sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

SANTA TERESA DE ÁVILA - POESIAS






SANTA TERESA DE JESUS

Morro por que não morro
Vivo sem viver em mim,
E tão alta vida espero,
Que morro porque não morro.
Vivo já fora de mim,
Desde que morro d’Amor
Porque vivo no Senhor
Que me escolheu para Si;
Quando o coração Lhe dei
Com terno amor lhe gravei:
Que morro porque não morro.
Esta divina prisão
Do grande amor em que vivo,
Fez a Deus ser meu cativo,
E livre o meu coração;
E causa em mim tal paixão
Ser eu de Deus a prisão,
Que morro porque não morro.
Ai que longa é esta vida!
Que duros estes desterros!
Este cárcere, estes ferros
Onde a alma está metida.
Só de esperar a saída
Me causa dor tão sentida,
Que morro porque não morro.
Ai, que vida tão amarga
Por não gozar o Senhor!
Pois sendo doce o amor,
Não o é, a espera larga;
Tira-me, ó Deus, este fardo
Tão pesado e tão amargo,
Que morro porque não morro.
Só com esta confiança
Vivo porque hei de morrer.
Porque morrendo, o viver
Me assegura a esperança;
Morte do viver s’alcança;
Vem depressa em meu socorro,
Que morro porque não morro.
Olha que o amor é forte;
Vida, não sejas molesta,
Olha que apenas te resta
Para ganhar-te o perder-te;
Vem depressa doce morte
Acolhe-me em teu socorro
Que morro porque não morro.
Do alto, aquela vida
Que é a vida prometida,
Até que seja perdida
Não se tem, estando viva;
Morte não sejas esquiva;
Vem depressa em meu socorro,
Que morro porque não morro.
Vida, que possa eu dar
A meu Deus que vive em mim,
Se não é perder-te enfim,
Para melhor O gozar?
Morrendo O quero alcançar,
Pois nele está meu socorro
Que morro porque não morro.

Nas mãos de Deus
Sou vossa, sois o meu fim:
Que mandais fazer de mim?
Soberana Majestade
E Sabedoria Eterna,
Caridade a mim tão terna,
Deus uno, suma Bondade,
Olhai que a minha ruindade,
Toda amor, vos canta assim:
Que mandais fazer de mim?
Vossa sou, pois me criastes,
Vossa, porque me remistes,
Vossa, porque me atraístes
E porque me suportastes;
Vossa, porque me esperastes
E me salvastes, por fim:
Que mandais fazer de mim?
Que mandais, pois, bom Senhor,
Que faça tão vil criado?
Qual o ofício que haveis dado
E este escravo pecador?
Amor doce, doce Amor,
Vede-me aqui, fraca e ruim:
Que mandais fazer de mim?
Eis aqui meu coração:
Deponho-o na vossa palma;
Minhas entranhas, minha alma,
Meu corpo, vida e afeição.
Doce Esposo e Redenção,
A vós entregar-me vim:
Que mandais fazer de mim?
Morte dai-me, dai-me vida;
Saúde ou moléstia dai-me;
Honra ou desonra mandai-me;
Dai-me paz ou guerra e lida.
Seja eu fraca ou destemida,
A tudo direi que sim:
Que mandais fazer de mim?
Dai-me riqueza ou pobreza,
Exaltação ou labéu;
Dai-me alegria ou tristeza,
Dai-me inferno ou dai-me céu;
Doce vida, sol sem véu,
Pois me rendi toda, enfim:
Que mandais fazer de mim?
Se quereis, dai-me oração;
Se não, dai-me soledade;
Abundância e devoção,
Ou míngua e esterilidade.
Soberana Majestade,
A paz só encontro assim:
Que mandais fazer de mim?
Dai-me, pois, sabedoria,
Ou, por amor, ignorância;
Anos dai-me de abundância,
Ou de fome e carestia;
Dai-me treva ou claro dia,
Vicissitudes sem fim:
Que mandais fazer de mim?
Se me quereis descansado,
Por amor o quero estar;
Se me mandais trabalhar,
Morrer quero trabalhando.
Dizei: onde? Como? E quando?
Dizei, doce Amor, por fim:
Que mandais fazer de mim?
Dai-me Calvário ou Tabor
Deserto ou terra abundante;
Seja eu como Jô na dor,
Ou João sobre o peito amante;
Seja vinha luxuriante
Ou, se quereis, vinha ruim:
Que mandais fazer de mim?
Ou José encarcerado,
Ou José Senhor do Egito;
Ou David sofrendo, aflito,
Ou David já sublimado;
Ou Jonas ao mar lançado,
Ou Jonas salvo, por fim.
Que mandais fazer de mim?
Já calada, já falando,
Traga frutos ou não traga,
Veja eu na lei minha chaga,
Ou goze Evangelho brando;
Quer fruindo, quer penando,
Sede a minha vida, enfim!
Que mandais fazer de mim?
Pois sou vossa, e Vós meu fim:
Que mandais fazer de mim?


