É preciso passar pelo deserto e aí permanecer por algum tempo para receber a graça de Deus: é nele que nos despojamos, que afastamos de nós o que não é Deus e que esvaziamos completamente a pequena morada de nossa alma para deixar todo o lugar exclusivamente para Deus.
Os Hebreus passaram pelo deserto. Moisés nele viveu antes de receber sua missão. São Paulo e São João Crisóstomo também se prepararam no deserto... É indispensável... É um tempo de graças, um período pelo qual toda alma que quer dar frutos deve necessariamente passara.
É-lhe necessário esse silêncio, esse recolhimento, esse esquecimento de todos os seres criados para que Deus venha estabelecer seu reino e nele formar o espírito interior. É-lhe necessário a vida íntima com Deus, o colóquio da alma com Deus, na fé, na esperança e na caridade. Mais tarde a alma produzirá frutos exatamente na mesma medida em que nela tenha sido formado o homem interior.
Se não houver essa vida interior, será inútil possuir o zelo, boas intenções, muito trabalho – não haverá frutos. É uma fonte que desejaria prover os outros de santidade mas que não o pode, por não possuí-la: só damos aquilo que temos e é na solidão, nessa vida a sós com Deus, nesse recolhimento profundo da alma que esquece todos os seres criados para viver sozinha em união com Deus, que Deus se dá totalmente àquele que totalmente se dá a Ele.
Entregue-se inteiramente a Ele e Ele se entregará ao senhor. Agindo assim não receie ser infiel às criaturas, ao contrário. Esse é o único meio de poder servi-las eficazmente. Considere São Paulo, São Bento, São Patrício, São Gregório Magno e tantos outros. Que longo período de recolhimento e silêncio! Olhe para mais alto: considere São João Batista, Nosso Senhor! Nosso Senhor não tinha necessidade disso, mas quis nos dar o exemplo. Dê a Deus o que é de Deus... (Carta ao Pe. Jerônimo, 19/05/1998).