quinta-feira, 28 de setembro de 2017

FM-02- OS MEIOS POBRES




(Primeiros Irmãozinhos)

A primeira missão dos Irmãozinhos e Irmãzinhas do Pe. De Foucauld é tornarem-se irmãos e irmãs dos pobres, não somente os amando, mas pertencendo socialmente por meio de toda a sua vida à classe dos obres. Isso é um apostolado e equilibra a Igreja, tendo do outro lado os que vivem numa hierarquia que se situa nas classes mais privilegiadas da sociedade.


Mesmo os Irmãozinhos padres devem ouvir esse apelo para uma nova maneira de viver seu sacerdócio.

A dignidade dos padres e dos religiosos se situa antes de tudo na ordem espiritual, e não na material, visível.

O sacerdócio de Jesus é único e misterioso. Não pertencia à classe sacerdotal, segundo a lei de Israel, e não teve sequer o direito de oferecer o incenso no Templo, muito menos de penetrar no Santo dos Santos.

Pelo contrário, o ato sacerdotal de Jesus, o sacrifício da Cruz, foi rejeitado e condenado pelas autoridades religiosas de seu povo e pelo próprio Sumo Pontífice.

Os sacerdotes da Nova Aliança, instituídos por Jesus na noite da Ceia, devem trazer no exercício de seu sacerdócio sacramental a própria marca do que foi o sacrifício de Jesus.

É legítimo, pois, que alguns sacerdotes sejam chamados a acentuar em sua vida a pobreza, a humildade, a própria abjeção e a rejeição de toda a dignidade humana que marcaram tanto quanto sabemos o ato sacerdotal de Jesus sacerdote!

Por isso é necessário que Irmãozinhos, religiosos, padres ou não, vivam como pobres, renunciando a esta forma de dignidade exterior conferida pela posição numa certa categoria social. Atualmente, é mais oportuno do que nunca manifestar esse aspecto transcendente e espiritual do sacerdócio cristão.

Deve haver um esforço maior, da parte do clero e dos religiosos, para deixarem de ser como que enfeudados a uma classe, apesar de não o desejarem. O clero novo é arrastado para essa separação social perigosa.

Pertencer à classe dos pobres apresenta menos riscos espirituais, já que é mais conforme ao espírito do Evangelho e ao estado religioso!

Uma primeira atitude é ter a alma fraternal para com todos, sem exceção de ninguém. Compreender a mentalidade de cada meio, colocando-se no lugar dos outros. É algo muito difícil de ser atingido.

A nossa atitude de seguidores do Ir. Carlos não implica nenhuma condenação da maneira de viver de outros padres e religiosos, a não ser a atitude de enfeudação a um meio social ou político, seja ele qual for, incompatível com o exercício do sacerdócio e com a vida religiosa.

Viver do próprio trabalho, sem poder receber esmolas. Isso implica também na escolha do bairro, da habitação, hospitalização em caso de doença, uma certa maneira de viver e de alimentar-se. Cria-se, em alguns casos, a questão do hábito. Tudo deve traduzir o amor e permitir o contato amistoso, fácil, verdadeiro, com os pobres.

A roupa deve traduzir nosso estado de consagrados e religiosos, mas ao mesmo tempo não deve ser obstáculo à vida simples e fraternal com os pobres. Deve adapatar0se a cada região, mas sempre com um sinal distintivo.

Os irmãos fazem apostolado pelo fato de viverem entre os pobres; por isso, devem evitar qualquer gênero de atividade que poderia tirá-los dessa situação.

Os irmãos não têm necessidade de dizer nada: basta o fato de ser possível existir uma vida religiosa aprovada e desejada pela Igreja na economia dos pobres, para constituir uma lembrança de certas verdades e um ensinamento pelos fatos , que muitas vezes ultrapassa o círculo restrito dos que vivem em contato imediato com a Fraternidade.

Quanto ao fato de um sacerdote passar o tempo trabalhando manualmente em vez de entregar-se ao seu ministério espiritual, digo que, se isso redundar, indiretamente, num bem espiritual para a Igreja, é legítimo que alguns o façam. O humilde trabalho manual foi santificado pelas mãos de Cristo!

