Madalena de Jesus funda no carisma e na espiritualidade de Foucauld, a Fraternidade das Irmãzinhas de Jesus. 

Charles de Foucauld foi assassinado por assaltantes de passagem, na porta de seu Forte-Eremitério, em Tamanrasset, uma cidade oásis no sul da Argélia, era 1 de dezembro de 1916, aos 58 anos de idade. Logo foi considerado um mártir e, nos anos seguintes, sua memória passou a ser venerada. Ao mesmo tempo, sua biografia do escritor francês René Bazin (1853-1932), publicada em 1921, tornou-se um best-seller.

Seu processo de beatificação começa em 1927, tendo sido interrompido durante a guerra da Argélia e posteriormente retomado. Charles de Foucauld foi declarado venerável em 24 de abril de 2001, pelo Papa João Paulo II e beatificado pelo Papa Bento XVI, em 13 de novembro de 2005.

Em 13 de novembro de 2005, Charles de Foucauld foi beatificado na Basílica de São Pedro, em Roma. Aqui está um trecho do Papa Bento XVI na beatificação do “Irmão Universal”, em meio a uma multidão:

Queridos irmãos e irmãs em Cristo,

Vamos dar graças ao testemunho dado por Charles de Foucauld. Em sua vida contemplativa e escondida em Nazaré, ele descobriu a verdade sobre a humanidade de Jesus e convida-nos a contemplar o mistério da Encarnação; neste lugar, ele aprendeu muito sobre o Senhor, a quem ele queria seguir com humildade e pobreza. Ele descobriu que Jesus, que veio para se juntar a nós na nossa humanidade, nos convida a fraternidade universal, que ele posteriormente viveu no deserto do Saara, e ao amor, do qual Cristo nos deu o exemplo. Como sacerdote, ele colocou a Eucaristia e o Evangelho no coração de sua vida, as duas mesas da Palavra e do Pão, fonte da vida cristã e da missão (1).


São João Paulo II situou Charles de Foucauld entre “aqueles que exerceram grande influência em toda a vida da Igreja, por meio da luz e do poder do Espírito” (2).

Charles de Foucauld é considerado um Padre do Deserto dos tempos modernos e um dos grandes mestres da espiritualidade cristã. Os séculos XIX e XX foram marcados pela sua mística e espiritualidade que alimentou e fortaleceu a vida espiritual de muitos clérigos, religiosos, leigos, acadêmicos e de outros credos que hoje vivem um reavivamento da sua espiritualidade. Sua vida e sua obra são impactantes para o terceiro milênio. Tornam-se vias para o encontro ardente com Jesus de Nazaré e amor ao próximo.

ORAÇÃO DO ABANDONO

Meu Pai, a vós me abandono:

fazei de mim o que quiserdes!

O que de mim fizerdes, eu vos agradeço.

Estou pronto para tudo, aceito tudo, 

contanto que a vossa vontade se faça em mim

e em todas as vossas criaturas.

Não quero outra coisa, meu Deus.

Entrego minha vida em vossas mãos.

Eu vo-la dou, meu Deus,

com todo o amor de meu coração,

porque eu vos amo.

E porque é para mim uma necessidade de amor

dar-me, entregar-me em vossas mãos sem medida,

com infinita confiança, porque sois meu Pai.

(Charles de Foucauld)


Inácio José do Vale
Professor e Conferencista

Notas e Bibliografia:

(1) https://thejosephhouse.org/brother-charles/

(2) Annie de Jésus, Irmãzinha. Charles de Foucauld: nos passos de Jesus de Nazaré. Vargem Grande Paulista, SP. Ed. Cidade Nova, 2004, p.8.

VOILLAUME, René, Rezar para viver, Petrópolis, Vozes, 1961.

VOILLAUME, René, Fermento na massa, Rio de Janeiro, Agir, 1963.

FOUCAULD, Charles de. Meditações sobre o evangelho. Tradução de Nuno de Bragança. Lisboa: Círculo do Humanismo Cristão, 1962.

CHATELARD, Antoine. Charles de Foucauld, o caminho rumo a Tamanrasset. Tradução de Marcelo Dias Almada. São Paulo: Paulinas 2009.

SIX, Jean-François. Charles de Foucauld: o irmãozinho de Jesus. São Paulo: Paulinas, 2008.