sábado, 7 de janeiro de 2012

FR. HENRIQUE- C. FOUC.-04




Charles de Foucauld foi um autêntico contemplativo no sentido genuinamente cristão do termo.
Trata-se de uma atitude existencial de abertura ao que existe de mais profundo na realidade. Indica um descer às profundezas do ser, onde se entra em comunhão com Aquele que é o sentido derradeiro de todas as coisas. Para Irmão Carlos significa simplesmente olhar para a realidade com os olhos de Deus e perceber como nela se manifesta seu Espírito de amor. 

Passa longas horas em adoração silenciosa, expressando assim seu amor e amizade para com aquele que é a razão última de sua existência. E, através de Jesus, se volta ao Pai, a quem se entrega sem medida, buscando amorosamente sua Vontade. 

Rezar para ele é pensar em Deus, amando-O, seguindo nisso as lições espirituais de Teresa d’Ávila. Orar proporciona-lhe um conhecimento experimental de Jesus, o que permite viver em sua intimidade e manter um contato pessoal com ele. 

Passa, igualmente, por períodos de aridez e tédio espiritual, como testemunha em um escrito de 22-10-1898: “Diante do Santíssimo não consigo mais fazer oração prolongada. Meu estado é estranho: tudo me parece vazio, oco, nulo, infinitamente, salvo manter-me aos pés de Nosso Senhor e olhar para Ele... Mas depois, quando me encontro a seus pés, fico árido, tíbio, sem palavra ou pensamento. Freqüentemente, ai de mim, acabo por adormecer...” . 


Notável é a centralidade eucarística na sua vida espiritual. Para ele a Eucaristia é, antes de tudo, a presença real da pessoa de Cristo, agora, no meio de nós. É Jesus presente em ato salvífico. Tornou-se sacerdote para poder ministrar a eucaristia. Na sua visão, o presbítero deve desaparecer para ceder lugar à Presença viva do Senhor.


O Jesus que se doa gratuitamente na eucaristia é indissociável do Jesus presente nos pobres e abandonados. 

A passagem de Mt 25,31-40, sobre “os menores dos meus irmãos”, teve uma duradoura influência sobre Charles de Foucauld. Quem participa da mesa eucarística, por coerência evangélica, deseja, ele mesmo, ser pão repartido e vinho derramado para os outros. O serviço eucarístico e o serviço aos pobres são, na mente do Irmão Carlos, duas dimensões da mesma realidade e veneração do Corpo de Cristo. 

Durante toda a sua vida Foucauld foi um amante da solidão e do silêncio. Era uma espécie de segunda natureza que, provavelmente, tem suas raízes na primeira infância. 

Essa tendência natural é sublimada na sua vocação religiosa. “O Pai celeste pronunciou uma palavra e esse Verbo era seu Filho. Ele continua a pronunciá-la, sem cessar, num silêncio eterno e é nele que a alma a ouve...” (São João da Cruz). O ambiente propício desse silêncio, repleto de presença divina, ele o encontra no deserto. É nesta realidade — que, obviamente, ultrapassa a categoria física — que o ser humano pode melhor desprender-se de si mesmo e ficar concentrado no “único necessário”. 

Em 1898 escreve: “É preciso passar pelo deserto... é lá que nos esvaziamos e nos desprendemos de tudo que não seja Deus... É necessário este silêncio, este recolhimento, este esquecimento de tudo para que Deus estabeleça a vida íntima com Ele, a conversação da alma com Deus na fé, na esperança e na caridade... Mais tarde a alma produzirá frutos exatamente na mesma medida em que nela tenha sido formado o homem interior. Se não houver essa vida interior de nada servirão o zelo, boas intenções, muito trabalho, pois os frutos restarão nulos...”