Os trapistas trabalham e alguns sacerdotes são liberados pela Igreja para trabalhos científicos e/ou políticos! Por que não também para o trabalho manual?


INSERIDAS NO CONTEXTO ECONÔMICO DE SEU MEIO



As Fraternidades verificam por experiência própria as influências do meio em que estão inseridas na vida cristã e espiritual das pessoas que ali vivem.

Muitos padres e missionários ignoram as verdadeiras condições de vida de seus fiéis e até não se interessam em saber.

Os verdadeiros problemas da vida não são mais tocados pela pregação dos sacerdotes e os cristãos, os pobres, já não se sentem mais conhecidos, amados e dirigidos. As Fraternidades poderão exercer um papel benfazejo nesse plano!

Pelo próprio fato de participarem das condições de vida dos pobres, elas podem ser, para estes, um exemplo reconfortante de vida cristã e religiosa ao seu alcance.

Os irmãos aprenderão também a amar as pessoas de uma maneira mais compreensiva, mais respeitosa. Sua espiritualidade será mais adaptada às verdadeiras condições de vida dos pobres, e eles poderão talvez ajudá-los melhor a rezar, a esperar no Cristo, e a tornar suas vidas mais humanas, trabalhar também pela melhoria dos métodos de trabalho atrasados demais.

A regra fundamental: Esforçar-se para viverem a perfeição evangélica e religiosa, nas condições de vida em que os outros vivem sua vida cristã.


PAÍSES DE MISSÃO


Recusar qualquer gênero de trabalho ou de serviço que leve a sair de sua condição de pobre, mas aceitar qualquer forma de ação sacerdotal, apostólica ou de serviço compatível com sua condição de pobre e que não o coloque numa situação superior a seu meio.

Um verdadeiro apostolado deve levar em conta o culto eucarístico como fermento de fervor cristão. Como o Ir. Carlos, fazer tudo que puderem para tornar Cristo mais conhecido e amado.

Trabalhos compatíveis em terras de missão: os serviços de enfermeiros, monitores, catequistas, professores nas povoações pobres, desde que na humildade e pobreza.


CAPACITAR PARA O AMOR


No mundo há oposições, ódio e falta de amor de todo tipo, mesmo no plano religioso. O apostolado cristão deve receber um vigoroso abalo interior de amor para opor-se a essas incompreensões, alargando a inteligência e o coração de cada cristão. Devem ser “Irmãozinhos Universais”, dizia o Pe. De Foucauld.

-Humildes, devem aprender a respeitar a todos;

-libertar-se da atitude de superioridade técnica e de orgulho inconsciente, próprio, muitas vezes, à raça branca.

O seu espírito serviçal e a ausência de obras de beneficência organizadas os fazem mais acolhidos e adotados sem preconceitos por certos meios habitualmente suscetíveis e fechados.

Sua integração total em cada meio permite-lhes sentir rapidamente todos os desprezos e oposições, como se fossem a eles dirigidos.

As Fraternidades se tornaram traços de união capazes de ajudar as pessoas sdos mais diversos meios a se conhecerem mutuamente e a se estimarem.

Alguns exemplos:

-Irmãozinhos brancos trabalhando com Irmãozinhos negros;

-Irmãos e Irmãs entre índios da América do Sul, no Vietnan e na Índia.

-Meios proletários, mineiros, pescadores de alto mar, na Europa e na América do Sul.

-Nos ritos orientais, melkita, copta, siríaco, caldáico, armênio, para serem um fator de união fraternal entre ele e seus irmãos latinos.

-No Islã, para testemunhar amizade e respeio.

-Com meios protestantes

-Com judeus no Estado de Israel.

IMPORTANTE:

É justamente a simplicidade de vida e ausência de atividades definidas que faz com que as Fraternidades sejam tão facilmente aceitas.



MEIOS ESQUECIDOS OU DESPREZADOS


-As minorias que se deixa de lado, ou por falta de missionários ou porque não há outro remédio senão acudir o que é mais urgente. É o que fez Jesus, quando deu o melhor de sua vida e de sua inteligência a um pequeno grupo de homens sem importância no mundo, e é o que devem fazer seus discípulos.

