segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

01 - A FRATERNIDADE SACERDOTAL


1- A FRATERNIDADE

A Fraternidade Sacerdotal nasceu da procura de um grupo de padres seculares na linha das intuições de Carlos de Foucauld.
Diversas famílias já tinham nascido dessas intuições, em particular os Irmãozinhos de Jesus. Mas o aspecto propriamente religioso não convinha a padres que queriam permanecer diocesanos.

Assim nasceu em 1951 a União Sacerdotal Jesus+Caritas que, em 1976, tomou o nome de Fraternidade Sacerdotal Jesus Caritas.

A irradiação da personalidade humana e evangélica do irmão Carlos e sua aventura espiritual e evangelizadora estão na origem da fraternidade e continuam hoje como inspiradoras de uma forma evangélica de viver a vida e o ministério presbiteral. As intuições de Carlos de Foucauld se revelaram simples e fecundas para a nossa época. Nada perderam de sua atualidade.

A fraternidade continua despertando interesse entre os padres no mundo todo. Conta atualmente com 4 mil membros. Os aspectos característicos do carisma de Carlos de Foucauld encontram-se no amor a Jesus, ouvido no evangelho, adorado na eucaristia; na fraternidade universal; no desejo de proximidade com os mais deserdados; na preocupação com os mais afastados; no trabalho com meios pobres; na vontade de ser padre em estrita união com o povo, o presbitério e o bispo. São, pois, núcleos da Fraternidade Sacerdotal Jesus+Caritas:

a) A consciência da gratuidade do Amor de Deus, que leva a uma resposta agradecida no amor a Deus por Ele mesmo.

b) A amizade pessoal com Jesus na escuta de sua palavra: "voltemos sempre ao Evangelho"; no intento inacabado e sempre recomeçado do seguimento-imitação, pois segui-lo é imitá-lo em tudo. É instintivo, é necessário: "quando se ama, se imita..."; na adoração eucarística: "A sagrada eucaristia, é Jesus, todo Jesus"; no irmão, especialmente no mais abandonado: "Ver Jesus em qualquer ser humano".

c) A reconciliação conosco mesmos: Na aceitação sincera e serena de nossa pessoa com nossos valores e limitações: "Pai, a vós me abandono"; numa vida fraterna: "Fazer-me chamar de irmão e não de padre..."; num olhar contemplativo de toda a realidade: "Recebamos todo sofrimento como um presente da mão do Bem-amado".

d)Um estilo próprio no modo de evangelizar: Na imitação da vida simples de Jesus de Nazaré. Grita-se o Evangelho
com a vida na amizade e na bondade; num dinamismo voltado para os mais abandonados:

"E tenho que fazê-lo,pelos esquecidos, pelos mais abandonados"; na pobreza dos meios pobres: "Tomastes o último lugar, e ninguém jamais poderá tirá-lo de vós”.

Em suma: "Toda a nossa vida, por muda que seja, a vida de Nazaré, a vida de deserto, como a vida pública, deve ser uma pregação do Evangelho com o exemplo; toda nossa existência, todo nosso ser deve gritar o Evangelho sobre os telhados...".

Para realizar o que buscamos, empregamos os “meios” da fraternidade:

a) Dia de fraternidade - Encontro mensal em pequenas fraternidades estáveis de 5 ou 6 padres, que se querem como irmãos, se assumem mutuamente, expressam-se livremente e se interpelam fraternalmente, para fazer o aprendizado da oração, para celebrar na eucaristia o que faz a vida das pessoas hoje.

b) Dia de deserto, cada mês.

c) Retiro nacional, uma vez ao ano.

d) Mês de Nazaré, ao menos uma vez na vida.

e) Tempo de oração pessoal diário diante do Santíssimo.

f) Um diretório comum, no respeito às legítimas diferenças.

As funções na fraternidade são assumidas sem prejuízo das funções diocesanas. Há um mínimo de estrutura que supõe coordenações nacionais e internacionais, bem como uma caixa comum em diversos níveis. A ligação entre as fraternidades se faz por meio de boletins nacionais, assembleias e retiros. 