Sobre aquelas palavras: “Dilectus meus mihi”
Entreguei-me toda, e assim
Os corações se hão trocado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.
Quando o doce Caçador
Me atingiu com sua seta,
Nos meigos braços do Amor
Minh’alma aninhou-se, quieta.
E a vida em outra, seleta,
Totalmente se há trocado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.
Era aquela seta eleita
Ervada em sucos de amor,
E minha alma ficou feita
Uma com o seu Criador.
Já não quero eu outro amor,
Que a Deus me tenho entregado:
Meu Amado é para mim,
E eu sou para meu Amado.

Colóquio amoroso
Deus meu, se o amor que me tendes
É como o amor que vos tenho,
Dizei: por que me detenho?
Ou Vós, por que vos detendes?
- Alma, que queres de mim?
- Deus meu, não mais do que ver-vos.
- E tu temes? Como assim?
0 O que mais temo é perder-vos.
Uma alma em Deus escondida,
Que mais tem que desejar?
Senão sempre amar e amar,
E, no amor toda incendida,
Tornar-vos de novo a amar?
Oh! dai-me, Deus meu, carinho!
Oh! dai-me amor abrasado,
E eu farei um doce ninho
Onde for de vosso agrado.

Feliz o que ama a Deus
Ditoso o coração enamorado
Que só em Deus coloca o pensamento;
Por Ele renuncia a todo o criado,
Nele acha glória, paz, contentamento.
Vive até de si mesmo descuidado,
Pois no seu Deus traz todo o seu intento.
E assim transpõe sereno e jubiloso
As ondas deste mas tempestuoso.

Formosura de Deus
Formosura que excedeis
A todas as formosuras.
Sem magoar, dor fazeis
Como sem dor desfazeis
O amor das criaturas.
Oh! laço, que assim juntais
Duas coisas sem igual!
Não sei porque desatais
Pois atando força dais
A ter por bem o que é mal.
Vós juntais quem não tem ser
Com o ser que não acaba.
Sem acabar, acabais,
Sem ter que amar, Vós amais
E engrandeceis nosso nada.

Ais do Destino
Sem Ti como é triste,
Meu Deus, o viver!
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
Ai! Como na terra
Longa é nossa estrada!
É duro desterro,
Penosa morada;
Leva-me daqui,
Senhor de meu ser!
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
Ai! Mundo tão triste
Em que me perdi!
Pois a alma não vive
Se longe de ti.
Meu doce Tesouro,
Que amargo sofrer!
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
Ó morte benigna
Põe termo a meus males!
Só tu, com teus golpes
Tão doces, nos vales.
Que ventura, ó Amado,
Contigo viver!
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
O amor que é mundano
Se apega a esta vida;
Mas o amor divino
À outra nos convida.
Sem Ti, Deus eterno,
Quem pode viver?
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
A vida terrena
É engano bem triste;
Vida verdadeira
Só no Céu existe.
Deus meu, lá, contigo,
Oh! dá-me viver!
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
Quem é que ante a morte,
Deus meu, teme, aflito,
Se alcança por ela
Um gozo infinito?
Oh! sim o de amar-te
Sem mais te perder!
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
Ai! Minha alma geme
Tristissimamente…
Quem de seu Amado
Pode estar ausente?
Acabe depressa
Tão duro sofrer!
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
O peixe colhido
No anzol fraudulento
Encontra na morte
O fim do tormento.
Ai! Gemo e definho,
Bem meu, sem te ver,
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
Em vão te procuro,
Pois nunca te vejo;
Jamais alivias,
Senhor, meu desejo.
Ah! isto me inflama
E obriga a gemer:
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
Ai! Quando a meu peito
Vens na Eucaristia,
Deus meu, logo temo
Perder-te algum dia;
Tal pena me aflige
E impele a dizer:
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
Põe termo a estas penas,
Senhor, e retira
Do exílio esta serva
Que por Ti suspira.
Quebrados meus ferros,
Feliz irei ser.
Com ânsias de ver-te,
Desejo morrer!
Mas justo é que eu sofra
Por tantas ofensas,
E expie meus erros
E culpas imensas.
Ai! Logre meu pranto
Fazer-te entender
Que em ânsias te ver-te,
Desejo morrer!

