segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O SILÊNCIO: 5ª PARTE -


5- A SOLIDÃO E O SILÊNCIO

– De Jean Guilton para a Marquesa de Voguë.

A solidão não é isolamento; ao meditar sobre esta primeira diferença, quero buscar sua definição. O que se isola sofre por estar desligado das relações que o faziam viver. Afasta-se com uma feroz altivez; está ferido; busca um cantinho para sofrer e morrer ali sem falar, Não seria necessária a ideia de buscar o isolamento. O isolamento nos afasta dos demais, nos faz altivos, duros, às vezes ferozes.

O isolamento nos fecha em nós mesmos. E, em nós mesmos, encontramos a dança de nossos pensamentos fixos, as associações extravagantes, as mágoas, os remorsos inevitáveis e a imagem de um futuro sem saída que se conclui com a morte. O homem que se isola é esse que os existencialistas descrevem, quando fazem o retrato da angústia e quando analisam o que chamam de masoquismo, quer dizer, o desprezo de si mesmo, a arte de fazer sofrer a si mesmo para gozar, inclusive de si mesmo, num prazer triste.


O isolamento conduz a uma classe de crueldade, como tudo o que nos encerra no “eu” que nos atormenta e que nós atormentamos.


Tudo isso não se dá na solidão. A solidão nos une e nos unifica, fazendo cessar o rumor interior, produto de um falso amor de nós mesmos. A solidão nos aproxima dos que amamos, formando em nosso coração a comunidade dos verdadeiros amigos. Na verdade, os que se conheceram no meio do tumulto, do barulho, separam-se após um dia que seja de solidão. Na solidão total um mosteiro invisível se eleva, construído com as pedras do silêncio.


O silêncio nos introduz diretamente no coração dos outros, ao passo que a palavra nos obriga a realizar longas e sinuosas voltas periféricas. O silêncio nos reconduz ao ponto mais íntimo de nós mesmos, ali onde a eternidade nos toca e nos vivifica, ali onde a verdade sussurra sem palavras. Em outras palavras: o silêncio deve sempre nos preparar para a palavra, e nunca ser um isolamento egoísta.