2- VIVER EM FRATERNIDADE

“Por causa de Cristo e do Evangelho”, é o lema das fraternidades. Isto significa que o nosso compromisso é com Cristo e com todas as pessoas deste mundo, num espírito de fraternidade universal.

Nosso compromisso consiste em procurar ser irmão um do outro. Formar fraternidade e viver em fraternidade significa estender pontes e encurtar distâncias. Significa buscar com renovado ardor uma nova qualidade no relacionamento humano. Soa aos nossos ouvidos a palavra de Jesus em Marcos: “Entre vós não será assim” (Mc 10, 43) porque vocês vão colocar sinais do reino no tempo da humanidade, vocês vão mostrar ao mundo o que é uma sociedade sem dominações.

Na esperança, começamos o que queremos que aconteça. Por isso tentamos viver fraternidade com os padres, nossos  próximos mais próximos, com os quais carregamos o mesmo peso do dia.

Nosso ministério é um ministério de reconciliação. Na cruz, Cristo mata em sua pessoa a inimizade e derruba o muro de separação que afasta uns dos outros (cf. Ef 2,14-22). Vivendo em fraternidade testemunhamos de forma visível as possibilidades do amor. Certamente, todo problema humano se concentra na dificuldade de relacionamento. Fraternidade significa caminhar no sentido contrário, estabelecendo um novo tipo de relacionamento.

O propósito de uma fraternidade vai além da simples convivência ou de discussões teológicas e pastorais. Em fraternidade, os irmãos buscam entrar em sintonia com Jesus que veio realizar a vontade do Pai. Cada fraternidade se organiza de acordo com as necessidades de seus membros, mas dois pontos precisam ser levados em consideração:

O grupo deve dar tempo ao tempo para que cada um se sinta à vontade e se superem os mecanismos de defesa  que bloqueiam os relacionamentos.

O segundo ponto é a estabilidade do grupo. Sem a estabilidade dos membros é difícil chegar a um nível razoável de confiança.

A fraternidade “não funciona” se em cada encontro o grupo é diferente. A estabilidade de cinco a seis membros se faz necessária.


3- O DIA DE FRATERNIDADE

É no dia de fraternidade que se dá a “graça do encontro”. Os irmãos se sentem solidários uns com os outros, por isso participam do dia de fraternidade. Não se trata de mais uma reunião. É um momento forte e um momento fonte. Há irmãos que fazem longas viagens para não perder o dia de fraternidade.

Na prática, o encontro acontece uma vez por mês. Uma freqüência menor pode enfraquecer a qualidade da reflexão do grupo. Maior freqüência se torna pastoralmente impraticável. Normalmente os irmãos se encontram no início da manhã e permanecem juntos até ao cair da tarde.

Outros preferem começar na véspera, considerando a noite e a madrugada, tempo mais oportuno para a oração. Há grupos que começam com um tempo de solidão, outros com uma conversação ou uma refeição em comum.

Um esquema interessante de Dia de Fraternidade para os que moram próximos uns dos outros é começar às 15 h. 15.30 adoração. 16.40 revisão. 18 h vésperas e missa. 19 h lanche. 19.30 estudo e comunicações. 21 h partida. Seja qual for a distribuição do horário, o esquema básico consta sempre de adoração, revisão de vida, meditação do Evangelho.

O que se espera é que o grupo tenha consciência da importância de se estar junto. Habitualmente esse dia é reservado com meses de antecedência, dando-lhe alta prioridade.

Cada um procura chegar ao encontro tendo feito anteriormente uma preparação para a revisão de vida num dia de deserto. Essa preparação demonstra a seriedade com a qual se toma esse tempo de graça. A fraternidade encontra-se com Jesus no silêncio, na Palavra, no mistério eucarístico, e na vida e no ministério de cada um. A estrutura do dia visa a criar um clima no qual tudo isso possa acontecer.

Uma das tarefas do responsável da fraternidade é lembrar os irmãos na ante-véspera o compromisso do encontro. Mas, o importante mesmo é que cada um tenha o dia reservado.