Busca-te em Mim
Alma, procura-te em mim
E a mim busca-me em ti.
Tão fielmente pode o Amor
Alma, em Mim, te retratar
Que nenhum sábio pintor
Soubera com tal primor
Tua imagem figurar.
Foste, por amor, criada
Formosa, bela e assim
Dentro de Meu ser, pintada.
Se te perderes, minha amada,
Alma, procura-te em Mim.
Porque eu sei que te acharás
Em Meu peito retratada,
Tão ao vivo figurada
Que ao ver-te folgarás
Por te veres tão bem pintada.
E se acaso não souberes
Em que lugar Me perdi,
Não Andes daqui para ali
Porque se encontrar Me quiseres
A Mim, Me acharás em ti!
Em ti, que és meu aposento
És minha casa e morada.
Aí busco, cada momento,
Em que do teu pensamento
Encontro a porta fechada.
Só em ti há que buscar-Me,
Que de ti nunca fugi;
Nada mais do que chamar-Me
E logo irei, sem tardar-Me
E a Mim, me acharás, em ti!

NADA TE PERTURBE
Nada te perturbe,
Nada te espante,
Tudo passa,
Deus não muda,
A paciência tudo alcança;
Quem a Deus tem
Nada lhe falta:
Só Deus basta.
Eleva o pensamento,
Ao céu sobe,
Por nada te angusties,
Nada te perturbe.
A Jesus Cristo segue
Com peito grande,
E, venha o que vier,
Nada te espante.
Vês a glória do mundo?
É glória vã;
Nada tem de estável,
Tudo passa.
Aspira às coisas celestes,
Que sempre duram;
Fiel e rico em promessas,
Deus não muda.
Ama-O como merece,
Bondade imensa;
Mas não há amor fino
Sem a paciência.
Confiança e fé viva
Mantenha a alma,
Que quem crê e espera
Tudo alcança.
Do inferno acossado
Muito embora se veja,
Burlará os seus furores
Quem a Deus tem.
Advenham-lhe desamparos,
Cruzes, desgraças;
Sendo Deus o seu tesouro,
Nada lhe falta.
Ide, pois, bens do mundo,
Ide, ditas vãs;
Ainda que tudo perca,
Só Deus basta.

Para a Pátria
Vamos para o Céu tão belo,
Monjas do Carmelo!
Vamos mui mortificadas,
Humildes e desprezadas,
Sem no gozo por o anelo,
Monjas do Carmelo!
Eia! Ao voto de obediência,
Jamais haja resistência,
Que é nosso fim, nosso anelo,
Monjas do Carmelo!
A pobreza é a estrada real
Que o Imperador celestial
Trilhou com todo o desvelo,
Monjas do Carmelo!
Nunca nos deixe de amar
Nosso Deus, nem de chamar.
Sigamos o seu apelo,
Monjas do Carmelo!
De amor está se abrasando
O que nasceu tiritando,
- Homem de Deus, num só elo -,
Monjas do Carmelo!
Vamo-nos enriquecer
Onde jamais há de haver
Pobreza ou qualquer flagelo,
Monjas do Carmelo!
Do Pai Elias no bando,
Vamo-nos contrariando,
Com sua força e seu zelo,
Monjas do Carmelo!
Duplo espírito busquemos
Como Eliseu, e neguemos
Nosso querer, com desvelo,
Monjas do Carmelo!

