segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O SILÊNCIO – 9ª PARTE

9- O MEDO E A FASCINAÇÃO DO SILÊNCIO

Carlo Maria Martini)
Se no princípio era a Palavra, e pela Palavra de Deus, chegada até nós, começou a realizar-se nossa redenção, de nossa parte deve haver o silêncio, para ouvir essa Palavra.
O silêncio que escuta, acolhe, que se deixa avivar. É claro que, em seguida, usaremos nossa palavra para agradecer, adorar, suplicar; mas em primeiro lugar, o silêncio.
Podemos dizer que a capacidade de viver um pouco de silêncio interior conota o verdadeiro crente e o separa do mundo da incredulidade. Quem não aceita ou não acredita em Deus, afasta de seu pensamento o Deus vivo, que cobre todo espaço, não suporta o silêncio. Para ele, o silêncio é a marca aterradora do vazio. Qualquer ruído, por mais que seja tormentoso e obsessivo, lhe parece agradável. Quando as vozes se calam, ele se vê frente a frente com o horror do nada. O ruído, conversa mole, qualquer barulho é bem recebido por eles, para distrair da mente do conhecimento arrepiante do universo deserto.
O homem “novo” (de olhos da fé penetrantes, que vê além do aparente e tem um coração capaz de amar o Invisível), sabe que o vazio não existe, que o nada é vencido pela divina Infinitude, que o universo está povoado de criaturas alegres, que o expectador já goza, de certo modo, da exultação cósmica, refletida pelo mistério de luz, de felicidade que substancia a vida inesgotável do Deus Trino.
Por isso o homem novo, como o Senhor Jesus, que ao alvorecer subia solitário para os montes (Mc 1,3; Lc 4,42; 6,12; 9,28) aspira ter para si um espaço imune a qualquer ruído alienante, onde seja possível aplicar o ouvido e perceber algo da festa eterna e da voz do Pai.
O homem velho (que tem medo do silêncio) e o homem novo convivem normalmente, em diferentes proporções, em cada um de nós. Somos agredidos exteriormente por avalanches de palavras, sons, clamores, que ensurdecem nosso dia e nossa noite. Todos estamos interiormente atingidos pela oratória excessivamente mundana, que com mil futilidades nos distraem e faz com que nos percamos.
O homem novo que há em nós tem, pois, de lutar para assegurar no céu sua alma, esse prodígio de “um silêncio durante meia hora” de que fala o Apocalipse 8,1. Que seja um silêncio verdadeiro, cumulado da Presença ressonante da Palavra, pronto para escutar, aberto à comunicação.