-As populações nômades, como os boêmios e os ciganos no sul da França, os nômades pastores de carneiros no Saara Argeliano, os “Fulbês, pastores do Norte de Camarões, os Tuaregues,do hoggar, no Camarões e Congo Belga, entre os Pigmeus da floresta equatorial, desprezados pelos negros ou objeto de curiosidade para os europeus.

-Pequenas povoações de leprosos, não só para tratar deles, mas também para levar-lhes amizade e a possibilidade de uma vida religiosa.

-os indígenas do Brasil

-Bochimanos da África do Sul

-Tribos primitiva do norte da Austrália.

-Queremos amá-los com uma amizade respeitosa. Outros lhes levarão um ensino completo, a civilização técnica, os cuidados médicos aperfeiçoados.

A amizade fraternal dos Irmãozinhos restitui-lhes sua dignidade de seres humanos, salvando-os de sua inferioridade. Esse primeiro bem inestimável é a própria condição de sua sobrevivência e de sua elevação humana e cristã, levando-os a viver em igualdade com os demais.

Guardarão o espírito de pobreza, de simplicidade fraternal e de amizade, que nunca deverá ser sacrificado em troca de um rendimento mais vasto que não está em sua vocação.



O SUSTENTO DO FERVOR



O trabalho, a oração e o serviço dos outros têm o seu valor auferidos da cruz que resgatou o mundo.

Dificuldades: o Irmãozinho é um homem como outro qualquer e tem necessidade de uma ajuda forte e eficaz para garantir sua perseverança e manter sua generosidade.

Levam sua vida comum sob a autoridade de um irmão responsável, ao qual estão ligados pela obediência religiosa.



TRÊS COISAS IMPORTANTES PARA SUSTENTAR O FERVOR DOS IRMÃOZINHOS:




1- A EUCARISTIA:- Por mais pobre que seja a habitação, uma sala é transformada em capela. Uma hora por dia em adoração diante do Santíssimo, que deve estar exposto o mais frequentemente possível. De vez em quando, uma adoração noturna.




2- O CONTATO CONSTANTE E ÍNTIMO com pessoas pobres e, á vezes, o fato de participarem de sua luta pela vida, impedem os irmãos de recair num egoísmo individualista. Isto também é um fator de fervor, devido à vida agitada que se leva nos meios pobres, que torna difícil observâncias religiosas mais numerosas que seriam mais sobrecarga do que socorro.


3- PROFUNDA E ÍNTIMA UNIÃO entre eles, vida simples, viverem unidos, esforço de amizade franca e aberta, responsabilidade mútua, cada um se considerando responsável pela generosidade de seu irmão, unidos a um corajoso espírito de fé na oração.

Essa vivência na fé simples e corajosa se difundirá por si mesma entre as pessoas, se os Irmãos viverem como devem. Tudo deverá exprimir esse espírito: sua vida exterior, sua pobreza, seu trabalhos, suas capelas.

Mostrar amor a todas as pessoas, impregnado de respeito, trabalhando-se pela unidade da humanidade.

Os cristãos leigos também podem participar, na “Fraternidade Secular”. Os sacerdotes diocesanos, na “Fraternidade Sacerdotal Iésus-Cáritas”.


COMO DEVEM SER AS FRATERNIDADES


Congregação Religiosa desde março de 1936, os Irmãozinhos de Jesus devem viver deste modo, excetuando-se os noviciados e certas casas de formação (postulantados, fraternidades de aprendizado ou de estudo).

Três pequenos grupos de três a cinco irmãos vivendo numa habitação qualquer, a mais simples possível, alugada ou emprestada.

-Pobre apartamento de bairro, velha casa meio em ruínas de uma ruela popular, simples choça da montanha bérbere.

-Uma cozinha, uma sala comum e dois ou três cômodos. Raramente os irmãos possuem quarto próprio (a gente se arranja como pode), mas um cômodo é sempre consagrado à capela, onde o Santíssimo Sacramento é conservado. Aí se acha o coração da Fraternidade, e não há verdadeira Fraternidade sem essa presença.