Ao nascimento de Jesus
Ó pastores que velais,
A guardar vosso rebanho,
Eis que vos nasce um Cordeiro,
Filho de Deus soberano.
Vem pobre, vem desprezado,
Tratai logo de o guardar,
Porque o lobo o há de levar
Sem que o tenhamos gozado.
- Gil, dá-me aquele cajado,
Vou tê-lo nas mãos todo o ano,
Não se nos leve o Cordeiro:
Não Vês que é Deus Soberano?
Sinto-me todo aturdido
De gozo e pena. E pergunto:
- Se é Deus o que hoje é nascido,
Como pode ser defunto?
É que é homem e Deus, junto;
Governa o destino humano;
Olha que o nosso Cordeiro
Filho é de Deus Soberano.
Não sei para que é que o pedem,
Pois lhe dão depois tal guerra.
- Olha, Gil, melhor será
Que se torne à sua terra…
Mas se todo o bem encerra,
E apaga o pecado humano,
Já que é nascido, padeça
Este Deus tão Soberano
Pouco te dói sua pena!
Tanto é certo que esquecemos
O que os outros por nós sofrem,
Se proveito recebemos!
Não Vês que um dia o teremos
Pastor do gênero humano?
Contudo é coisa tremenda
Que morra Deus Soberano.

Ao nascimento de Jesus
Hoje nos vem redimir
Um Zagal, nosso parente,
Gil, que é Deus Onipotente.
- Por isso nos há tirado
Da prisão de Satanás;
Mas é parente de Brás
E de Menga e de Vicente:
Porque é Deus Onipotente!
- Pois se é Deus, como é vencido
E morre crucificado?
- Não vês que mata o pecado,
Padecendo, Ele, inocente?
Gil, é Deus Onipotente!
Palavra! Que o vi nascido;
E a Mãe é linda Zagala,
- Pois se é Deus, como há querido
Estar com tão pobre gente?
- Não vês que Ele é Onipotente?
Deixa-te dessas perguntas

Tratemos já de o servir.

E pois à morte que ir,

Morramos também, Vicente,

Pois é Deus Onipotente.


Ela nasceu no dia 28 de março de 1515 e foi batizada Tereza de Cepeda Y Ahumada ,em Avila, Castilha, Espanha. Ela era filha de Alonso Sanchez de Cepeda e Beatrice Davila y Ahumada. Tereza foi educada pelas irmãs Agostinianas até 1532 quando ela voltou para casa por causa de sua saúde. Quatro anos mais tarde ela entrou para o Convento das Carmelitas Descalças, em Ávila, um estabelecimento que era negligente com relação pobreza e a clausura. Ela voltou de novo para casa em 1536 por dois anos devido a sua saúde. De 1555 a 1556 ela teve visões e ouviu vozes. No não seguinte São Pedro de Alcântara passou a ser o seu diretor espiritual e ajudou-a sobremaneira em seu apostolado religioso. Desejosa de ser uma freira que obedecesse rigidamente as regra das Carmelitas, Santa Tereza fundou em 1567 o convento de São José em Ávila onde ela foi seguida por outras irmãs que desejavam uma vida mais rígida. Em 1568 ela recebeu permissão do Pior Geral da Ordem das Carmelitas para continuar no seu trabalho e ela fundou 16 outros conventos ,recebendo o apelido e "a freira ambulante " devido as suas freqüentes viagens. Tereza se encontrou com São João da Cruz outro Carmelita buscando a reforma, em Medino del Campo, local do seu segundo convento. Ela fundou ainda um monastério para homens em Duruelo em 1568 , mas passou a responsabilidade dirigir e reformar ou fundar outros novos monastérios para São João da Cruz.
A oposição se desenvolveu entre as Carmelitas (calçadas)e membros da Ordem original e o Consilho de Piacenza em 1575 restringiu muito as suas atividades. A rixa continuou até que o Papa Gregório XIII (1572-1585) a pedido do Rei Felipe II, da Espanha, reconheceu as Reformadas Carmelitas Descalças como uma província separada da Ordem das Carmelitas originais. Nesta altura a maturidade espiritual de Santa Tereza era evidente e os seu livros e cartas foram sendo conhecidos e passaram a se tornar clássicos da literatura espiritual e logo incluíram sua autobiografia chamada "O caminho da Perfeição" e o seu livro "Castelo Interior" como clássicos da teologia espiritual. Santa Tereza foi reverenciada como uma grande mística, tendo notável senso de humor e bom senso, combinando uma deslumbrante atividade, com uma mística contemplação. Ela morreu no dia 4 de outubro de 1582 (14 de outubro pelo calendário Gregoriano que entrou em efeito no dia seguinte a sua morte, e avançou o calendário por 10 dias).Ela foi canonizada em 1622 pelo Papa Gregório XV e foi declarada Doutora da Igreja em 1970 pelo Papa Paulo VI.
A sua festa é celebrada no dia 15 de outubro.