CAPÍTULO 7 DA 3ª PARTE – TRABALHO
Devemos participar da vida dos pobres trabalhadores assalariados ou dos pequenos artesãos com o fim de sermos pobres como eles e à maneira deles. Nosso ideal é viver perto deles e no meio deles, uma vida religiosa que lhes torne a Igreja mais próxima, mas familiar, mais amorável. Mostrar com nossa vida que nós os amamos e por isso viemos participar de sua sorte.
Nossa missão será o nosso trabalho no meio dos pobres. É preciso que a Igreja esteja aí presente. Irradiar o Evangelho silenciosamente, de preferência onde a Igreja ainda não está implantada. Trabalhar como filho de Deus, com oração e amor. Não encarar o trabalho como intelectuais.
Tanto o capitalismo financeiro como o comunismo ateu escravizam o destino da pessoa humana a uma finalidade terrestre, degradante para o espírito. A verdade é que a questão do trabalho é que determinará, cada vez mais, qualquer organização humana. A presença da Igreja é necessária.
As Fraternidades deverão ensinar as pessoas a rezar e a trabalhar como seres humanos e como filhos de Deus. É uma espiritualidade do trabalhador que devemos ensinar-lhes em atos, pelo nosso exemplo.
TRABALHO = LEI DA NATUREZA DO HOMEM
É assim desce a origem da humanidade. Não deve sr encarado só como penitência. Privilégio e lei do desenvolvimento do ser homem, que tem por missão a invenção, a organização e o aperfeiçoamento do universo.
A escravização, o sofrimento, as catástrofes dos desvios humanos, são causados pela maldade e pelo desiquilíbrio do homem histórico, do homem decaído.
A Igreja sempre nos orientou no encorajamento do esforço científico e no das descobertas. Devemos pôr, franca e alegremente, nosso trabalho a serviço desse comum esforço da humanidade orientado para um domínio cada vez mais total do universo.
O trabalho deverá esforçar-se para encontrar de novo o equilíbrio entre o trabalho manual e o trabalho intelectual = todo o trabalho do corpo deverá pôr em jogo a inteligência sem oprimi-la. A inteligência deve estar sempre harmoniosamente de acordo com a sensibilidade e a imaginação, sem que o corpo viesse a incomodá-la. Cada um deve se esforçar para conseguir esse equilíbrio de homem e de cristão na unidade de seu ser. Na verdade, não se pode ser completamente homem sem ser cristão.
O trabalho deve ser inteligente, compreendendo a utilidade de nossos gestos e esforço no aperfeiçoamento do conhecimento de nossa profissão.
É preciso situar a ascese na própria linha das exigências de um trabalho bem feito, que tem valor moralizador e pacificante. Tornar-se-á fator de equilíbrio, se foi bem escolhido. Superaremos os problemas e desinteresses por meio do amor.
“A cultura opõe-se a tudo o que é artificial. Ela deve estar em relação com o nosso gênero de trabalho, com o nosso próprio temperamento e nosso grau de intelectualidade. Nossa cultura não será a de um técnico ou a de um apóstolo; ela deve ser a sabedoria e o julgamento tranquilo e esclarecido sobre todas as coisas de um homem que mantém o seu olhar fixo nas realidades da fé.” Isso se obtém refletindo-se sobre a vida, tanto a nossa como a dos outros, não no irreal, mas nas coisas concretas e nos problemas da vida em torno de nós, reflexão feita à luz do Evangelho e das certezas de uma fé vivida. Isso se torna um hábito, sabedoria de ver tudo sob o prisma cristão.
A DUREZA DO TRABALHO
O autor inicia explanando o trabalho visto como maldição em Gênesis 3,17-19. Depois comenta:
“ Há no ato do trabalho como que uma obediência muito particular a uma ordem de Deus. Ou se trabalha à força, sob constrangimento, ou se trabalha por amor, para estar na ordem especialmente desejada por Deus.
Aceitar cordialmente, com amor, a lei do trabalho, deve curar-nos, dar-nos a redenção, em relação ao pecado.
O mal é o trabalho que esmaga, que avilta o homem. “ O ritmo do trabalho nas civilizações orientais, na medida em que é o resultado de uma concepção espiritualista da pessoa humana, apresenta-se como mais diretamente compatível com a vida religiosa”.
“Trata-se, em suma, para o Irmãozinho, de aceitar, em espírito e fé, o peso de seu trabalho, como uma lei de expiação querida por Deus, como uma oferenda silenciosamente unida em espírito de amor à Cruz do Salvador.”
O TRABALHO SOLIDÁRIO
“Devemos aproveitar as múltiplas ocasiões surgida durante o trabalho para gestos fraternos, auxílio mútuo e amparo, para neles exprimir o nosso amor.”
Precisamos escolher o trabalho que esteja mais diretamente a serviço do próximo e dedicarmo-nos de corpo e alma ao serviço dos irmãos.
O TRABALHO = AMADO POR JESUS
O amor ao trabalho > ele foi vivido e amado pelo Filho de Deus. Ele decidiu nascer no humilde meio de trabalhadores manuais, e Ele mesmo exercer esse ofício desprezado nos povoados da Palestina (=carpinteiro).
Jesus foi, verdadeiramente, por livre escolha, um humilde, que trabalhava com as próprias mãos. Não escolheu ser pastor nem agricultor.
No trabalho há o elemento material = a própria obra bem feita, por dever de estado, por obediência a Deus, e o elemento espiritual, da alma = o amor com que essa obra será feia, referindo-se a Deus pela pureza de intenção.
Olhemos nosso trabalho com os olhos da fé, sob um ou outro desses dois aspectos providencialmente desejado por Deus.
“A carga de trabalho assumido por cada um deve estar em relação com suas forças físicas e suas possibilidades gerais. Não digo que se devia evitar a fadiga e sofrimento, mas esses nunca deverão ser tais que rompam de uma maneira habitual o equilíbrio de base absolutamente necessário de ser guardado.”
OUTRAS DIFICULDADES DO TRABALHO
Afrontar as dificuldades provenientes do próprio trabalho com coragem e alegria. Dominar e oferecer a fadiga física e acalmar, na mansidão, o enervamento. Toda a luta aceita pode ser um progresso no amor.
Solidariedade operária sim, mas não nos deixarmos levar nem sermos dominados pelo espírito de luta de classes. Ter idéias claras sobre esse assunto.
Companheiros sinceros deles e fiéis. Não odiar. Superar tudo com amor, tirando nossa solidariedade das garras do capitalismo materialista e o do erro de base de comunismo.
“Não se trata de um compromisso com uma economia capitalista ou burguesa, nem de abandono, nem de tradição da classe operária, mas de uma concepção diferente do destino do homem. Não podemos deixar de estar solidários coma Igreja e com Cristo”.
Outra dificuldade: a sabotagem no trabalho. Procurar tentar falar do respeito pelo trabalho, da perfeição da obra, da condição de um verdadeiro destino do trabalhador (O autor fala também sobre as greves, mas não se coloca no problema, limitando-se a orientar o que não se deve fazer, ou seja, nem favorecer ao comunismo nem ao capitalismo).
“Na paz e na oração devemos sobretudo viver de tal maneira que sejamos no mundo do trabalho autênticos representantes da pobreza e do amor do Cristo para com todos os homens, sem exceção” (El- Abiodh Sidi-Cheikh, 24/03/1948)