-Às vezes, essa capela é muito exígua ou instalada no sótão. Escolher a peça da casa mais silenciosa e retirada. É muito simples, quase nua.

-Inspirar-se na arte local.

A capela deve ser sempre o centro da vida dos Irmãozinhos.

-Bem cedo se reza as Laudes, a meditação do Evangelho, a Missa, antes do trabalho

-Voltam logo que puderem.

-Na volta ao trabalho, vésperas

-Uma hora de adoração ao Santíssimo;

-Oração das Completas.

-Uma noite por semana, talvez de quinta para sexta-feiras, cada irmão passa uma hora diante do Santíssimo.

É, pois, a Missão dos Irmãozinhos:

-A oração,

-A adoração,

-A intercessão em nome de todos, mas mais especialmente daqueles aos quais consagraram sua vida e no meio dos quais vivem.

Toda sua vida deve ser como uma oração e uma oferenda: deve ser como “permanentes em oração”. Diante do Santíssimo colocam-se as orações, queixas, preocupações, as falta de todos com quem conviveram naquele dia.

Trabalho de operário: nem todos, pois cada um em o tempo de estudos (língua e teologia) e outros têm tarefa mais intelectual a cumprir a serviço das fraternidades.

-Viver, tanto quanto possível, do fruto do próprio trabalho.

-Os irmãos se distinguem dos colegas de trabalho só exteriormente, por trazerem uma pequena insígnia (uma cruz com um coração no centro), reprodução daquela que o Pe. De Foucauld trazia sobre a sua “gandura” saárica.


Os diversos trabalhos


Pedreiros, mineiros, marceneiros, pintores de edifícios,escavadores, ajustadores, mecânicos, motoristas, de caminhão, operários de metalurgia, de fábricas de tecidos, de refinarias de petróleo.

Na África do Norte, entre os mais pobres trabalhadores no porto de Argel, ou empregados na limpeza de ruelas de velhos bairros árabes.

-Entre os bérberes da montanha (agricultura e pecuária)

-Entre os nômades dos Altos Planaltos argelianos, entre pastores de carneiros e camelos.

-Entre os marinheiros, pescadores nas grandes embarcações de pesca das costas da Bretanha.

Isso torna a pobreza evangélica e religiosa compreensível para o povo.

-Simplesmente participar das dificuldades e do labor cotidiano de seus amigos de trabalho. Tornam a Igreja presente ali, naquele local.

-Auxiliar de enfermagem

-Carteiros.

Em outubro de 1953 eram uns 210. A primeira fraternidade nasceu em outubro de 1933, no Saara, Orão do Sul, El-Abiodh-Sidi-Cheikh, agora é Fraternidade do Noviciado. Eram quarenta irmãos os que faziam o noviciado nos anos 50.

-o segundo Noviciado é na Bretanha, onde fazem um trabalho agrícola, e a criação, pesca, colheita de sargaço.

No final do noviciado, votos temporários e um estágio, de um a dois anos, numa Fraternidade operária, ou numa Fraternidade de Missão ou de estudos.


OUTUBRO DE 1955


-Dois noviciados

-Fraternidade de Estudos Teológicos

-Nove na França, Bélgica, Bretanha.

-Seis na África do Norte, Marrocos, Argélia.

-Quatro na África: Camarões e Congo Belga.

-Três no Oriente Próximo

-Três na América do Sul: Chile e Peru

-Quatro na Ásia, no Paquistão, Ceilão, Vietnan.

-Uma no coração do Saara, Tamanrasset, no “Bordy” onde morreu o Pe. De Foucauld. Em sua capela, um Irmãozinho vela diante do Santíssimo Sacramento e vive em contato com os Tuaregues.

Em seguida a este estágio de provação, estudos de Teologia e programa adaptado aos que não vão ser sacerdotes.



“Perguntais-me se estou pronto para ir a outro lugar além de Beni-Abbés para a expansão do Santo Evangelho: para isso estou pronto a ir até o fim do mundo, e a viver até o Juízo Final! (C. Foucauld, carta a D. Guérin, 22/02/1903)